Tuesday, 14 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Record faz campanha para SC sem auditoria

Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 2 de dezembro de 2008


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record faz campanha para SC sem auditoria


‘O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) negou ontem, em nota oficial, que esteja fiscalizando a campanha de arrecadação de dinheiro promovida pela Record para reconstruir casas afetadas pelas enchentes em Santa Catarina, diferentemente do que a emissora vem alardeando.


Desde sexta, a Record vem divulgando intensamente uma conta bancária do Instituto Ressoar (ONG da TV) para o telespectador fazer depósito.


Para dar maior credibilidade à campanha, a rede informou no ar que os gastos seriam auditados pelo Ministério Público.


A Record, de fato, enviou sexta-feira ao MP-SP um ofício pedindo a ‘fiscalização’ da conta.


O MP-SP, no entanto, desmentiu que esteja auditando os recursos. Segundo sua assessoria de imprensa, não cabe ao Ministério Público fiscalizar esse tipo de campanha. O MP-SP informou que não autorizou a Record a utilizar seu nome e que o ofício não foi analisado.


Informada sobre os argumentos do MP-SP, a Record admitiu que o órgão pode apenas ‘acompanhar’ a arrecadação. ‘Se houve algum erro nosso, foi alguns apresentadores usarem a palavra ‘fiscalizar’, disse Honorilton Gonçalves, vice-presidente artístico. ‘A Record não tem nada para esconder, não vai ficar com um centavo.’


Às 14h, o Ressoar informava em seu site ter arrecadado R$ 2.541.724,40, suficientes para ‘reconstruir 149 casas’.


DIFERENTE


O SBT ofereceu R$ 500 mil mensais para Hebe Camargo renovar com a emissora o contrato que vence no final deste mês. A proposta é diferente da que foi feita a Gugu Liberato e Adriane Galisteu, aos quais o SBT ofereceu uma ‘sociedade’ nas despesas e receitas dos programas. À Hebe Camargo o SBT garante o ganho mínimo de R$ 500 mil, que pode crescer, dependendo das participações em merchandising.


DISFARCE


Ao sair da Band, na semana passada, o diretor de teledramaturgia Del Rangel espalhou que estava indo para a Globo. Falso. Ontem, ele fechou com o SBT, onde irá comandar a produção de telenovelas. Davi Grimberg, diretor de teledramaturgia da rede de Silvio Santos, passará a ser consultor.


BOLA CHEIA


O futebol, até que enfim, rendeu boa audiência. Domingo, São Paulo x Fluminense, que poderia consagrar o clube paulista campeão brasileiro, deu 25 pontos à Globo e 6,2 à Band. Foi mais do que o ‘Fantástico’ (23) e o ‘Domingão’ (19).


OUTRA VEZ 1


Uma arquiteta com três filhos e recém-separada do terceiro marido encontra um engenheiro, pai de uma filha e saindo do segundo casamento. Eles se apaixonam, mas não sabem se devem levar o caso adiante, se vale à pena tentar começar tudo de novo.


OUTRA VEZ 2


Esse é o argumento de ‘Tudo Outra Vez’, série de nove episódios, dirigida por José Alvarenga (‘Os Normais’), que estréia em abril na Globo.’


 


 


Bruna Bittencourt


Jeans é 1º filme de série sobre consumo


‘É quase impossível não termos um jeans no armário e pouco provável que tenhamos, ali, um único par da peça.


O documentário ‘Paixão por Jeans’, que o GNT estréia hoje à noite, aborda a história da peça, sua indústria e até aspectos sociais, como o fato de ser figurino para a maioria dos movimentos jovens.


Sem ir muito a fundo a nenhum desses tópicos, a produção visita rapidamente diferentes pessoas e lugares envolvidos com o assunto.


No escritório da Levis, em San Francisco (EUA), o documentário mostra uma peça de 1879. É o mais perto do que a marca americana, pioneira na fabricação do jeans, conseguiu chegar do primeiro par da peça como a conhecemos, patenteada por Levi Strauss em 1853 e adotada na época por trabalhadores de minas e rancheiros.


