Sunday, 12 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Comunique-se

LITERATURA
Sérgio Matsuura

Entrevista exclusiva com o jornalista Paulo Markun na Flip, 7/7

‘O presidente da Fundação Padre Anchieta, jornalista Paulo Markun, concedeu entrevista ao Comunique-se e falou sobre a cobertura da Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), modelos de TV pública e parcerias entre a TV Cultura e a TV Brasil.

Comunique-se – A TV Cultura é de São Paulo, Paraty é no Rio de Janeiro, mas só a TV Cultura está com um estúdio aqui na Flip. Isso se deve ao projeto editorial da emissora?

Paulo Markun – Com certeza. A TV Cultura é uma TV brasileira e a Festa Literária Internacional de Paraty é um evento nacional. Então, acho que é uma obrigação, em razão de sermos uma TV pública, de acompanhar esse evento e propagar o que aqui se discute da maneira mais ampla possível. No ano passado nós já estivemos aqui, com uma estrutura semelhante, e este ano voltamos.

Comunique-se – Quantos programas estão sendo gravados em Paraty?

Paulo Markun – Nós fizemos o Metrópolis de segunda à sexta, estamos gravando o Letra Livre, o Roda Viva, o Vitrine, enfim, toda a programação adulta da Cultura, de alguma forma está cobrindo o evento de Paraty.

Comunique-se – Recentemente o Orlando Senna saiu da TV Brasil, criticando o modelo de gestão da emissora. Qual a diferença da TV Brasil para a TV Cultura?

Paulo Markun – A TV Brasil é uma empresa pública. A TV Cultura é uma fundação de direito privado. Isso faz uma diferença muito grande. Permite que a gente tenha mais flexibilidade, maior autonomia, possibilidade de captar recursos de várias maneiras. De todo modo, o problema de financiamento da TV pública não é brasileiro, é mundial. O debate que se coloca na França, que proíbe a veiculação de publicidade na TV pública, é intenso. O que eu acho que ninguém contesta é que a TV pública tem espaço. Falta discutir com a sociedade quem paga a conta. Esse é o debate que eu acho importante colocar para o Brasil. É uma discussão permanente, mas a gente está avançando. A própria criação da TV Brasil é um passo nesse sentido.

Comunique-se – Como estão as parcerias entre a TV Cultura e a TV Brasil?

Paulo Markun – O que se discute atualmente é a possibilidade de troca de programação e a maneira pela qual as duas instituições podem trabalhar associadas. Não há nenhum interesse da TV Cultura de ser subordinada à TV Brasil e diria que não há interesse da TV Brasil de que isso aconteça. Cada uma tem a sua característica, o seu projeto, o seu alcance, mas de alguma forma estão no mesmo campo, que é o campo das TVs públicas e não faz sentido, nesse campo, você ter a concorrência acirrada que você tem no campo das TVs comerciais.

Comunique-se – Agora que você ocupa o cargo de presidente da emissora, está sentindo falta de fazer jornalismo?

Paulo Markun – Muito. Eu tenho atrás da minha mesa, um painel de vidro com todos os meus crachás de jornalista que é para nunca esquecer do que eu fui, do que eu sou e do que eu vou continuar sendo. A presidência é uma circunstância. A atividade jornalística é a minha atividade profissional há 38 anos.’

 

 

BEER LIFE
Simone Barros Rabello

Revista especializada em cervejas será lançada em SP, 7/7

‘O publisher da editora Reggenza, apaixonado por cervejas, Ubiratan Sennes, desenvolveu um projeto para um novo veículo: a revista Beer Life, que pretende redesenhar a imagem da bebida no mercado e educar para o consumo. A publicação, que ainda não tem data de lançamento, será trimestral (com previsão de tornar-se bimestral em 2009), terá 60 páginas, tiragem de 20 mil exemplares, venda de assinaturas e em locais especializados, inicialmente em São Paulo.

‘Nós nos inspiramos no conceito da Beautiful Beer, uma campanha liderada pela British Beer and Pub Association que trabalha a excelência de serviço e consumo da bebida’, diz Sennes.

A editora da Beer Life é Cilene Saorin, uma das profissionais mais respeitadas no cenário cervejeiro do país, com passagem pelas grandes cervejarias do Brasil e do mundo. Especialista em degustação de cervejas, leciona na Universidad Politécnica de Madrid – Escuela Superior de Cerveza y Malta; compõe o grupo conselheiro e docente da Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo para o curso de Tecnologia em Bebidas e faz parte do grupo de jurados degustadores profissionais de cerveja dos eventos World Beer Cup nos Estados Unidos e European Beer Star na Alemanha. Também fazem parte da equipe: os jornalistas Juliano Polimeno (coordenador editorial) e Ana Laura Gushiken.’

 

 

TV PÚBLICA
Carla Soares Martin

Repórter Brasil: por dentro do telejornal da TV Brasil, 7/7

‘O filósofo chinês Lu Xun disse certa vez: ‘a primeira pessoa que experimentou um caranguejo deve ter provado uma aranha também.’ Assim, o apresentador do Repórter Brasil Lincon Macário define a situação da TV Brasil. ‘Ninguém tem certeza do que está fazendo. Um dia, come caranguejo, faz um ótimo trabalho, no outro, uma aranha.’

