Thursday, 16 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

A imprensa que pariu o político

Lá no interior da Beócia, país ao sul do Equador, existia um aspirante a autoridade. Um rapaz jovem, inteligente e vaidoso. O penteado e os trajes que forjavam seriedade profissional ao almofadinha não escondiam um passado duvidoso, mas, enfim, um dia ele, obstinado em governar aquele estado da Beócia, descobriu a maneira mais fácil. Sem muito caráter e o bolso cheio de imperiais (dinheiro da Beócia), chamou para uma conversa o dono de um jornal – na verdade um jornalzinho inexpressivo, mas em seu pensamento, com um bom investimento o jornal cresceria. Era a receita ideal! O velho jornalista foi então atender ao chamado da autoridade. Na bucha, assim como se a proposta fosse corriqueira, o rapaz disse ao velho:

‘Aqui está duzentos e cinqüenta mil imperiais para você reestruturar seu jornal e colocá-lo a meu serviço.’

Negócio fechado.

Mas o rapaz ainda não estava satisfeito. Pesquisou na mídia e percebeu que para ser popular deveria estar nas rádios. Procurou então um apresentador que já esteve do outro lado da notícia e, sabendo que seu hipotético adversário o pagava sete mil imperiais por mês, não teve dúvidas: ofereceu 500 mil imperiais. Negócio fechado e o apresentador até chora no seu programa, emocionado com a ‘competência’ do rapaz, capaz de encantar uma multidão.

Tudo pago com o seu dinheiro

Isso tudo fora aqueles comprados a granel, um artiguinho aqui, outro acolá, na faixa de mil reais. Um anunciozinho, um banner e tal… Um editorial um pouco maior, bom, aí dá pra chorar um aumento…

Pois é, aqui não é a Beócia, mas poderia ser, diante da similaridade operacional. No Brasil, em Mato Grosso ou em outro estado qualquer, seguindo a regra de quanto menor o local, mais a imprensa é suscetível a isso, a logística de nascimento de um político é a mesma. Com o uso dos métodos relatos acima, se constrói competência e moral e assim nascem muitos dos políticos que no futuro estamparão as manchetes policiais e sociais do cotidiano político brasileiro.

Tudo devidamente pago com o seu dinheiro.

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Economista, especialista em administração pública pela FGV/RJ e pós-graduada em Gerente de Cidades pela FAAP