Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Marina Silva e o sonhado mundo verde

(Foto: Lula Marques/ Agência Brasil)

A eleição esta semana de Javier Milei na Argentina colocou o Ministério do Meio Ambiente em alerta. Não só o excêntrico futuro presidente declarou que não manterá relações oficiais com Lula como afirma que o ser humano não é responsável pelo acelerado aquecimento do planeta. Segundo ele, a culpa dos dados de todos os órgãos preocupados com as mudanças climáticas é o marxismo cultural e a manipulação pelos socialistas. Uma farpa para Lula.

Na entrevista concedida esta semana aos correspondentes estrangeiros a ministra Marina Silva respondeu à pergunta do Observatório da Imprensa.

— O Brasil se orienta pela Ciência. As mudanças climáticas são atribuídas aos seres humanos desde 1896, confirmados nas décadas de 1970 e 1980 quando se produziu um relatório climático. E a ação concreta aconteceu na segunda grande reunião das Nações Unidas, a Rio-92, que reuniu 178 estados-nações resultando numa Convenção definitiva. O Brasil está disposto a dialogar com quem estiver aberto ao diálogo. Somos um país democrata.

O Brasil vai sediar a COP 30 em novembro de 2025 e a ministra se prepara para retomar na COP 28 que acontecerá no próximo 1 de dezembro o protagonismo do Brasil, junto com o presidente Lula. Um protagonismo perdido durante quatro anos no governo de Bolsonaro que conta com o apoio de Javier Milei.

— Nos últimos anos nos tornamos párias ambientais, negacionistas. Somos vulneráveis na América do Sul, na América Latina. Como a Argentina, o Brasil é sujeito a secas numa área, ondas de calor noutra e chuvas numa terceira. Aqui já montamos um plano de prevenção em 1038 municípios afetados. Precisamos aguardar a posse [de Milei] no dia 10 de dezembro para saber como serão as relações.

Para garantir que o Brasil mudou a ministra garante chegar na COP28 em Dubai com uma agenda de sustentabilidade trabalhada pelos 22 ministérios. E com o Plano Safra de financiamento para agricultura de baixo carbono no valor de R$ 400 bilhões. O Plano pretende garantir a segurança ambiental do planeta.

Marina Silva vai apresentar a redução de 49,5% de desmatamento nos primeiros meses de governo, de janeiro a outubro. O que evitou  a emissão de 250 milhões de toneladas de CO2.

— O Brasil tem potencial global de ser o grande exportador de sustentabilidade produzindo energia verde. Temos a meta de reflorestar 12 milhões hectares com espécies nativas até 2030. Pelo menos 7 milhões de hectares estão em abandono há 6 anos. Não podemos chegar ao ponto de não-retorno. Estamos trabalhando pesado para isso, lançando junto com o Ministério da Fazenda R$ 10 bilhões em títulos verdes para acelerar o reflorestamento. Mas ninguém faz nada sozinho. Vamos buscar a cooperação dos países desenvolvidos com os países em vias de desenvolvimento, um ajudando o outro, sem cobranças.

A ministra ressalta que o desiquilibro de uma floresta como a amazônica afeta o planeta inteiro. Já perdemos muito: hoje sobram apenas 8 ou 9 % da mata atlântica que já ocupou 1, 300 milhões km2. O sucesso da COP 28 vai estar no comprometimento de todos os países para não ultrapassar 1,5C do aquecimento global.

— O Brasil já reduziu 49, 5 de carbono, quase 50%, mas estamos trabalhando para conter as práticas ilegais, a ocupação de terras indígenas, a exploração criminosa de madeira, inibir o desmatamento do Cerrado, do Pantanal, dos pampas brasileiros. Queremos desmatamento 0 em 2030.