Wednesday, 15 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Mercado publicitário brasileiro em alta


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 3 de maio de 2010


 


TELEVISÃO


Andréa Michael


Mercado publicitário cresce 25% no bimestre e fatura R$ 3,24 bi


‘O mercado publicitário brasileiro acumulou um crescimento médio de 24,96% no primeiro bimestre do ano em relação ao mesmo período de 2009, conforme levantamento do Projeto Inter-Meios, que será divulgado hoje. Isso significa um investimento de R$ 3,24 bilhões em nove mídias.


A TV aberta continua a deter a maior fatia dos investimentos, com 63,19% do mercado.


Em análise por mídia, a internet foi a que mais cresceu (33,9%), seguida pela TV por assinatura (33,06%) e pela televisão aberta(32,72%).


As fatias da internet e da TV por assinatura no bolo das verbas publicitárias são de 4,46% e de 3,28% respectivamente.


Segundo Salles Júnior, presidente do Grupo Meio e Mensagem, que elabora o Inter-Meios, é necessário fazer duas ponderações sobre os percentuais de crescimento em 2010.


Em primeiro lugar, o padrão de comparação é ruim, pois 2009 foi um ano de crise, com mercado desaquecido. Em segundo, o efeito dos eventos Copa do Mundo e eleições, que provocam a concentração dos investimentos em campanhas no primeiro semestre.


‘Por causa desse conjunto, nossa projeção de crescimento médio para o ano é de 12%’, diz Salles Júnior.


A preferência do anunciante pela TV indica a existência de um fluxo de campanhas publicitárias que buscam maior celeridade na venda de produtos.


45 ANOS 1


Sete jovens atores protagonizam a nova campanha de aniversário da Globo, aprovada sexta. Entre eles, Karla Castanho e Cecília Dassi. São filmes de 30 segundos que, exibidos por dez dias, falam da força do trabalho em conjunto e dos sonhos como semente do futuro.


45 ANOS 2


Criada por Luiz Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, a campanha explora imagens das mídias em que o telespectador também pode assistir ao conteúdo da emissora: cinema, celular e notebook.


CONCORRÊNCIA


O tráfico nos morros do Rio estará no ‘Conexão Repórter’ (SBT) e no ‘Repórter Record’, que disputarão audiência hoje, às 23h. O ‘Conexão’ trará também a rota internacional.


EM PELO Comentário de Caio Blat sobre sua nudez em ‘Cama de Gato’ (2002), no ‘Vai e Vem’ (GNT) do dia 7: ‘Minha exposição nesse filme foi muito grande, porque fiquei totalmente nu e excitado. Mas era uma exigência do filme. Hoje eu não faria, mas de fato ele abriu muitas portas para mim’.


BAZAR HD


A NET adquiriu televisores Samsung com tecnologia full HD e acima de 32 polegadas para vendê-los exclusivamente a seus assinantes com descontos de até 30%. A partir de amanhã, pelo site www.lojadosnets.com.br/copahd. Clientes novos que adquirirem o produto nas mesmas especificações terão três meses de assinatura gratuita para o serviço de TV, válidos somente para pacotes HD (a partir de R$ 119,90).’


 


 


Em três anos, ‘Lost’ gastou US$ 228 milhões no Havaí


‘A produção de ‘Lost’, que exibe seu último episódio em 23 de maio nos Estados Unidos, gastou US$ 228,2 milhões em gravações no Havaí entre 2006 e 2009. Também empregou 973 pessoas do arquipélago em tempo integral durante o período das filmagens. As informações são do Estado do Havaí, divulgadas na imprensa local.


A ABC, produtora da série, nunca havia revelado quanto investiu nas gravações do seriado no Havaí, Estado que deu incentivos fiscais à produção para que deslocasse sua equipe até lá. Segundo agências de notícias, descontos nos impostos ficaram em torno de US$ 32 milhões.


De acordo com autoridades locais, os investimentos do seriado compensam as deduções nos tributos.


Críticos dos cortes argumentam, no entanto, que produtores de filmes e seriados não precisam do incentivo fiscal para gravar nas ilhas, já que são atraídos pelo clima ameno e pela beleza das paisagens naturais.


Executivos da ABC não comentaram o impacto dos benefícios fiscais obtidos pela série ‘Lost’ no Havaí.’


 


 


Van Damme e família estrelam novo reality show


‘Jean-Claude van Damme, o astro das artes marciais, e sua família serão alvo de câmeras de televisão para um reality show que acompanhará os preparativos para seu retorno ao ringue em outubro. Além de cenas domésticas do lutador, o programa deve acompanhar sua rotina de treinos. Van Damme ainda não decidiu que membros de sua família aparecerão no programa do canal britânico ITV.’


 


 


Lúcia Valentim Rodrigues


‘Modern Family’ faz retrato agudo dos preconceitos diários


‘O preconceito está entranhado na instituição familiar. Sem perceber -ou muitas vezes percebendo-, ele aparece nos relacionamentos, nas escolhas, nos mínimos gestos diários.


‘Modern Family’, que estreia na Fox, exacerba essa condição ao expor, em estilo de captação de depoimentos para um documentário, o dia a dia de uma família e suas ramificações (cunhados, namorados, ex-mulheres, novas uniões).


Jay (Ed O’Neill, que viveu Al Bundy por anos em ‘Married with Children’) é o envelhecido pai turrão do gay Mitchell (Jesse Tyler Ferguson) e da insegura Claire (Julie Bowen).


O primeiro viajou até o Vietnã para adotar um bebê com seu namorado exagerado. A outra tem três filhos adolescentes e expõe o abismo entre os pais e essa nova geração.


A casa de Jay não é menos disfuncional. Ele se casou novamente, com uma latina caliente (a ótima Sofia Vergara), que já tinha um filho, Manny (Rico Rodriguez). Mesmo com apenas dez anos, ele dá conselhos (e bons) para Claire de como se comportar como mãe.


A estreia traz momentos hilários, como a apresentação da filha do casal homossexual, ao som triunfal da música do ‘Rei Leão’. Mas é nas pequenas coisas que estão as joias da sitcom.


O mundo moderno é complicado. As famílias são complicadas. ‘Modern Family’ é um retrato agudo e crítico dessa realidade. Figura entre as grandes estreias do ano nas séries cômicas -e já assinou contrato para uma segunda temporada.’


 


 


DIREITO À INFORMAÇÃO


Vincent Defourny e Guilherme Canela


Pedra fundamental da democracia


‘HÁ 244 ANOS , a Suécia apresentava ao mundo o primeiro marco legal de garantia de um direito a ter acesso às informações produzidas pelo Estado.


Uma revolução! O caráter inovador sueco foi mais além: o direito à informação estava inserido, já naquela época, em uma regulamentação que também tratava da liberdade de expressão e de imprensa, em um reconhecimento claro da interdependência desses conceitos.


Quase dois séculos depois, em 1948, as Nações Unidas reconheciam o direito à informação no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: ‘Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras’.


Desde então, dezenas de países começaram a criar as regras do jogo para garantia, proteção e promoção do direito à informação. Hoje, são cerca de 80 nações que estabelecem que seus cidadãos e cidadãs detêm o direito de ter acesso às informações produzidas pelo Estado.


Vale lembrar que, não raro, há grande distância entre a garantia formal do direito e sua execução cotidiana.


O Brasil decidiu incluir o direito à informação entre as garantias fundamentais previstas na Constituição: ‘Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado’.


A despeito da central decisão da Assembleia Constituinte, foi apenas no ano passado que o Poder Executivo enviou ao Congresso projeto de lei geral regulamentando o tema. A proposta de uma lei geral de acesso à informação (projeto de lei nº 5.228/2009) foi recentemente aprovada pela Câmara e aguarda apreciação pelo Senado Federal.


Sua sanção pelo presidente e sua efetiva implementação representarão avanço de grandes proporções para a democracia brasileira. A informação, entendida como um bem público, e o acesso a ela como um direito humano inalienável e universal estão, portanto, no centro de debates fundamentais que acompanham a própria consolidação das democracias. O direito à informação é componente fundamental de uma série de reflexões-chave para a boa governança democrática.


Entre essas relevantes reflexões estão mecanismos para garantir a responsabilidade dos governos; ferramentas, procedimentos e modelos para elevar a qualidade da gestão pública; regimes que contribuem para o aumento da transparência no exercício das atividades estatais e para a diminuição da corrupção.


Outros mecanismos são as estruturas de garantia e promoção dos direitos humanos, com especial atenção para o chamado direito à verdade, e elementos institucionais que conduzam a um desenvolvimento econômico, social e humano mais pujante, célere e diversificado. Nesse sentido, muitos são os atores que se beneficiam de um adequado sistema de garantia de acesso à informação: cidadãos e cidadãs, jornalistas, pesquisadores, servidores públicos, dentre outros.


O tema é especialmente relevante para os jornalistas, dado o seu significativo papel na vigilância saudável dos poderes públicos e no aprofundamento do debate público acerca das ações desenvolvidas pelos governos.


Como recorda a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, em sua mensagem por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, celebrado em todo o mundo hoje, ‘é possível que nós não exerçamos, de maneira consciente, o nosso direito à informação.


Mas, cada vez que lemos um jornal, ligamos a TV ou o rádio para ver ou ouvir o noticiário, ou acessamos a internet, a qualidade daquilo que vemos ou ouvimos depende do acesso que esses meios tiveram a informações atualizadas, críveis e precisas’.


A Unesco no Brasil entende que temos muito a celebrar com o avanço da tramitação do projeto de lei de acesso à informação no Congresso. Esperamos que a lei saia do papel e tenha aplicação adequada, pois, sem dúvida, é peça fundamental para o aprofundamento da democracia brasileira. Para isso, a Unesco oferece à sociedade seu conhecimento na área e sua cooperação internacional.


VINCENT DEFOURNY, 50, doutor em comunicação, é representante da Unesco no Brasil.


GUILHERME CANELA, 30, cientista político, é coordenador de comunicação e informação da Unesco no Brasil.’


 


 


LIBERDADE


Seminário discute liberdade de expressão


‘A liberdade de expressão e as tentativas de impedir que a imprensa a exerça plenamente serão os temas de seminário que a Emerj (Escola de Magistratura do Rio de Janeiro) realiza hoje de manhã, na capital fluminense. O evento marca o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.


‘O momento talvez não pudesse ser mais apropriado, diante dos preocupantes sinais emitidos por governos autoritários de alguns países da América do Sul, apontando para o cerceamento da liberdade de imprensa’, disse Manoel Alberto Rebêlo dos Santos, diretor-geral da Emerj.


O seminário terá o apoio da ANJ (Associação Nacional de Jornais), da Abert (Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão) e da Aner (Associação Nacional dos Editores de Revista).


Entre os palestrantes estará o jornalista americano Carl Bernstein, cujas reportagens com Bob Woodward, no jornal ‘Washington Post’, desencadearam o escândalo de Watergate, de espionagem de políticos opositores, e contribuíram para o processo de impeachment e a renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974.


Bernstein falará sobre a ‘tendência mundial de controle da comunicação’ -segundo o último relatório da organização americana Freedom Forum, 2009 foi um ano de retrocesso na liberdade de imprensa no mundo. Na América Latina, diz o relatório, a situação piorou sobretudo na Venezuela, onde houve ações contra as emissoras de TV oposicionistas RCTV e Globovisión.


Um dos convidados do evento era o dono da Globovisión, Guillermo Zuloaga, que não obteve autorização da Justiça para deixar o país. Será representado por seu filho, Carlos Alberto Zuloaga, vice-presidente de Operações da Globovisión.