Autor de ‘Jeans: A Cultural History of an American Icon’, James Sullivan chama a atenção justamente para o patamar que a peça, antes vestuário para trabalhadores braçais, alcançou nos últimos anos entre as grandes grifes.


O documentário é o primeiro de uma série que o GNT exibe este mês sobre a intensa relação que as pessoas mantém com diferentes objetos, de tênis a cigarros, e a indústria que essa ligação alimenta.


PAIXÃO POR JEANS


Quando: estréia hoje, às 19h


Onde: no GNT


Classificação indicativa: não informada’


 


 


ACESSO À INFORMAÇÃO
Editorial


Segredo sem fim


‘A LEGISLAÇÃO que regula o sigilo de documentos públicos pode passar por uma importante reformulação. Se cumprir a promessa de enviar projeto sobre o tema ao Congresso no início de 2009, o governo pode contribuir para derrotar a cultura do segredo ainda disseminada na burocracia brasileira.


Como esta Folha noticiou, o plano em elaboração prevê a regulamentação do acesso aos documentos públicos, direito assegurado pela Constituição de 1988. O texto -que terá de ser submetido às duas Casas do Congresso- pode representar uma inflexão importante na forma como o assunto é tratado.


Até se admite que, em casos extremos, a circulação de certas informações pode ameaçar a soberania, a integridade ou as relações externas. Mas isso não justifica a extensão tomada pelo secretismo no país, nem tampouco o chamado ‘sigilo eterno’.


Destaca-se no projeto a fixação de um prazo de dez dias para o fornecimento dos dados pelos órgãos públicos, mediante pedido de qualquer cidadão. Está prevista, ainda, a classificação de arquivos sensíveis em três categorias, com o tempo máximo de sigilo variando de oito a 25 anos.


Não está claro como será composta a comissão que classificará os documentos. Como o direito à informação se exerce quase sempre contra atos discricionários do governo, incumbir só o Executivo da tarefa, sem controle externo, seria um equívoco.


É de lamentar, ainda, que o texto inclua a possibilidade de documentos de política externa permanecerem inéditos indefinidamente, a critério da comissão -não haveria limites para a prorrogação do seu prazo de sigilo. O Itamaraty teme revelações, como algumas relativas ao período da Guerra do Paraguai (1864-1870), capazes de produzir atrito na relação com países vizinhos.


Quase 140 anos depois, é difícil cogitar o que de tão grave haveria nesses documentos que a diplomacia de um país com o peso regional do Brasil não pudesse enfrentar publicamente. Esse esconde-esconde secular, ademais, é um atentado contra o conhecimento da nossa história.’


 


 


3ª IDADE
Painel do Leitor


Aposentados


‘‘A Folha não dá atenção ao justo tema do ajuste das aposentadorias.


O jornal deveria fazer um caderno inteiro sobre o assunto.


Será que na Folha todo mundo é mocinho, não ficará velho e tem parentes mocinhos que não precisam sobreviver?


O jornal precisa acordar. O assunto é de extrema justiça e importância.’


LYA CINELLI BARROS REBELLO RAGGIO (Piracaia, SP)’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O açoitamento coletivo


‘Antes mesmo de chegar à Folha Online e à Veja.com a ‘queda grave’ ou o ‘resultado péssimo’ nas vendas de carros, o ‘Washington Post’ trazia a reportagem, enviada do ABC, ‘No Brasil, açoitamento na linha de produção’. E a Bloomberg, em sua agenda da semana, previa ‘a maior queda em cinco anos’.


O ‘WP’, ontem, foi dramático. ‘Os construtores de carros lembram saudosamente aqueles dias. A linha progredia a toda carga. Abriu-se um terceiro turno em março, 1.600 empregos. O sindicato festejou… Aquilo mudou num instante, quando as ondas da crise dos EUA se espalharam pelo mundo. O quadro não foi de colapso, mas antes de um açoitamento coletivo. Uma redução cortante das expectativas.’ O texto foca os metalúrgicos e o ‘fantasma do desemprego’.


