Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A nova era de ouro do rádio

Três capas de cadernos (os de informática do Estado e do Globo, e a ‘Ilustrada’, da Folha) foram dedicadas na segunda-feira (25/4) às novas possibilidades do rádio na era digital (ver remissões abaixo).


Anunciam a exploração de diferentes possibilidades, entre elas transmissão por satélite, rádio digital, rádio visual (que permite ao ouvinte ler num visor o que está sendo transmitido, ou ver imagens associadas ao som) e recepção via celular.


A mobilidade nasceu com o próprio rádio, empregado em larga escala na Primeira Guerra Mundial.


Rádio de ondas curtas era equipamento obrigatório para quem acompanhava passo a passo o desenrolar da Segunda Guerra Mundial.


Rádio de pilha, com fones de ouvido, existe na França desde 1920. O transistor foi inventado em 1947 e já na década de 1950 era possível ir ao campo de futebol com o rádio colado ao ouvido.


Essa faculdade de estar em toda parte, que cada vez mais caracteriza a internet, é inata no rádio.


Mas a programação do rádio, até muito recentemente, foi um fluxo contínuo na dimensão única do tempo. Gravar requeria, se não equipamentos muito complexos, rolos e rolos de fita. Só as emissoras e a censura tinham recursos para tanto.


A nova base tecnológica


A faculdade de publicar arquivos na internet levará a mudanças no modelo de operação das emissoras, que deixam de ter monopólio do conteúdo. Na internet não é necessário ter concessão para publicar texto, imagem e som. A punição das transgressões à lei se dá ex post facto.


A possibilidade de guardar por tempo indefinido os arquivos vai mudar a relação do ouvinte com o rádio (e com a televisão também). A audiência deixará de se congregar em função de um horário. O programa continuará sendo a referência, mas sua localização se dará numa URL [uniform resource locator, o endereço global de documentos e fontes de pesquisa na web], não no tempo.


Demandas cada vez mais segmentadas abrirão novas possibilidades para quem tiver o que oferecer. Como aconteceu na televisão a cabo e na internet. E, que ninguém se iluda, a relação entre qualidade e lixo provavelmente se manterá constante. Mas a possibilidade de fazer algo de qualidade dependerá menos de financiamento condicionado a interesses de vista curta.


Essa radical alteração na esfera pública criará novas modalidades de problemas para o sistema democrático (nas ditaduras é possível controlar a entrada de conteúdos na rede, como têm provado China e Cuba, por exemplo). E obrigará os homens a encontrar novas soluções.


Agilidade e simplicidade


Como cada etapa tecnológica alcançada pela humanidade convive com as tecnologias anteriores, e os usuários delas são contemporâneos, mesmo quando não-coetâneos, nenhuma tecnologia, como já se tem dito à exaustão, matou a precedente.


A velha e boa palavra falada, e a velha e boa música sobreviveram no rádio, como se à espera do momento de serem transportadas para a esfera da interatividade em grande escala.


O momento chegou, e o rádio, difusor da voz humana e dos sons que o homem produz, se prepara em todos os países para mostrar o que é capaz de fazer – com uma agilidade e uma simplicidade que nenhum outro meio de comunicação conhece.