Friday, 10 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Cartunista acusado de anti-semitismo lança revista

Na semana passada, Jean Sarkozy, filho do presidente francês Nicolas Sarkozy e integrante do movimento da direita jovem, casou-se com Jessica Sebaoun, filha do fundador da rede de lojas de eletrodomésticos Darty. Dois meses antes do casamento, surgiram boatos de que, como a noiva é judia, Jean se converteria ao judaísmo para casar.

O boato foi a deixa para que o cartunista octogenário Siné publicasse uma tirinha no semanário satírico Charlie Hebdo afirmando: ‘Este camarada tem um longo caminho pela frente!’. A comunidade judaica não gostou nada da brincadeira, e acusou Siné de ligar os judeus a ambição e dinheiro e de reforçar estereótipos. Philipe Val, que administra a Charlie Hebdo, demitiu o cartunista, temendo uma ação da família Darty com base em acusação de anti-semitismo.

Religião e humor

Na França, atacar religião com humor é uma atitude audaciosa. Siné alega que apenas descreveu a ambição de um ‘filhinho de papai’ que se casou com uma mulher rica. O caso, no entanto, ganhou grande repercussão. A filha única do cartunista, que é judia, defendeu-o publicamente. Mais de 20 mil pessoas assinaram uma petição de apoio. Os que o defendem, alegam que a charge foi de mau gosto – mas não anti-semita.

Os que não aprovaram o cartum lembram que, em 1982, o cartunista estava bêbado em um programa de rádio na estação Carbonne 14 quando disse que era anti-semita e que gostaria ‘de ver os judeus viverem com medo, a menos que fossem pró-Palestina’. Não satisfeito, afirmou: ‘Deixe-os morrer’. A declaração teria sido feita após um ataque terrorista contra a comunidade judaica em Paris. Siné pediu desculpas posteriormente, mas ainda assim a ONG Licra, que luta contra o racismo e o anti-semitismo, processou o cartunista.

Em relação a este último incidente, a Licra abriu uma queixa na justiça de ‘incitamento ao ódio racial’ contra judeus e muçulmanos. O caso será ouvido em janeiro de 2009. Por sua vez, Siné acusou seu chefe de demissão injusta e um jornalista francês por calúnia, após tê-lo chamado, com todas as letras, de anti-semita. O cartunista lançou ainda sua própria revista, a Siné Hebdo. Em menos de 24 horas, todas as 140 mil cópias da primeira edição haviam sido vendidas. Informações de Chloé Leprince [The Guardian, 17/9/08].