Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Mortandade em Imbariê, Caxias

Uma guerra de quadrilhas de traficantes iniciada na noite de sexta-feira, 25 de julho, teria provocado em bairros do distrito de Imbariê, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, 17 mortes até a noite de terça-feira (29/7), segundo relato de moradores ao frade franciscano Evaristo Pascoal Spengler, da paróquia de Santa Clara de Assis, diocese de Caxias.

Os bairros são Santa Lúcia, Getúlio Cabral e Santa Rosa, onde a Rua Rodrigues Alves foi bloqueada por traficantes, que usaram carcaças de geladeiras preenchidas com concreto para impedir a passagem de carros. De acordo com frei Evaristo, que falou ao Observatório da Imprensa, quatro escolas estaduais não abriram na segunda-feira e na terça, e na noite de terça a grade de ferro do posto de saúde local ficou trancada. Imbariê tem cerca de 100 mil habitantes, disse o padre, que não sabe precisar o número de moradores da região afetada, onde há favelas.

A polícia admitiu ter havido duas mortes na sexta-feira e quatro na terça-feira, porque corpos foram encontrados em covas clandestinas. Moradores dizem que os locais onde esses corpos foram enterrados situam-se à margem dos cemitérios clandestinos propriamente ditos. No site Magé Online são noticiadas 17 mortes.

Ossadas pararam obra do Arco

O governador Luiz Eduardo Pezão esteve na região recentemente. De acordo com a narrativa de frei Evaristo, ele afirmou que cemitérios clandestinos são um problema crônico da Baixada, existente desde os tempos do deputado Tenório Cavalcanti (1906-87). Pezão teria transmitido a sensação de que não há o que fazer.

O padre relatou que durante a construção do Arco Metropolitano – de cujo traçado Imbariê é a continuação territorial – foram encontradas ossadas, inicialmente tidas como vestígios arqueológicos, mas que, examinadas por especialistas, enquanto as obras permaneciam paradas, se revelaram partes de cemitérios clandestinos recentes.

Mídia pode ajudar

O padre espera que um noticiário mais vigoroso sobre o conflito provoque uma intervenção mais eficaz da polícia. Até agora, a cobertura – do jornal Extra e das emissoras Globo, Record, Band e SBT – registra declaração de autoridades negando ter havido o número de mortes anunciado em redes sociais. O Extra (29/7) dá declaração do comandante do 15º Batalhão da PM, tenente-coronel Ranulfo Brandão: “Se fosse verdade, teríamos várias famílias procurando os corpos. Mas isso não está acontecendo.”

A situação crítica em Caxias ocorre em meio a denúncias de redução dos efetivos na periferia da capital fluminense e no interior do estado, enquanto aumenta a proporção de policiais por habitantes em favelas onde foram criadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), como a Rocinha (ver o artigo “Rocinha e São Gonçalo”).