Wednesday, 15 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

O contragolpe na censura

Conforme reza o artigo 2º da Constituição da República Federativa do Brasil, nosso sistema democrático é composto pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; independentes e harmônicos entre si. Há quem diga que a democracia só é realmente legítima com a existência de um outro poder: a imprensa livre (também assegurada pela Carta Magna, diga-se).

Em mais um desses casos no qual podemos perceber a ação do Quarto Poder, o programa Fantástico, da TV Globo, exibiu no domingo (15/5) um retrato da corrupção que permeia a relação entre os três poderes legítimos do estado de Rondônia.

Mais nefasto do que as imagens dos seis deputados estaduais cobrando propina para votar contra o impeachment do governador Ivo Cassol, só mesmo a medida judicial, perpetrada pelos mesmos deputados, que censurou a exibição da matéria naquele estado, atentando duplamente contra a Constituição e ferindo a liberdade de imprensa e o direito de informação dos cidadãos.

Felizmente a palavra ‘censura’ foi riscada há algum tempo do vocabulário e da vida política nacional – e a reação aconteceu, como era de se esperar. O contragolpe partiu, como é comum nestes casos, da classe estudantil.

Uma vez que a televisão estava proibida de exibir a matéria em Rondônia, os estudantes conseguiram fitas com cópias da reportagem enviadas por colegas de outros estados. Assim, DCEs e Centros Acadêmicos exibiram exaustivamente a matéria em de telões em várias universidades, revelando para a população o nome dos deputados envolvidos no esquema de corrupção.

Um sinal

O que se viu a seguir foi uma onda de protestos e mobilizações populares, como a que reuniu centenas de pessoas dispostas a invadir o prédio Assembléia Legislativa. Com a interferência da Polícia Militar, que impediu a invasão, iniciou-se um confronto que deixou como saldo de mais de 20 feridos, alguns estudantes presos e o vidro da porta principal de acesso da Assembléia, estilhaçado.

As ações mais exaltadas, como as de dezembro de 2004, quanto estudantes quebraram vidros do prédio da Câmara dos Deputados durante um protesto em Brasília, devem ser condenadas, assim como todo e qualquer atentado contra o patrimônio público.

Mas deve-se reconhecer que o ato dos estudantes de Rondônia têm grande valor simbólico: ao ser estilhaçado, o vidro da Assembléia Legislativa representou a fragilidade do sistema político em que vivemos. A pedra lançada foi apenas um sinal da energia potencial presente hoje na juventude brasileira.

******

Estudante de jornalismo da Universidade Tuiuti (Curitiba, PR)