Monday, 02 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Só falta editorial

Na sexta-feira e no sábado, reportagens da Folha contra a decisão da Prefeitura de São Paulo de construir um obstáculo à permanência de moradores de rua na passagem subterrânea que liga a Avenida Doutor Arnaldo à Avenida Paulista, usaram no título a expressão “rampa antimendigo”. Mas uma pesquisa da Associação Paulista Viva, usada pelo jornal, mostrou que a maioria só pede comida, não esmola.


A sociologia da defesa da permanência dos moradores na passagem subterrânea é um besteirol pomposo que inclui a idéia de que a ação do prefeito José Serra pode levar, abre aspas, “a um apartheid social cujas conseqüências são imprevisíveis e trágicas”, fecha aspas.


O que fez muita falta à reportagem foi memória e capacidade de articulação dos fatos. A prefeita Luíza Erundina fez há quinze anos rampas inclinadas numa das pontas do Minhocão, no final da Avenida Amaral Gurgel. Se a reportagem tivesse prestado atenção no caminho entre a Avenida Barão de Limeira, onde fica a redação da Folha, e a Rua da Consolação, por onde se sobe para chegar à passagem da Doutor Arnaldo à Paulista, teria constatado que o maior problema das rampas é que elas não funcionam. Sábado, sob dois braços de viaduto, havia várias famílias com carrinhos e caixotes aninhadas junto à rampa. Que, na época, produziu discussão semelhante. A Prefeitura argumenta que sob o Minhocão não há assaltos. Pode ser. Mas recomenda-se uma consulta ao registro de homicídios na área, conhecida como Boca do Lixo.