Aos poucos, a programação vai tomando forma. A partir de estudos vistos sobre emissora pública que se decidiu, por exemplo, ancorar o programa em três estados simultaneamente: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Outro estado deve entrar ainda no circuito: o Maranhão. ‘O custo da transmissão é alto, mas deixamos de lado a idéia de que se deve ter um ‘cabeça de rede’, descentralizando a programação’, argumenta Eduardo Castro, editor-executivo de jornalismo da TV Brasil.

O Repórter Brasil conta com 11 repórteres em Brasília, seis no Rio e quatro em São Paulo, além do correspondente Carlos Alberto Júnior, em Angola desde março. Segundo Eduardo Castro, ele não teria ainda entrado no ar por problemas técnicos.

Uma das repórteres, Fernanda Isidoro, fala com orgulho da entrada para a emissora pública. Faz reportagens especiais. Cita uma que fez sobre a depressão e outra sobre a América Latina. ‘Aqui a gente tem mais liberdade’, conta. Diz ainda que pretende fazer parte de uma emissora pública de qualidade. ‘Seremos co-fundadores de um trabalho que esperamos que dê certo.’

Críticas

Apesar de ter uma audiência crescente, de 0,89% dos domicílios da Grande Rio de Janeiro para 1,72% das casas com TV ligada em junho, o Repórter Brasil enfrenta dificuldades comuns a toda a TV Brasil: falta de verba e lentidão na realização de licitações para a compra de equipamentos mais novos.

A diretora da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Tereza Cruvinel, disse que essa situação tende a se normalizar. A partir de 12/06, a Radiobrás passou, juridicamente, a pertencer à EBC. Dessa forma, a empresa terá o poder de gerir o orçamento, o pessoal e os recursos materiais da extinta Radiobrás.

Segundo Tereza, a demora para a transferência ajudou a aumentar as dificuldades, além da lei 8.666, das licitações públicas, para comprar novos materiais. ‘Estamos, portanto, ainda na fase de implantação, mas a tendência é simplificar os procedimentos, na medida em que haja avanços com a normatização, superando estas dificuldades iniciais’, argumentou Tereza.’

 

 

AQUISIÇÃO
Comunique-se

NBC anuncia compra do Weather Channel, 7/7

‘A NBC Universal, junto com outras duas empresas, anunciou neste domingo (06/07) a compra do Weather Channel. Apesar do valor do negócio não ter sido divulgado, pessoas próximas à transação afirmam que o preço de compra foi de US$ 3.5 bilhões.

As negociações foram iniciadas após a desistência da Time Warner e duraram três semanas. O valor a ser pago está abaixo dos US$ 5 bilhões que a Landmark Communications, dona do canal, esperava ao colocar o canal à venda, em janeiro.

O Weather Channel atua há 26 anos no noticiário meteorológico e atinge 96 milhões de lares americanos. Além do canal, o negócio também envolve o site weather.com, que atrai 40 milhões de visitantes únicos por mês, e o Weather Services International, com mais de 5.500 clientes.

A NBC Universal lançou há quatro anos o NBC Weather Plus para concorrer com o Weather Channel. Em entrevista ao New York Times, o executivo da da empresa Jeffrey Zucker afirmou que o futuro do Weather Plus, no momento, é indeterminado. Zucker diz ainda que a intenção é expandir a atuação do Weather Channel na internet e nos serviços móveis.

A venda deve ser fechada até o fim do ano. As parceiras no negócio são a Bain Capital e a Blackstone Group, especializadas em private equity, que investem em empresas que não estão listadas na bolsa de valores.’

 

 

JORNALISMO NOS EUA
Milton Coelho da Graça

O jeitinho americano no ataque do passaralho, 4/7

‘Muitos companheiros jovens nunca ouviram falar de passaralho, criatura nascida em redações cariocas para definir com bom humor o anúncio de demissões em massa. Imaginário pássaro negro, bico vermelho e recurvado, tipo urubu, foi batisado com um sufixo adequado – política e sonoramente – para descrever com vigor a recorrente ameaça aos jornalistas.

Pois o passaralho vem atacando sem pudor as redações norte-americanas, como conseqüência da crise econômica. Achei conveniente informar os companheiros sobre as 150 demissões (restaram ainda 700!)) na redação do Los Angeles Times, um dos quatro ou cinco mais importantes jornais dos Estados Unidos, indicativas dos problemas da imprensa. E que não se limitam apenas à área financeira, como define o próprio editor-chefe do jornal, Russ Stanton, no memorando enviado a toda a redação nesta quarta-feira (2/7). Reproduzo logo os dois primeiros parágrafos, porque tratam de problemas de toda a imprensa mundial, mas o resto do memorando pode também ser acessado (link).

‘Vocês todos conhecem o paradoxo em que nos encontramos. Graças à internet temos mais leitores do nosso grande jornalismo do que em qualquer outra época de nossa História. Mas também, graças à internet, nossos anunciantes têm mais escolhas e nós temos menos dinheiro. Acrescentem a isso uma economia empobrecida, especialmente para nós no mercado imobiliário da Califórnia, e rapidamente vocês poderão ver como uma onda de cortes está varrendo nossas redações, este ano, de Nova York até Santa Ana.

‘Não estamos imunizados. Como David Hiller mencionou em seu memorando na semana passada, estamos embarcando em outra rodada de cortes. Lamento profundamente informar que estaremos reduzindo nossa equipe editorial, na edição impressa e na internet, em 150 pessoas, além de reduzir o número semanal de páginas em 15%.’

A coisa está difícil, minha gente. O tal do paradoxo não é só americano. É mundial. Mas temos de prestar atenção também nos indícios do futuro, nas possibilidades profissionais e na liberdade de expressão oferecidas pela internet Obtive todas essas informações num blog do Los Angeles Times Club, em que os jornalistas podem dizer o que quiserem (a carta do editor-chefe foi divulgada por Sean Bonner), respeitando apenas poucas regras:

‘1. Nada de ataques pessoais. 2. Manter-se no assunto em qualquer comentário. 3. Não cuspir nem dizer palavrões. 4. Botar a fralda da camisa para dentro das calças. 5. Se todas essas regras não forem cumpridas, o comentário não aparece.

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DESMATAMENTO. CADÊ A LUTA ANTI-CENSURA?

Qualquer entidade, qualquer jornal, qualquer partido poderia ir ao Supremo pedir a ação de verdadeira censura que, há mais de um mês, impede a divulgação dos dados do INPE sobre desmatamento, igualzinha à do governo Médici sobre os dados relativos à epidemia de poliomielite. Nos dois casos, informações apuradas com dinheiro público, de interesse manifestamente público e que apenas ameaçavam a imagem e o prestígio do governo?

Há quase quatro décadas, foi o medo que calou jornais, parlamentares, sindicatos etc. E, agora, as razões são as mesmas? E ainda estamos no reino do cagaço generalizado?

DOIS HERDEIROS RESISTEM À VENDA DO ESTADÃO

O que se diz em corredores financeiros, além do desmentido oficial do Conselho de Administração e do silêncio da imprensa sobre o que ocorre na luta pela transferência de poder no Estadão é que a sra. Patrícia Mesquita lidera a corrente mais radical pela venda da empresa, enquanto os irmãos Ruizinho e Rodrigo lideram a corrente contrária, com alguns dos outros herdeiros ainda balançando – mais ou menos o que também ocorreu quando foi vendido o Wall Street Journal. Foram meses de conversa mas Murdoch acabou levando.

PARA O ORGULHO DE SERMOS JORNALISTAS

Se alguém ainda não viu, trate de ver a matéria feita pelo programa Panorama da BBC (canal 28 na Net e também acessível pela internet em www.bbc.com.uk) sobre a Primark. O repórter foi Tom Heap e o produtor, Mark Chapman.

A Primark (hoje já tem umas 130 lojas) é forte concorrente da maior loja de departamentos do Reino Unido, a Marks & Spencer, e se promove como totalmente fiel aos princípios da Iniciativa Comercial Ética (Ethical Trading Initiative), entidade contrária a trabalho infantil, salários vis etc. Heap percorreu a cadeia de produção e preços das coleções elegantes e vistosas que fizeram a fama da Primark e provou que ela começava na Índia, em favelões de refugiados da violência em Sri Lanka, com meninos e meninas de 10 e 11 anos bordando vestidos por centavos. Uma matéria sensacional, que termina com a Primark fazendo ampla autocrítica, tomando medidas para impedir a subcontratação de crianças, pagando preços

mais justos aos trabalhadores asiáticos e contratando ONGs para iniciativas que melhorem a vida das crianças.

(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

 

 

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Escriturário de Taubaté tem que ver o Big Brother!, 3/7

‘Sou feito desse

acaso. Em mim, a

eternidade termina.

(Claudio Mello e Souza in Por Acaso)

Escriturário de Taubaté tem que ver o Big Brother!

O considerado Leônidas Arruda Brito, empresário cearense/paulistano que quando era menino engraxava sapatos na Praça do Ferreira, em Fortaleza, e enfrentou a vida em São Paulo com determinação de retirante, envia excertos de uma reportagem que lhe causou inevitável estupor:

‘A Folha de S. Paulo revelou que o concurso para escriturário da Prefeitura de Taubaté continha perguntas fundamentais para avaliar o conhecimento dos candidatos:

— Alexandre, Bianca e Fernando participaram de que edição do programa Big Brother Brasil?

— Que famoso casal global anunciou, recentemente, o fim do casamento?

(…) O diretor do departamento de administração da prefeitura, Julio Cesar Oliveira, disse não ver problemas na inclusão das questões na prova. ‘Diga por que não pode pôr? Isso é uma coisa da administração. Ela resolveu colocar essa questão e pronto.’