Em março, Guillermo Zuloaga foi detido e está sendo processado sob a acusação de ‘vilipendiar’ o presidente Hugo Chávez, após criticá-lo numa reunião da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa).


No seminário, Jaime Sirotsky, do grupo RBS, dará uma visão histórica dos abusos contra a liberdade de expressão. Ricardo Gandour, de ‘O Estado de S. Paulo’, mediará o painel sobre cerceamento à imprensa na América Latina, com representantes da Globovisión e dos jornais ‘El Universo’ (Equador) e ‘Clarín’ (Argentina).


No Brasil, segundo o Freedom Forum, algumas das principais ameaças à imprensa partem de decisões judiciais censurando ou limitando a publicação de reportagens.’


 


 


ENTREVISTA – JOSÉ LUIZ DATENA


Marcio Aith


Em fase política, Datena elogia Serra, mas vota em Dilma


‘DE PROPÓSITO ou sem querer, foi para ele que José Serra (PSDB) falou pela primeira vez como candidato ‘assumido’ à Presidência -momento havia meses perseguido por todos os repórteres de política do país. De olho na mesma ribalta, Dilma Rousseff (PT) venceu a timidez de debutante em eleições e para ele cantou ‘El Día que me Quieras’. Assim, entre uma confissão e um tango, o apresentador de TV José Luiz Datena, 52, se tornou vedete da pré-campanha. Mostrados de corpo inteiro ao lado do robusto apresentador no estúdio do ‘Brasil Urgente’, atração popular do final da tarde na rede Bandeirantes.


Com Datena, tanto Serra como Dilma puderam praticar o autoelogio, mas também tiveram de se enquadrar na agenda do programa (da epidemia de crack à violência doméstica) e, principalmente, engolir sem reclamar os veredictos do anfitrião -diante de Serra, Datena frisou que Lula ‘é o maior presidente que o país já teve’; quando Dilma elogiou a Força Nacional de Segurança, criada no atual governo, ouviu que a novidade ‘não resolveu nada’.


Chamado a escolher um dos dois para votar em outubro, Datena diz que ‘ainda’ não decidiu, mas aparentemente falta pouco: ‘Acho que vou votar na Dilma, por causa do Lula. E acho que a Dilma tem a capacidade para governar o país’. Isso embora considere Serra ‘mais preparado’.


FOLHA – Quem teve a ideia de entrevistar candidatos à Presidência num programa policial?


DATENA – Era um sonho antigo que eu tinha, mas, na verdade, fui procurado para entrevistá-los. Parece finalmente que os marqueteiros de plantão pegaram as caravelas e estão fazendo o que Cabral fez em 1500. Estão descobrindo o Brasil de novo, como eu tenho dito e escrito por aí. Como apresentador popular, quase sempre fui relegado a um segundo plano nas campanhas. Um jornalista de segunda classe. Mas os gênios se esqueciam de que quem vota é o povo que vê a televisão, ouve rádio e lê jornal.


FOLHA – Como é que você conseguiu tirar do Serra a admissão de que seria candidato à Presidência?


DATENA – A assessoria dele chegou a perguntar pra mim: ‘você não vai abordar política na entrevista, não é?’. Eu respondi: ‘O que eu vou perguntar para ele não lhes interessa’. No meio da entrevista, ele deu uma brecha. Era o aniversário dele, e tinha uma criançada cantando os parabéns. Vi que quase chorou, porque gosta do neto pra caramba. Pensei: ‘nossa, o Serra chora’. Ali ele abriu a guarda e eu perguntei: ‘Se o sr está beijando criancinha é porque é candidato.’ Ele respondeu: ‘Ainda não, Datena.’ Eu disse: ‘Ainda não? Então o senhor vai ser candidato?’ Ele: ‘Eu só pretendo lançar minha candidatura depois, em abril.’ Pronto. A candidatura estava lançada.


FOLHA – Mas por que ele teria dito isso ao senhor, naquele momento?


DATENA – Ninguém tira do cara o que ele não quer falar. Num momento ou outro ele falaria. Acho que o momento adequado foi criado para que ele abrisse a guarda. Alguém me perguntou : por que ele não falou para o William Bonner e falou para o Datena? Ora, quem estava ali era o Datena, não o Bonner.


FOLHA – Qual é a estratégia para tirar mais revelações de candidatos?


DATENA – Se você deixa o cara à vontade, o cara fala mais. Se você começa a falar empolado, dá espaço para ele te enrolar.


FOLHA – Qual dos dois candidatos foi melhor nas entrevistas?


DATENA – As duas foram legais. Falaram que o Lula não tinha gostado do desempenho da Dilma. Parece que isso não é a verdade absoluta. Não foi isso o que o Lula disse. O presidente recomendou a ela que se preparasse melhor. Mas o presidente não viu a entrevista. Algum cara disse a ele que ela estava insegura. Eu tenho outra impressão. Achei que a entrevista da Dilma a aproximou do povo do que estava antes. Ela foi mais solta do que de costume. Tive uma ótima impressão dela.


FOLHA – E o Serra?


DATENA – O Serra é um avião. A Dilma tem que se preparar para enfrentar o Serra porque, no pau a pau, num debate político, o Serra está muito mais acostumado do que ela. Se ela descomplicar o palavreado dela, falar simples, pode até levar. Vai ser um páreo duro. Essa eleição pode ser decidida no primeiro turno, para um lado ou para o outro. Os dois foram muito bem. O Serra foi mais seguro. Aprendi a gostar do Serra.


FOLHA – Em quem você vai votar?


