Tuesday, 14 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Falta equidade na cobertura literária

Uma pesquisa da organização americana Vida, que apoia mulheres na literatura, revelou desigualidade de gênero tanto na escolha de críticos quanto na de autores na cobertura literária de publicações jornalísticas – especializadas ou não.

No ano passado, as mulheres representaram apenas 16% dos críticos da revista literária britânica London Review of Books (29 de um total de 184) e 26% dos autores que tiveram trabalhos resenhados (58 de 221); já na revista literária americana New York Review of Boooks, as mulheres eram 21% dos 254 críticos e 17% dos 92 autores; 13% dos 152 artigos sobre literatura foram escritos por elas. Na publicação semanal The Times Literary Supplement, o número foi um pouco maior: das 1.163 críticas, 30% foram escritas por mulheres e, dos 1.314 autores, 25% eram do sexo feminino. Na americana New Yorker, a proporção foi de 613 homens para 242 mulheres, entre críticos e autores. A única revista a ter mais colaboradores mulheres do que homens foi a britânica Granta, com 53%, muito por conta de uma edição especial sobre o tema “feminismo”, feita apenas por mulheres.

Fora da realidade

Para a escritora Jodi Picoult, autora de diversos best-sellers, as estatísticas da Vida mostram que as publicações não refletem a realidade, pois há muitos bons livros escritos por mulheres e. “Agradeço à Vida por reforçar o que muitos leitores já tinham de impressão e por lembrar aos editores das publicações que divulgam críticas de livros que estamos cientes da diferença de gênero que elas ajudaram a criar. Agora, as desafiamos a ajudar a resolver isto”, disse.

No Guardian e no Observer, onde no último mês 37% das críticas foram escritas por mulheres e 25% dos livros revisados eram de escritoras, a editora da seção literária, Lisa Allardice, afirmou que ficou triste, mas não surpresa, com os números da pesquisa. “Parece que as publicações com mais reputação intelectual são as com os piores resultados”, afirmou, explicando que o desequilíbrio era especialmente evidente na categoria não-ficção: no Guardian e no Observer, 26% dos críticos deste gênero eram mulheres, enquanto no gênero de ficção o número sobe para 55% de mulheres. “É fato que mulheres estão escrevendo cada vez menos não-ficção, então os críticos deste gênero tendem a ser homens. Percebi que, sem querer cair no estereótipo, mulheres são muito mais relutantes em comentar temas sobre os quais não se sentem autoridades completas – o que, em geral, não parece ser um problema para os homens”.

Para Erin Belieu, co-diretora da Vida, as estatísticas mostram que há algum tipo de preconceito sistêmico no trabalho. “Não há equidade de gênero em praticamente todo aspecto das nossas vidas. Como o mundo literário seria diferente em termos de como as mulheres são vistas e valorizadas?”, questionou. Informações de Alison Flood e Michael Bonnet [The Guardian, 2/3/12].