Monday, 13 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Declarações nefastas sem compromisso popular

Todo mundo de repente resolveu ser socialista, pois é fácil hoje ter uma legenda nos partidos que se autodenominam de esquerda, que parece hoje ser um termo fora do contexto da história e da verdadeira ação. Em Fortaleza, um governo de esquerda tem trucidado educadores com medidas sem nexo e com a destruição do prazer de ensinar, que hoje tem sido vilipendiado pela falta de uma política ativa verdadeira e correta. O partido do poder é de esquerda e os que fazem o staff administrativo também se denominam esquerdistas, o que parece estar apenas no discurso e no rótulo. O mesmo partido promoveu agressões aos professores em greve através de sua Guarda Municipal e não toma providência alguma em relação à violência nas escolas onde alunos e professores são vítimas de agressões, assaltos e completo abandono. O mesmo partido de esquerda (PT) hoje vem sendo objeto de várias ações do Ministério Público em relação a descalabros administrativos promovidos por seus gestores em termos de suposta malversação dos recursos públicos.

Na outra ponta da questão, o governador do estado do Ceará, que provou sempre ser inimigo da lei que institui o piso salarial profissional dos professores quando entrou com ação no Supremo Tribunal Federal (a lei acabou sendo declarada constitucional), criou um Plano de Salários que acaba destruindo o prazer de ensinar e se qualificar em educação, pois destrói a carreira e rebaixa o piso salarial.

Em função disso, os professores da rede pública estadual entraram em greve logo após uma suposta derrota dos professores do município de Fortaleza, como os próprios membros do Sindicato que está puxando a tal greve apregoam. E qual a greve vitoriosa? Para completar o quadro, o governador do estado declara que para ser professor tem de ter amor e quem não estiver satisfeito com o salário que procure dar aulas na escola privada. Ora, de uma só cajadada, sua excelência acabou desqualificando o professor do ensino público e dando uma boa guinada ao ensino privado mostrando a quem quer servir e a que interesses está vinculado.

Esperando a morte chegar

A questão é: onde está nossa mídia neste momento, que não interpela o governador em tais declarações intempestivas e com o objetivo claro de humilhar educadores que têm amor, sim, pela profissão, mas não é apenas amor que paga suas contas, alimenta seus filhos e lhe dá oportunidades de estudar, se aperfeiçoar e crescer intelectualmente. A razão para isso é clara: a mídia está nas mãos dos governantes através das verbas publicitárias e outros interesses que muitos sabem existir e escondem sob o manto de uma tal isenção ou neutralidade. Situações com essas são vergonhosas e resta ao povo as redes sociais, que hoje têm sido objeto até de projetos no legislativo visando a cassar o direito de expressão. A mídia tem que decidir de que lado está e qual o papel verdadeiro da comunicação.

Resta a nossa briosa ABI de tantas lutas se engajar na luta pela educação de qualidade para acabar com a vergonha de como os professores têm sido tratados no modelo neoliberal em vigor posto em prática por supostos socialistas. A luta pela educação tem de ser ativa e efetiva em todos os segmentos da sociedade e nada como a mídia para oportunizar tal ação. Quem se habilita? Lutar pela educação não é apenas uma forma de vender jornais, revistas ou dar ibope em televisão e rádio. Tem de ser uma decisão dos que fazem comunicação. Claro que não falo dos proprietários (supostos) dos meios de comunicação, mas dos setores organizados da comunicação que precisam desenvolver um processo de envolvimento do povo que chegue a todos locais do país. Não podemos ficar sentados em cima do trono esperando a morte chegar, como dizia Raulzito… Temos que nos preocupar com a educação, que, infelizmente, está chegando atrasada em relação ao crack e outras drogas que estão tragando nossos jovens de forma viril e avassaladora.

Canais para crítica estão fechados

Quanto às declarações do governador socialista, temos que levar em conta que ele simplesmente reflete uma visão burguesa de quem está hoje se rotulando socialista apenas por privilégios que servem a interesses que todos sabem quais são. Aliás, como tem socialista mudando de ideias e concepções de sociedade… É bom filtrar tais discursos e compreender a essência deles para uma boa análise e reflexão e ver o que diziam ontem e o que fazem hoje (taí uma boa pauta, quem se habilita?).

Veja a declaração do governador:

“Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado.” Eles pagam mais? Não! (Fonte: site do sindicato APEOC)

Veja também a campanha que está sendo feita no Facebook.

Campanha: “Cid Gomes, doe seu salário e governe por amor!”

Para finalizar vale ressaltar que os canais de comunicação para crítica aos governos neo-socialistas estão fechados, pois a verba de publicidade está cada vez mais ditando a crítica e o verdadeiro estado de coisas e quer saber mais: A culpa é do professor…

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[Francisco Djacyr Silva de Souza é vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE]