Wednesday, 11 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1317

Bia Abramo

‘Desde quando Hebe Camargo virou uma unanimidade? Da cantora Kelly Key ao ministro Gilberto Gil, de José Luiz Datena à primeira-dama do Estado de São Paulo, Lu Alckmin, de Betty Szafir a Paulinho da Viola, todos foram reverenciar os 60 (!) anos de carreira da apresentadora na última segunda-feira. Para além da sua longevidade na televisão, é uma espécie de mistério o poder de Hebe.

Tinha algo de Oscar o programa-cerimônia. O especial, que se arrastou por mais de duas horas na última segunda-feira, foi gravado na Sala São Paulo, cujo exterior era mostrado em tomadas semelhantes àquelas que mostram o Kodak Theatre de onde é transmitido o Oscar, num curioso movimento de glamourização e vulgarização simultâneas. Hebe era, a um tempo, a mestre-de-cerimônias, a principal homenageada e a ganhadora suprema. Como na festa de Hollywood, as câmeras focalizavam os notáveis, entre artistas, políticos, gente de TV de várias emissoras ou simplesmente ricas emperiquitadas.

O mais intrigante, no entanto, era o quão pouco havia para se falar a respeito de Hebe. Fragmentos dos discursos e falas tomados aqui e ali -’ela é boa’, ‘passa (sic) alegria’, ‘querida’, ‘muita honra estar aqui’- não revelam lá muita coisa. Nem mesmo o texto apologético de Marilia Gabriela, lido por ela mesma naquele tom de afeto enfático das homenagens televisivas, rendia muita coisa, além de elogios genéricos.

O que transparecia era o fato de que todos, sem exceção aparente, pareciam ter alguma espécie de dívida, não de gratidão, mas de exibição. Era como se estivesse sendo encenado um ritual da lógica televisiva: eu exibo, tu apareces, eles aplaudem.

Todas as segundas, ela escolhe ali meia dúzia de personalidades, de artistas, de notáveis para serem seus coadjuvantes na tarefa de emitir os juízos sobre o que vai no mundo, da semelhança da filha de Elis Regina com a mãe aos problemas de segurança da cidade de São Paulo. Como ‘artista’, permite-se ligeiras e inócuas transgressões, transbordamentos de sua personalidade exuberante, mas, como ideóloga da dona de casa, está sempre alerta para identificar e pontificar a respeito de quaisquer excessos, desvios, radicalismos e outros perigos semelhantes.

Ela é alegre, positiva -’só penso em coisa positiva’, dizia na segunda-feira, sem especificar onde estava o zero dessa equação- e brilha como uma TV na sala escura. Faz amigos a torto e a direito, à esquerda e à direita, acima e abaixo, mas escolhe para si mesma uma confortável posição central, de onde pode fazer o papel de árbitro da razoabilidade e emitir seus pareceres medianos.

Hebe, que estava lá na primeira transmissão, assim, confunde-se, não com a história, mas com a própria televisão brasileira.’



Luiz Caversan

‘Sala São Paulo vira ‘sofá’ da Hebe’, copyright Folha de S. Paulo, 24/03/04

‘A Sala São Paulo, templo da ‘alta cultura’ musical de São Paulo, foi transformada, na noite de anteontem, em um grande sofá. Não um sofá qualquer, mas no sofá mais famoso da TV nacional, o da apresentadora Hebe Camargo.

O sofá da Hebe, como se sabe, já entrou para a história da TV como o aparato em que a mais longeva show-woman brasileira recebe seus convidados para entrevistas, bate-papos, desabafos, discursos políticos, marketing, enfim, entretenimento em geral.

É, e sempre foi, uma fórmula de sucesso, desde os tempos da extinta TV Record, passando pela Bandeirantes e entronizada, há quase duas décadas, no SBT de Silvio Santos -aliás, devidamente incensado pela loira no programa de segunda-feira.

