Saturday, 11 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Jornalistas são agredidos durante manifestação

Ao menos cinco jornalistas foram agredidos pela polícia no domingo quando cobriam protestos antigovernamentais, nos quais morreram quatro pessoas e cinco ficaram feridas, na Bolívia. O epicentro da violência ocorreu na cidade de Sucre, durante as manifestações contra os esforços do governo para aprovar uma nova Constituição, segundo as informações da imprensa internacional. Na cidade de La Paz também foram registrados casos de violência na segunda-feira, quando simpatizantes do presidente Evo Morales acossaram jornalistas.

A Assembléia Constituinte da Bolívia aprovou, nas primeiras horas do domingo, um projeto da nova Constituição, segundo os informes da imprensa. Ela permitiria a reeleição indefinida de Morales e, segundo o presidente, outorgaria poder à maioria indígena marginalizada. A Constituição ainda deve ser aprovada, artigo por artigo, e submetida a um referendo nacional.

Em Sucre – onde os manifestantes vinham pedindo a transferência da capital para a cidade –, Aizar Raldes, fotógrafo da AFP, Ricardo Montero e Pablo Ortiz, fotógrafo e jornalista do diário El Deber, da cidade de Santa Cruz, e Adriana Gutiérrez e Pablo Tudela, repórter e cinegrafista da estação nacional de televisão PAT, estavam cobrindo os protestos quando foram agredidos a socos e pontas-pé pela polícia, segundo informou o jornal La Razón. Os jornalistas, que se refugiaram em uma casa próxima, não ficaram seriamente feridos.

‘Veracidade e responsabilidade’

O presidente Morales liderou, na segunda-feira, uma marcha em La Paz em apoio às mudanças propostas. Jornalistas que trabalham para os meios de comunicação privados foram intimidados por simpatizantes do governo na Praça Murillo, informou o La Razón. Grupos indígenas e militantes do Movimento ao Socialismo gritaram ‘morte à imprensa’ e ‘morte à Unitel’, em referência à emissora de televisão sediada em Santa Cruz que é conhecida por seus pontos de vista de oposição, segundo informou o matutino.

Após a marcha de segunda-feira, um grupo de manifestantes atirou pedras contra os escritórios da Unitel em La Paz e se reuniu em frente às instalações das estações privadas de televisão PAT e ATB, que pertencem ao grupo midiático espanhol Prisa, e fizeram ameaças e proferiram insultos, de acordo com relatos da imprensa local.

‘Estamos alarmados pelos recentes ataques contra a imprensa em um momento no qual os bolivianos necessitam permanecer informados sobre as mudanças políticas cruciais que afetarão suas vidas’ disse Joel Simon, diretor-executivo do CPJ. ‘Instamos as autoridades bolivianas a assegurarem que os jornalistas possam trabalhar livremente.’

Ativistas que defendem a liberdade de imprensa expressaram sua preocupação sobre alguns artigos, com definições vagas, que podem dificultar o trabalho dos meios de comunicação. De acordo com o novo texto constitucional, as informações e as opiniões emitidas através dos meios de comunicação devem respeitar os princípios de ‘veracidade e responsabilidade’, segundo reportou o matutino La Prensa de La Paz.

Retórica agressiva

‘Exortamos o governo boliviano a assegurar que as reformas constitucionais não restrinjam a liberdade de imprensa’, acrescentou Simon.

Um funcionário do governo condenou os ataques. Sacha Llorente, vice-ministro de Coordenação com os Movimentos Sociais, afirmou que os ataques não se originaram dos movimentos sociais que apóiam o governo. A Associação Nacional de Imprensa emitiu um comunicado no qual insta o governo a proporcionar garantias de segurança para que a imprensa possa cumprir com seu trabalho sem temor de retaliação física.

No final de setembro, o CPJ publicou um informe especial no qual descreve as relações antagônicas entre os meios de comunicação privados e o governo Morales. No informe, intitulado ‘O Momento Histórico da Bolívia‘, o CPJ documenta a retórica agressiva do presidente e seu efeito sobre a liberdade de expressão no país andino. Mais de uma dezena de ataques contra jornalistas, em alguns casos perpetrados por manifestantes que simpatizam com o governo, foram registrados nos últimos meses. [Nova York, 27 de novembro de 2007]

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O CPJ é uma organização independente, sem fins lucrativos, sediada em Nova York, que se dedica a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo