Thursday, 16 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

As fotos do ano

A mídia internacional está em polvorosa. Motivo: foi-se Osama bin Laden e com ele toda uma história de terror, de sangue, de dor e de muito sofrimento. Contudo, até que ponto publicar as imagens cadavéricas de seus restos mortais é a melhor saída?

Não acredito que agora é o momento ideal para isso. É preciso esperar mais… Afinal de contas, Bin Laden viveu sob a bandeira do terrorismo. Seus alvos potenciais eram os EUA e a Europa, entre outros. De outro lado, não se pode negar que seus seguidores estão circulando livremente por aí. Pelas praças e avenidas. Apesar de caçados e duramente perseguidos pelas polícias, eles são sobreviventes. É claro que formam uma rede e vivem na marginalidade social.

O fato é que o terrorismo se transcendeu. Para muitos é algo muito sério. Hoje, é muito maior que a Al-Qaida. Essa organização é seu cérebro e é também um de seus braços. E os outros? Divulgar agora essas fotos é estimular o grito de revolta dos seus seguidores. As imagens representam, em seu bojo, um chamado à violência inflamada pelo ódio da perda, da diminuição do poder de fogo e de seu maior mentor. Entendo que é preciso respeitar a dor do outro, independente de quem seja.

Uma onda de ódio e violência

Se, realmente, queremos construir um mundo de paz e seguro para todos, é preciso que cada cidadão, brasileiro e do mundo, repudie a sua veiculação neste momento. É preciso não ter pressa… De que adianta, neste momento, dissecar os mortos ou tentar ressuscitar o tempo? Por que matar Bin Laden, se podiam prendê-lo até o fim de seus dias? Tem mais. Que Barack Obama queira se reeleger presidente, tudo bem, mas que não use essas iconografias para alavancar seus objetivos pessoais. Que a forma não se sobreponha ao fundo. Ou seja, deve zelar pelo interesse do cidadão comum. Vale lembrar que durante a campanha presidencial ele disse que ia fechar Guantánamo e, contudo, voltou atrás. É sabido que políticos não costumam cumprir o que dizem.

Deixo claro que sou contrário à censura, à violência e ao autoritarismo. Entendo que o cidadão, do Brasil e do mundo, tem o direito natural de acesso ao conhecimento e à informação seja onde for. Temo que a divulgação das fotos deflagre, contra alvos civis, uma gigantesca onda de ódio e violência ainda maior que o 11 de Setembro.

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Professor e jornalista, São Paulo, SP