O local ‘chique’ escolhido para o evento de anteontem deveu-se a tripla comemoração: 18 anos de Hebe no SBT, 60 anos de Hebe na vida artística (rádio, disco e TV) e 75 anos de Hebe entre nós.

O que se viu, portanto, foi uma festa dita ‘de gala’, com as mulheres -a começar por Hebe, com seus tradicionais e extravagantes vestidos e jóias- de longo e os homens, quase todos, de smoking ou roupa escura.

Apesar de um pouco nervosa pela grandiosidade do evento, Hebe estava em casa e exercitou toda a sua tarimba em explorar, ao vivo, o humor, o inusitado e até mesmo as gafes que ela mesma comete para criar uma espécie de cumplicidade amiga com os telespectadores. Assim foi que ela riu de gargalhar ao cometer a seguinte frase, dirigida à primeira-dama do Estado, Lu Alckmin: ‘A gente tem muito orgulho do seu trabalho sexual. Opa, social!’.

Hebe riu, a primeira-dama riu, os espectadores riram, e ficou tudo em casa.

Ou ainda esta, dirigida em tom maternal ao ministro-cantor Gilberto Gil: ‘Como você está magrinho! A sua filha, Preta, em compensação, está bem gordinha’.

Celebridades mais ou menos célebres davam o ‘colorido’ à platéia, e gente ‘de peso’ do showbiz, como Rita Lee, Fernanda Montenegro ou Marilia Gabriela, testemunhou sobre a personalidade e a importância da apresentadora para a cultura nacional -’O tempo é vassalo de Hebe’, asseverou Gabi.

A sempre necessária saia justa foi garantida pelo tresloucado cantor Supla, que ensaiou uma desastrada defesa da mãe prefeita diante do apresentador José Luiz Datena. Fez o sucesso de sempre.

O ‘momento brega chique’ foi garantido pela cantora inglesa Sarah Brightman, misto de Celine Dion com Mortícia Adams, convidada especial de Hebe.

E o ‘momento família’ ficou a cargo da cantora Maria Rita, filha de Elis Regina -que em priscas eras também freqüentou o sofá de Hebe-, exibindo-se grávida de vários meses. Teve direito a um beijinho no barrigão, para enternecimento da platéia e do telespectador, que há muitas décadas é fiel à apresentadora porque sabe que de Hebe Camargo sempre virá uma gracinha.’



LUMA NA BAND
Daniel Castro

‘Luma pede um tempo para fechar com Band’, copyright Folha de S. Paulo, 27/03/04

‘Pressionada pela Band, que lhe ofereceu um programa para estrear o mais breve possível, a ex-modelo e atriz Luma de Oliveira pediu anteontem, em telefonema a Marlene Mattos, tempo para fechar contrato com a emissora.

À diretora artística da Band, Luma afirmou que prefere esperar acalmar o assédio da mídia sobre ela, que recentemente foi notícia por sua separação do marido, Eike Batista, pelo anúncio de uma falsa gravidez e pelo suposto envolvimento com um capitão do Corpo de Bombeiros do Rio.

A Folha apurou que Luma já aceitou a proposta da Band, embora ainda não esteja definido como será o programa. Ela não quer estrear já para não ser acusada de tirar proveito de sua exposição nem para ter que falar de assuntos pessoais na divulgação da atração.

Marlene Mattos também tenta disfarçar que não fez um ‘convite de ocasião’, aproveitando os ‘escândalos’. Tem dito que tem interesse em Luma desde quando ela era ‘apenas’ musa do Carnaval.

Luma, no entanto, fará sua pré-estréia na Band já no próximo dia 15. Ela será jurada do concurso Miss Brasil, ao lado do jogador Romário _outro que também tem proposta da emissora para fazer um ‘talk show’.

OUTRO CANAL

Efeito PCC 1

O caso ocorreu em 1997, mas a ‘entrevista’ com falsos membros do PCC em setembro de 2003 teve peso na decisão.

Efeito PCC 2

Na sentença em que condenou o SBT a indenizar um casal mostrado como desonesto ao pegar uma carteira no chão, em pegadinha exibida há seis anos pelo ‘Domingo Legal’, o juiz Luís Fernando Cirillo deu um sermão nos responsáveis pela TV.

Efeito PCC 3

Cirillo escreveu que o casal foi vítima de ‘guerra’ em que são ‘utilizadas armas que constituíram alguns dos episódios mais degradantes da história da televisão brasileira, dentre os quais podem-se citar a exibição de pessoa com deformidade física [caso Latininho, no ‘Domingão do Faustão’] e de uma entrevista com falsos integrantes de organização criminosa [PCC, no Gugu]’.

Mundial

Não é só no Brasil que ‘Big Brother’ causa polêmica pelas baixarias. Na Alemanha, participantes fizeram sexo explícito, sem edredom. Na Itália, duas mulheres trocaram beijos ardentes.

Gato por lebre

As cenas do acidente de carro do primeiro capítulo de ‘Metamorphoses’ foram mesmo extraídas do filme ‘Intersection’, de 1994. Mas a Casablanca, produtora da novela da Record, diz que pagou (na verdade, fez uma permuta com a distribuidora do longa) para usar as imagens. Ah, bom.’



TV / FUTEBOL
Wagner Vilaron

‘Cartolas e Globo brigam pelo Canal do Futebol’, copyright O Estado de S. Paulo, 27/03/04

‘Um velho sonho dos clubes de futebol do Brasil – terem um canal de televisão – está ameaçado. A idéia, que existe desde 1997, quando o Clube dos 13 e a Rede Globo negociavam um novo contrato para a transmissão de futebol, daria aos clubes a administração da programação, que contaria com a transmissão dos principais campeonatos nacionais, e a liberdade para negociar a exibição dos jogos em todo o mundo – o que representaria a conquista de novos mercados e a captação de recursos capazes de tirar do vermelho o futebol brasileiro.

Porém, o projeto do Canal do Futebol, sob a alegação de que o custo de produção é alto (cerca de US$ 2,5 milhões/ano) acabou engavetado por Marcelo Campos Pinto, representante da Globo Esportes, braço da emissora carioca responsável pela negociação com os clubes.

Inconformados, cartolas do Clube dos 13 se aproximaram da empresa de marketing esportivo Sport Promotion que, por sua vez, se associou à produtora de TV Casablanca (que faz novelas para a TV Record) e iniciaram estudos para viabilizar o projeto. A história provocou mal-estar na Globo.

Recentemente, o diretor-geral, Otávio Florisbal, esteve reunido com representantes de clubes. No encontro deixou claro que a emissora não abre mão do projeto. Detalhe: Campos Pinto não foi convidado para a conversa.

Conflito interno – Enquanto Globo e Sport Promotion realizam estudos próprios sobre o assunto, algumas divergências entre os clubes também ameaçam a idéia. Corinthians, Flamengo e São Paulo, por exemplo, se recusam a assinar a autorização para criação do canal enquanto não forem definidos os critérios de partilha das receitas.

Os três defendem a proporcionalidade. Ou seja, o clube receberia de acordo com sua exposição. Aliás, proposta idêntica à apresentada para o pay-per-view do Brasileirão. O formato desagrada aos médios e pequenos. ‘Na Itália o dinheiro é concentrado entre os cinco maiores e impede o crescimento dos demais’, explicou o diretor do C13, Mauro Holzmann.

‘Primeiro precisamos pensar em como tornar o bolo uma realidade. Não adiantar pensar na divisão se ele ainda não existe.’

Para o vice-presidente de Futebol do Corinthians, Antonio Roque Citadini, o aval alvinegro não sairá enquanto o clube não for informado sobre os critérios de distribuição. ‘A cota do Corinthians é cerca de 20% maior, por exemplo, do que a do Bahia. Agora, veja o que a Globo tem de audiência e o que se vende de pay-per-view dos dois clubes e veja se é justo esse formato’, rebateu o dirigente.’