Você e Janistraquis têm razão quando dizem que o Brasil é um país de m…’

Pois é. E isso aconteceu na cidade onde nasceu Monteiro Lobato.

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Estadão vendido? É mentira!

As melhores fontes do Estadão e Jornal da Tarde garantiram ao colunista que é mentirosa a notícia segundo a qual a empresa foi ou será vendida à Infoglobo ou a qualquer outro concorrente.

(Janistraquis adverte que, em homenagem àquela grande figura que foi Júlio de Mesquita Filho, o ‘Doutor Julinho’, devemos substituir a palavra mentira por outra capaz de levar o leitor ao dicionário: aldrabice.

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Leis arretadas

Janistraquis anda deverasmente impressionado com a falta do que fazer neste país de todos:

‘O considerado imagina coisa mais absurda do que o tal plano de ‘restrições rigorosas à publicidade de alimentos com proporção de gorduras, açúcar e sal relacionada a obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares’? É obra do ministro José Gomes Temporão, aquele que César Maia demitiu por preguiça e incompetência.’

E enquanto Temporão (sozinho, dizem) comete isso que o considerado Janio de Freitas chama de ‘suicídio administrativo’, os jurisconsultos da nação desovam mais uma cretiníssima lei, esta que proíbe a bebedeira nas estradas, lei que até os cães da rua reconhecem como inconstitucional.

Meu assistente, otimista de plantão, acha que a lei tem serventia, sim, e é esta: vai revelar definitivamente a honestidade dos guardas rodoviários, os quais, sabemos todos, nunca aceitaram qualquer propina para fazer a chamada vista grossa.

A propósito, o considerado Fábio José de Mello sugeriu visita ao blog de outro Mello, o Josimar, cidadão que, como aquele de Descalvado, sabe beber, comer, dirigir e escrever; clique aqui.

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Que falta faz!

O considerado Márcio Beck, editor do Jornal do Commercio do Rio, recebeu release da assessoria de imprensa do vereador Nelson Ferreira (PR/RJ), que começava assim:

Lázaro Ramos ganhará título de cidadão carioca (…) O ator baiano está todo vapor.

Márcio não perdoou:

Que o ser humano é 70% água, já diziam os professores lá nas aulinhas de ciências de tempos atrás. Mas daí a essa homenagem ter feito o ilustre ator baiano entrar em ebulição… dá-lhe licença poética!

Janistraquis, que também está a todo vapor, apesar da idade provecta, concorda com você, pois um simples ‘a’ costuma fazer mais falta a uma frase do que papel higiênico em banheiro público.

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Sonho de grandeza

Basta cassar o H da palavra e LDU pode se transformar na sigla de Lição de Humildade. Mais arrogante do que o deputado Raul Jung e o ministro Jobim somados, Renato Gaúcho encarou a decisão da Libertadores da América como se esta fosse mais uma mulher bonita que ele iria levar pra cama e foi essa certeza que o deixou de pau na mão, para reciclarmos a fescenina ironia do calejado e vascaíno Janistraquis.

O Fluminense perdeu nos pênaltis mas teria perdido na prorrogação aquele que poderia ter sido o ‘jogo da vida’ de Renato e seus iludidos rapazes, pois não se pode esquecer o gol legítimo que o juiz anulou no final. Agora, é correr atrás dos pontos perdidos no Brasileirão, campeonato que o clube esnobou com seus sonhos de grandeza.

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Lula, o viajante.

O considerado mestre Deonísio da Silva envia aquele muito apreciado texto de Joelmir Beting, no qual ele contabiliza as viagens de Lula no primeiro mandato, da posse em 2002 até agosto de 2006. É para que a gente não esqueça quem ‘governa’ esta desamparada nação. Para se ter uma idéia, em exatos 1.201 dias de presidência a criatura passou 984 fora do Palácio, em vilegiaturas mundo afora. Sem contar as 283 viagens pelo Brasil.

Pede-se ao considerado Joelmir que atualize a alvoroçada agenda desse passageiro da alegria (leia íntegra do texto no Blogstraquis).

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Yeda empetezada

O considerado Marcelo Tavela enviou esta em 10/6, quando ainda estava conosco aqui no C-se, mas Janistraquis enrolou-se inteiramente e só agora conseguiu mergulhar, sem escafandro, no buraco negro de nosso arquivo. Trata-se de título publicado no Jornal do Brasil:

Corrupção abala governo do PT

Yeda Crusius vai mexer no alto escalão gaúcho

Tavela alertou:

‘Empetezaram a governadora, que, se não me falha a memória, ainda está no PSDB!!!’

Janistraquis tem certeza de que confundiram Yeda com Marta, ó Tavela, embora esta ainda não seja governadora, mas candidata petista à prefeitura de São Paulo, devaneio que talvez acabe como o do Fluminense por causa do espetacular índice de rejeição.

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Claudio Mello e Souza

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema cujo fragmento é a epígrafe da coluna. Claudio, um dos melhores textos do jornalismo brasileiro, também é poeta inspiradíssimo. Por Acaso integra o livro Passageiro do Tempo, de 1985.

