Saturday, 11 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Uma ‘delegação’ e uma obrigação do ser humano

Como todo processo cognitivo bem desenvolvido, iniciaremos a discussão com a exposição dos conceitos sobre comunidade, tema central da proposta.

Dentre as diferentes abordagens sobre, destaca-se a de Thomas Hobbes. Segundo o autor:

‘quando se diz comunidade, que em latim é comunidas, o munos ou comunis dessa palavra comunitas é obrigação radical que se tem para com o outro. O munos de comunidade é isso, é uma obrigação radical. É o imposto originário que nós temos que pagar, por nascermos agregados, por nos relacionarmos com outros indivíduos’ (HOBBES apud SODRÉ, 2008: 06).

Em outras palavras, o autor nos diz que viver em comunidade é uma ‘delegação’ do ser humano, uma obrigação da qual não nos podemos abster porque já nos é impregnada junto à capacidade de nos relacionarmos.

Divergimos, deste modo, da concepção da jornalista e professora da Faculdade de Comunicação e Arte em Itajaí, Elaine Tavares. Para ela, comunidade ‘é um lugar pobre, que as pessoas construíram com as próprias mãos e que tem uma organização articulada, seja por uma Associação de Moradores ou algo semelhante, que os unifica nos seus desejos’.

Mecanismos de supressão

Para melhor elucidar, tomemos o exemplo das folhas volantes, herança da Europa da Idade Média.

A fim de reafirmar sua superioridade diante do restante da sociedade, a aristocracia usava dos ‘informativos’ impressos para divulgar seus atos e aparições. Desde a Idade Média já havia um determinado grupo reunido pelas mesmas afinidades e para os mesmos fins, usufruindo de estratégias de comunicação para se preservar. A intenção e a necessidade continuam no século 21, porém em comunidades e estratégias diferentes.

Ainda de acordo com Hobbes, encontramos o ponto crucial da discussão sobre comunidade, na qual sociedade moderna possui mecanismos de supressão comunitários, ou seja, mecanismos resultantes em um processo de individualização.

Justificamos o pensamento de Hobbes através das análises do estudioso da comunicação de massa John B. Thompson. Em Thompson, esses mecanismos são característicos das sociedades industriais modernas:

‘Com o crescimento dos conhecimentos, os seres humanos desenvolveram seu domínio da natureza – tanto da natureza externa quanto da natureza interna da subjetividade humana – e subordinaram sempre mais o mundo natural ao controle do exercício técnico. Crenças míticas e animísticas foram, progressivamente, sendo eliminadas a favor de uma razão científica, instrumental, que reifica o mundo do ponto de vista técnico’ (THOMPSON, 1990: 31).

Lucro comercial e abrangência

Os novos tempos, orientados pela lógica capitalista, mudaram a orientação do pensamento humano.

Em meio a este processo histórico, surge a necessidade de preservar uma identidade unitária. Na busca por essa identidade, a comunicação comunitária tem o espaço para a ação.

Analisemos o exemplo citado por Felipe Pena em sua obra Teoria do Jornalismo:

‘A Oboré é uma instituição que congrega diversos veículos de comunicação comunitária. […] A organização desenvolveu um núcleo de criação, produção e distribuição de programas especiais para rádios cidadãs, que abastece pequenas e médias emissoras do interior do Brasil com produções voltadas para a educação, meio ambiente, agricultura e saúde’ (PENA, 2005: 187).

Pena discorre sobre a Oboré por conta da capacidade do grupo em se organizar de acordo com suas necessidades. O que é comprovado no seguinte trecho: ‘[…] a grande vedete do debate foi um rádio de manivela, utilizado pela Oboré para divulgar seus programas em lugares aonde a luz elétrica ainda não chegou’ (2005: 187).

A comunicação de massa, por muito se preocupar com o lucro comercial e a abrangência de público, não corresponde às necessidades e expectativas específicas de uma comunidade.

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Estudante do segundo ano de jornalismo da Universidade Norte do Paraná, em Londrina, PR