Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Os donos da notícia

Tudo bem, a Tribuna do Brasil não está entre os maiores jornais do país (ao menos por enquanto). Mas circula em Brasília, sede do poder federal, e tem o potencial de chegar a leitores de importância, formadores de opinião. Agora, a pergunta: de quem é a Tribuna do Brasil? Quem são seus proprietários?

Sabe-se pela imprensa que o jornal foi vendido, mas não se diz a quem. Alega-se que foi comprado por investidores de São Paulo, que preferem não se identificar. Informa-se apenas que seu representante, que dirige a empresa em seu nome, é um jornalista de peso, respeitado, conhecido: Etevaldo Dias.

O problema é que, pela lei brasileira, os proprietários de uma empresa de comunicação não podem ser anônimos. E a imprensa, que chegou a extremos para descobrir quem são os investidores que formam a MSI (Media Sports Investment), que se associou ao Corinthians, não mostrou o mesmo empenho em saber quem é que pretende formar a opinião púbica do país. Um clube esportivo pode legalmente ter investidores não-identificados; uma empresa jornalística, não.

Uma parcela do esforço gasto com Kia Joorabchian, o iraniano com nome de armênio que fala inglês e levou três argentinos para o time mais popular do Brasil, daria para apurar tudo sobre a Tribuna do Brasil. Etevaldo é acessível, simpático e, ao contrário de Kia, fala português. Qualquer hora este colunista liga para ele. Mas prefere ser informado junto com os demais leitores, pela imprensa.



Olha o homem!

Este colunista andou lendo por aí que não foi possível encontrar Zaza Toidze, o político da Georgia que fez um empréstimo de 2 milhões de dólares ao Corinthians (ou à MSI). Então, vá lá: uma ligeira pesquisa no Google, que não levou mais de dois minutos, mostra que Zaza Toidze comanda o partido União pelo Renascimento (a Georgia foi parte da União Soviética e, antes, do Império Russo, por algumas centenas de anos). É membro da Comissão Central Eleitoral do país.



A vítima

Afinal, o engenheiro João José de Vasconcellos Jr., vítima de terroristas muçulmanos no Iraque, está vivo ou morto? Vasconcellos foi sequestrado em 19 de janeiro. Seus documentos foram exibidos naqueles vídeos que os terroristas encaminham às TVs. Mas não houve pedido público de resgate. De acordo com o colunista Cláudio Humberto, Vasconcellos Jr. morreu. Um diplomata da Jordânia, Azmir Abbas Mirza, estaria em Brasília para dar a notícia e devolver os documentos da vítima. Cláudio Humberto dá o assunto como encerrado. O restante da imprensa continua em dúvida. Mas algum trabalho básico de jornalismo precisa ser feito: Mirza está mesmo em Brasília? Que tal entrevistá-lo? E, se não quiser dar entrevistas, por que não informar que ele está no país e não fala?



O bebê de Ronaldelli

Dois jornais, um do Rio e um de São Paulo, noticiaram que Daniella Cicarelli está grávida. A informação, dada com certeza, sem qualquer condicionante, diz que ela está de um mês. No dia seguinte, em nota oficial, Daniella Cicarelli desmentiu a informação. Alguém está errado – e no caso logo saberemos quem.



Seguro inseguro

É um caso espantoso: mostra que, mesmo tomando todas as cautelas, mesmo gastando muito dinheiro, o consumidor pode pensar que tem seguro sem que o seguro seja para valer. Pior: ao recorrer ao seguro, o consumidor pode estar entrando num longo caminho de aborrecimentos, que incluem inquérito policial (contra ele!) e visitas que lhe sugerem pagar uma graninha por fora para evitar aborrecimentos. Este colunista sente falta, no noticiário, de certas informações:

1. Há apenas funcionários envolvidos? Que é que eles ganham com isso? Se a empresa deixa de honrar um seguro que deveria ser pago, que vantagem levam os funcionários? Haverá algum prêmio ou coisa parecida pela economia?

2. Por que a Susep (Superintendência dos Seguros Privados) passou batida pela operação? O fato de 600 inquéritos serem instaurados num só distrito, com um só escrivão e com a interferência de apenas três delegados não deveria ter provocado suspeitas num órgão que existe exatamente para fiscalizar o mercado?

3. Por que o Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais) não percebeu que havia tantos inquéritos concentrados? Distração? Falta de condições de análise?

4. Este colunista tem seguro de carro. Que deve fazer? Pode trocar de empresa a qualquer momento, se achar que a atual seguradora não vem agindo corretamente? Tem de esperar o fim do contrato? Como agir em caso de furto, para não ser vítima de aborrecimentos como os que já atingiram tanta gente?



E o pãozinho?

Há quase dois meses o governador Geraldo Alckmin colocou em zero a alíquota de ICMS da farinha de trigo e do pãozinho. Há uns seis meses ouvimos reclamações sobre a queda do dólar com relação ao real. Ora, quando o dólar se valorizou, o trigo importado ficou mais caro e o pãozinho subiu (como subiram as massas). Agora, que o dólar está mais barato, e o ICMS foi zerado, caiu o preço do pãozinho em algum lugar? Cadê a matéria? Cadê a reportagem?

A propósito, fala-se que, ao contrário, o preço do pãozinho e da farinha vai mesmo é subir. Os jornais dão a notícia como se não tivesse antecedentes: não há qualquer referência à queda do dólar nem à redução do imposto.

Depois a gente se queixa da queda de circulação. Se os temas que interessam à população ficam esquecidos, para que é que vamos comprar jornais?