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Siglas & siglas

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre a ignorância geral pode-se avistar um exemplar do Aurélio servindo de bucha de churrasqueira, pois Roldão, que não suporta mais tanto despautério a vicejar no país de todos, encaminhou à coluna esta migalha de sua impaciência:

As siglas são uma maneira condensada de se referir a órgãos ou entidades com denominações mais longas . Devem ser, tanto quanto possível, fáceis de serem decifradas, o que nem sempre ocorre. Eis o caso do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, lançado agora pelo Planalto. Em primeiro lugar, a questão do próprio nome: o que seria ‘Segurança Pública com Cidadania’?

Sua sigla é eufônica: PRONASCI, mas induz a se pensar num programa a favor do aumento da natalidade ou, quem sabe, contra o aborto. Isso é reforçado pelo logotipo, com letras gordas, em duas cores. PRO em azul e NASCI em verde.

Janistraquis, que adora siglas, acrescenta mais uma, LDU, e recorda título de primeira página da velha Última Hora do Rio:

JQ diz que

JG se une a

JK para

combater CL

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Tortura & linchamento

Em entrevista à Folha de S. Paulo, o respeitado crítico literário Roberto Schwarz se referiu ao filme Tropa de Elite:

Estimulado pela farda, pela empatia com os atores, que são astros, e pela missão justiceira, o espectador pode se identificar à violência desvairada e aprovar inclusive a tortura. Ao que parece é o que aconteceu com boa parte do público.

Esta coluna já disse e repetiu que, para desespero dos politicamente corretos, a maioria dos brasileiros é, sim, favorável à tortura e ao linchamento de bandidos. Quem não acredita é porque acaba de desembarcar de algum disco voador.

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Plantas fogem

Chamadinha de capa do UOL:

Aquecimento global faz plantas fugirem para a montanha

Janistraquis considerou a notícia incompleta:

‘Não dizem como se deu a fuga; terá sido a pé?’

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Nota dez

O considerado José Nêumanne escreveu na página 2 do Jornal da Tarde, sob o título Garupa de Lula não garantirá a vitória:

A consagração da ex-prefeita Marta Suplicy na convenção do PT, da qual saiu candidata a prefeita, com o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) compondo a chapa como vice, teria sido considerada impensável no começo deste ano eleitoral municipal.

Todos hão-de se lembrar que, já entronizada no cargo de ministra de Turismo do governo Lula, ela havia, aparentemente, detonado seu futuro imediato ao se expressar da forma mais infeliz possível mandando os passageiros detidos em aeroportos pelo Brasil afora ‘relaxar e gozar’, em vez de reclamar do Caos Aéreo nacional. (…)Alguém precisa contar a seus estrategistas de campanha que na Capital paulista Lula não ganhou nem de Alckmin.

Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo que levou Janistraquis a escrever ao Nêumanne: ‘A análise do considerado é perfeita, mas se forem verdadeiras as pesquisas que lhe dão a popularidade de Ronaldo Fenômeno, Lula carregará na garupa até o gato de dona Marta; o gato propriamente dito, aquele felino cabeludo e de bigodes.’

É. Se as pesquisas forem verdadeiras…

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Errei, sim!

‘TROMBOSE CEREBRAL — A indispensável Veja informou, em matéria sobre Chatô, o Rei do Brasil, de Fernando Morais:

Chateaubriand (…) comentou que jornal não se vende. Por quê? ‘Porque meus jornais são minha gazua. Pergunte ao Meneghetti se ele vende a gazua dele’ , explicou. (Ildo Meneghetti era o mais famoso ladrão de São Paulo na época).

Janistraquis teve pena: ‘Considerado, a família do ex-governador do Rio Grande do Sul, Ildo Meneghetti, deve estar na maior tristeza. Sabe lá o que é ser confundido com ladrão?’

É duro. O ladrão chamava-se Amleto Gino Meneghetti, morto em 1976, aos 98 anos de idade. Trombose cerebral, dizia o laudo. (outubro de 1994)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

 

 

JORNAL
Eduardo Ribeiro

Gratuito, Destak ganha versão carioca, 2/7

‘Dois anos depois de lançado em São Paulo, em julho de 2006, o Destak ganha uma edição carioca a partir desta próxima segunda-feira, 07/07, com 80 mil exemplares que serão distribuídos de segunda a sexta-feira em 60 pontos estratégicos da Zona Sul, Barra da Tijuca e Centro, como estações do metrô, centros empresariais, universidades, shopping centers, hospitais e cruzamentos de grandes avenidas.

Tempos atrás, o grupo europeu Publimetro, que hoje está em São Paulo associado ao grupo Bandeirantes, na operação do Metro, concorrente direto do Destak, chegou a ensaiar o lançamento de um gratuito no Rio, mas desistiu ao não encontrar condições de viabilizar o negócio. Chegou, inclusive, a montar uma operação na cidade, mas o projeto não decolou.

