Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Bolsonaro está queimando o Brasil

(Foto: José Cruz/Agência Brasil)

O fogo não está destruindo apenas a floresta amazônica, ele já se alastrou pela Europa e pelo resto do mundo, horrorizados com esse crime ambiental cometido por posseiros, invasores, plantadores de soja, madeireiros, garimpeiros e criadores de gado, com autorização tácita do presidente Bolsonaro e de seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Aos clamores das árvores centenárias, derrubadas por motosserras ou transformadas em carvão no crepitar das queimadas atiçadas pelos ventos, ouvidos por todo o planeta, juntam-se os prantos das famílias dos que morrem vítimas do coronavírus, na indiferença do presidente Bolsonaro e seu governo.

Ao crime ambiental soma-se esse crime sanitário, enquanto um terço da população brasileira iludida, enganada e manipulada se consola e se satisfaz com as orações e explicações conformistas de pastores exploradores da fé, nos templos ou no youtube, do tipo Silas Malafaia ou Edir Macedo.

Entretanto, esses choros, gritos e ranger de dentes, mesmo abafados, ressoam e começam a mobilizar pessoas, entidades, organizações internacionais e mesmo setores da economia mundial. Na santa ingenuidade da ignorância, Bolsonaro, que deve ser zero em matéria de política e economia mundiais, imaginava poder cometer esses crimes na impunidade, escondido atrás das nuvens de fumaça que destroem a Amazônia.

Mas as nuvens de fumaça circulam e o cheiro das árvores, animais e pássaros queimados nesse grande churrasco denunciam os crimes e exigem punição dos culpados com embargos dos cereais e das carnes originários do Brasil. Mais algumas semanas e essa produção criminosa brasileira ficará provavelmente sem escoamento por falta de compradores.

A situação já está deixando de ser uma ameaça para se tornar realidade. Alguns empresários brasileiros temerosos do embargo pediram — conta o jornal alemão Die Zeit — para Bolsonaro ser menos cruel com a Amazônia e demitir do ministro Ricardo Salles, do Meio-Ambiente. Esse título é uma piada, pois esse ministro é, na verdade, o maior incentivador da destruição da Amazônia.

Onde o crime se consuma

Não há justificativa possível e talvez nem mesmo interesse do governo Bolsonaro em esconder ou disfarçar essa situação. Intervenções e intimidações no Ibama retiraram os funcionários encarregados da proteção ambiental e os transferiram para outros setores.

O jornal alemão Die Zeit cita essa situação comentada num artigo do jornal Estadão, dando conta do corte de verbas para as ações contra garimpeiros e madeireiros ilegais. O setor destinado à proteção dos indígenas em suas reservas ficou sem verbas e não tem mais condições para agir.

O jornal alemão ressalta que aos poucos a população brasileira começa a tomar conhecimento dessa superexploração da natureza brasileira.

É verdade, se não houver logo um basta para o desflorestamento, a floresta amazônica estará com seu futuro comprometido. A região desmatada, facilmente vista por satélite, irá perdendo sua atual umidade para se transformar em planícies secas ou facilmente inundáveis na época das chuvas.

Roubar da floresta enormes áreas parecia ser um bom negócio, pois o governo logo distribuirá os títulos de propriedade aos “desbravadores”. Porém, os investidores estrangeiros, alertados por organizações de defesa do meio-ambiente, começam a desconfiar da rentabilidade dessa violência à natureza.

Fora isso, paira uma ameaça sobre os próprios investidores estrangeiros — a devastação das florestas brasileiras repercutirá nas mudanças climáticas tão temidas. Investir capitais na destruição do planeta não é certamente um bom negócio.

A imprensa européia publicou como intimidação a demissão diretor do Inpe, Ricardo Galvão, por ter feito questionamentos sobre a extensão dos incêndios na Amazônia. A esse ato de bandidagem do presidente Bolsonaro contra um funcionário categorizado, a classe científica respondeu elegendo Ricardo Galvão o cientista do ano. Die Zeit também conta ter sido proibida por Bolsonaro a divulgação dos números atualizados do desmatamento provocados por incêndios.

A destruição da imagem do Brasil no exterior fica evidente com a negativa da Comunidade Européia de apoiar um acordo com o Mercosul e isso provavelmente fará os países latino americanos se voltarem, em breve, contra o Brasil.

Em síntese, é a própria estrutura da economia brasileira, tão bem criada e articulada em tantos anos, que poderá ruir como um castelo de cartas, em consequência da insana política do crime ambiental promovida pelo governo Bolsonaro.

É o crime ambiental posto em prática com irresponsabilidade e incompetência, pois nos tempos atuais de consciência social ambiental, só mesmo um grupo de bandidos se atreveria a destruir o que se costuma chamar de pulmões do planeta. Não há justificativa mesmo em termos de nacionalismo, porque a destruição da Amazônia será funesta para o próprio Brasil.

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e RFI.