Saturday, 11 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Thiago Ney


‘O próximo Video Music Brasil (VMB), a premiação de clipes da MTV, que chega à 11ª edição no dia 29 deste mês, será mais ‘musical’ e menos ‘celebridade’.


Diferentemente dos outros anos, quando jogadores de futebol, atores e outras personalidades eram convidados a participar da premiação, apresentando os indicados para cada categoria, nesta edição apenas músicos estarão presentes. A exceção é o ator Selton Mello, que será o anfitrião da cerimônia pela segunda vez consecutiva.


Além disso, uma banda formada especialmente para a ocasião fará uma espécie de música de fundo, ao vivo, durante momentos do evento.


Entre as duplas de apresentadores já confirmadas, estão Seu Jorge e Badauí (CPM 22); Felipe Dylon e Wanessa Camargo; Derrick Green (Sepultura) e Samuel Rosa (Skank); Rogério Flausino (Jota Quest) e Ivete Sangalo; Zeca Pagodinho e João Gordo.


Nove bandas se apresentarão ao vivo: Los Hermanos, Paralamas do Sucesso, O Rappa, Cachorro Grande, Nando Reis, Dado Villa-Lobos e convidados, Ultraje a Rigor, Pitty e Titãs -esta última fechará a noite, tocando a música ‘Vossa Excelência’, composta recentemente como um protesto contra a corrupção no país.


O VMB acontecerá no Credicard Hall, em São Paulo. O Ira! é o grupo com mais indicações: seis.’



Keila Jimenez


‘VMB terá banda ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 15/09/05


‘Esqueça aquelas piadinhas que eram marca registrada na entrega do VMB, premiação do videoclipe nacional realizada pela MTV. A graça do evento, que ocorre no dia 29, ficará por conta de uma banda.


O VMB 2005 será todo costurado por vinhetas musicais e trilhas sonoras interpretadas por uma banda ao vivo na premiação. Como? Nem a MTV sabe explicar direito, mas o fato é que a banda – que ainda não tem nome definido – ficará no palco e acompanhará os músicos que entregarão os prêmios.


Ah, essa é outra novidade do evento. Em vez de encontros das mais estranhas e bizarras personalidades – Raul Gil, Rita Cadillac e Zé do Caixão já entregaram troféus na cerimônia -, as duplas encarregadas de premiar os coleguinhas este ano serão compostas só por músicos.


Mas, não deixa de ser curioso João Gordo e Zeca Pagodinho entregarem o prêmio da ‘Escolha da Audiência’ e Deric, do Sepultura, ao lado de Samuel Rosa, do Skank, premiarem o melhor videoclipe de MPB. Subirão ao palco ainda Ivete Sangalo e Rogério Flausino, Felipe Dylon e Wanessa Camargo, entre outros.


‘Este será o VMB mais musical da história’, fala o diretor de Programação da MTV, Zico Goés, que sabe que o fato de usar músicos para apresentar os prêmios deve acirrar a ‘competição’ com o prêmio de música do canal pago Multishow. ‘Sei que eles têm um ‘bode’ da gente, mas o que eu posso fazer? A gente se inspirou mesmo neles’, ironiza Góes. ‘O que posso dizer de um canal em que uma pesquisa com assinantes mostra que os artista preferidos são os Bee Gees?’, alfineta.


Além das duplas, o VMB deste ano terá nove apresentações musicais. De O Rappa a Paralamas do Sucesso, muita gente vai passar pelo palco do evento, que terá como mestre-de-cerimônias Selton Mello. ‘Igualei a marca do Pedro Cardoso e da Fernanda Lima’, brinca o ator, que gostou da idéia de ter uma banda no palco. Ah, Selton, dará uma palinha musical na festa também.’



BIG BANG


Amelia Gonzalez


‘Uma novela assim… meio abusada’, copyright O Globo, 15/09/05


‘Jece Valadão, ou melhor, Javier, chega em Albuquerque e pára na frente do Saloon onde uma placa diz que é proibido portar armas na cidade. Tira seu revólver do coldre e dá uns tiros na placa, só para contrariar. Salta do cavalo e o amarra ali mesmo. Chega Raphael Rodrigues, ou melhor, Bike Boy. E pergunta:


– Aí, tio, posso tomar conta?


O ano é 1881. E Bike Boy é um flanelinha de cavalo, sim, como deu para perceber. Estamos falando da cena de uma novela, a ‘Bang bang’, próxima das 19h da Globo, escrita por Mario Prata (e equipe) e dirigida por Ricardo Waddington (e equipe), que estréia dia 3. E como todo mundo já deve ter percebido pelas chamadas que estão indo ao ar, trata-se de um faroeste. É também uma sátira com universo próprio. Ou, se preferirmos a explicação que Ricardo Waddington deu para o Departamento Comercial da Globo na reunião de apresentação da obra, … é uma novela abusada.


– O abuso é da temática, da maneira como o Mario ( Prata) trata os personagens. Não inovamos nada – diz Waddington.


Prata prefere não abusar na hora de qualificar sua trama. Garante que faz uma novela normal. Se há abuso, acredita, é na forma de transgredir os padrões de qualidade com os quais o público da emissora está acostumado. (Opa!) E isso, acrescenta, vai ser percebido até nos figurinos.


