O artigo ‘Gestão da qualidade da informação no contexto das organizações:
percepções a partir do experimento de análise da confiabilidade dos jornais
eletrônicos’, publicado recentemente pela revista Perspectivas em Ciência da
Informação (da Escola de Ciência da Informação da UFMG), trata de uma das
importantes dimensões da qualidade da informação: a credibilidade da fonte. O
tema é discutido a partir da análise da credibilidade dos jornais eletrônicos
pertencentes às mídias jornalísticas impressas brasileiras, propriedade dos dez
maiores jornais brasileiros em termos de circulação média diária, segundo
apurado pela Associação Nacional de Jornais.
Os critérios utilizados para apuração do nível de credibilidade da fonte
jornalista foram os mesmos empregados pelo International Center for Media and
the Public Agenda (ICMPA), da Universidade de Maryland (EUA), que analisou o
nível de transparência de 25 importantes sítios (web sites) de notícias,
pertencentes a importantes empresas de mídia dos Estados Unidos, Inglaterra e
Oriente Médio. Dessa forma, a pesquisa pautou-se em cinco atributos diretamente
associados à transparência das entidades jornalísticas junto aos leitores:
correção de erros; propriedade; política de emprego; política editorial e
interatividade. Para cada um dos cinco atributos relacionados à transparência,
definiram-se características a serem analisadas e classificadas, descritas no
Quadro 1.
QUADRO 1
Atributos e seus aspectos considerados para |
Atributo: Correção de erros |
Pergunta de referência: Existe disposição da mídia em reconhecer e retificar publicamente seus erros? |
Aspectos considerados para classificação: Transparência inexistente (0): não há publicação de textos referentes a tratamento de erros; Pouca transparência (1): textos de correções são encontrados, porém de forma parcial, seja apenas para uma ou algumas sessões específicas de temas ou assuntos tratados pela mídia, ou apenas para um período de tempo, para publicações mais antigas; ou seja, há indícios de que não se trata de uma prática vigente e organizacional; Média transparência (2): textos de correções existem, porém encontram-se fragmentados e distribuídos nas próprias páginas onde ocorreram os erros; Boa transparência (3): correções e esclarecimentos sobre publicações atuais são facilmente encontrados, centralizados na página de erratas, essas estão associadas ao texto original onde ocorreu o erro por intermédio de um link, porém não possuem fácil acesso, requerem mais de dois cliques de mouse a partir da página principal da mídia; Transparência total (4): correções e esclarecimentos sobre publicações atuais são facilmente encontrados (até dois cliques a partir da página central), centralizados em página de errata e vinculados ao texto original onde ocorreu o erro por intermédio de link. |
Atributo: Propriedade |
Pergunta de referência: A mídia informa quem são seus proprietários? |
Aspectos considerados para classificação: Transparência inexistente (0): informação sobre os proprietários da mídia não disponível; Pouca transparência (1): informação disponível, porém de difícil acesso (requer mais de dois cliques de mouse a partir da tela principal do jornal eletrônico) e pouco informativa ou significativa; por exemplo, descreve imbróglio societário; Média transparência (2): informação facilmente encontrada (acessada com até dois cliques de mouse a partir da tela principal do jornal eletrônico), porém pouco informativa ou significativa; por exemplo, descreve imbróglio societário; Boa transparência (3): informação apresentada de forma clara, porém de difícil acesso (requer mais de dois cliques de mouse a partir da tela principal do jornal eletrônico); Transparência total (4): informação apresentada de forma clara e facilmente encontrada (acessada com até dois cliques de mouse a partir da tela principal do jornal eletrônico). |
Atributo: Política de emprego |
Pergunta de referência: Os leitores são informados sobre como a empresa direciona seus colaboradores no tratamento de conflitos de interesses? |
Aspectos considerados para classificação: Transparência inexistente (0): não há publicação de textos ou documentos referentes ao Código de Ética e Conflitos de Interesses a serem seguidos pelos colaboradores; Pouca transparência (1): há um Código de Ética, porém esse é vago, desatualizado e não faz menção aos possíveis conflitos de interesse; Média transparência (2): há um Código de Ética disponível, porém não há menção aos possíveis conflitos de interesse; Boa transparência (3): há um Código de Ética disponível, porém o tratamento dado à política de conflito de interesse é vaga; Transparência total (4): os documentos Código de Ética e conflitos de interesse são claros, objetivos e facilmente encontrados pelos leitores (acessados com até dois cliques de mouse a partir da tela principal do jornal eletrônico). |