DATENA – Ainda não decidi. Mas acho que vou votar na Dilma, por causa do Lula. Acho que a Dilma tem a capacidade para governar o país. O Serra estaria mais preparado, mas minha ligação com o Lula é um negócio muito legal. Acho que ele é um divisor de águas. Ele deu ao país a noção absolutamente exata de que um pobre pode ser presidente da República. O Lula virou um Padre Cícero. Mas, mesmo se o Serra ganhar, o país estará bem servido. Muito bem servido. Porque o Serra é um cara preparado.


FOLHA – Qual deles é mais de esquerda?


DATENA – O Serra é muito mais socialista do que a Dilma diz que é. Explico: a Dilma hoje é socialista porque não tem comunismo. Se tivesse comunismo ela estaria com arma na mão. Eu sou um cara de esquerda. Mas não aquele cara bobão, o comunista que escorregou para o socialismo de vergonha. Eu, ao contrário de outros, tenho plena consciência de que Stálin matou 50 milhões de pessoas, de que Mao Tsé-tung matou outros 70 milhões.


FOLHA – Entrevistar políticos é uma novidade para você?


DATENA – De jeito nenhum. Quando eu trabalhava na Globo, fazia de tudo. Apresentava um programa político chamado ‘A Palavra é Sua’ e também fazia entrevistas variadas em outros espaços. Desde a Cicciolina ao Pavarotti, passando pelo Rei Juan Carlos, entrevistei todo mundo. Aprendi a fazer entrevistas descontraídas. Então, quando um político fala comigo, ele não tem as amarras que teria com um repórter político. O problema é que o preparo do jornalista político, que tende a ser intelectual, apesar dos poucos imbecis na área, é um preparo de muita leitura, filosofia e formalismo. Ele tem vergonha de flertar com o ridículo. Como eu atuei por muito tempo no limiar do sensacionalismo, consigo descontrair muito mais.


FOLHA – A leitura é um problema?


DATENA – Não. Também leio. Também gosto de literatura, história, filosofia. Só não fico me exibindo. Não fico citando autor. Quando Sêneca [um dos mais célebres escritores e intelectuais do Império Romano] fala que o verdadeiro problema é justamente a forma de lidar com os problemas, eu simplesmente uso isso na vida real. Não preciso falar quem é o autor. Os candidatos estão perdendo o preconceito, falando mais fácil, chegando perto do povo. Que se danem os intelectualóides e até os verdadeiros intelectuais.


FOLHA – Você gosta de apresentar programas policiais?


DATENA – Veja que ironia. Sou rotulado como apresentador sensacionalista, mas ganhei dois prêmios Herzog [ Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos]. Não gosto de fazer jornal de polícia. Nunca gostei. Gostaria muito de parar de fazer jornal de polícia. Mas, dá audiência, os caras não me tiram. Quando entrevistamos o Lula recentemente, o presidente falou. ‘Olha, Datena, tem muita bala, muito tiro na televisão’. Eu respondi: ‘presidente, você tem que tirar a violência da rua, não da televisão.’ Disse também: ‘Olha, presidente, o meu medo de o senhor controlar os meios de comunicação é o seguinte: como o sr. não vai falar em política se grande parte da política está envolvida com corrupção?’ A metros de onde estávamos havia um governador preso, o babaca do Arruda.


FOLHA – Sua saída da Globo em 1989 ocorreu quando você subiu no palanque do Lula na eleição contra o Collor. Conte como isso ocorreu.


DATENA – Fiz o comício do Lula porque achava que esse Collor era um xarope. Achava, não. Tenho certeza de que ele é. Por isso perdi o emprego na Globo. O diretor da época me chamou e falou: ‘Olhe, Datena, você sabe por que eu estou te mandando embora, né?’ Eu falei: ‘evidente que sei’. Três meses depois da eleição, após a derrota do Lula, o cara me chamou e me deu a carta de demissão.


FOLHA – A audiência cai quando se reduz a parte policial do programa?


DATENA – A audiência é a mesma, mas, quando há crimes pontuais, como esse de Goiás, que todas as emissoras exploram, a audiência sobe muito. Moral da história: a humanidade não mudou nada. Quando colocavam leões para comer os cristãos no Coliseu, ele lotava. Hoje, se pegarmos o Pacaembu, o Morumbi e colocarmos leões para comer estupradores e assassinos, vai lotar mais do que final de campeonato. Isso é triste. Eu sei. Mas, infelizmente a sociedade tem essa demanda de Justiça. O ser humano em geral.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Carro-bomba


‘Já foi a manchete de papel ontem no ‘New York Times’, sem foto, e no ‘NY Post’, ao lado. No primeiro, ‘Carro-bomba provoca a evacuação do Times Square’ e ‘Obama é alertado’. O texto da manchete do ‘NYT’ ouviu, entre outros turistas, a brasileira Fabyane Pereira, que não se assustou e já promete voltar à cidade. ‘Estou triste pela América. Estou do lado do cara de vocês’ (your guy’s side).


O site do jornal evitou destacar a suposta vinculação com o Taleban e fechou o dia dizendo que um vídeo abriu caçada por ‘homem branco de 40 anos’. O site do ‘NYP’ entrou pela noite com a manchete ‘Polícia diz que não há ligação com Taleban’.


Na submanchete on-line do ‘NYT’, já ontem, um perfil do vendedor de camisetas que avisou a polícia sobre o carro. No enunciado, ‘Herói’.


CHINA E RÚSSIA APOIAM


Fechando a semana, em despacho das Nações Unidas, em Nova York, a Reuters destacou que ‘Rússia e China querem dar tempo a Brasil e Turquia’ para negociações com o Irã. Os dois membros permanentes do Conselho de Segurança ‘estão prontos para dar a brasileiros e turcos o tempo de que precisarem para intermediar um acordo’. No jornal ‘Zaman’, com eco pelas agências, o porta-voz da chancelaria turca, citando Rússia e China, afirmou que ‘não são só Turquia e Brasil que acreditam que ainda há uma oportunidade para diplomacia’.


COPA, PETROBRAS E EMBRAER


A correspondente da BBC visitou o ‘espetacular pavilhão brasileiro’ na Expo Mundial de Xangai, aberta no sábado. Com vídeos por todo lado, explora futebol e o dia-a-dia de quatro brasileiros, um deles trabalhador da indústria de petróleo, outro na indústria aeronáutica. E busca mostrar ‘aos chineses a diversidade’ étnica do país.


BRASIL À VENDA


No alto da home do ‘Financial Times’, ‘Norsk Hydro fecha com Vale por US$ 4,9 bilhões’.


A empresa sueca ‘comprou os ativos de alumínio’ da ex-estatal brasileira e passa a controlar a Paragominas, ‘a terceira maior mina de bauxita do mundo’ e a refinaria de alumina Alunorte, ‘a maior do mundo’. E o ‘Barron’s’, jornal dominical do ‘Wall Street Journal’ voltado a aplicações, alerta que a estatal paulista Sabesp ‘é o meio barato’ de entrar no Brasil e no ‘mercado global de água’.


MICROSOFT QUER BRASIL


Steve Ballmer, o presidente da Microsoft, atravessou a semana no Brasil para lançar nova versão do Messenger, com software baseado em ‘nuvem’ e voltado a Facebook e outras redes sociais, mas não Orkut, que é do Google. Entrevistado na Globo News, afirmou que o Brasil será o terceiro maior mercado de PCs no mundo em três anos, ultrapassando Japão e Alemanha.


E ele foi à Cidade Universitária ‘discutir o desenho de uma grande parceria entre a USP e a Microsoft Brasil’, como destacou o site da reitoria.


MAS TEM O GOOGLE


Na capa da nova edição da revista ‘Veja’, a longa reportagem ‘A língua do Google’, sobre o Google Tradutor, descrito como o ‘sistema mais eficiente’ de tradução via internet. O Blue Bus linka a capa e questiona: ‘Exagero?’


PARA A FRENTE


O site de mídia TechCrunch destacou a viagem de uma correspondente ao Brasil, identificando uma explosão de pequenas agências de publicidade on-line e dizendo que podem dar ‘a resposta’ para um setor em crise com o avanço da internet. Detalha duas delas, a carioca Biruta e a paulistana Boo-box.


PARA A HISTÓRIA


A coluna Radar, da ‘Veja’, informou que, ‘faltando dez capítulos para terminar, ‘Viver a Vida’ entrará para a história como o mais baixo ibope para uma novela das oito desde que a Globo é a Globo’. A audiência média, até o fim da semana passada, não teria ultrapassado ‘modestos 38 pontos’.’


 


 


PRÊMIO


Campanha da Folha recebe prêmio internacional em NY


‘A Folha foi uma das premiadas na edição 2010 do INMA (International Newsmedia Marketing Association) Awards, que escolhe as melhores campanhas publicitárias de jornais no mundo. A campanha premiada pela entidade foi a ‘A sua assinatura faz a Folha ser cada vez mais a Folha’, de 2009.


A premiação da Folha foi na categoria de jornais com assinatura e circulação diária entre 75 mil e 300 mil exemplares. Entre outros finalistas estavam os jornais ‘La Nacion’, da Argentina, e ‘O Estado de S. Paulo’.


A campanha da Folha, criada pela agência Africa, foi ao ar no ano passado e destacou a relevância da assinatura para o jornal.


Ao todo, a 75ª edição do INMA Awards recebeu 533 inscrições, de 137 jornais em 28 países.


A cerimônia foi em Nova York na última quarta, no encerramento do congresso mundial do INMA, que celebrou 80 anos. O objetivo da premiação é compartilhar ideias, reconhecer e difundir as melhores práticas entre os jornais e a indústria da informação no mundo.’


 


 


CULTURA


Fernanda Mena


Novo secretário é neófito na cultura


‘O novo secretário de Estado da Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo, não é especialista no assunto, mas costuma se identificar, em relação à cultura, como um ‘apreciador’.


Apesar de a mudança ainda não ter sido anunciada pelo governador Alberto Goldman (PSDB-SP), Matarazzo deve assumir a pasta ainda neste mês.


Neófito na área, o empresário e ex-ministro disfarça a falta de experiência em gestão cultural com um sobrenome de peso no meio artístico.


Nesse métier, ele é conhecido como sobrinho de Ciccillo Matarazzo, que foi criador da Bienal Internacional de São Paulo, do Museu de Arte Moderna (MAM) e da companhia cinematrográfica Vera Cruz.


Nos tempos de escola, Matarazzo e a irmã Claudia saíam do Colégio Dante Alighieri para almoçar na casa de Ciccillo, no Conjunto Nacional.


‘Os almoços reuniam gente diversa e interessante da vida cultural paulistana. Eram conversas malucas de artista que só muitos anos depois eu fui entender’, lembra Claudia Matarazzo, chefe do cerimonial do governo do Estado, para quem o irmão ‘é um esteta’.


Vaidoso, Matarazzo gosta de ternos bem cortados. Manda fazê-los no mesmo alfaiate que atende ao apresentador Silvio Santos. Gosta de flores e cuida com preciosismo das gardênias e de um pé de limoeiro que tem no jardim de sua casa no Morumbi, construída ao estilo de uma vila italiana pelo arquiteto Gian Carlo Gasperini.


Do convívio com o tio, ele herdou o gosto pelas artes plásticas e os quadros que decoram a casa. É lá -entre obras de Lasar Segall, Luiz Paulo Baravelli e Paulo von Poser- que Matarazzo reúne amigos, políticos, artistas e ao menos dois membros da família para longos almoços de domingo.


O ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB-SP), um dos melhores amigos de Matarazzo, é habitué dos almoços, quando vai da mesa direto para a frente da televisão. Ali, acompanha os jogos de futebol do dia, entre colheradas do suflê de chocolate com calda de baunilha que sempre faz sucesso com os convidados e o dono da casa, um chocólatra convicto.


Mais rara nesses encontros é a presença do também ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP). O trânsito fácil entre esses dois polos do tucanato paulistano, representados por Serra e Alckmin, é característica da atuação de Matarazzo.


A própria dança das cadeiras entre ele e o secretário da Cultura João Sayad tem sido interpretada como mais um episódio dessa costura.


‘É surpreendente [a indicação de Andrea Matarazzo], por um lado, porque não sei o que esperar. Por outro, confirma que a cultura é uma área de negociação política, onde se acomodam determinados interesses numa determinada conjuntura’, diz Ismail Xavier, crítico e professor de cinema na USP.


‘Pior do que o Sayad é impossível’, dispara o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa. ‘Tenho esperança de que Matarazzo descubra a cultura e seu potencial produtivo.’


Para Emílio Kalil, diretor de produção da Bienal, Matarazzo ‘é um homem muito preparado para a coisa pública’ e deve fazer uma boa gestão.


O novo secretário começou a carreira como estagiário do banco Bradesco, aos 18 anos. Atuou em negócios da família, como a Metalúrgica Matarazzo, e ingressou na carreira política.


Como ministro das Comunicações do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2000, censurou entrevista de João Pedro Stédile, dirigente do MST, à TVE. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) interviu para convencer Matarazzo, seu primo, de que a medida fora exagerada. ‘Temos diferenças de opinião, mas nos respeitamos mutuamente’, disse.


Foi à frente da subprefeitura da Sé e da secretaria das Subprefeituras de São Paulo, entre 2005 e 2009, que Matarazzo anunciou projetos até hoje inconclusos: construção de garagens subterrâneas no centro, reforma da praça Roosevelt e revitalização do bairro da Luz.


Também nesses cargos que protagonizou suas ações mais contundentes. Primeiro, foi acusado de perseguir os desafortunados: moradores de rua e dependentes de crack foram alvos de operações policiais e da rampa ‘antimendigo’. Depois, numa guinada, passou a mirar os bem-sucedidos: fechou bares, casas noturnas, escritórios e até um desfile de Cris Barros.


Tal atuação espelha a do protagonista do seriado de TV preferido de Matarazzo, ‘House’: um médico se preocupa mais com doenças do que com seus próprios pacientes.’


 


 


João Sayad sai da pasta para a Tv Cultura


‘Andrea Matarazzo assume a pasta da Cultura em substituição ao economista João Sayad, que disputa eleição para a presidência da Fundação Padre Anchieta, que controla a TV Cultura.


Com isso, a candidatura do jornalista Paulo Markun, antes favorito nas eleições do dia 10 de maio, foi abortada.


A dança das cadeiras teve função de acomodação política: Sayad não tem afinidade política com o candidato tucano ao governo do Estado, Geraldo Alckmin. No caso de vitória do PSDB, o economista ficaria sem cargo.’


 


 


MUDANÇAS


Alvaro Pereira Júnior


O que querem os leitores?


‘Eos telespectadores, os ouvintes, os internautas etc.? Qual é a desses caras, afinal?


Você não imagina, leitor, quanta gente ganha a vida quebrando a cabeça para descobrir o que você quer. Isso é tão antigo quanto os meios de comunicação, mas a discussão se acirra e ganha peso à medida que a internet cresce (e como cresce!).


Venho pensando nisso desde que, há algumas semanas, o semanário londrino ‘New Musical Express’, o ‘NME’, mudou o look e a pegada editorial. De tabloide cada vez mais juvenil e inconsequente (o que não impedia TODOS os hypes que lançava serem imediatamente copiados no Brasil), ganhou cara de revista, em busca de uma presença editorial mais sóbria, mais ‘americana’.


Esclarecendo: eu não acompanho o ‘NME’ há mais de dez anos, e não é modo de dizer. Parece um exercício cretino, mas tento pensar com minha própria cabeça. Ela é enorme, deve servir para alguma coisa -por exemplo, descobrir se gosto de uma banda, ou se a detesto, sem antes conferir o que acha o ‘NME’.


Mas voltando à questão editorial: em comunicação de massa, sempre se buscou o público jovem, aquele que consome, aquele que os anunciantes querem, que te acompanha pelo resto da vida. Nas revistas de música, está acontecendo o contrário. Porque a molecada só conhece internet -quem olha para o papel são os tiozinhos em busca de material ‘sério’.


Depois do fim da inglesa ‘Smash Hits’, em 2006, o ‘NME’ era o último bastião da criancice musical em papel. Não é mais. E não deixa de ser irônico que o editor-chefe da melhor época da ‘Smash Hits’, Mark Ellen, tenha criado anos depois a ‘Word’, para tiozinhos.’


 


 


INTERNET


Norimitsu Onishi, NYT


Redes sociais alteram equilíbrio de poder na Indonésia


‘JACARTA, Indonésia – Descontentes com a instalação de uma estátua de Barack Obama aos dez anos de idade numa praça de Jacarta, os indonésios levaram seu protesto não às ruas, mas ao Facebook. Após queixas de mais de 56 mil manifestantes on-line, as autoridades municipais cederam aos argumentos de que o parque deveria homenagear um indonésio.


Esse exemplo de organização comunitária de alta tecnologia foi o resultado direto da explosão das redes sociais na Indonésia. Mas o boom está gerando um acirrado debate sobre os limites da liberdade de expressão na jovem democracia local. O governo tenta regulamentar o conteúdo da internet, e a fortalecida imprensa local reage.


Defensores de uma maior liberdade veem as redes sociais como uma ferramenta vital para democratizar ainda mais o sistema político frequentemente corrupto do país. Céticos, especialmente entre políticos e líderes religiosos, se preocupam com o domínio das massas e a perda de valores tradicionais.


No lance mais recente, o governo propôs uma lei que obrigaria provedores de internet a filtrar o conteúdo. O projeto foi abandonado diante dos estrondosos protestos on-line e na grande imprensa.


Graças aos celulares relativamente baratos que oferecem acesso à internet, o Facebook, o Twitter e as redes sociais locais se espalharam rapidamente das cidades para aldeias de todo o Sudeste Asiático, especialmente na Indonésia e nas Filipinas.


Em pouco mais de um ano, o número de usuários indonésios do Facebook disparou de menos de 1 milhão para mais de 21 milhões. Segundo dados do Facebook, a Indonésia está atrás apenas dos EUA (118 milhões de usuários) e do Reino Unido (24 milhões).


O país tem o maior número de usuários do Facebook e do Twitter na Ásia, de acordo com empresas como a Sysomos, de Toronto, que analisa o tráfego nas redes sociais. Com dezenas de milhões de pessoas instantaneamente conectadas, as redes sociais se tornaram rapidamente uma força política poderosa, embora às vezes imprevisível.


Protestos no Facebook e em outros sites deram apoio a líderes do principal órgão indonésio de combate à corrupção, que, numa prolongada disputa contra a polícia e a Procuradoria-Geral, acabaram sendo presos, aparentemente sob falsas acusações.


A reação na rede levou o presidente Susilo Bambang Yudhoyono a interceder; a polícia e a procuradoria, vistas como instituições corruptas, arquivaram o caso e libertaram os funcionários em novembro.


Em outra ‘cause célèbre’, a mobilização digital contribuiu com a libertação de uma mulher de 32 anos, presa depois de se queixar do mau atendimento em um hospital na periferia de Jacarta.


Promotores a denunciaram sob uma nova lei relativa à informação eletrônica, já que ela havia mandado a amigos um e-mail detalhando suas queixas. A Justiça acabou por inocentá-la em dezembro.


Tifatul Sembiring, ministro de Comunicação e Tecnologia da Informação, disse que o governo vai reapresentar o projeto de regulamentação do conteúdo digital depois que a polêmica ‘esfriar’.


‘Queremos limitar a distribuição de conteúdo negativo, como a pornografia, o jogo de azar, a violência e a blasfêmia’, disse Tifatul, acrescentando que o conteúdo digital deve ser regulamentado de modo a preservar ‘nossos valores, também nossa cultura, e também nossas normas’.


O parlamentar e ex-jornalista Ramadhan Pohan disse que esses movimentos on-line perturbam profundamente políticos, burocratas e até administradores hospitalares desacostumados a contestações diretas -e bem-sucedidas- à sua autoridade.


‘O problema é que muitos funcionários do governo são paranoicos com esse novo conteúdo on-line’, disse Pohan. ‘Eles são políticos e burocratas antiquados que, se você perguntar, não têm uma conta de Facebook ou Twitter. Eles não percebem que, em termos de democracia e liberdade de expressão, chegamos a uma espécie de ponto sem volta.’ No Parlamento, Pohan disse que ele e outros defensores da mídia digital desregulamentada ‘ainda estão em minoria’.


O influente blogueiro Enda Nasution disse que as leis podem sufocar a florescente blogosfera indonésia. Nasution, 34, disse que quando começou a blogar, há quase uma década, contava os blogueiros do país nos dedos das mãos. Hoje, segundo a Virtual Consulting, há mais de 1 milhão de blogueiros indonésios.


Em Cingapura, na Malásia e em outros países da região onde a mídia é controlada, os blogs tendem a ser o local de informações que não podem ser noticiadas na grande imprensa, disse Nasution. Na Indonésia, onde a imprensa é livre, ‘os blogueiros também atuam como fiscais ou comentaristas’, acrescentou.


Os movimentos on-line, disse ele, são um divisor de águas na evolução do papel das mídias sociais locais. ‘Não sabemos aonde isso vai nos levar’, afirmou ele, acrescentando que os defensores da regulamentação ‘estão parados no caminho de um tsunami on-line’.


‘Não dá para pará-lo’, afirmou. ‘Não se trata só de tecnologia. Trata-se de a Indonésia redefinir seus valores.’’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


(www.estadao.com.br)


Segunda-feira, 3 de maio de 2010


 


TELEVISÃO


Rodrigo Alvares


Ao CQC, José Serra diz que ‘não é vampiro, mas adora um pescocinho’


‘A entrevista que o pré-candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, concedeu ao CQC (Tv Bandeirantes) vai ao ar nesta segunda-feira.O ex-governador de São Paulo se negou a responder se já teve algum caso extra-conjugal: chamou o repórter de ‘xereta’.


Questionado sobre ‘três coisas boas do governo Lula’, o tucano não se desviou. Falou bem do Bolsa-Família, da política econômica durante a crise mundial e o papel do presidente Lula como um ‘grande comunicador’. Em outra pergunta – ‘O senhor é um vampiro?’. ‘Não sou, mas adoro um pescocinho’, respondeu Serra.’


 


 


LIBERDADE DE EXPRESSÃO


Wilson Tosta


Brasil está longe de ter liberdade de expressão plena


‘Em um mapa da entidade Repórteres Sem Fronteiras sobre a situação da liberdade de imprensa no mundo em 2010, dividindo 175 países em um espectro de cores que vai do branco (boa) a negro (muito grave), o Brasil aparece coberto de laranja claro (com problemas sensíveis). O desenho foi exibido hoje pelo presidente emérito do Grupo RBS, Jayme Sirotsky, no seminário Liberdade de Expressão, na Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ) e mostra que, se o País não chega ao laranja escuro (difícil) de Venezuela e Equador e está muito distante do preto da Arábia Saudita, está longe da liberdade clara de Canadá, Austrália, Bélgica, países escandinavos e outros.


‘Aqui são praticadas algumas formas veladas de censura e outras explícitas, com base em interpretações equivocadas da lei’, disse Sirotsky, em sua palestra sobre ‘O cerceamento às liberdades de expressão – visão histórica da evolução dos abusos pelo mundo’, no evento promovido no Dia da Liberdade de Imprensa.