Paulo Fridman/washingtonpost.com


No ‘Washington Post’, uma linha de montagem no ABC que entrou agora em ‘férias obrigatórias’


RECESSÃO LÁ E CÁ


O ‘New York Times’ deu na home e precisou explicar que ‘o grupo de economistas encarregado de definir o que vai para os livros de história disse que a economia dos EUA entrou em recessão em dezembro de 2007’. Depois, na manchete, relacionou a queda de Wall Street à notícia -o que o ‘Wall Street Journal’ evitou.


Por outro lado, a agência Reuters noticiou de Nova York que, para o Morgan Stanley, em relatório do economista Marcelo Carvalho, o Brasil ‘pode muito bem entrar em recessão técnica’ nesta virada do ano.


AINDA OS BRICS


Já economistas do Goldman Sachs e do Merril Lynch, em longa reportagem da Bloomberg enviada ontem de Hong Kong, prevêem que ‘o consumidor Bric vai resgatar o mundo’, com EUA e outros em recessão. Ou ainda, ‘os Brics podem ajudar a estabilizar economia global’.


POR FALAR NELES


Os Brics surgiram no anúncio da equipe de segurança nacional de Barack Obama, ao vivo por Fox News etc. No discurso lido pelo vice Joe Biden, ‘a emergência de China, Índia, Rússia, Brasil como potências maiores’ está na ‘lista das forças que estão dando forma ao século 21’.


COMÉDIA


Saiu a ‘Vanity Fair’ de janeiro, com Tina Fey e o enunciado ‘Um novo presidente americano! Uma nova namoradinha da América!’. O longo perfil/entrevista feito por Maureen Dowd com ‘a rainha da comédia’ não se restringe à imitação de Sarah Palin. Mas cita que uma piada com a vice no ‘Saturday Night Live’ chegou a ser vetada pela campanha, de tão grosseira, e que a comediante se angustiava por ter carregado demais contra ‘uma mãe’. Por outro lado, Dowd informa que a cicatriz em seu rosto vem do ataque de um desconhecido, quando era criança.


CIDADÃO


A biografia de Rupert Murdoch, ‘O Dono da Notícia’, em tradução livre (acima), vai hoje para as livrarias dos EUA, mas já iniciou as controvérsias há meses, quando o próprio empresário conseguiu uma cópia preliminar e passou a questionar seu autor, Michael Wolff.


Michael Calderone, do site Politico, obteve agora sua cópia e adiantou passagens. Por exemplo, que Murdoch ‘absolutamente despreza’ o âncora Bill O’Reilly, estrela de seu canal Fox News. E se abriu uma nova controvérsia, com os ataques do livro à cobertura de Murdoch pelo ‘NYT’ e pela ‘Time’. Jornal e revista já até responderam.


ORKUT & FACEBOOK


‘Com apoios proeminentes’ de investidores americanos em tecnologia, como destacou o blog Bits, do ‘NYT’, o lançamento público do novo portal Power.com tomou desde o domingo a cobertura de internet -com elogios e algumas poucas restrições do Tech Crunch e do CNET News. O portal permite acessar por uma única janela as páginas que a pessoa mantenha nos sites sociais Orkut, Facebook, MySpace, Hi5, MSN. A festejada empresa ‘start-up’, iniciante, é carioca.’


 


 


