Thursday, 09 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Basta de panfletos partidários

Apoio governamental às mídias alternativas. Bem, só no Brasil. Bem como ao cinema alternativo, à literatura alternativa e tudo o que se diz alternativo. Contudo, o que vem a ser ‘alternativo’? A resposta a essa pergunta, a meu ver, é mais necessária do que o questionamento sobre o subsídio (sim, pois apoio é algo completamente diferente), levantado pelo OI. Não deu certo com o cinema. A literatura alternativa é auto-ajuda. A arte e a música ditas ‘alternativas’ são subsidiadas para agradar a uma dúzia de pseudo-intelectuais que julgam que a sabedoria, o conhecimento e a genialidade da raça humana estão embutidas em alguma escultura artesanal oriunda dos confins do agreste. Daria certo com a mídia?

A febre dos meios de comunicação não apenas ‘alternativos’, na acepção torpe que usamos, mas também gratuitos (porém bem produzidos) não é novidade no mundo. A questão é se tal fomento gerará mesmo o aparecimento de uma imprensa desenvolvida, mais firme, com cara e jeito de ‘instituição’. Digo que não. Noto que a regra básica para a classificação de qualquer veículo como ‘alternativo’ se resume a dois aspectos, cá no Brasil: 1) Tendência claramente esquerdista; 2) Abordagem de assuntos atinentes a movimentos culturais, sociais e/ou políticos com tendências claramente esquerdistas. Pois bem, tendo isso em vista, logo se vê que qualquer veículo que fuja a essa regra estará fadado a caminhar com as próprias pernas.

Pensem bem

Ok, digamos que os veículos ‘alternativos’ devam seguir essa regra por distanciarem-se do establishment ou das elites. Mas não é hoje a elite a origem de todos esses grupos de tendência de esquerda que vemos? Não sustenta, ao menos em tese, o atual governo os mesmos valores que tais grupos ditos ‘alternativos’? Então são eles alternativa a quê? A nada. Tratar-se-ia, logo, de subsídio, e não de apoio. Queremos mesmo financiar uma imprensa estatal, que divulgue os ditames do Planalto como sendo de valor ‘alternativo’? Balela, não precisamos pagar por mais esta.

Vale ressaltar também o seguinte aspecto: onde há maior presença de mídias alternativas? Os Estados Unidos e os países europeus são famosos por sua imprensa alternativa, a qual, obviamente, não consta da folha de pagamento governamental. Contudo, onde está a imprensa alternativa em Cuba ou, ainda, na Venezuela? Rogo-lhes, leitores, que pensem muito bem antes de pagar por mais panfletos do Partido dos Trabalhadores.

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Jornalista, São Paulo