— Eu tinha medo que ficasse uma coisa assim muito limpinha e bonitinha. Mas não ficou. A maioria dos figurinos é rasgada e suja, como eu imaginava – diz.


Emissora teria assumido o abuso?


Com certeza a Globo assumiu o abuso, acredita ele. Tanto assim que Prata faz questão de declarar, quase solene:


— Se não der certo, a culpa será totalmente minha. Eu convenci todo mundo de que eu estava certo.


Bem, se parte dos figurinos é escura e velha, vamos combinar que já é mesmo um abuso para o olhar do público. Mas tem mais: é faroeste, portanto não tem sofá na sala. Todo mundo circula o tempo todo pelas duas cidades cenográficas inteiramente construídas pela equipe de produção. Afinal, ‘Bang bang’ acontece num universo próprio. Eis aí, senão um abuso, pelo menos um formato de telenovela bem pouco utilizado na emissora. A última foi ‘Que rei sou eu?’, escrita por Cassiano Gabus Mendes em 1989. A trama se passava num imaginário país da Europa chamado Avilan. E os noveleiros têm saudades.


— ‘Bang bang’ tem duas cidades fictícias, Albuquerque e Santa Fé. Não tem o bar do Leblon para se fazer uma externa. O Saloon foi criado por nós. É por isso que estou até atrasado, é uma trabalheira. Mas estou muito feliz. Nunca tinha dirigido nada parecido – diz Waddington.


Importante é criar links com a realidade


E para que o público não tenha dificuldade em se aproximar de uma história tão longe de sua realidade, o importante é criar links com a contemporaneidade. Está explicado o papel do flanelinha de cavalo. Autor e diretor são enfáticos:


— ‘Bang bang’ não é uma farsa!


É uma sátira, tem conteúdo, precisa de raciocínio para entender o humor. E não abandona o padrão global de qualidade em telenovelas no quesito estrutura.


— A telenovela, principalmente a que a Globo faz, e é mundialmente reconhecida, tem uma estrutura sólida. Todas as vezes que a gente esquece esta estrutura, a gente quebra a cara – diz Waddington, que preferiu não citar os momentos em que quebrou a cara.


Mario Prata diz a mesma coisa, mas de uma forma diferente:


— O que é a novela das sete? Tem mocinho, tem mocinha e tem vilão. O formato faroeste também. É parecido. A narrativa de ‘Bang bang’ é próxima da narrativa das novelas das sete. Vai ter herança, quem é filha de quem, todos estes ícones. O que eu acho que o Ricardo chama de abuso é botar esses ícones no Velho Oeste.


A trama parece dar razão ao autor: Ben Silver (Bruno Garcia) teve a família assassinada há 20 anos por capangas de Paulo Bullock (Mauro Mendonça) e volta para se vingar. Pega uma diligência onde, por coincidência, também está viajando Diana (Fernanda Lima). A diligência é assaltada, os dois se salvam e se aproximam. Mas Diana é filha de Bullock.


Uma só trama, não há histórias paralelas. Mais uma novidade (ou seria melhor chamar de abuso?) de ‘Bang bang’. Os acontecimentos rodeiam a estrutura principal, sempre com um pé na realidade e outro na sátira.


— Tem um circo, por exemplo, que pára todos os dias por causa do horário eleitoral. E fica todo mundo de saco cheio. Mas, repare bem: estaremos no ano de 1881! – diz Waddington.


Perto da entrada do novo século, portanto, e isso mexeu muito com a imaginação de Mario Prata. Era o momento em que a inteligência européia estava surgindo. Freud, Darwin, Marx são citados também na novela do flanelinha de cavalo e do horário eleitoral gratuito.


—- É a chegada da modernidade no Velho Oeste. Antes do capítulo 20 chega o telefone e já desbunda todo mundo. No capítulo 17, chega Freud. E já estou no 24 e não consigo tirá-lo da trama – diz Prata, que já contratou seis colaboradores para trabalharem com ele. – Quando estreei, em 1976, o capítulo tinha 20 páginas, hoje são 40! Estou sentindo que a cabeça vai, mas os músculos desobedecem.


Darwin, Freud, telefone, luz, Velho Oeste… Com tantas referências numa única novela, será que vai dar para o público entender? Waddington cuida disso:


— O público precisa de terreno fértil, porém seguro. Ele não pode não compreender o que está assistindo, por isso a gente não pode se desgrugar do real. É uma comédia com um pé no realismo.


Mais ou menos assim: eles criam o Saloon mas se perguntam que dados de realidade podem ser postos lá para que sejam facilmente reconhecidos. Há quem veja nesta necessidade de entregar tudo mastigado para o espectador um formato pouco inovador. É uma discussão longa e que envolve outros aspectos, um deles apontado pelo próprio autor: por que a Globo não renova seu quadro de autores?


— Já tem novela escalada até para 2009! Fico espantado com isso. Daqui a 20 anos, nós, os autores, estaremos mortos, e o que a Globo vai entregar para o público assistir naquilo que ela sabe fazer melhor, que é novela? – preocupa-se Prata.


Abusada ou não, ‘Bang bang’ é diferente de tudo que se tem visto nos últimos 20 anos. Já vai valer a pena.’