Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

La Traviata corporativa

Em descomunal jogo de interesses, a dança entre o que se fala e o que se faz lacra as esperanças de Violetta Duplessis (o povo) em um peito social tuberculoso. Afora o fim anunciado, as relações de trabalho clamam por inovações que de maneira responsável estabilizem os parâmetros de satisfação e desenvolvimento.

Ante os abalos do mercado, é evidente a necessidade de mudança. O modelo de gestão de pessoas deve estar fundamentado em diálogo transparente, remuneração adequada, ambiente de trabalho agradável (infraestrutura e relacionamento), capacitação (e atualização), inovação e resultados. Praticar o que se diz em discurso é a única solução; transformar as palavras das mensagens corporativas em ações efetivas para proporcionar viabilidade econômica ao empreendimento aliada à satisfação dos empregados.

Reconhecimento: o que todos buscam desde a saída do ventre. Desde a primeira olhada no espelho, ou nos olhos de outro (primeira infância). Poucos consideram que para reconhecer algo é preciso visualizar seus limites, para então compreender seu sistema, sua dinâmica de ação e não seu repertório, ou sua essência. O egoísmo fale empresas, relacionamentos e narrativas. O desejo por reconhecimento cria novas tecnologias, seduz, escreve no presente a história do futuro.

Manifestações negativas e positivas

Desta feita, o sonho surge como um produto de convencimento, não apenas no ambiente de trabalho, mas fundamentalmente no campo pessoal. Na vida corporativa, o gestor que souber conhecer e lidar com os sonhos (profissionais e pessoais) dos empregados terá à sua disposição uma excelente ferramenta de gestão. A gestão entre o estímulo de sonhos, alinhamento de desejos e administração de anseios básicos. Como transformar isso em mensagem e disseminá-la além das reuniões fechadas, indicações, festas corporativas, encontros ao redor da garrafa de café e diante do espelho nos banheiros coletivos?

Comunicação física (material) versus comunicação digital. A escolha entre as duas, ou a integração de ambas, considera aspectos como o objetivo da ação, os custos, a natureza de acessos às ferramentas, linguagem, periodicidade, o ritmo, a distribuição. Identidade.

A avalanche de informações e versões, juntamente com o estímulo profissional (desafios +remuneração) deve ceder espaço para manifestações negativas (embora responsáveis) e positivas (não propagandísticas) por parte dos empregados.

O trombone se transformou

Atualmente, as pessoas se informam da mesma maneira que consomem produtos. Isto preocupa, em uma sociedade onde o poder aquisitivo aumentou boa parte em função da disponibilização de crédito e estímulo ao consumo (esse último uma estratégia da política econômica). Ou seja, o alto índice de consumo (de informação e produtos) não significa a existência de uma base a suportar tal comportamento.

O fazer jornalismo, o fazer comunicação, sofreu interferências (boas e ruins) da tecnologia. A mídia precisa passar o que é imediato de forma simples; todavia, precisa formar público para reflexões profundas a respeito do que é imediato e como isso se relaciona com o futuro e presente de todos.

No ambiente corporativo, não existem mais ilhas. Cada empregado é um formador de opinião estratégico, com poder de influência amplificado pelas novas tecnologias. Até os nômades no deserto fazem música e ecoam no mundo inteiro (Tinariwen), quiçá os plugados funcionários com dedos que comandam telas, telefones que pagam contas, postam fotos, vídeos e recebem informações via internet. O trombone se transformou, cabe a boca de todos aos ouvidos de muitos.

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[Rudson Vieira é jornalista, Coronel Fabriciano, MG]