Tuesday, 14 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

A noite dos zumbis da RBS

A primeira nota foi reproduzida da NovaE

Um design sensacionalista, em que rostos desesperados como zumbis surgem em agonia, em desespero. Desta forma o grupo RBS criou o especial sobre a gripe A (ver aqui), em que o jornalismo como prestação de serviço fica em segundo plano, em nome da disseminação do terror.

Nem O Globo faria ‘melhor’. Não é só o visual. De cara, a chamada principal revela o tom de todo o hot site. ‘As mortes no Brasil e nos Estados’. Depois, de uma forma macabra, a ficha de cada vítima: nome, internação, contágio, morte e condição de saúde. De arrepiar. A seguir, é um derramar daquilo que já circula na internet e que está sendo a panacéia dos alarmistas de plantão, do quanto pior, melhor.

O sentimento que você tem ao sair do especial RBS é de fim de mundo. Desespero, em que nada você pode fazer senão esperar o próprio fim, sem mesmo aprender alguma coisa. Aliás, um ensinamento transborda de toda esta situação: é nessas ondas que envolvem toda a sociedade que percebemos, mais uma vez, quem sabe ou não fazer jornalismo.

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Recebi este texto de um site que diz só publicar ‘notícias boas’. Este é o texto que me mandaram para ‘vender o peixe’ deles:

‘Se você faz parte do grupo de pessoas que estão cansadas de ver, ouvir e ler notícias ruins, o Boa do Dia tem como missão buscar na Net, jornais, revistas somente as notícias de boa qualidade que possam fazer-nos esquecer o mundo’

Fiz o cadastro para receber o jornal, nada contra ler boas notícias. Mas, nesse texto de apresentação, eles cometem um erro conceitual (sem falar no erro de regência) ao dizerem que buscam na Net somente ‘notícias de boa qualidade’.

Ora, qualquer notícia bem apurada e bem escrita é notícia de boa qualidade. Ainda que noticie fatos desagradáveis. Não se pode confundir isso. É a mesma bobagem que a imprensa inteira está cometendo ao dizer que ‘o governo foi bem avaliado’. Bem avaliado significa que houve uma avaliação bem feita, criteriosa, mas não significa que o resultado da avaliação tenha sido bom. (Romildo Guerrante, jornalista, Rio de Janeiro, RJ)

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Gosto muito do OI. No meu entender não só o comunicador está sendo agredido, mas a sociedade no seu todo, uma vez que a política praticada tenta violar o direito de informar e de receber informação. Já não basta as dificuldades que o povo sofre para conseguir ingressar em patamar de ascensão sociocultural e educacional.

Sou bacharelanda em Jornalismo pela Universidade Candido Mendes. Não só por este motivo, posso sentir o prejuízo da categoria que merece ser valorizada, no mínimo pelo reconhecimento do seu valor diante da sociedade, em caráter internacional. No entanto, ouvi um desembargador dizer que ‘jornalista não precisa ter nível superior; qualquer pessoa pode trabalhar em jornalismo, basta ter coragem para entrar e sair de onde não deve (…)’ – nem me vale a pena terminar a frase, porque sinto vergonha por esse desembargador, pelos políticos que não valorizam a ciência da informação. Em todas as categorias existem bons e maus profissionais: médicos estão matando pacientes, quando deveriam tratá-los; contadores, advogados, professores (muitos já estão desmotivados pela desatenção das autoridades, o que não justifica sua auto-desvalorização). Enfim, penso que não devemos nos acomodar e sim agirmos em prol do respeito profissional, ético, sócio-educacional que todos merecemos. Saudações ao Observatório de Imprensa. (Marilza Rangel, professora)

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O Oeste catarinense, segundo se comenta, em off, estaria com um dos maiores índices de câncer do mundo. As autoridades e a mídia aqui não falam nada. Está em jogo praticamente a economia da região, baseada na agroindústria (suinocultura e avicultura), já que aqui é o berço da Perdigão, da Sadia e da Seara (as donas do mercado), graças a um sistema ‘escravagista’ de integração adotado ainda nos anos 1950, e responsável pela degradação ambiental e pela cadeia produtiva alimentar de subsistência. Os colonos deixaram de plantar milho, arroz, feijão, frutas, verduras e etc, para criarem porcos e galinhas, sob um regime ditatorial do sistema mercadológico. Hoje, o ‘integrado’ compra da indústria (a mesma que lhe compra o frango e o porco) em torno de 18 produtos, entre seguro, ração, matriz, vacina e etc, e vende a sua produção pelo preço que bem entender a empresas compradoras. Lembrando que toda a família trabalha no processo, em horários integrais, sem remuneração, sem garantias trabalhistas. Pelo contrário: caso haja uma grave perda, o ‘integrado’ perde suas terras para a empresa ‘integradora’, já que há uma automática alienação do bem. Não bastasse isso, a absurda incidência de nitrato nos lençóis d´água da região (oriundos no Nitrito, que é a base das rações de aves e suínos) está matando gente como nunca se viu na história: câncer. O Observatório não levanta a lebre? (João Paulo Dantas, jornalista, Joaçaba, SC)

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Há um programa da Ouvidoria apresentado via Radio MEC [EBC] que não aborda coisa alguma importante. Perde-se em divagações sem objetividade, enquanto a TV pública é apresentada via canal comercial da Net. A TV pública não é isenta de inferências comerciais, independente e nem livre. O objetivo atual da Ouvidoria não é sério, e para apresentar o que apresenta é melhor parar para não cair em desgraça. (Luiz Alberto Luz, engenheiro, Rio de Janeiro, RJ)

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Jornalista