Friday, 10 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Google acirra disputa com a Microsoft

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 2 de setembro de 2008


 


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Google terá navegador para a internet


‘O Google lança hoje, em 100 países, seu próprio navegador de internet, o Google Chrome. O navegador, ainda em versão de testes (chamada versão beta), é o mais novo movimento na disputa por espaço entre o Google e a Microsoft, que tem completo domínio do mercado de navegadores com o seu quase onipresente Internet Explorer.


De acordo com o blog oficial do Google, e empresa resolveu lançar seu próprio navegador por acreditar que pode oferecer aos usuários um produto com mais recursos e, ao mesmo tempo, incentivar a inovação na internet.


Segundo o Google, o novo navegador é, por fora, simples. ‘Para a maioria das pessoas, não é o navegador que interessa. Ele é apenas uma ferramenta para rodar as coisas importantes – as páginas, os sites e os aplicativos. Assim como a clássica homepage do Google, o Google Chrome tem um visual limpo e é rápido’, diz o texto da empresa no blog. O Google afirma porém que a empresa está pronta para construir as bases de um navegador capaz de rodar aplicações complexas da web muito melhor do que hoje.


Segundo fontes citadas ontem pelo Wall Street Journal, o navegador foi projetado para tornar mais fáceis e rápidas as pesquisas na internet, ao oferecer melhores recursos na barra de endereços e outros elementos que são muito diferentes dos outros navegadores. O produto terá código aberto, o que significa que ele poderá ser modificado.


‘Todos nós no Google passamos a maior parte do nosso tempo trabalhando dentro de um navegador. Buscamos, conversamos e colaboramos uns com os outros em um navegador. E, em nosso tempo livre, fazemos compras, operações bancárias, lemos notícias e mantemos o contato com os amigos – sempre usando um navegador. E por passarmos tanto tempo online, começamos a pensar seriamente que tipo de navegador poderíamos fazer se começássemos a construí-lo com os melhores elementos que dispúnhamos’, diz o texto do blog.


RISCO


O lançamento é um movimento arriscado para o Google. Embora, durante anos, tenha havido especulações de que o Google estaria desenvolvendo um navegador próprio, a companhia preferiu se concentrar em aplicativos para internet e deu apoio a outros navegadores, como o Firefox, tentando competir indiretamente.


O navegador do Google deve criar problemas para a Fundação Mozilla, a organização que fabrica o Firefox, um navegador grátis que tem se tornado cada vez mais popular. O Google tem sido um bom parceiro, fornecendo dinheiro e conhecimentos de engenharia que são usados no Firefox.


Na semana passada, Google e Mozilla renovaram seu acordo, que iria expirar em novembro, estendendo-o para até 2011. Segundo uma fonte, o apoio ao Mozilla provavelmente vai continuar. O Google vinha desenvolvendo o novo navegador há cerca de dois anos, de acordo com uma fonte.’


 


 


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Hermanos são pop


‘Péra lá: falar sobre integração latino-americana a uma platéia de jovenzinhos está mais para Canal Futura do que para um canal que se abastece das sobras de Big Brother. Mas não é que o Multishow vai apostar nesse filão?


Entre a batelada de estréias programadas para este semestre, a faixa Pensa Nisso reserva para novembro seis episódios que martelam nessa tecla por meio de uma isca infalível: a música. A idéia parte de grandes sucessos nacionais que se originaram, sem que muitos saibam, de hits argentinos, chilenos, venezuelanos, etc. Um exemplo é Lourinha Bombril, dos Paralamas do Sucesso, nascida da banda argentina Los Pericos. Não por acaso, o título da série é Influência.


Os músicos falam da cultura da vizinhança e da dificuldade que essa turma enfrenta para ser aceita aqui. ‘A idéia começou só pela música, depois vimos que a série poderia ser bem mais rica e a música virou só um pretexto para traçar as relações entre Brasil e vizinhos’, confirma Daniela Mignani, gerente de Marketing do Multishow.


Influência foi idealizada pela jornalista Sonia Biondo e a direção, oportunamente, é do argentino Pablo Uranga.’


 


 


RÚSSIA
AP E AFP


Jornalista é achado morto no Cáucaso


‘Milhares de manifestantes protestaram ontem no norte do Cáucaso russo durante o enterro do jornalista opositor Magomed Yevloyev, morto no domingo. De acordo com amigos de Yevloyev, ele foi preso no aeroporto de Ingushétia e, horas depois, seu corpo foi encontrado abandonado numa estrada com um tiro na cabeça. O promotor regional Yuri Turygin afirmou que o jornalista tentou desarmar um policial e foi atingido acidentalmente.


Yevloyev era o dono do site www.ingushetiya.ru. Em 6 de junho, a Justiça russa ordenou o fechamento da página de internet do jornalista, acusando-o de publicar informações de caráter ‘extremista’. O Centro de Direitos Humanos Memorial, em Moscou, classificou a morte de Yevloyev como um ‘assassinato e outro ato de terrorismo do Estado’.’


 


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Alain Resnais esculpe o tempo


‘Contratado para fazer um filme sobre a bomba atômica, Alain Resnais sentiu, tão logo começou a trabalhar no projeto, que estava a refazer a experiência de Nuit et Brouillard, seu curta clássico sobre a memória do nazismo. Disposto a dar novo rumo ao filme, ele chamou Marguerite Duras para colaborar com ele. A escritora, decepcionada com a adaptação que René Clément fizera de Le Barrage Contre le Pacifique, que virou Terra Cruel – e muito provavelmente já pensando em virar diretora -, queria aprender a fazer cinema com ele. Resnais a exortava a fazer literatura. O resultado dessa associação artística foi um filme-farol do cinema no fim dos anos 50 – Hiroshima, Meu Amor.


O espectador que vai (re)ver esta obra-prima na confluência do cinema e da literatura na grande retrospectiva do diretor, no Centro Cultural Banco do Brasil – que começa hoje para convidados e amanhã para o público -, já absorveu os choques de tempo e espaço, os flash-backs e flash-forwards, que foram incorporados à gramática dos filmes, mas em 1959 o conflito de tempo e espaço e a presença do passado, tal como Resnais os mostrava, eram raridades, senão absolutamente inéditos, nas telas. Tudo aquilo já foi incorporado por Hollywood e pela MTV, mas terá sabor de novo quando se operar, 50 anos depois, o mistério contido nas palavras ditas por Eiji Okada – ‘Tu n?as rien vu à Hiroshima.’


Você não viu nada em Hiroshima. E sobre as palavras dele virão as frases crispadas, um pouco ofegantes, de Emmanuelle Riva – ‘Oui, je tout vu. Les museés y montrent aux touristes.’(Eu vi tudo que os museus mostram aos turistas). Um homem e uma mulher encontram-se em Hiroshima, onde ela, uma atriz francesa, participa da rodagem de filme sobre (e contra) a bomba. Ele é japonês. Um gesto desse homem, na cama, vai despertar uma lembrança longínqua da mulher. Ele a incentiva, como um psicanalista, a narrar, a contar essa história passada em Nevers, no interior da França, durante a 2ª Guerra, quando ela se apaixonou por um soldado francês das forças de ocupação. ‘Ah que j?ai été jeune un jour à Nevers’, algo como ‘Ah, como eu fui jovem em Nervers’. E quando ela pergunta por que o homem quer tanto ouvir essa história, ele responde – ‘Porque foi lá, em Nevers, que eu sinto que quase perdi você.’


Resnais já era um curta-metragista famoso, e um investigador do tempo, da memória e da lembrança quando fez Hiroshima. Logo veio O Ano Passado em Marienbad, de novo outro homem persuasivo (Giorgio Albertazzi) que tenta arrancar de uma mulher (Delphine Seyrig) a lembrança de um encontro no ano anterior. Desta vez, o roteirista era Alain Robbe-Grillet, um dos arautos do nouveau roman. Resnais nunca precisou escrever seu roteiros para ser reconhecido como autor integral. Vários de seus filmes merecem estar na lista dos maiores de todos os tempos – Hiroshima, claro, Marienbad, também, mas se o tema de Resnais é a memória (o imaginário), não se pode esquecer A Guerra Acabou nem Stravisky (seu filme mais ?comercial?) e muito menos o que, a despeito de preferências pessoais, é sua obra-prima – Providence.


E m seu verbete sobre Resnais, Jean Tulard, no Dicionário de Cinema, cita Bachelard – ‘Depois da leitura, começa a obra da leitura.’ Resnais e seus roteiristas, Resnais e suas mulheres maravilhosas, Resnais e seus filmes. Se o cinema, como dizia Stanley Kubrick, é montagem, não existe maior diretor do que ele, porque a montagem de seus filmes é perfeita. E existe a música, que se integra, comenta, às vezes se contrapõe à imagem. São filmes para o prazer dos olhos, dos ouvidos e da inteligência. Resnais é um autor reconhecido como de ?arte?, mas tem um público. Seu filme mais recente, Medos Públicos em Lugares Privados está há mais de um ano em cartaz no Belas Artes e, em muitos fins de semana, continua tendo mais espectadores do que o blockbuster da vez. Todo Resnais, como propõe o CCBB, na curadoria de Cristian Borges, Inês Aisengart e Gabriela Campos, vai ser um dos eventos cinematográficos do ano.


Serviço


Alain Resnais: A Revolução Discreta da Memória. Amanhã, 14h30, Abordando Alain Resnais, um Revolucionário Discreto (1980); 17 h, Melô (1986); 19h30, Morrer de amor (1984). 5.ª, 14h30, Quero ir para Casa (1989); 17 h, A vida é um Romance (1983); 19h30, Providence (1976). Centro Cultural Banco do Brasil – Sala de Cinema (70 lug.). Rua Álvares Penteado, 112, Centro, 3113-3651. 4.ª a dom. R$ 4. Até 21/9. Abertura hoje, 19h30, para convidados, com a exibição de Van Gogh (1948), As Estátuas também Morrem (1950-53), O Canto do Estireno (1958)’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Arnaldo Jabor


O presidente negro


‘A história americana tem espasmos progressistas e reacionários. Na época de Eisenhower, eu morei nos USA, e estudei numa high school da Flórida, no coração da ‘América profunda’, em Saint Augustine, a cidade mais antiga do país, fundada pelo maluco Ponce de Leon, que chegou em busca da Fonte da Juventude.


Era a época da ‘geração silenciosa’ do pós-guerra. Eisenhower só dizia ‘platitudes’, palavra que aprendi com a professora de inglês, uma velhinha democrata que odiava a burrice nacional. Depois, veio o Kennedy, moderno, com mulher chique, que governou até 63, quando uma bala transformou sua bonita cabeça numa massa sangrenta. Ficou Lyndon Johnson, um medíocre vice democrata, pré-Nixon. Depois, o irmão Bob Kennedy, que certamente seria eleito, foi assassinado na frente das TVs do mundo todo em 68. Em seguida, tivemos o espasmo reacionário de Nixon, que cai em 74, sucedido pelo frágil Jimmy Carter que preparou a chegada dos republicanos Reagan e Papai Bush, até a ‘era dourada’ do Clinton, que acabou desmoralizada pelos lábios da Monica Lewinsky, no mais trágico ‘boquete’ da história ocidental. Agora, talvez acabe a fase do Bush, o débil mental que reinou por oito anos e que, se Deus quiser, não será sucedido pelo hipócrita McCain.


No entanto, com a gloriosa nomeação de Obama pelos democratas, fico olhando aquele homem raro, profundo, que aponta os melhores caminhos para a América, e me preocupo: ‘Será que os americanos vão deixar um negro intelectual presidir o país?’


Digo isso porque vi o racismo americano de perto. Saint Augustine era uma cidade igual àquela do Truman Show. Os ritos sociais, as pessoas, os gestos cotidianos, os sorrisos e lágrimas, tudo parecia programado por uma máquina social obsessiva. A vida e morte eram padronizadas: abraços gritados, torcidas histéricas no beisebol, alegrias obrigatórias, intensa religiosidade, tudo funcionava num carrossel de certezas absolutas.


Só uma coisa estava fora da ordem: os negros. Era outra América dentro da cidade. No ônibus amarelo do colégio, eu via meus colegas louros, ruivos e brutos berrando contra os negros que passavam: ‘Hey, ?nigger?, por que teu nariz é tão chato?’ ‘Hey, ?nigger?, por que teu cabelo é pixaim?’ Os negros ouviam de cabeça baixa, o rosto torcido de humilhação, num ódio sufocado. Amontoavam-se no fundo dos ônibus, em pé, mesmo com os carros vazios, e moravam num bairro sujo de madeira e terra. Eu me espantava com aquela ausência total de compaixão, eu que vinha de babás negras me beijando. Os pobres segregados eram tristes , trêmulos e esfarrapados, obesos e deprimidos, com frágeis mulheres engelhadas e crianças assustadiças.


E eu tinha medo; mas, era dos brancos. A violência dos alunos me assustava. Vi brigas de ferozes galalaus se arrebentando até o sangue no focinho e o desmaio, onde nem os diretores do colégio podiam interferir. Eu era um ‘nerd’ comprido e meio bobo nos meus 15 anos e me chocava com as botas de caubói marchetadas de estrelas de prata, com as facas de onde a lâmina pulava, os casacos de couro negro que já vestiam a ‘juventude transviada’ – uma rebeldia reacionária e ‘republicana’.


O ídolo da época era Elvis Presley rebolando na TV. Pairava um clima de intolerância entre os próprios brancos; eram os fortes contra os fracos, as meninas bonitas contra as feias, as sérias contra as ‘galinhas’ que eram comidas nos drive-ins, dentro dos carros envenenados, os hot rods, e depois cuspidas para a humilhação coletiva. As rivalidades eram vingativas e duras.


Eu, turista tropical, tímido e fraco, provocava-lhes um respeito cauteloso, por ser estrangeiro e os machões me poupavam porque eu lhe dava ‘cola’ em ‘spelling’, soletrando palavras de raiz latina, enigmas para eles.


Mas, existia no ar um perigo desconhecido. Não havia espaço para dúvidas naquela cidade, mas dava para sentir que aquela solidez de certezas, se rompida, provocaria um grave desastre. Eu navegava naquela cultura obsessiva e, bem ou mal, conseguira namorar Melinda Mills, pálida filha de um ex-marine que estivera no Rio e me mostrou um cartão-postal do Mangue com suas palmeiras, onde ele certamente conhecera a Zona e as polacas.


Até que um dia, chegou a notícia terrível: tinha subido aos céus o satélite russo, o Sputnik, girando como uma bola de basquete em órbita da Terra.


Foi indescritível o pânico na cidade. Desde 49, com a explosão da bomba H pelos soviéticos, destronando a liderança dos destruidores de Hiroshima, os americanos esperavam outra catástrofe, que viria como um filme de terror tipo A Invasão dos Feijões Gigantes. Em minutos, a cidade parecia um campo de refugiados, de perdedores humilhados pelos comunistas no espaço. No colégio, começaram ‘fire drills’ incessantes, alarmes evacuando os alunos para porões e abrigos atômicos. O então senador Lyndon Johnson berrou: ‘Brevemente estarão jogando bombas atômicas sobre nós, como pedras caindo do céu…’ No alto, o satélite Sputnik humilhava os americanos, com seus ‘bip bips’, soando como gargalhadas de extraterrestres. A partir desse dia, os colegas passaram a me olhar de lado. Transviados e porradeiros me investigavam com perguntas: ‘Que você acha? Teu país gosta dos russos?’ Eu tremia e escondia minha vaga admiração pelo socialismo. Eles me olhavam desconfiados: brasileiro, latino, sabe-se lá? Depois disso, não me pediam mais cola. O pai de Melinda, putanheiro do Mangue, mal me cumprimentou de sua poltrona esfiapada. Melinda ficou mais pálida e nosso namoro definhou.


Por isso, hoje vejo o Obama, esguio, mulato, de elite, com a mulher gatona como uma cantora funk e penso: ‘Na América existe um ?racismo? sutil, inconsciente, mas vasto. Está além da cor da pele. É a desconfiança do novo, do diferente, diante dos verdadeiros liberais reformistas como Obama.’ E tremo: ‘Será?’ Tenho medo das balas republicanas. Elas não perdoam.’


 


 


 


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 2 de setembro de 2008


 


BISBILHOTICE
Folha de S. Paulo


Grampo no poder


‘NÃO É de hoje que se espalha por Brasília a convicção de que as mais altas autoridades da República vêm sendo grampeadas. Reportagens são publicadas, varreduras dão em nada e ninguém sai responsabilizado.


Agora, há um fato: conversa do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, com o senador oposicionista Demóstenes Torres (DEM-GO) foi gravada, vazada e publicada.


A comprovação chocante circulou com a revista ‘Veja’, que aponta a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) como responsável pela bisbilhotice. A agência era já a principal suspeita, ao lado da Polícia Federal, nas prováveis escutas realizadas no contexto da Operação Satiagraha, que levou à prisão de Daniel Dantas. Gilmar Mendes, por ter libertado o banqueiro, teria sido incluído na conta de ‘inimigo’.


Além de ministros do STF, até alvos no Palácio do Planalto ou próximos do Executivo teriam caído na mira pelo menos do baixo clero dos órgãos de investigação. As cúpulas da Abin e da Polícia Federal sempre negaram as escutas. Voltam agora a refutar seu envolvimento, mas a verossimilhança da negativa encolhe a olhos vistos.


Existe, claro, a hipótese de que a escuta tenha sido realizada por terceiros. Há um cipoal de interesses envolvidos, tanto na espionagem quanto na sua divulgação. Só uma investigação enérgica poderia desenredar o emaranhado, mas as primeiras reações diante do incabível sugerem que não se descarta o teatro de praxe das providências cabíveis.


Por um lado, fez bem o presidente da República de afastar a cúpula da Abin, depois de reunir-se com o chefe do Supremo. É o mínimo que lhe cabia fazer para tornar menos vaga a promessa de sempre, de investigação isenta (com a vigilância da Procuradoria Geral da República).


No Congresso, porém, o máximo que se conseguiu improvisar foi um depoimento, hoje, do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Felix, à CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas. Já a ‘reunião de emergência’ da Comissão Mista de Controle de Órgãos de Inteligência do Congresso ficou para o dia 9 (o órgão se reuniu pela última vez em 2005).


Está aí, na atitude leniente dos Poderes da República, a raiz do descontrole no aparelho policial e de segurança. Essa subcultura autoritária incrustada no Estado viceja à sombra dos interesses menores dos ocupantes dos cargos mais altos, useiros e vezeiros de dossiês e grampos. Se as instituições não lhe resistirem com comando e vigilância, terminarão carcomidos por ela.’


 


 


Clóvis Rossi


O Estado não é policial, é frouxo


‘SÃO PAULO – Dois presidentes, Gilmar Mendes, do STF, e Garibaldi Alves, do Senado, viram nos ‘grampos’ em seus telefones um ‘estado policialesco’.


É precisamente o contrário. Estado policialesco pressupõe um Estado forte, onipresente, hiperativo.


O que existe no Brasil é um Estado frouxo, inerme, ausente exatamente onde a sua presença é mais necessária.


Episódios como o dos ‘grampos’ contra duas das mais altas autoridades da República, para não mencionar Gilberto Carvalho, o mais próximo assessor do presidente Lula, só demonstram o quanto o atual governo é omisso. Prova-o a seguinte frase do ministro da Justiça, Tarso Genro, falando precisamente sobre interceptações telefônicas: ‘Estamos chegando a um ponto em que temos de nos acostumar com o seguinte: falar no telefone com a presunção de que alguém está escutando’.


Traduzindo: o chefe da Polícia Federal, em vez de se indignar -e agir em conseqüência, o que seria ainda mais relevante-, prefere conformar-se com a sua incompetência, impotência, inapetência ou tudo isso ao mesmo tempo para controlar atividades que desrespeitam o Estado de Direito. Fosse menos relapso, o ministro diria que tomaria todas as providências para que a arapongagem deixasse de ser tão disseminada e que os inocentes poderiam ter a ‘presunção’ de que só são ouvidos pelos seus interlocutores.


Se seu chefe, o presidente da República, também fosse menos relapso, teria afastado o ministro no ato, para demonstrar que não compactuava com a omissão do subordinado. Como não o fez, é forçado a agir tardiamente, punindo o policial, Paulo Lacerda, que foi o símbolo de uma elogiada PF. Não há símbolo que resista no governo Lula. Cai um após o outro sempre que qualquer labareda chega perto do presidente.’


 


 


Janio de Freitas


O monstro vive


‘A INSEGURANÇA da privacidade é total no Brasil de hoje e de alguns anos já, imprecisos embora. Ninguém, em nenhuma instância do governo ou do Judiciário -o que inclui a própria polícia, a Abin e os vários serviços secretos das Forças Armadas-, sabe quem foi e quem está sendo gravado. Além das autorizações à polícia para gravação legal, cujo montante de 407 mil já atesta o estado de desatino, as gravações são corriqueiras também em serviços oficiais sem direito de fazê-las e, ainda, nas vastas atividades clandestinas mas tacitamente toleradas pelos governos e até utilizadas por policiais, como já reconhecido. Com contrapartida de não saber quem foi gravado há, portanto, a ignorância sobre quem grava. É um mundo sem olhos e com ouvidos demais.


Uma certeza nesse mundo: toda a cúpula do governo, da Justiça e das atividades financeiras está sob pleno risco de haver deixado em gravações sigilosas, ilegais ou autorizadas, conversas que precisavam de reserva.


Ainda mais grave: ninguém pode nem sequer imaginar o material que as gravações, autorizadas ou ilegais, já recolheram e o que pode ser feito com isso. Ou melhor, com esse arsenal.


Dá uma idéia da vulnerabilidade, até mesmo por ameaça institucional, os recentes equipamentos de que a Polícia Federal está dotada (também a Abin estaria). São dispositivos capazes de gravar telefonemas sem utilizar os serviços das telefônicas, onde se fazem as conexões batizadas de ‘grampos’. Com isso, são possíveis gravações sem a autorização judicial, à distância e em qualquer lugar.


Esses novos recursos tecnológicos, cujo alto preço não impede sua posse por particulares, faz lembrar a única referência técnica à gravação da conversa do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, com o senador Demóstenes Torres: parece uma ‘gravação ambiental’. Como as gravações que não se fazem por intermédio das telefônicas.


Como ponto de partida para as várias investigações anunciadas (na PF, na Abin, na Câmara, no Senado), a gravação do ministro e do senador lança indagações à margem do problema de violações do recôndito pessoal. O teor da gravação dada a ‘Veja’ não justifica a divulgação. Logo, o propósito não foi atingir Gilmar Mendes nem o STF. Pode ser contra a Abin. Mas imaginar que algum agente da Abin seja tão puro e democrata que prefira denunciar más práticas da agência, como sugere a entrega da gravação ‘por um agente da Abin’, beira o anedótico.


São, pois, duas obscuridades: as gravações como norma disseminada e o motivo da divulgação de uma delas sem, no entanto, qualquer implicação dos gravados, mas a pretensa indicação de origem -a Abin.


Só nos últimos dois meses, foram publicados aqui pelo menos seis artigos tratando, embora não só, de gravações telefônicas e da atividade ilegal da Abin a pretexto da Operação Satiagraha (‘Escuta aqui’, em 15/7; ‘Vozes de mais e de menos’, 17/7; ‘Trechos de um mau enredo’, 20/7; ‘A recriação da bomba’, 22/7; ‘Conselhos ao telefone’, 27/7; ‘Da inação à ameaça’, 7/8). Em ‘Trechos’, sobre o aglomerado de ‘antiética, incompetência e tapeações chamado de Operação Satiagraha’, figurou como uma realidade merecedora de atenções, por seus possíveis efeitos, a contraposição das correntes lideradas pelo atual diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, e do ex-diretor e hoje diretor afastado da Abin, Paulo Lacerda.


Ex-ocupante de cargos de relevo na PF, o deputado Marcelo Itagiba mencionou ontem, como uma das possíveis raízes da entrega de uma gravação e da referência à Abin, a ‘disputa’ entre Corrêa e Lacerda. Presidente da atual CPI das Escutas Telefônicas, Marcelo Itagiba parece ter um ponto de partida para as investigações pela Câmara, se não tiver mais. Hoje lá estará o general Jorge Felix, ministro da Segurança Institucional, a quem a Abin é subordinada. Mas a reconvocação de Paulo Lacerda, para novo depoimento, promete mais.


Em síntese, a constatação é simples: com os gravadores oficiais e os ilegais como força nacional, ‘o monstro’ que o general Golbery criou e depois identificou só mudou algumas formas, não morreu.’


 


 


BIENAL DO LIVRO
Raul Wassermann


Refletindo sobre um modelo desgastado


‘HÁ CERCA de oito anos, quando eu estava na presidência da Câmara Brasileira do Livro (CBL), foi instituída uma comissão denominada ‘Repensando a Bienal’.


Tratava-se de olhar o passado e tentar preservar o evento para o futuro. Em minha opinião, as mudanças no mercado e a tecnologia exigiam uma revisão de focos e de métodos.


Meses se passaram e o resultado dessa comissão não apontou nada de novo. Está claro, agora, que faltou visão a todos nós que queríamos algumas modificações, mas não sabíamos defini-las.


E então aconteceu a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) e suas várias imitações, arrasando no charme e na atenção da mídia. Bem verdade que são encontros mais voltados à literatura, enquanto o livro vai além disso. Mas…


Uma das novidades da Bienal do Livro de São Paulo foi o Salão de Idéias, criado no Salão Internacional do Livro, evento que a própria classe editorial detonou.


A Bienal do Livro do Rio aperfeiçoou o formato do Salão de Idéias e tem feito o milagre de levar um colosso de gente para o Riocentro. A última Bienal de São Paulo, no entanto, parece ter perdido a fórmula.


O nível dos encontros caiu e a organização deixou de lado também outras ações vitoriosas, como os cursos durante o evento, que, por meio de convênios com Estado e o município, levavam para a Bienal professores com falta abonada.


Nas bienais de 2000 e 2002, percorremos diversas cidades do Estado fazendo contatos com mídias locais e sensibilizando agências de turismo para organizar as chamadas ‘caravanas do interior’. As verbas de publicidade -bem pequenas- eram aplicadas para sensibilizar as massas.


A baixa freqüência no Anhembi neste ano encontra várias explicações dos organizadores, a começar pela Olimpíada de Pequim -cuja data todos conheciam antes de ser definida a da Bienal. A Lei Cidade Limpa também foi apontada como um empecilho para a divulgação, mas o projeto já existia antes de se montar a campanha deste ano. E isso tudo em um ano em que a CBL teve o mérito de receber os maiores patrocínios jamais conseguidos!


Repensar a Bienal tornou-se uma questão urgente. Saber o que se deseja, mais urgente ainda. Inaugurar esse evento alardeando ser o segundo maior do mundo não resolve nem as questões do mercado editorial, nem o acesso ao livro, nem qualquer tipo de retorno aos pequenos editores que investem com dificuldade na ilusão de ampliar seu horizonte comercial.


O mercado de feiras conhece bem a questão de eventos que são esvaziados quando os expositores descobrem ser mais barato expor seus produtos em salas alugadas em hotéis.


Estamos a caminho de algo parecido?


Sabemos que as bienais de São Paulo e do Rio de Janeiro são também -e devem mesmo ser- fontes de renda para as entidades. Mas não haverá um ponto de equilíbrio em que todos possam ganhar?


Por que não assumir que essa fórmula está desgastada? Por que não criar uma bienal, com esse ou outro nome, que somente mostre a produção das editoras, com eventos culturais de primeira, proibição de descontos, iniciativas que levem público às livrarias e outros canais de venda, apoio maciço para a presença de livreiros de todo o país?


Por que não retomar a tradição dos dias reservados aos profissionais?


E por que não pensar em outro evento, em conjunto com os livreiros, que venda com descontos aqueles bons livros que todas as editoras têm, mas que o público não encontra nas prateleiras?


Por que não fazer, também em São Paulo, uma feira dirigida apenas ao público infanto-juvenil, com uma programação de qualidade que incentive a leitura para a garotada, dando-lhes mais espaço para o contato com os livros?


Enfim, por que não investir em uma boa assessoria de marketing que ajude a fazer acontecer o novo?


Isso tudo requer coragem. E a necessária união da classe editorial. É preciso sonhar com o desenvolvimento do mercado antes para colher em nossas empresas depois.


Trata-se de uma utopia num segmento que dezenas de entidades dizem representar e em que cada um concorda, desde que seja sua a idéia adotada. Mas sonhar ainda não paga imposto e, como dizia Pessoa, ‘tudo vale a pena se a alma não é pequena’.


RAUL WASSERMANN é editor, expositor das bienais do livro e ex-presidente da Câmara Brasileira do Livro.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O Brasil começa…


‘Entrou e foi direto para o topo das buscas por Yahoo News e Google, ‘Brasil começa a bombear de campo em água profunda’.


Seria ‘presságio para a dificuldade para extrair das vastas novas reservas’. O show é hoje.


E o ‘suspense do pré-sal’ está perto do fim, segundo Lauro Jardim. Em duas semanas, Edison Lobão leva as alternativas debatidas para ‘Lula bater o martelo’. Mas ‘erupções vulcânicas de interesses’, na ironia de Janio de Freitas, prosseguem mundo afora. Liam-se no fim de semana longas e especulativas reportagens com interrogação, como ‘O petróleo do Brasil vai ser combustível para uma guerra à pobreza?’, na Reuters, ou ‘O Brasil vai realmente nacionalizar o petróleo?’, do site financeiro Seeking Alpha.


EVANESCENTE


Em artigos na Folha e no ‘Wall Street Journal’, Robert Kagan, um assessor de John McCain, escreveu contra o multilateralismo e ‘realistas’ como Fareed Zakaria, autor de referência para Barack Obama que apóia incluir China, Rússia, Índia e Brasil na ‘ordem global’.


Mas a imagem de ‘superpotência declinante’ dos EUA avança, com Bernd Debusmann, da Reuters, escrevendo sobre os ‘rivais emergentes’ na Olimpíada, no Cáucaso e até no primeiro encontro oficial dos Brics. Antes, Francis Fukuyama opinou no ‘Washington Post’ que ‘o domínio dos EUA no mundo escorrega’. E ontem Nouriel Roubini voltou a postar, no RGE Monitor, sobre ‘A evanescente superpotência americana’.


PIGS


O ‘Financial Times’, num texto sarcástico, escreveu que ‘países excitantes recebem acrônimos excitantes’. Citou Brics, que remete a tijolos e ‘indica crescimento sólido’ -e contrastou com ‘países menos afortunados’ como os Pigs, Portugal, Itália, Grécia e Espanha (Spain). Anos atrás, ‘porcos voavam’, mas ‘estão caindo na Terra’.


OUTRO BOOM


O mesmo ‘FT’ publicou a reportagem ‘Levantado pelo boom de consumo no Brasil’. Confronta a visão de que a América Latina é ‘história de commodities’ com o que acontece no ‘mercado-chave, o Brasil: o crescimento do consumidor de classe média’. E aqui o sistema de cartão de crédito está à frente de China, Índia e Rússia.


COM O BRASIL


Em obituário, o ‘WSJ’ escreveu que Olavo Setubal ‘se desenvolveu com o Brasil’, na ‘evolução de retardatário do mundo em desenvolvimento a potência econômica emergente’


‘LAH-VAH-ZHEN’


Explicando como se fala ‘lavagem’, o ‘New York Times’ relatou ontem o eco da cerimônia anual de Salvador na rua 46, no fim de semana, em Nova York


‘VINGANÇA’


Não foi preciso investigar nem esperar confirmação da denúncia da ‘Veja’. Na manchete do ‘Jornal Nacional’, ontem, ‘Os presidentes do Supremo e do Senado cobram providências do presidente Lula sobre o grampo e ele afasta a direção da Agência Brasileira de Inteligência’. Já o ‘Jornal da Record’ evitou transferir o poder a Gilmar Mendes: ‘O escândalo do grampo. O chefe da Abin, Paulo Lacerda, perde o cargo. Lula se diz indignado com escutas clandestinas no Supremo’.


GLOBO & TELEMUNDO


Segundo a ‘Veja’, a Globo começa a gravar na Colômbia, mês que vem, uma versão de ‘O Clone’ em parceria com a americana Telemundo. Seria o início de uma nova política de co-produção.


RECORD & TELEVISA


Segundo o site Meio & Mensagem, por outro lado, a concorrente Record fechou um acordo com a Televisa para produzir novelas da emissora mexicana adaptadas para o Brasil.


AO ATAQUE


Saiu ontem no All Things Digital, ecoou mundo afora e o Google confirmou: pode ser baixado a partir de hoje o Google Chrome, browser de navegação da internet. O alvo é a Microsoft’


 


 


CAMPANHA
Laura Mattos e Catia Seabra


Após críticas, Alckmin volta a usar Serra na TV


‘Após praticamente ignorar José Serra no horário eleitoral e afirmar que sua participação na campanha ‘não tem efeito prático’, Geraldo Alckmin voltou a explorar imagens do governador paulista ontem em sua propaganda na televisão.


Serra, que apareceu de forma mais contundente só no programa de estréia, expôs a Alckmin, na quinta-feira, suas críticas ao programa do PSDB. Disse que falta foco e sugeriu que a imagem de Alckmin como administrador fosse mais explorada e que se investisse na comparação com Marta Suplicy (PT). Segundo tucanos, Alckmin concorda com a análise.


Também na quinta, o candidato reuniu o comando da campanha para discutir mudanças. Na reunião, com presença do marqueteiro Lucas Pacheco, ficou traçada a estratégia de lançar uma ofensiva contra Marta, que ainda vai chegar às telas, segundo o presidente do conselho político da campanha, José Henrique Reis Lobo.


A volta de Serra à propaganda alckmista se deu no dia em que Marta dedicou um terço de seu programa para cenas da caminhada que fez com Lula na zona leste, no fim de semana. No rádio, a polarização entre Marta e Gilberto Kassab (DEM) segue cada vez mais agressiva. A propaganda petista chamou o prefeito de ‘cara-de-pau’ no quadro ‘cascata do Kassab’. E um jingle democrata disse que ‘dona Marta preferiu plantar coqueiro’.


Nome aos bois


Depois de disputar com Alckmin a imagem de Serra no horário eleitoral, Kassab explorou Mario Covas, o grande mentor alckmista, no programa da noite. Já ao falar de ações de Paulo Maluf e Marta, seus adversários, não deu nome aos bois. ‘Levar asfalto e iluminação à periferia sempre foi uma bandeira do saudoso prefeito Mario Covas. Nós estamos dando continuidade. O leite que damos às crianças começou lá atrás [com Maluf]. Continuei e melhorei. A saúde, que sempre foi a marca do Serra, estamos dando continuidade. Os CEUs começaram na administração anterior [Marta]. Continuei, consertei o que precisava…’’


 


 


HERÓI
Folha de S. Paulo


Equipe de TV diz que Putin os salvou de tigre


‘Segundo a TV Rossyia, o primeiro-ministro disparou um tranqüilizante contra um tigre siberiano que iria atacar uma equipe de filmagem anteontem, durante uma expedição na reserva natural de Ussurisky, com o objetivo de ver como pesquisadores monitoravam os tigres em seu hábitat. ‘Vladimir Putin não apenas conseguiu ver o predador gigante de perto, mas salvou nossa equipe’, disse um apresentador da emissora. ‘Um milagre nos salvou’, afirmou uma das integrantes da equipe. O vídeo divulgado pela TV, no entanto, não mostra o momento em que Putin atirou.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Audiência da Record cai 21% em dois meses


‘Pelo segundo mês consecutivo, a Record perdeu audiência na Grande São Paulo. A emissora, que atingiu o auge em junho, quando registrou média diária (das 7h às 24h) de 9,6 pontos, caiu para 8,4 em julho e para 7,6 em agosto. Em dois meses, acumula queda de 21%. Está apenas 0,2 ponto acima do patamar de um ano atrás.


Executivos da rede de Edir Macedo afirmam que os desempenhos de julho e de agosto foram prejudicados pelas férias escolares e pela Olimpíada. De fato, a emissora registrou ligeira recuperação na semana passada, mas seus carros-chefes, as novelas ‘Os Mutantes’ e ‘Chamas da Vida’, agora na casa dos 14 pontos, estão bem distantes dos 18 que atingiam em junho.


Como o SBT também caiu em agosto (de 7,2 em julho para 6,9), a Record ainda mantém a vice-liderança isolada na Grande SP. No Ibope nacional, estão praticamente empatadas.


A Globo, graças a Pequim e à recuperação de ‘A Favorita’, elevou a média diária para 18,2 pontos, alta de 9%. A Band marcou 3,2 pontos (alta de 33%).


De cada cem domicílios com televisores ligados, 40 estavam sintonizados na Globo. A Record, que tinha em junho 21,4% de participação, caiu para 16,7%. Ou seja, perdeu quase cinco de cada 100 domicílios.


A Record, contudo, comemora um crescimento de 21% no acumulado de janeiro a agosto deste ano, em relação ao mesmo período de 2007.


BORRÃO 1


William Waack está se especializando em trocar sobrenomes de repórteres da Globo. Depois de fazer coisa feia com o de Zelda Melo, ele chamou a correspondente Giuliana Morrone de ‘Morrona’. Tentou corrigir e soltou um ‘Borrone’. Na terceira, acertou.


BORRÃO 2


A trapalhada de Waack, na semana passada, no ‘Jornal da Globo’, já ganhou comunidade no Orkut e vídeo no YouTube. MUDANÇA


Diretora de Telecomunicações da Globo, Liliana Nakonechnyj foi eleita na semana passada presidente da SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão), reduto masculino, de grande influência na TV digital. Substitui Roberto Franco, do SBT.


AGORA VAI 1


O SBT soltou nota oficial, ontem, para desmentir o cancelamento do ‘Programa do Ratinho’, que voltaria aos sábados neste semestre. Informa o SBT que a reestréia do ‘freak show’ de Carlos Massa ficou para o ‘primeiro semestre de 2009’.


AGORA VAI 2 O problema é que o contrato de Massa com o SBT vence em dezembro de 2008. E ainda não houve uma única reunião para tratar de sua renovação.


FESTAS


‘Brothers’, apresentado por Supla e João Suplicy, estreou sábado com 3,8 pontos no Ibope da Grande São Paulo, o dobro do que a Rede TV! dava antes. E o ‘TV Xuxa’, de volta à Globo, perdeu para o SBT (com desenhos apresentados pela menina Maisa) por 10,1 a 9,2.’


 


 


INTERNET
Marco Aurélio Canônico


Revolução virtual


‘Como acontece com toda tecnologia revolucionária, a internet tornou-se tão onipresente que seus usuários não conseguem imaginar o mundo sem ela.


‘É um milagre que nós passamos a considerar comum’, diz John Heilemann, o apresentador da série ‘A Internet’ (‘Download: The True Story of the Internet’), que tem estréia on-line amanhã (no site www.discoverybrasil.com), com o objetivo de lembrar ao público quão espantoso foi o avanço da rede na última década.


Há 15 anos, não havia nem navegadores -os ‘browsers’ como o Internet Explorer, que são a porta de entrada para os sites. É justamente deles que trata o primeiro episódio da série, ‘A Guerra dos Navegadores’, que estréia amanhã no site do Discovery Channel. Na semana seguinte (11/9), ele será exibido na TV e, a partir daí, os demais episódios serão apresentados semanalmente, só no canal.


‘A Internet’ tem ritmo ágil, humor e uma linguagem coloquial que é acessível aos leigos sem aborrecer os iniciados.


Heilemann, o apresentador, é um dos principais repórteres da revista ‘Wired’ e, como tal, cobriu de perto os acontecimentos de que trata a série -sua familiaridade com os temas e com os entrevistados (gente como Tim Berners-Lee, o inventor da rede, Jeff Bezos, da Amazon, e Chris DeWolfe, do MySpace) é um ponto forte.


Dinheiro e intrigas


Outro ponto forte da série é sua ênfase nas inúmeras intrigas que envolveram os empreendedores da rede, com muitos processos judiciais e competição desleal.


O primeiro episódio já traz uma das batalhas mais célebres, entre a Microsoft e a Netscape, que lançou o primeiro navegador e ameaçou desbancar a empresa de Bill Gates.


No segundo, ‘A Pesquisa’, o foco está nos mecanismos de busca, como o pioneiro Yahoo!


e o Google, que inovou ao organizar o resultado das buscas e também deu o grande salto comercial, transformando o site numa eficiente ferramenta de pesquisa de marketing e de gostos do consumidor.


Um dos melhores episódios é o terceiro, que trata do surgimento e da explosão da ‘bolha’ da web, na virada do século.


Ele mostra como a mistura de ‘ignorância, entusiasmo e ganância’ fez com que ‘todo mundo fosse atrás de ações de qualquer coisa com um ‘.com’ no nome’, criando uma situação insustentável e torrando bilhões de dólares.


Mas também pondera sobre os benefícios dessa ‘destruição criativa’, como o surgimento de uma infra-estrutura técnica para a internet em apenas cinco anos, no embalo do crescimento da indústria. ‘O Futuro Digital’, o último episódio, trata do surgimento da internet como a usamos hoje, a web 2.0 e suas redes sociais, seus sistemas de trocas de arquivos e de informações, seu lema de ‘poder aos usuários’.


Os entrevistados são jovens como Chad Hurley (YouTube) e Kevin Rose (Digg).


A INTERNET


Quando: estréia amanhã, no site www.discoverybrasil.com/internet; na TV, às quintas, a partir de 11/9, às 23h


Onde: no Discovery Channel Classificação indicativa: livre’


 


 


Folha de S. Paulo


Warner lança site gratuito com séries novas e antigas


‘Não podendo vencer o download ilegal de suas séries de TV, a Warner decidiu tentar lucrar com elas na rede: na última quarta, foi lançado oficialmente o www.thewb.com.


Nele, estão disponíveis gratuitamente -para assistir on-line, por streaming- a primeira temporada de seriados populares como ‘Buffy – A Caça-Vampiros’, ‘Friends’, ‘The OC’ e ‘Smallville’. Como acontece na TV, a empresa pretende lucrar com os anúncios no site.


Também estão previstas séries inéditas, como ‘Whatever Hollywood’, que estreou com o site e conta a história de três amigas que querem ser estrelas de cinema e que fazem curtas.


No próximo dia 8, estréia ‘Sorority Forever’, mistura de drama e mistério produzida por McG (o mesmo de ‘The OC’ e diretor do próximo ‘Exterminador do Futuro’). A série se passa numa república universitária feminina.


Há pelo menos outros sete projetos de webséries em preparação, e o site também tem ferramentas para os usuários cadastrados, que podem criar suas próprias playlists e, com a ferramenta Wblender (que usa o Adobe Premiere Express), editar vídeos com cenas de diversas séries, adicionando efeitos e legendas.


Há, ainda, um sistema de busca que permite localizar episódios por meio de palavras do roteiro e também vários jogos ligados às séries.


A empresa também lançou um site de programação infantil (www.kidswb.com), mas seus vídeos não estão acessíveis fora dos EUA.’


 


 


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Google lança hoje navegador de internet


‘Depois de meses de especulação, o Google confirmou que lança hoje o seu navegador de internet, o Google Chrome. Com o novo produto, ele amplia a disputa com a Microsoft, dona do Internet Explorer, o navegador mais usado pelos internautas.


De acordo com a empresa, a versão beta do Google Chrome para o Windows estará disponível hoje para usuários de mais de cem países e estão sendo desenvolvidos os programas para Mac e Linux.


Ainda segundo o Google, o navegador será de fonte aberta, isto é, os usuários poderão alterar as características do programa. ‘Esperamos colaborar com toda a comunidade para ajudar a levar a internet para a frente’, afirma a companhia em seu blog oficial.’


 


 


COLUNISMO
João Pereira Coutinho


Contra os colunistas


‘TODAS as semanas, leitores vários, normalmente jovens, normalmente estudantes, normalmente universitários, escrevem-me com demanda existencial: como ser colunista, Coutinho? Eles desejam seguir as pegadas dos nomes que lêem nos jornais porque imaginam, ou suspeitam, que não existe maior privilégio ou prazer do que expor a cabeça em público.


Respondo com clichês; faço piadas; minto; por vezes, Deus me perdoe, encorajo; mas nunca digo a verdade.


E a verdade é simples: colunismo é doença.


Eu juro que não sabia. Eu juro que era como eles, mais de dez anos atrás: idealista, sonhador, facilmente corrompível, imaginando dias perfeitos em que estaria só com as minhas idéias e opiniões. E uma página branca na qual escrevê-las.


Ninguém me disse que os dias não são perfeitos quando estamos sós com as nossas idéias e opiniões. Começamos por sacrificar alguma coisa: lugares que não visitamos, amizades que não vemos, amores que vamos adiando e a vida propriamente dita que não vivemos. Mas que passa lá fora, indiferente às nossas divagações.


A solidão cresce. E, com a solidão, vem a angústia crescente de quem procura assunto, semana após semana, dia após dia, hora após hora, como um caçador ansioso e furtivo.


O problema é que a presa nem sempre vem; e nós, gelados e parados pela ausência da musa, contemplando a página em branco, nossa mortalha privada. Tornamo-nos cínicos, tão cínicos que até rezamos para que o mundo corra mal, a única forma de nos darmos bem. Como o demônio, só reinamos no caos e no inferno.


Somos Sísifo, somos a pedra que ele arrasta montanha acima, montanha abaixo, incapazes de desistência ou descanso. Quando desligamos o laptop, a cabeça continua a pleno vapor, escrevendo crônicas imaginárias ao mínimo sinal de alarme. A vida não é a vida. É sempre pretexto. É sempre contexto. É sempre texto.


Mas não é apenas a angústia que cresce. É a paranóia. O ego aumenta.


A vaidade também. Somos meros colunistas? Nada disso: como diria o poeta, somos nós os verdadeiros legisladores do universo. E acreditamos sinceramente que todos os problemas do mundo teriam solução se ao menos nos perguntassem como.


Tornamo-nos facilmente intolerantes e irascíveis. Arrogantes? Pior: arrogantes e vulneráveis. Reclamamos de incompreensões imaginárias. Todos os editores são inimigos declarados porque não entendem o que só nós entendemos, ou seja, que ninguém nos entende. Ninguém nos ama. Ninguém nos venera.


Exigimos mais espaço. Exigimos mais destaque. Exigimos lide na primeira página. Queremos, aliás, que o jornal mude de nome para acomodar o nosso nome. Folha de S. Paulo? O diabo. ‘Folha de S. Coutinho’. E, quando o colunista do lado escreve prosa admirável, nós jamais aplaudimos. Adoecemos de inveja, fustigamos os nossos neurônios por não termos pensado primeiro. E desejamos secretamente que ele morra atropelado. E tudo isso para quê?


Eu digo-vos para quê: para sermos lidos em cinco minutos com o café da manhã; para despertarmos risos, tédios, concórdias ou discórdias em gente anônima que jamais conheceremos; e, com alguma sorte, para acabarmos o dia abandonados e esquecidos, forrando o banheiro do gato.


Todas as semanas, leitores vários, normalmente jovens, normalmente estudantes, normalmente universitários, escrevem-me com demanda existencial: como ser colunista, Coutinho?


Respondo a única resposta possível: não sejam. Estudem. Sejam médicos, professores, economistas. Artistas. Empresários. Sejam decentes. Coerentes. Sociáveis, saudáveis, equilibrados. Úteis.


Nunca deslumbrados.


Porém, se no final de tudo isso a ambição da crônica persistir; se persistir ainda a pretensão infame e doentia de escrever e partilhar; se sentirem que a vida não faz sentido sem palavras vossas, e não simplesmente alheias; se suspeitarem de que a solidão da escrita vos é insuportável, mas deliciosamente insuportável; se não temerem uma existência efêmera, como certas borboletas, nascendo e morrendo em 24 horas; e se amarem o jornalismo, e os jornais, com a ingenuidade própria dos verdadeiros amantes, então nada mais vos tenho a dizer. Saiam daqui. Desapareçam. E arruínem as vossas existências à vontade. Eu não serei culpado de nada. Serei apenas vosso leitor com o café da manhã. E, quando a noite vier, vocês serão o banheiro infecto do meu gato.’


 


 


 


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