EDUCAÇÃO
Folha de S. Paulo


Olimpíada de Língua Portuguesa premia 15 alunos da rede pública


‘Escrever sobre ‘o lugar onde vivo’ mobilizou 6 milhões de alunos da rede pública na primeira Olimpíada de Língua Portuguesa, que terminou ontem com a premiação dos 15 vencedores nas categorias poesia, memória e opinião. Os vencedores tiveram seus textos lidos pelo cantor Arnaldo Antunes e pelos escritores Nélida Piñon e Ignácio de Loyola Brandão. A olimpíada foi realizada em parceria entre o Ministério da Educação e a Fundação Itaú Social, com coordenação do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária). Os objetivos do programa, segundo o ministro Fernando Haddad (Educação), são incentivar a leitura e familiarizar o estudante com a língua. Entre as histórias premiadas está a de Vania Nogueira de Lara, de Rio Brilhante (MT). ‘Eu via meu pai, todos os dias, saindo cedo para cortar cana e via fumaça e fuligem. Isso me inspirou’, diz a garota, de 15 anos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que entregou as 15 medalhas de ouro, disse que o brasileiro precisa apenas ser estimulado a produzir e criar. ‘No Brasil, nós muitas vezes somos jogados para baixo. O que se viu hoje é que nenhum ser humano se movimenta se não estiver motivado’, disse Lula. Partiu de Lula -entusiasta da competição análoga de matemática, que começou em 2005- o pedido a Haddad para que a olimpíada de português fosse realizada. O ministério adotou então a metodologia do Programa Escrevendo o Futuro, desenvolvido pela Fundação Itaú Social desde 2002. O presidente do banco, Roberto Setubal, exaltou a parceria com o governo. ‘A colaboração entre o setor público e o privado é fundamental para fazer frente aos desafios sociais do nosso país’, disse Setubal. Os 150 alunos selecionados na semifinal receberam aparelhos de som. Os 15 vencedores ganharam, com seus professores, computadores e impressoras. Suas escolas ganharam dez computadores, uma impressora e livros para a biblioteca.’


 


 


CULTURA
Folha de S. Paulo


Debates celebram 50 anos da Ilustrada


‘A Folha promove na próxima semana um ciclo de debates para comemorar os 50 anos da Ilustrada, caderno que chegou às bancas pela primeira vez no dia 10 de dezembro de 1958, inaugurando o que viria a se tornar tradição na imprensa brasileira: a publicação de suplementos diários de cultura e variedades.


O ciclo terá três mesas, todas das 19h às 21h, no auditório do Masp (av. Paulista, 1.578).


O primeiro debate acontece na próxima segunda-feira, dia 8, com o tema ‘Cultura e Polí- tica’. Na terça, dia 9, a discussão será sobre ‘Cultura e Consumo’. Na quarta, dia 10, o assunto do debate é ‘Cultura e Jornalismo’.


Vagas limitadas


O evento tem entrada franca e é aberto ao público, que pode se inscrever a partir de hoje pelo telefone 0/xx/11/3224-3473 (das 14h às 19h) ou pelo e-mail eventofolha@folhasp.com. br, sempre informando o nome completo e o número do RG.


As inscrições podem ser feitas até sexta. As vagas são limitadas (a lotação do auditório do Masp é de 374 lugares).


Próximos 50 anos


A proposta do ciclo não é debater o passado, mas olhar para a frente e discutir como serão as relações da cultura com a política, o consumo e o jornalismo no futuro -nos próximos 50 anos, talvez.


A primeira mesa terá participação do cineasta Cacá Diegues, do compositor Caetano Veloso, da psicanalista Maria Rita Kehl e do poeta Ferreira Gullar, que escreve aos domingos na Ilustrada. A mediação será de Fernando de Barros e Silva, editor do caderno Brasil.


Na terça, os debatedores serão o escritor Cristovão Tezza, o cineasta José Padilha, o músico Lobão e o psicanalista Contardo Calligaris, que escreve às quintas na Ilustrada. O mediador será Alcino Leite Neto, ex-editor da Ilustrada e do Mais! e atual editor de Moda da Folha.


No último debate do ciclo, a mesa contará com quatro jornalistas. Matinas Suzuki Jr., que foi editor da Ilustrada na década de 80, Ruy Castro, escritor e colunista da Folha (coluna Rio, da página A2), e Marcelo Coelho, colunista da Ilustrada e membro do Conselho Editorial da Folha. Marcos Augusto Gonçalves, atual editor do caderno, será o mediador.’


 


 


Folha de S. Paulo


Seminário discute o jornalismo cultural


‘O jornalismo cultural e suas formas -das grandes reportagens nos moldes da revista ‘The New Yorker’ aos drops de notícias que proliferam nos blogs- são temas do 2º Seminário Internacional Rumos Jornalismo Cultural, no Itaú Cultural, em São Paulo.


Com curadoria de Cassiano Elek Machado, diretor editorial da Cosac Naify, 21 nomes ligados à imprensa de cultura no Brasil e no exterior participam de amanhã a sexta (veja programação ao lado) dos debates que encerram a edição 2007/2008 do Rumos Jornalismo Cultural.


No evento, serão lançados a revista ‘:singular’, produzida por estudantes de jornalismo selecionados pelo programa, e um mapeamento do ensino de jornalismo cultural, realizado por professores. Das questões levantadas nestes dois anos saíram as bases do ciclo.


‘São discussões que estão fora do dia-a-dia da escola e que também interessam ao profissional e ao público’, afirma Claudiney Ferreira, gerente de diálogos do Itaú Cultural.


Machado buscou reunir personalidades que ‘pensam e fazem a cultura’. ‘Fiz um roteiro com jornalistas e pessoas de outras áreas. Como estudante, sentia falta de acesso a pessoas que fossem além da seqüência infinita de reflexões sobre a teoria da comunicação’, diz.


Entre esses ‘pensadores e fazedores’, estão o sociólogo José de Souza Martins e o historiador Nicolau Sevcenko. Eles abrem o ciclo amanhã, às 17h30, na mesa ‘O Olhar Cultural’, sobre a atuação de nomes de outras áreas do mundo acadêmico na imprensa cultural.


Narrativas longas e formas não-ortodoxas de contar histórias têm destaque em duas mesas. A primeira é ‘Jornalismo de Fôlego’, com o cineasta Eduardo Coutinho, diretor de documentários como ‘Edifício Master’ (2002); o cineasta e jornalista João Moreira Salles, criador da revista ‘Piauí’; e o jornalista Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha e autor do livro de reportagens-ensaios ‘Queda Livre – Ensaios de Risco’ (Cia. das Letras).


Na outra, ‘Novo Novo Jornalismo’, o peruano Julio Villanueva Chang, da revista ‘Etiqueta Negra’, e o americano Andrew Leland, da ‘The Believer’, debatem a liberdade narrativa como alternativa a um jornalismo que se depara com a realidade da internet.


As mesas ‘Casos Crônicos’ e ‘Palavras Cruzadas’ debatem, respectivamente, as crônicas e a internet. Esta terá participação, por telefone, da cubana Yoani Sánchez, que venceu o prêmio internacional The Bobs com o Generación Y (desdecuba.com/generaciony).


O psicanalista Contardo Calligaris, colunista da Folha, e o antropólogo Roberto DaMatta, de ‘O Estado de S. Paulo’ e ‘O Globo’, falam, em ‘Problemas de Coluna’, sobre a experiência de pensar reflexões originais sobre questões atuais.’


 


 


LITERATURA
Sylvia Colombo


O bom rapaz


‘Quando tinha 21 anos, Dave Eggers perdeu o pai e a mãe quase simultaneamente, num espaço de poucas semanas, ambos vítimas de câncer.


Órfão, teve de cuidar do irmão de apenas oito anos. Ao luto e à carga de responsabilidade repentinos, porém, o rapaz reagiu de modo bastante original.


Escreveu ‘Uma Comovente Obra de Espantoso Talento’ (de 2000, lançado aqui pela Rocco), em que contou como atravessou esse período. Trata-se de um livro de memórias um tanto triste, porém dotado de um humor sofisticado.


Com ele, Eggers projetou-se como um dos principais autores de uma talentosa geração da literatura norte-americana que brotou no início desta década.


Três anos depois, o escritor deu de cara com outro jovem, talvez tão perdido quanto ele naquele episódio. Valentino Achak Deng, então com 22 anos, tinha também vivido um trauma gigantesco. Sua tragédia pessoal e sua origem, porém, eram bem diferentes.


Valentino era um dos Lost Boys (garotos perdidos), nome com que ficou conhecido o grupo de 20 mil meninos sudaneses que deixaram os vilarejos onde viviam, no sul do Sudão, nos anos 80. Seus lares haviam sido destruídos durante uma das guerras civis de seu país.


Dali caminharam até a Etiópia, e depois para o Quênia. Aos sobreviventes dessa dura viagem foi oferecido um abrigo nos EUA, em 2001.


Uma vez em solo norte-americano, o sudanês quis ter sua história retratada num livro, para deixar registrados os horrores por que passara.


Foi apresentado a Eggers, que achou que a tarefa seria fácil. Que bastaria entrevistar Valentino e transpor seu depoimento para o papel. O escritor pensou em fazê-lo de modo jornalístico. E imaginou que o terminaria em cerca de um ano.


Só que as coisas foram ficando mais difíceis quando Eggers percebeu que a memória do africano não era o suficiente para reconstruir sua trajetória.


Muitos dos momentos mais dramáticos de sua vida, como o ataque à sua aldeia, tinham acontecido quando ele era ainda uma criança, e suas lembranças, não muito claras.


O que era para ser um relato de não-ficção, então, passou a necessitar de complementos ficcionais. ‘O Que É o Quê? -°Autobiografia de Valentino Achak Deng’, que acaba de sair pela Companhia das Letras, se transformou assim num romance não-ficcional, ou um relato jornalístico romanceado.


Em entrevista à Folha, por e-mail, Eggers, 38, descreveu como foi o processo de redação do livro, que acabou levando quatro anos para ser finalizado.


‘Ele me falava sobre um episódio, e eu tentava tirar daí tudo o que pudesse lembrar. Fiz pesquisas para que o contexto ficasse acurado, checando fatos e cronologia. Depois, como as recordações de certos eventos eram poucas, tentei ‘criar vida’, inventando diálogos.’


Tudo que era fruto da imaginação do romancista ia parar nas mãos de Deng, para que comentasse e aprovasse a ficção em que o relato estava se transformando. Além das largas conversas ao vivo e via e-mail, os dois viajaram ao Sudão, quando Deng reencontrou os pais em sua aldeia, Marial Bai.


‘O Que É o Quê?’ narra não só o terror vivido por Deng, mas também os poucos bons momentos de humor e diversão durante a longa jornada.


Além disso, as dificuldades materiais e de assimilação depois que chegou aos EUA. Quando o livro começa, Deng é atacado e roubado por bandidos em sua casa, em Atlanta.


Lançado nos EUA em 2006, o livro tem seus lucros voltados para a Fundação Valentino Achak Deng (www.valentinoachakdeng.org). Entre seus empreendimentos, está a construção de uma escola no vilarejo natal do sudanês. ‘Ele mesmo está supervisionando a obra, que será inaugurada em abril para 450 estudantes.’


Filantropia


Relatar a história de Deng não é a única boa ação do currículo de Eggers. O escritor também tem uma editora, a McSweeney’s, dedicada a produção independente, e uma rede de escolas de escrita, espalhada por sete cidades norte-americanas. Ele mesmo, pessoalmente, dá aulas nelas.


‘Eu preciso desses objetivos para me sentir bem. Necessito ensinar, interagir com jovens, para manter o meu equilíbrio.


Lemos literatura contemporânea e a discutimos. E eu tento orientá-los no passo seguinte de suas vidas. Isso me ajuda a não passar muito tempo preso em minha cabeça -o que nunca é uma boa idéia.’


O QUE É O QUÊ


Autor: Dave Eggers


Tradução: Fernanda Abreu


Editora: Companhia das Letras


Quanto: R$ 62 (584 págs.)’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 2 de dezembro de 2008


 


ACESSO À INFORMAÇÃO
Felipe Recondo


STF julgará acesso a documentos


‘Antes mesmo de a nova Lei de Acesso à Informação ser assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu cerne passará por um teste no Supremo Tribunal Federal (STF). Duas ações diretas de inconstitucionalidade que tramitam no STF contestam o poder de o governo restringir o acesso da população a documentos considerados sigilosos e que, em certos casos, ficam confinados por tempo indeterminado. A possibilidade do segredo ‘eterno’ está prevista no novo projeto de lei sobre o tema.


As ações, uma protocolada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e outra pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, consideram inconstitucionais pontos da legislação atual sobre o acesso a dados sigilosos, alguns repetidos na nova Lei de Acesso à Informação. As ações são relatadas pela ministra Ellen Gracie – uma delas está pronta para ser julgada, mas só deve ser levada a plenário em 2009.