Sirotsky criticou propostas de ‘controle social’ da mídia, levantadas por representantes de partidos de esquerda e movimentos sociais, denunciando-as como tentativas de controlar a imprensa não pela sociedade, mas pelo Estado. ‘A sociedade tem cada vez mais poder de fiscalizar e de usar as novas tecnologias para exigir qualidade, isenção e para produzir seus conteúdos.’


Mesmo no campo da segurança física para jornalistas, a situação do Brasil não é a ideal. Até 2009, frisou Sirotsky, o País era um dos 14 piores locais para a imprensa trabalhar sob esse ponto de vista, de acordo com a organização Comitê para a Proteção de Jornalistas. Em 2010, o Brasil saiu da relação, devido a condenações de criminosos que mataram profissionais da área. O problema é até mais grave em outros países da América Latina, onde grupos criminosos, de narcotráfico e de guerrilha também rondam a liberdade de expressão e de imprensa.


Denúncias


Representantes de órgãos de comunicação da Venezuela, Argentina e Equador denunciaram no seminário iniciativas dos governos de seus países para limitar a autonomia de jornalistas e empresas jornalísticas. Um dois exemplos foi o do presidente do canal venezuelano Globovisión, Guillermo Zuloaga, preso ao voltar ao seu país após participar de reunião da Sociedade Interamericana de Prensa (SIP) em Aruba, no Caribe, acusado de, no encontro, ter ‘vilipendiado’ o governo do presidente Hugo Chávez. Embora já libertado, o diretor da TV não pôde participar do evento, por estar impedido de sair do país, e foi representado pelo filho, Carlos Zuloaga. Venezuela, Argentina, Bolívia, Honduras e México são citados negativamente no relatório de 2010 da World Association of Newspapers and News Publishers (WAN).


Mediador de um debate que reuniu Zuloaga, Hernán Verdaguer, do grupo argentino Clarín, e Emílio Palacios, do jornal equatoriano El Universo, sobre ‘O cerceamento às liberdades de expressão na América Latina’, o diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, citou estudo do analista Andrés Cañizalez, que apontou um padrão comum de perseguição a órgãos de comunicação na América Latina. Gandour disse que o Brasil vive situação de plena de liberdade de imprensa, embora com problemas sensíveis e ameaças periódicas, e expressou preocupação com um fator.


‘É o risco de, num país emergente como o Brasil, passarmos a confundir o conceito de progresso com apenas o progresso econômico’, declarou. ‘Há o risco de a sociedade brasileira se deixar anestesiar pelo progresso econômico e deixar de zelar por todos os demais valores que devem sustentar a democracia. O convívio com o contraditório, a fluidez de ideias de várias formas, várias origens, têm que ser preservados.’


O ministro Carlos Ayres Britto, que relatou no STF a ação que resultou no fim da Lei de Imprensa imposta pela ditadura em 1967, atribuiu a grande quantidade de decisões de primeira instância vetando reportagens no Brasil a uma certa ‘perplexidade’ dos juízes com mudanças recentes. ‘Estamos passando de uma cultura restritiva da liberdade de imprensa para uma cultura de plenitude da liberdade de imprensa. Então há um certo negaceio, uma certa perplexidade. É como está no livro de Milan Kundera, `A Insustentável Leveza do Ser’. De repente, o que pesa sobre os nossos ombros não são as dificuldades de vida, e sim as facilidades da vida. Estamos hoje em pleno gozo da liberdade de imprensa e paradoxalmente nos sentimos mal’, afirmou.’


 


 


MILITAR


Roberto Simon


A ‘censora’ de Guantánamo


‘Toda noite em Guantánamo, a major Diana Haynie coloca o chip da câmera do Estado em seu computador. Já virou rotina. Ela conta de sua vida enquanto passa de foto em foto, censurando as que considera ‘sensíveis’, como quem já fez isso zilhões de vezes com jornalistas do mundo inteiro. Ao final, depois de listar as imagens vetadas, dá uma folha para o Estado assinar, consentindo com a censura. Quem não assina, não fica na base.


Filha de imigrantes poloneses, a major Haynie mora em Guantánamo há um ano. Gosta da vida tranquila na base, da praia caribenha, das sessões de filme a céu aberto à noite. Admite que gosta também de seu trabalho – ‘é um grande desafio contar a história de Guantánamo’ – que consiste em ajudar, acompanhar, escoltar e controlar todos os jornalistas que aqui desembarcam.


A major, nascida no Estado de Nova York, tem 46 anos, pele e olhos claros, é loira e ‘stocky’, como dizem os americanos. Fala rápido e balança a cabeça para cima e para baixo ao final de cada frase, geralmente adicionando um ‘uhum’. Ela está há 19 anos no Exército, que nos anos 90 a levou para Alemanha, onde ela auxiliava nas operações da Guerra da Bósnia.


Diana é casada há quatro anos com um piloto de helicóptero, veterano das duas guerras do Iraque. Tem apenas um filho, de 16 anos, que estuda em colégio militar e sonha em cursar a prestigiada academia de West Point, na qual os grandes generais americanos são formados.


‘Não me considero uma censora’, afirma a major. ‘Cumpro regras por boas razões de segurança.’


Diana diz não acreditar nas histórias de tortura em Guantánamo. Os presos, argumenta, têm ‘mais acesso do que muitos americanos’ à comida, assistência médica e outros cuidados. Todos os funcionários do governo na base estão fazendo um ‘trabalho honrado’, conclui.


Sobre o fechamento da prisão, prometido por Obama, ela diz não ter opinião. Apenas acredita que é ‘errado’ gastarem o dinheiro de americanos comuns levando detentos de Guantánamo a prisões dentro dos EUA.’


 


 


 


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