Friday, 10 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

A reinvenção do espectador

As novas mídias trouxeram novas ferramentas comunicacionais, o que ampliou e dinamizou o processo de compartilhamento de informação. Produtor e consumidor confundiram-se; afinal, se antes o espectador era passivo, hoje ele integra de fato o processo. Entretanto, com essa fusão de papéis, e consequentemente a nova configuração do ethos contemporâneo, questões como a dos direitos autorais acabaram se modificando. Na cultura da convergência, o sujeito midiático assume um papel nunca antes visto: ele produz, se torna fonte de pesquisa e se desprende do simples estigma de consumidor. Porém, este cenário é dúbio, é remédio e veneno, como afirma Jenkins: “Quando as pessoas assumem o controle das mídias, os resultados podem ser maravilhosamente criativos ou uma má notícia para todos os envolvidos” (2008, p.45). Afinal, até onde pode ir essa participação do indivíduo? Um dos pilares do fenômeno da convergência é a transferência do controle das mídias para qualquer sujeito que deseja colaborar com esse processo.

Assim, a convergência corporativa coexiste com a convergência alternativa, pois os indivíduos lidam com a mídia de modos imprevisíveis. Dessa forma, o ethos, que não é o mesmo, devido à inconstância, fragmentação e mutação de nossas identidades pessoais, propicia ao sujeito midiático assumir posturas inéditas.

Possibilidades e plataformas

A participação e a produção dos fãs sempre estiveram presentes na indústria. O que muda com a convergência é a amplitude, e acima de tudo, a visibilidade desses materiais. O ciberespaço potencializou a participação do sujeito, a produção cultural amadora – tal como releituras de filmes, covers, fan fiction, entre outros conteúdos – e mostrou ao mundo o que estava sendo feito pelos fãs. O público passa a integrar a cultura participativa e esta coexiste com a cultura comercial, porém, até que ponto elas poderão dividir o mesmo espaço? Perante a um mercado saturado, as indústrias dependem cada vez mais de sujeitos midiáticos ativos.

Além de modificar os mass media e a forma de se produzir entretenimento a convergência está nos modificando. Pois o sujeito integra o ecossistema comunicacional de uma maneira inédita. Através de exemplos recentes e de diversas áreas, podemos concluir que esse fenômeno midiático célebre permeia qualquer mídia contemporânea e a cada dia inúmeros Diagramas de Venn se interceptam criando, assim, novas possibilidades e plataformas. A convergência não é um o ponto final, nem o futuro; é o presente da comunicação e nós, sujeitos contemporâneos, estamos inteiramente ligados e fragmentados como ela.

Referência

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. 2ª ed. São Paulo: ed. Aleph, 2008.

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[Daiana Sigiliano é jornalista]