Monday, 13 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Os novos cães de aluguel

Há quem diga que estamos agora na era da informação. Na verdade, já o dizem há algum tempo. Saídos da era industrial, na qual empresas contratavam capangas que eram infiltrados em sindicatos, e da era colonial, quando jagunços e capatazes faziam as mesmas vezes, chegamos a uma era na qual, aparentemente, foram abolidos os cães de aluguel. Correto?

Enquanto caímos na real observando o mundo acelerar cada vez mais rumo a uma época na qual toda informação é poder, temos às vezes a inocência de acreditar que as corporações estão tomando ciência de tal fato concomitantemente. Não é assim. Elas sempre estiveram um passo à frente, por isso mesmo são corporações.

Os novos cães de aluguel estão longe de empunhar rifles, chicotes e correntes. Empunham abotoaduras e cartões de visita de grandes empresas e têm como arma o e-mail e o texto pronto.

As grandes corporações se fecham de modo estratégico, negando sumariamente toda e qualquer informação à imprensa, emitindo apenas os comunicados que são obrigadas a emitir por lei, ou algumas migalhas para contentar aos pouco exigentes repórteres que ainda vivem.

Nem indignado, nem indigno

O sigilo da fonte foi atirado ao ostracismo, chamado de ‘antiético’ por profissionais que habitam o lado oposto do balcão. Nas raras vezes em que o off é praticado hoje em dia, chega a causar estranhamento mesmo a colegas repórteres, tamanho foi o tabu gerado pelas assessorias a respeito de tal ferramenta.

Assessorias de empresas maiores chegam até a realizar tentativas de ‘rastreamento’ do off – o que creio ser bem mais antiético do que simplesmente o ato de se preservar a fonte. Um caso ocorreu coisa de um mês atrás, com um de meus repórteres.

Contactando uma fonte sua, ouviu que esta não mais falaria, pois a empresa tal o havia procurado, inquirindo se uma informação em off anterior havia sido divulgada por ele. Ligamos então para outra fonte do mesmo segmento, que alegou ter sido abordado de igual forma pela corporação.

Além do que tornou-se corriqueiro ouvir de assessores: ‘Mas eu tenho de saber qual foi sua fonte.’ Não amigo, você não tem. Isso porque a empresa na qual você trabalha também é uma fonte e, embora grande, gostaria de ser preservada se necessário. E outra, quando resolver responder à minha solicitação, duas semanas depois, quero que responda ou não o que perguntei, e não saber se sua empresa ‘atua em parceria com clientes e fornecedores’. Isso me dirão os citados clientes e fornecedores.

Não sou um profissional indignado e nem mesmo indigno. Cometo erros, os corrijo, se necessário, deixo-me levar por uma boa pauta. Reconheço que há muitas assessorias que também fazem muito competentemente seu trabalho. A questão é qual trabalho a elas foi designado.

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Editor do Steel Business Briefing, São Paulo, SP