Curiosamente, o mesmo Destak que se antecipou a eles em São Paulo, chega agora ao Rio, para desbravar o mercado. Não se deve esperar que os atuais diários pagos dêem as boas vindas ao gratuito pioneiro, mas também não há como se impedir que surja na segunda maior metrópole do País uma iniciativa que tem se mostrado vitoriosa no mundo todo.

Os pagos olham com muita desconfiança essa operação e, do mesmo modo que em São Paulo, no que depender deles o recém-chegado não terá vida fácil. Este, até na defesa do seu negócio e na tentativa de aplacar a fúria dos pagos, tentando uma convivência amistosa, garante que não faz concorrência àqueles. Ao contrário: ao pegar um público mais jovem e que não tem o hábito de ler jornais, está formando leitores para esse mercado, pois, no futuro, quando esses mesmos leitores tomarem gosto e quiserem conteúdo de maior densidade, naturalmente vão começar a ler também os jornais de circulação paga.

Mais difícil, como ocorreu inicialmente em São Paulo, talvez seja superar a barreira da publicidade, em função dos altos interesses em jogo. Mas é tudo uma questão de tempo e de civilidade. Para produtos e projetos de boa qualidade, lançados com foco no consumidor, sempre há espaço e há que se encontrar fórmulas inteligentes de convivência.

Vale lembrar que o Destak foi o primeiro diário gratuito de grande porte a circular no País, associando capital nacional a capital estrangeiro. Seu público-alvo é formado basicamente pela população urbana de bom poder aquisitivo, na faixa etária entre 18 e 35 anos, que muitas vezes não têm por hábito a leitura de jornais. Além da publicidade tradicional, o novo jornal busca receitas complementares por meio de ações diferenciadas de marketing, como samplings de produtos anunciados e peças publicitárias com formatos diferenciados.

O Destak tem 70% de investimento do empresário brasileiro André Jordan e 30% do grupo Cofina, de Portugal. O editor-executivo Luis Antonio Ryff comandará a equipe responsável pela produção das páginas locais, que vão trazer as seções Rio, Esportes e Diversão e Arte.

Diz o diretor Editorial Fábio Santos que será um jornal muito parecido com o de São Paulo, mas com forte sotaque carioca: ‘A nossa filosofia é de que jornais gratuitos são veículos metropolitanos. Portanto, o conteúdo editorial tem de ser bastante adaptado à cor local. Tanto que o Destak de São Paulo pouco tem a ver com seu irmão mais velho de Lisboa. O mesmo vai acontecer com o novo membro da família’.

O Destak São Paulo tem tiragem de 150 mil exemplares, de segunda a sexta-feira, e 90 mil, aos sábados. Por ora, não haverá edição de sábado no Rio.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

 

 

JUDICIÁRIO vs IMPRENSA
Carlos Chaparro

A liberdade venceu!, 30/6

‘1. Frase para a História

‘Não se pode perder um minuto sequer para a gente afirmar a liberdade de pensamento e de informação’.

Eis aí a frase que, a meu ver, marcou a discussão pública sobre democracia e liberdade de informação, no decorrer da semana passada. E a frase exige acentuação em negrito, para valorizar a lucidez, a coragem e as convicções jurídico-democráticas de quem a disse: o ministro Carlos Ayres Britto, membro do Supremo Tribunal Federal (STF) e atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – leia aqui.

Devemos ao ministro Ayres Britto a correção de algo que parecia uma tendência do Poder Judiciário, em várias ações e decisões de primeira instância, que levaram o presidente da Associação Brasileira de Imprensa, jornalista Maurício Azedo, a declarar que ‘hoje, no Brasil, o Poder Judiciário é o grande inimigo da Imprensa’.

Felizmente, e a tempo, o ministro Carlos Ayres Britto desmontou as razões que davam razão a Maurício Azedo. Agindo e falando como presidente do TSE, encarou a absurda tentativa de censura, partida de alguns setores da Justiça Eleitoral de São Paulo, ao considerarem crime eleitoral a publicação de entrevistas com candidatos, antes da data oficial de início das campanhas (6 de junho).

Para acabar com ambigüidades nas normas eleitorais em vigor, o ministro Ayres Britto levou a questão ao plenário do TSE, na sessão de 26 de junho, com a proposta, dele próprio, de alterar o artigo 24 da Resolução 22.718. Com a nova redação, aprovada por seis votos a um, passou a ser permitido aos pré-candidatos darem entrevistas e participarem de debates e encontros antes do período de campanha, ‘desde que não exponham propostas de campanha’. E exigindo-se das emissoras de rádio e televisão ‘tratamento isonômico aos que encontrarem em situação semelhante’.

Como a alteração proposta foi aprovada a apenas 11 dias da data de início da campanha eleitoral, alguém do próprio TSE teria dito que, por tão pouco tempo, não valeria a pena ter-se feito a mudança. E foi em resposta a esse comentário que o ministro Ayres Brito disse a frase que faço questão de repetir, de novo em negrito:

‘Não se pode perder um minuto sequer para a gente afirmar a liberdade de pensamento e de informação’.

2.

Tem sido de fato preocupante a onda de ataques à liberdade de informar.

De há uns tempos para cá, têm-se repetido casos de utilização da legislação civil e penal contra jornais e jornalistas, por matérias publicadas. Em alguns casos, como o da avalanche de ações impetradas por fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) contra a Folha e a repórter Elvira Lobato, ficou clara a tentativa de uso abusivo da Justiça, para silenciar jornais pelo medo. Nesse caso, a própria Justiça vem se encarregando de colocar as coisas no seu devido lugar, não só rejeitando a argumentação dos fiéis da IURD, mas, em alguns casos, condenando-os ao pagamento dos custos processuais.

Depois, vieram as já comentadas e derrotadas tentativas de censura da Justiça Eleitoral de São Paulo, proibindo jornais e jornalistas de entrevistar candidatos a cargos eletivos, inclusive com a aplicação de multas à Folha de S. Paulo e à Editora Abril, por terem publicado entrevistas com os pré-candidatos Marta Suplicy e Gilberto Kassab.

Na mesma onda , tivemos a decisão de um juiz federal, de proibir o Jornal da Tarde de publicar reportagem sobre supostas irregularidades envolvendo o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Neste último caso, a decisão do juiz (Ricardo Geraldo Rezende Silveira, da 10ª Vara Cível de São Paulo) atendeu liminarmente a um pedido do Conselho e criou uma situação concreta de censura prévia.

Felizmente, o bom senso levou o próprio Cremesp a fazer marcha a ré, retirando a ação contra o JT.

A liberdade de imprensa, a liberdade de informar, a liberdade de expressão e o direito à informação passaram, portanto, por bons e duros testes, nos dois últimos meses. Graças à qualidade da discussão pública provocada e à lucidez corajosa de protagonistas importantes da democracia brasileira, como o ministro Carlos Ayres Britto, demos importante passo no enfrentamento de saudosismos perigosos.

Aliás, é sempre bom lembrar que também devemos ao ministro Ayres Brito a liminar que em fevereiro derrubou os 22 pontos autoritários que persistiam na Lei de Imprensa, herança da ditadura. E lhe devemos conceitos e argumentos importantes sobre o papel da imprensa nas democracias. Como estes:

* ‘A Constituição fez da imprensa irmã siamesa da democracia. Elas caminham juntas. Uma é servente da outra, em relação de mútuo proveito.’

* ‘A imprensa é para ser azeitada, estimulada, desembaraçada. Sem isso não há democracia.’

São frases que fazem parte de uma entrevista dada ao Estadão (edição de 25 de fevereiro), depois da limpeza feita na Lei de Imprensa. Quem quiser, pode reler a entrevista no site ‘Master em Jornalismo’

É uma entrevista que nos ajuda a gritar: Censura, nunca mais!

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

 

 

TELEVISÃO
Antonio Brasil

Canal Brasil é TV de verdade!, 30/6

‘Mas afinal o que é esse Canal Brasil (ver aqui)? Antes de tudo é preciso dizer que não é a versão a cabo da polêmica TV Brasil, a televisão pública do governo federal. O Canal Brasil é muito melhor, tem programação original e criativa e não é financiada pelos nossos impostos.

Para quem ainda não conhece, é um canal brasileiro de TV a cabo que traz em sua grade de programação, filmes, documentários e curtas-metragens brasileiros. Ainda passa making of de filmes e bons programas de entrevistas.

Segundo a divulgação do canal:

‘O Canal Brasil é o canal da cultura e da alma brasileira. Do cinema novo ao novo cinema nacional, é uma nova programação. Novos rostos, novas entrevistas, novos shows. Um novo canal, mais diverso. Um novo olhar, mais contemporâneo’.

Tirando os exageros, o Canal Brasil é uma iniciativa bem sucedida de alguns produtores do cinema brasileiro. Resultado da associação da operadora Globosat com o grupo Consórcio Brasil, formado pelos cineastas Luiz Carlos Barreto, Zelito Viana, Marco Alteberg, Roberto Faria e Aníbal Massaíni Neto. Gente que não conseguia espaço nos canais tradicionais para os filmes nacionais e que tem feito um bom trabalho de divulgação do nosso cinema.

O Canal Brasil é o canal dedicado a produção cinematográfica nacional. É obrigatório pelo Regulamento do Cabo do Ministério da Cultura, baixado pelo decreto 2.206/97. O canal com o nome do país tem o registro nessa categoria junto ao MinC e é boa opção para quem gosta de cinema e de TV e não agüenta mais esperar as promessas das TV públicas brasileiras.

Ainda segundo a divulgação é ‘um canal de resistência da riqueza da pluralidade da cultura brasileira. Em sua origem dedicado exclusivamente ao cinema brasileiro, o Canal Brasil ampliou sua atuação e reformulou sua grade de programação. O foco principal do canal continua sendo o cinema nacional. A diferença é que este foco deixa de ser um limitador. A cultura brasileira como um todo passa a fazer parte do canal. Música, informação, arte e teatro passam a integrar a nova programação’.

TV do horror ‘trash’

O canal tem mais de 60 mil horas de programação 100% brasileira, composta por curtas, médias e longas-metragens, além de co-produções com produtoras independentes e outros programas de entretenimento. A audiência e receita publicitária do canal ainda são limitadas. Mas tem crescido nos últimos anos e para nosso alívio não emprega milhares de jornalistas amigos dos amigos. O canal é TV de verdade. Exibe programas criativos e inovadores além de produções cinematográficas nacionais e latino-americanas 24 horas por dia.

Além dos filmes nacionais, o Canal Brasil transmite programas de entrevistas independentes como o meu favorito, ‘Espelho’ com Lázaro Ramos, ‘Sem Frescura’ com Luiz Carlos Peréio, ‘Todas os Homens do Mundo’ com Domingos de Oliveira e Priscilla Rozembaum, ‘Zoombido’ com Paulinho Moska, ‘Mudando de Conversa’ com Daniel Filho e o excelentee ‘Tarja Preta’ com Selton Mello.

Outras opções de programas criativos são o Retalhão com Zéu Britto e O Som do Vinil com o titânico Charles Gavin, além de O Estranho Mundo de Zé do Caixão do mestre do horror trash brasileiro José Mojica. Imperdível!

Mestre Mojica sempre termina o programa rogando uma praga para os telespectadores. ‘Que seus intestinos virem serpentes e lhe devorem as entranhas se você não assistir ao próximo capítulo’. Este é um dos melhores exemplos do estilo ‘undigrundi’ do cinema de horror trash brasileiro. A destacar as entrevistas com Lobão, Mãe Dinah, Peréio e Bruna Surfistinha. Simplesmente brilhantes e hilárias. TV trash nos seus limites de criatividade e ousadia.

Se você perdeu, ainda pode conferir no YouTube (ver aqui).

TV de verdade

O Canal Brasil tem uma programação eclética onde não há o predomínio de uma única escola ou tendência do cinema brasileiro. Tem de tudo. Não há distinção de critérios estéticos, conceituais, sucessos ou fracassos de bilheteria. Passam todos os tipos de filmes brasileiros e tem aumentado gradativamente a exibição de filmes independentes latinos. Os filmes clássicos, políticos ou alienados, documentários, curtas e médias, marginais e mainstream. Mostram tudo e isso é importante para uma TV de verdade.

Para muitos, os filmes do Canal Brasil provocam insônia. O forte mesmo é o cinema Brasil, mas depois da meia-noite é a vez dos filmes eróticos e das velhas e nostálgicas ‘pornochanchadas’ nacionais .

.Nas noites insones do Canal Brasil são exibidos filmes como o ingênuo e comercial ‘Bete Balanço’ de Lael Rodrigues, filmes cabeça e meio incompreensíveis como ‘Ó Pai, Ó’ de Monique Gardenberg ou A Ilha dos Prazeres Proibidos , As Libertinas, Audácia, e Filme Demência do papa dos filmes eróticos brasileiros dos anos 70, Carlos Reichennbach.

Outros títulos sugestivos e meio engraçados têm lugar na programação do Canal Brasil como os clássicos trash ‘Palácio de Vênus’ e ‘Escola Penal de Meninas Violentadas’.

São filmes simples e baratos produzidos durante os anos de repressão política e sexual da ditadura militar na Boca do Lixo em São Paulo. Filmes que jamais agradaram aos críticos mas que assim como as chanchadas brasileiras faziam sucesso junto ao público e que hoje se tornaram parte significativa da História do nosso cinema. É bom dizer que, sem discriminação ou elitismo, o Canal Brasil também exibe as velhas e engraçadíssimas chanchadas com atores célebres como Grande Otelo e Oscarito. Um programa imperdível para os nostálgicos dos filmes populares dos Estúdios da Atlântida.

Para cinéfilos e fãs do cinema nacional, o Canal Brasil também traz informações completas sobre cursos, seminários, festivais e oficinas ligadas ao tema. O site tem ainda uma interessante seção interativa, onde o internauta opina sobre a programação do canal. Outro bom serviço oferecido pelo Canal Brasil é o link para download das leis de incentivo estaduais. Boa pedida para quem quer investir e produzir cinema. Nas seções tudo sobre a programação do canal e filmes as serem exibidos.

Além de uma programação de qualidade, o Canal Brasil também oferece, desde 1998, o Prêmio Aquisição Canal Brasil de Incentivo ao Curta-Metragem nos maiores festivais do país. Muitos filmes já receberam a premiação, no valor de R$ 5 mil mais a exibição no Canal. Este prêmio é oferecido para os dois melhores curtas-metragens de cada evento, escolhidos por um júri formado por jornalistas e críticos de cinema.

O Canal Brasil é uma boa opção para quem ainda acredita na TV brasileira de verdade, no cinema nacional e na produção independente. Em tempos de pensamento único em TVs públicas federais, o Canal Brasil pode ser um bom lugar para receber a atenção, os investimentos e os ex-diretores do Ministério da Cultura que ainda acreditam em produção audiovisual independente e TV de verdade.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

 

 

 

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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