Friday, 10 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

A intenção das intenções

Periodicamente a mídia corporativa publica essas pesquisas de intenção de voto, mas nunca publica com o mesmo destaque quais os grupos políticos que as encomendaram.

‘A opinião pública não existe’, provocava o sociólogo francês Pierre Bourdieu, já que as pesquisas partem do pressuposto de que todos têm opinião formada a respeito de tudo. Enquanto isso, Brizola brigava pela proibição dessas pesquisas, pois elas sofrem toda sorte da manipulação, como ficou claro, por exemplo, no caso Proconsult, em que a divulgação dos dados era parte do golpe operado pela Globo para eleger Moreira Franco governador do Rio de Janeiro, nas eleições estaduais de 1982, em lugar do líder pedetista. A estratégia era condicionar a opinião pública a aceitar o resultado fraudado. Felizmente a manobra foi descoberta a tempo, Brizola eleito, e as equipes da Globo hostilizadas pelo povo nas ruas.

O objetivo das pesquisas divulgadas na terça e quarta-feira (13 e 14/12) pela mídia colombina, colombinamente falando, não é saber quem está na frente da corrida presidencial, mas descobrir qual candidato da direita tradicional tem mais chances de derrotar Lula – de modo que este serve apenas como elemento de controle, uma espécie de variável fixa cujo objetivo é medir a evolução dos concorrentes para que eles possam decidir com mais precisão entre os seus.

O povo, como sempre, é feito de cobaia. Dizer que um público de duas mil pessoas é representativo do eleitorado brasileiro só pode ser brincadeira. Duas mil pessoas significam 0,002% do eleitorado. Além disso, o país tem 5.500 municípios. Ou seja, mais da metade das cidades brasileiras não foram consultadas – muito embora votem no dia das eleições. Em outras palavras, não é razoável supor que esse universo consultado seja minimamente capaz de expressar a intenção popular.

Rombo inexplicado 

De todo modo, não deixa de ser engraçado observar como o jornalismo Papai Noel reveste o tema com seriedade. Colunistas respeitados analisam os números em profundidade, âncoras de televisão e rádio anunciam com pompa e circunstância os novos números e os especialistas da vez fazem projeções as mais diversas. Num programa de entrevistas, dos seis participantes cinco garantiram que aquilo que se convencionou chamar de crise fez com que os votos de Lula migrassem – foi o termo utilizado por uma senhora – para José Serra. Quando a outra participante discordou, o programa veio abaixo. Quase não deixaram que ela terminasse seu raciocínio e o apresentador chegou a requisitar a manifestação dos estudantes de jornalismo (sinal dos tempos?) que estavam presentes, obviamente sabendo de antemão que a opinião deles ratificaria o senso comum: a decepção com o PT inverteu a posição verificada em 2002.

De fato, o PT decepcionou muita gente. Mas daí a dizer que o decepcionado vai votar no PSDB existe uma larga diferença, que estão tentando encurtar através dos meios de comunicação de massa. O eleitor minimamente politizado sabe que, em oito anos, o PSDB vendeu o país e deixou um rombo até hoje inexplicado de 75 bilhões de reais enquanto privatizava empresas estratégicas para nosso desenvolvimento, como a Vale do Rio Doce e a Embratel.

Uma coisa é decepção, outra é masoquismo.

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