Atributo: Política editorial |
Pergunta de referência: Os leitores são informados sobre os valores organizacionais que orientam o trabalho dos seus colaboradores? |
Aspectos considerados para classificação: Transparência inexistente (0): não há publicação de textos referentes à política editorial; Pouca transparência (1): há política editorial, seus textos estão subdivididos em partes localizadas em diferentes páginas do jornal eletrônico, sendo sua redação vaga; Média transparência (2): a política editorial encontra-se centralizada, porém a sua redação é vaga; Boa transparência (3): os textos são claros, objetivos, porém de difícil acesso; encontram-se, por exemplo, subdivididos em partes localizadas em diferentes páginas do jornal; Transparência total (4): os textos referentes à política editorial estão centralizados em uma página, são claros, objetivos e de fácil acesso aos leitores. |
Atributo: Interatividade |
Pergunta de referência: Os leitores são incentivados a expressarem seus comentários e críticas a respeito das publicações da mídia? |
Aspectos considerados para classificação: Transparência inexistente (0): não provê facilidades para interação dos leitores; Pouca transparência (1): provê apenas a facilidade de carta ao editor; Média transparência (2): apresenta diversas facilidades para interação de seus leitores (seção carta ao editor, blogs, divulgação de e-mail dos colaboradores, entre outras), porém disponíveis apenas aos leitores assinantes; Boa transparência (3): apresenta diversas facilidades para interação de todos seus leitores (seção carta ao editor, comente a notícia, dando visibilidade da opinião de outros leitores; blogs; divulgação de e-mail dos colaboradores, entre outras), sejam eles assinantes ou não; Transparência total (4): similar ao item anterior, porém acrescido de forte estímulo à interação dos usuários como, por exemplo, o fornecimento grátis de serviços (alertas sobre notícias de interesse, resumo de notícias por e-mail) ou sorteio de prêmios entre os que interagem (descontos na assinatura do jornal). |
Fonte: De Sordi, Meireles e Grijó (2008) |
A partir da análise do ambiente eletrônico das mídias analisadas, perante os
aspectos definidos para cada um dos cinco atributos, obteve-se o nível de
credibilidade das fontes. Esse foi definido em uma escala de cinco níveis:
transparência inexistente (0), pouca transparência (1), média transparência (2),
boa transparência (3), e transparência total (4). A Tabela 1 apresenta os
resultados apurados.
O resultado das análises das mídias brasileiras, apresentado no Quadro 1, é
coerente com os resultados obtidos na pesquisa em âmbito global realizado pelo
ICMPA. A mídia brasileira mais bem avaliada, Folha de S.Paulo, dentro do
contexto global de transparência gerado pelo ICMPA, estaria na décima posição
com a mesma pontuação que o Washington Post, ambos com avaliação igual a
2,4 (dois inteiros e quatro décimos), ou seja, ‘média transparência’. As
avaliações obtidas pelas duas mídias nos cinco atributos são muito próximas.
Comparando as duas pesquisas, observam-se os mesmos padrões de classificação dos
atributos relacionados à confiabilidade; ou seja, as dificuldades dos principais
jornais brasileiros com respeito à transparência são as mesmas das dos grandes
jornais internacionais. Na pesquisa do ICMPA, apenas 13 (treze) dos 25 (vinte e
cinco) jornais analisados receberam avaliação maior ou igual a 2 (dois), ou
seja, compreendidos como mídias de ‘média transparência’.
TABELA 1 Nível de transparência dos jornais eletrônicos analisados | ||||||
Jornal | Correção de Erros | Propriedade | Politica de Emprego | Politica Editorial | Interatividade | Nível de Transparência* |
Folha de S.Paulo | 4 | 3 | 0 | 2 | 3 | 2,4 |
O Globo | 2 | 4 | 0 | 0 | 3 | 1,8 |
O Estado de S. Paulo | 2 | 3 | 0 | 1 | 3 | 1,8 |
Extra | 0 | 4 | 0 | 0 | 1 | 1,0 |
Zero Hora | 0 | 2 | 0 | 0 | 1 | 0,6 |
Diário Gaúcho | 0 | 2 | 0 | 0 | 1 | 0,6 |
Correio do Povo | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 0,2 |
Super Notícia | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 0,2 |
O Dia | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
* Nível de transparência: 0 = inexistente 1 = pouca 2 = média 3 = boa 4 = total | ||||||
Fonte: De Sordi, Meireles e Grijó (2008) |
Nas 28 páginas do artigo estão descritos os detalhes das análises realizadas
para cada uma das dez mídias analisadas. O artigo na íntegra está disponível aqui.
******
Pesquisador e professor do mestrado em Administração da Universidade Municipal de São Caetano do Sul