Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

As 5 coisas mais chatas para um bebê de sangue azul

Você é um menino! Fotógrafos seguramente estarão, neste exato momento, subornando seus pais pelo privilégio de serem os primeiros a enfiar suas lentes entre as barras do seu berço. Você ainda não tem mais do que algumas horas de vida e já é uma celebridade maior do que seus rivais Suri, Blue Ivy e North West.

A vida parece mais doce do que leite materno, mais macia do que aquele canguru de brinquedo que a ex-primeira-ministra australiana tricotou para você. E continuará assim até você completar, digamos, oito ou nove anos, a depender de quão precoce você for e perceber a verdadeira lástima que é crescer como herdeiro real. Eu me nomeio a plebeia estraga-prazeres que preverá as cinco piores coisas de ser você.

1. A herança é um fardo. Ser informado em tenra idade de que você será o rei ou a rainha de um grande país europeu parece espantoso para qualquer um, menos para a pessoa que está ouvindo a notícia. Quando tinha dois anos, Elizabeth foi descrita por Winston Churchill como uma “personagem”. “Ela tinha um ar de reflexão admirável numa criança.” Em outras palavras, Elizabeth nascera para ser rainha. Quem sabe o que ela realmente pensava quando soube qual seria o seu futuro?

Em 1969, perguntaram ao príncipe Charles, então com 20 anos, quando ele percebera pela primeira vez que era herdeiro do trono. “Eu não despertei de repente em meu carrinho de bebê e disse, ‘Viva!’”, respondeu. “É algo que surge em você com a mais terrível sensação do inexorável.” A confusão de seu filho Harry neste quadrante da vida foi meticulosamente registrada pela imprensa: ele disse certa vez a um menino no jardim de infância: “Mamãe não vai a Sainsbury’s – temos a nossa própria farmácia.” E, quando algumas crianças lhe perguntaram por que havia um homem o seguindo, ele disse: “É o meu guarda.”

2. Seus pais são muito ocupados. Foram-se os dias em que os bebês reais eram criados inteiramente por encarregados e quase só viam seus pais em cerimônias oficiais. O duque de Windsor recordou, em seu livro de memórias, que sua babá costumava trazê-lo à sala de estar para passar uma hora com os pais, o rei George V e a rainha Mary. Antes, porém, ela o beliscava, porque não gostava dele e queria que seus pais pensassem que ele era um bebê chorão (no filme O Discurso do Rei, esse incidente foi transposto para seu irmão).

No entanto, desde Charles e Diana, a expectativa é a de que as figuras da realeza criem seus filhos como todos os demais. Diana levou William numa viagem de um mês pela Austrália e pela Nova Zelândia quando ele tinha um ano porque não queria ficar longe dele e sempre insistiu em levar William e Harry a parques de diversão e restaurantes de fast-food, porque era o que meninos normais faziam.

William e Kate ainda não contrataram uma babá e, ao menos publicamente, estão enfrentando a situação como quaisquer pais de primeira viagem fariam. Ela anda falando em dar de mamar. Ele, das “longas noites sem dormir”. Mas a quem estamos enganando? Não demorou quase nada para Diana perceber que não era apenas mais uma mãe trabalhadora moderna, mas também a mais requisitada das mães trabalhadoras do mundo. Agora que o bebê nasceu, Kate também vai perceber que ser mãe do herdeiro do trono é um grande passo além de ser a futura esposa do rei. Fica-se simplesmente ocupada demais para brincar de cavalinho todas as noites. Lamento, garoto.

3. Seu nome não pode ser o seu nome. Ao nomear o futuro rei ou rainha é preciso escolher vários nomes, todos de uma lista muito restrita, porque o nome deve ser de uma figura real antiga e também não ter fortes conotações negativas. É tudo muito carregado de significados e, assim que começa a falar, a criança, provavelmente, vai desconsiderar o nome e escolher um aleatoriamente aborrecido da lista. O nome verdadeiro do príncipe Harry é Henry Charles Albert David.

Diversão e desastre

4. Você é uma celebridade. Enquanto esperavam que você nascesse, os paparazzi foram polidos, emitindo atualizações horárias de uma conta do Twitter das Spice Girls e exibindo uma paciência incomum. No entanto, isso não vai durar. O que os faz realmente salivar é a espera por uma vida de flagrantes de maconha e de festinhas em trajes nazistas – por aquele momento em que você dirá alguma coisa tão sensacional, como “Quero reencarnar como um absorvente e viver dentro de sua calça para sempre.”

Quando William foi para um internato, aos 13 anos, a família real fez um acordo com a imprensa para que ele não fosse azucrinado e aceitasse fotos oficiais, argumentando que o príncipe não é uma instituição, um astro de novela ou um herói do futebol. “Ele é um garoto.”

Contudo, esse tipo de indignação elevada não funciona na era da mídia social. Seu colega de quarto, muito provavelmente, postará uma foto embaraçosa sua. O melhor que você pode esperar é que seus pais sejam tão bons como Beyoncé e Jay Z em se antecipar à imprensa, postando suas próprias fotos falsamente reveladoras e lhe ensinando a fazer o mesmo.

5. Você vai para um internato. A família real deixou para trás os dias em que todas as meninas ficavam em casa com tutores e os meninos iam para Gordonstoun, na Escócia, que, nas palavras de Charles, era uma espécie de Abu Ghraib – um lugar onde “a pessoa se sentia como um camponês medieval durante a Guerra dos Cem Anos”, como descreveu o romancista William Boyd, um colega de classe do príncipe Charles.

William e Harry tiveram de ir para Eton, onde foram muito mais felizes, mas desenvolveram, definitivamente, o pior de suas reputações. O internato é divertido para alguns garotos e um desastre para outros. Portanto, boa sorte!

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Hanna Rosin é colunista da Slate