Um dos pontos que provocam polêmica trata do sigilo absoluto para informações que possam atingir a honra e a imagem de pessoas citadas nos documentos. Pela legislação atual, esse papéis devem permanecer lacrados por 100 anos.


OAB e Ministério Público contestam esse prazo. Argumentam que esse ponto específico viola o direito garantido na Constituição de todo cidadão ter acesso ‘às fontes da cultura nacional’ e leva o Estado a descumprir uma de suas obrigações, a de garantir o desenvolvimento de pesquisas científicas.


No novo projeto, esse prazo deixa de existir para que esses documentos permaneçam eternamente fechados ao público. Integrantes do governo entendem que a imagem da pessoa relacionada com aquela informação não pode ser atingida mesmo que já esteja morta e não tenha deixado descendentes.


Além dessa polêmica, os ministros terão de decidir se a restrição aos documentos viola direitos individuais, se o governo é arbitrário ao estipular os prazos de sigilo e se uma comissão composta por ministros pode prorrogar indefinidamente esses prazos.


‘As informações não se destinam apenas aos interessados em sentido técnico-processual, mas a todo o povo brasileiro, à sua memória e à sua identidade’, argumentou o procurador na ação que protocolou em maio deste ano.’


 


 


Moacir Assunção


Ministro cobra de Lula abertura de arquivos da ditadura militar


‘O ato público pelo Direito à Memória e à Verdade, realizado ontem na Assembléia Legislativa paulista, teve um tom de cobrança ao governo federal pela abertura dos arquivos da ditadura. O ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, defendeu que o assunto seja resolvido pelo presidente Luiz Inácio da Silva até o fim da gestão.


‘Tenho falado ao presidente que ele não pode terminar seus oito anos de governo deixando esse assunto sem uma definição’, afirmou o ministro.


O evento foi promovido pelos deputados federal Paulo Teixeira (PT-SP) e estadual Simão Pedro (PT) e contou com a presença do presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, de outros parlamentares petistas, como José Eduardo Cardoso, Adriano Diogo e Rui Falcão, além de representantes das principais ONGs ligadas à defesa dos direitos dos presos e perseguidos políticos.


Embora reconhecessem a importância da Lei de Acesso à Informação, a ser enviada ao Congresso pelo governo, os parlamentares e militantes criticaram as poucas mudanças em relação à lei enviada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).


Abrão, única autoridade federal a permanecer no ato, já que o ministro saiu logo após a abertura, preferiu destacar a importância da participação de São Paulo em uma manifestação pública com esse objetivo. ‘Vários Estados já fizeram esse ato e faltava São Paulo. Tivemos neste ano uma série de avanços, como as caravanas da anistia, que percorreram o País anistiando ex-presos políticos, e a anistia de personagens como João Goulart, Elza Monnerat, Carlos Marighella Filho, Leonel Brizola e Clara Charf.’


Questionado sobre qual deverá ser a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre se a tortura é ou não passível de anistia, Abrão afirmou que qualquer que seja a decisão ela representará um marco.


Hoje um grupo de nove deputados terá uma reunião com o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, para pedir que o Ministério Público Federal entre com uma ação contra um suposto torturador, Marcelo Paixão de Oliveira, que confessou, em entrevista à revista Veja, ter torturado presos políticos durante a ditadura militar.’


 


 


POLÍTICA
Angela Lacerda


Lula atropela propaganda de aliado em PE


‘O presidente Luiz Inácio da Silva derrubou ontem à noite a propaganda do governo de Pernambuco, que anunciara ser o primeiro Estado do Norte e Nordeste a universalizar a energia elétrica, passando a ter a infra-estrutura necessária para atender a todas as regiões do Estado – das cidades às mais longínquas zonas rurais. Em seu discurso, o presidente lembrou que três Estados nordestinos – Sergipe, Rio Grande do Norte e Alagoas – também já cumpriram essa meta, dentro um total de 12 Estados brasileiros, incluindo Pernambuco.


Lula disse que se fosse discutir o programa a partir de sua viabilidade econômica jamais ele teria sido posto em execução. ‘Uma ligação em uma casa chega a custar R$ 5 mil, porque a distância cada vez maior aumenta a quantidade de cabos e fios’, ressaltou. ‘Levamos de graça, colocamos três tomadas, três bicos de luz e damos o pontapé inicial.’


Em seu discurso, o governador Eduardo Campos observou que o Luz para Todos nasceu há 20 anos, em Pernambuco, a partir da decisão política do seu avô, o governador Miguel Arraes (morto em 2005). Foi Arraes, ressaltou, que em 1987 pôs como prioridade levar um ponto de luz à população carente das zonas rurais do Estado. Em 2003, ele foi adotado por Lula, com o mesmo nome, no âmbito nacional.


DEMANDA


O coordenador estadual do programa, o secretário estadual de Recursos Hídricos, João Bosco Tenório, disse que a universalização não significa que 100% das residências ou famílias pernambucanas tenham passado a contar com energia elétrica.


‘Essa demanda não termina nunca, sempre haverá novas residências sendo construídas e novas famílias demandando energia elétrica’, ponderou o secretário. ‘O que se comemora é o fato de que a infra-estrutura está consolidada e disponível para todos.’ Há ainda 8 mil novas ligações em execução no Estado. ‘Fizemos mais que o previsto, mas há novas demandas, é um trabalho contínuo’, observou Tenório, reforçando o discurso do presidente quanto à atenção com a continuidade do programa.’


 


 


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


Reality em animação


‘O Cartoon Network vai estrear, em 4 de março do próximo ano, a animação Ilha dos Desafios que, em inglês, tem um título bem mais bacana: Total Drama Island. A série canadense é uma paródia de reality shows como Survivor e Fear Factor, que tiveram versões nacionais na Globo, o No Limite e o Hipertensão.


A brincadeira do Cartoon reúne 22 personagens adolescentes em um acampamento cujas brincadeiras são coordenadas por Chris, um sádico nos moldes dos apresentadores desse gênero de reality. Chris pede para que os adolescentes realizem as tarefas mais malucas e, a cada semana, um personagem animado é eliminado. A Ilha dos Desafios irá ao ar às 19h30 e a primeira temporada tem 26 episódios.


O primeiro trimestre de 2009 trará outras duas estréias no Cartoon. No dia 13 de fevereiro, às 18h30, Os Sábados Secretos chegará ao canal para contar a história de uma família que viaja o mundo em diferentes missões. A animação é inspirada em clássicos da HannaBarbera como Jonny Quest. Um mês mais tarde, o canal vai estrear o animê Bakugan, febre no Japão.’


 


 


Luiz Zanin Oricchio


A incrível história de Soy Cuba, uma obra-prima esquecida


‘É fascinante o percurso de Soy Cuba – O Mamute Siberiano (Canal Brasil, 22h) ao resgatar a trajetória de um filme que teve tudo para entrar na história do cinema, mas ficou à margem. Soy Cuba foi uma produção soviética rodada em 1963 para fazer propaganda da revolução cubana. Seu diretor, Mikhail Kalatozov, era um craque e conhecia tudo da técnica cinematográfica. Fez um trabalho suntuoso, com todo o capricho e os melhores recursos disponíveis na ilha. No entanto, alguma coisa não deu certo. O filme ‘não deu química’, como se diz no jargão. Soy Cuba ficou esquecido pelo mundo, mal-amado pelos cubanos e pelos soviéticos.


Essa a história que o brasileiro Vicente Ferraz recupera em O Mamute Siberiano. Conta os casos da filmagem e ouve sobreviventes do elenco e da equipe técnica. Alguns são notáveis: o ator cubano Sérgio Corrieri de Memórias do Subdesenvolvimento) simplesmente havia esquecido da sua participação no filme de Kalatozov. O curioso é que, muito depois, Soy Cuba foi redescoberto e cineastas como Martin Scorsese o têm hoje na conta de obra-prima. Na época em que poderia ter sido importante foi ignorado; agora, que virou peça de museu, é reverenciado. Ironias da história.’


 


 


 


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