Saturday, 11 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Um grito pela educação

Temos visto em todos os noticiários casos de agressões a professores, violência entre os alunos, apatia no processo educativo e diversidade de ações que provam que nossa sociedade está doente quando não valoriza a educação nem luta por um processo de qualidade. A situação de gravidade que tem mostrado resultados críticos em termos mundiais e deficiências graves no processo de formação demonstra uma situação triste, que só mudará com engajamento total e com o interesse de todos os membros da sociedade no processo de construção da educação de qualidade para todos indistintamente.

A situação política hoje prova que os que fazem o poder não querem educação de qualidade, pois o modelo econômico é plenamente desfavorável ao processo educativo. Nossos governantes investem muito pouco nos educadores, em termos salariais e de condições de trabalho, e vemos em todos os rincões do país desvio nas verbas da merenda escolar, do transporte e até depreciação do material escolar e de livros didáticos. Por outro lado, a sociedade não se organiza para que haja mudanças e vemos desrespeito aos professores pelos pais que não procuram se envolver na formação de seus filhos e até concordam com a falta de interesse dos alunos. Há pais que preferem comprar produtos supérfluos para os filhos, ao invés de material escolar; outros utilizam o material doado por algumas prefeituras aos seus filhos com se fossem seus e utilizam a verba do benefício do Bolsa Família para benefício próprio.

A formação de professores deve ser modificada, pois os critérios de seleções de professores das universidades são baseados em jogos de interesse, corporativismos e completa falta de reconhecimento dos que se submetem a concursos públicos. O quadro é o mesmo na seleções de mestrado e doutorado e a partir daí o critério deixa de ser de compromisso e competência para ser de conveniências e troca de poder. Todos sabem disso, mas preferem empurrar o lixo para debaixo do tapete e fingir que nada acontece. A formação dos professores não provoca envolvimento destes com a sociedade nem faz e que os futuros educadores tenham compromisso firme com a mudança da situação social de nosso povo.

Um novo modo de construção da sociedade brasileira

A Educação brasileira tem sido negligenciada pelos meios de comunicação, que não se envolvem em um debate sério em busca da qualidade para gerar pessoas que lutem para que a educação seja uma bandeira de luta de todos, num engajamento coletivo. Vemos, assim, que há necessidade urgente de fazer com que a sociedade saiba que a educação é uma bandeira firme que precisa ser empunhada em todos os setores de nosso mundo social. É preciso investir firmemente em formação política do povo para que este entenda a necessidade de mudar a educação e resolver de forma eficiente suas mazelas.

O grande problema é que a educação ainda é um grande palco para que alguns se beneficiem com o discurso da não-solução, que rende muito em palestras, debates e seminários. É preciso que todos se envolvam sem interesses na construção da educação de qualidade e sem uso político ou manutenção de alguns privilégios. O grande problema da educação está intimamente ligado aos dilemas éticos que nossa sociedade hoje contempla. Temos leis vigorosas para que a educação aconteça, mas não são cumpridas, como é o caso da Lei do Piso Salarial dos Professores, que até hoje vem sendo pisoteada por governantes descompromissados com anuência passiva de todos. A Educação brasileira só irá mudar se houver compromisso forte em todos segmentos da sociedade, mas sem interesses subliminares e com uma ação forte e decisiva.

A crise da educação brasileira é uma crise de vergonha na cara dos governos e do povo – que está sem ânimo, sem garra e sem o mínimo de luta para mudança. A crise da educação é uma crise de valores de nossa sociedade que deixa prosperar a vergonha, o escárnio e a corrupção, e nos deixa à mercê de um mundo desprovido de pessoas que podem construir dias melhores para todos. É bom pensar nessa situação de forma desinteressada para que haja urgentemente um novo modo de construção da sociedade brasileira, que somente prosperará se houver uma nova forma de construir e gerar educação de qualidade.

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE