Thursday, 16 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Globo News tenta perder tom carioca

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 15 de setembro de 2008


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo News investe em SP para parecer rede


‘Globo News passará em outubro a ancorar o telejornal ‘Em Cima da Hora’ de um estúdio que está montando em São Paulo. O canal de notícias da Globo, o principal do país, ampliará sua equipe de profissionais na capital paulista.


O investimento faz parte de estratégia para reduzir a percepção de parte da audiência de que a Globo News é um canal carioca. A idéia é fortalecer a imagem de rede nacional. Embora utilize material captado em todo o país, a Globo News é atualmente quase toda gerada do Rio. Portanto, o sotaque carioca às vezes sobressai. Em São Paulo, possui apenas um painel em estúdio, que serve de fundo para entradas ao vivo.


Com o investimento, o ‘Em Cima da Hora’ passará a ser ancorado alternadamente de São Paulo e do Rio de Janeiro. O boletim tem 22 edições diárias e traz as principais notícias da última hora. É atualizado a cada hora cheia.


A Globo News está selecionando apresentadores para ancorar o noticiário de SP e contrarará no mínimo oito repórteres, editores e cinegrafistas.


Outra novidade será a mudança do ‘Entre Aspas’, programa de entrevistas com duas edições semanais, do Rio para São Paulo. Mônica Waldvogel substituirá Maria Beltrão na apresentação da atração.


O canal também terá novas vinhetas e cenários (no estúdio do Rio) em outubro, quando completa 12 anos no ar.


PROIBIDO 1


O Ministério Público Federal de São Paulo recomendou à Rede TV! que cumpra o Estatuto da Criança e do Adolescente e só mostre menores de 18 anos em seus programas com autorização judicial. A emissora deverá exigir a apresentação de documentos de identidade de todos os participantes de suas atrações. Dos menores, terá de pedir também alvará judicial.


PROIBIDO 2


A Rede TV! diz que irá acatar a orientação, o que a livrará de responder a ação judicial.


PROIBIDO 3


A recomendação foi feita na semana passada. É conseqüência da apresentação, em novembro do ano passado, de um rapaz de 17 anos que protagonizou uma encenação de traição amorosa no ‘Superpop’.


VIDRAÇA


Autor de ‘Os Mutantes’, Tiago Santiago tem recebido críticas à novela em seu próprio blog. Telespectadores reclamam de diálogos longos, repetitivos e irrelevantes. Uma fã comemorou a morte de um vampiro porque não agüentava mais ouvir a frase ‘Vou beber o seu sangue até a última gota’.


BUSCA


O SBT está assediando ex-profissionais que hoje trabalham em ‘Ídolos’, na Record. Acha que alguns podem melhorar ‘Astros’, o genérico do reality show musical. Até agora, só um produtor aceitou voltar.


ESTRELA


Protagonista de ‘Som e Fúria’, minissérie de Fernando Meirelles, Andréa Beltrão está se achando. Só dá entrevistas por e-mail.’


 


 


Cristina Luckner


Especial mostra Winehouse ‘saudável’


‘Amy Winehouse recebeu muita atenção da mídia nos últimos tempos.


A princípio, era somente pelo seu talento musical, suas letras irreverentes e seu estilo de cabelo inconfundível. Depois vieram os escândalos, com cancelamentos de shows, capas de tablóides exibindo sua decadência e idas e vindas à ‘rehab’ -as clínicas de reabilitação.


Ainda assim, ela recebe prêmios de música pelo mundo e será a convidada do Multishow Music Live de hoje, exibido às 22h45, no Multishow.


O canal exibe a apresentação para marcar os 25 anos da cantora, comemorados ontem. Winehouse aparece com uma imagem saudável e até se arrisca numa dancinha ensaiada com os integrantes da banda durante algumas canções.


O show foi gravado no Eurockéennes, de Belfort, em 2007, um dos maiores festivais de rock da França.


No repertório, sucessos já consagrados da artista, como ‘Rehab’, ‘Back to Black’ e ‘Valerie’, além das músicas ‘Addicted’, ‘Just Friends’, ‘Tears Dry on Their Own’, ‘He can Only Hold Her’, ‘Wake up Alone’, ‘Love is a Losing Game’, ‘Cupid’, ‘Hey Little Rich Girl’, ‘Monkey Man’, ‘You Know I’m No Good’ e ‘Me and Mr. Jones’.


MULTISHOW MUSIC LIVE – AMY WINEHOUSE


Quando: hoje, às 22h45


Onde: no Multishow


Classificação indicativa: não informada’


 


 


INTELIGÊNCIA
Fernando Rodrigues


Serviços secretos


‘NOVA YORK – Está na internet a transcrição de uma palestra do principal analista de informações da ‘comunidade de inteligência’ dos EUA, Thomas Fingar.


Ele é presidente do Conselho Nacional de Inteligência -o órgão responsável por consolidar as informações coletadas por agentes da ‘comunidade’ espalhados na administração federal.


Desmoralizados pelas barbeiragens pré e pós o 11 de Setembro, os agentes secretos dos EUA agora estão numa fase pessimista. O relato de Fingar fala que a ‘dominação americana (…) está se erodindo’, de forma cada vez mais rápida.


A estrutura de governança mundial (FMI, Banco Mundial e outros) está obsoleta. A imagem depauperada dos EUA, porém, impede o país de liderar mudanças. Uma idéia vinda de Washington estaria, diz Fingar, ‘morta na largada’.


Abriu-se um vácuo de liderança internacional. Ninguém parece pronto para preenchê-lo. Ao contrário, os pretendentes como Rússia, China e União Européia também padecem do mesmo mal dos EUA, cada um com um problema específico de imagem.


Todas essas informações já foram entregues para os candidatos a presidente dos EUA. O serviço secreto tem reuniões regulares com Barack Obama e John McCain. O eleito receberá um estudo com as perspectivas mundiais até 2025.


Com todos os defeitos e buracos que possa ter a análise apresentada por Fingar, trata-se de um esforço de razoável envergadura. E, sobretudo, de transparência. O serviço pode ser secreto, mas os resultados precisam ser públicos.


No Brasil, essa discussão inexiste.


Desde o fim da ditadura militar, governo atrás de governo tenta criar um sistema minimamente confiável de inteligência. A crise dos grampos expôs o atraso já conhecido. No fim, não há inteligência nem transparência. Só segredo.’


 


 


Sheila D´amorim e Simone Iglesias


Anatel vai cobrar empresas por venda de dados sigilosos


‘A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) vai cobrar explicações das empresas de telefonia sobre o comércio ilegal dos registros de chamadas telefônicas e torpedos de assinantes. As informações, que deveriam estar protegidas pelo sigilo estabelecido em lei, podem ser obtidas por menos de R$ 1.000, com pessoas que se dizem detetives particulares ou funcionários de teles, como mostrou reportagem da Folha publicada ontem. A agência foi duramente criticada por parlamentares da oposição e do próprio governo, que reclamaram da falta de fiscalização do órgão responsável pelo setor. Segundo a assessoria de imprensa da Anatel, a reportagem será base para investigar o caso e tentar identificar as falhas existentes. A interpretação da cúpula da agência é a de que, como os dados adquiridos de terceiros batem com os registros de ligações e mensagens dos assinantes, eles só podem ter saído das empresas. Por isso, explicou a assessoria da agência, é preciso saber ‘o limite de responsabilidade’ das companhias. Com ajuda da reportagem da Folha, os senadores Álvaro Dias (PSDB-PR) e Aloizio Mercadante (PT-SP) e o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) compraram, de diferentes vendedores, dados referentes à ligações feitas, recebidas e torpedos enviados dos celulares que utilizam. Só os registros de Mercadante não conferiram com a conta da operadora. ‘Quando o governo não se controla e nem controla os serviços de proteção e segurança, não se pode esperar outra coisa, que não uma desordem total nessa área’, disse o presidente do PSDB, Sérgio Guerra. ‘A Anatel tem grande responsabilidade porque cabe a ela fiscalizar as operadoras. Há conluio dos funcionários com pessoas interessadas nessas informações’, disse o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), membro da CPI dos Grampos. Líder do governo na Câmara, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) disse que a agência deve ser ‘extremamente rápida e firme’ para agir e coibir a ação de detetives particulares e funcionários que têm comercializado extratos dos assinantes. Fontana sugeriu que o Ministério Público investigue se há participação das empresas na quebra do sigilo. ‘Há leis que proíbem a quebra de sigilo, portanto, não faltam regras, mas o cumprimento e melhor fiscalização delas’, avaliou. Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, a falta de controle do próprio governo sobre os seus investigadores serve de estímulo para que o cidadão também recorra a esses métodos. Ontem, as assessorias das companhias telefônicas não foram localizadas.


Colaborou EDUARDO CUCOLO , da Folha Online, em Brasília’


 


 


NOMES
Ruy Castro


Escalafobéticos


‘RIO DE JANEIRO – De um livro dos anos 60, só há pouco reaberto, cai um recorte sem data do ‘Correio da Manhã’. É um tópico da coluna ‘Quatro Cantos’, de notas políticas e ‘faits divers’, editada pelo meu colega Cicero Sandroni, hoje presidente da Academia Brasileira de Letras. Intitula-se ‘Nomes’ e diz: ‘Eis aqui uma lista de nomes tirados dos fichários de associados do INPS’. Para se ver como vem de longe a criatividade brasileira, seguem-se os próprios:


‘Antonio Dodói, Bom Filho Persegonha, Cafiaspirina Cruz, Céu Azul do Sol Poente, Dezêncio Feverêncio de Oitenta e Cinco, Graciosa Rodela, Inocêncio Coitadinho Sossegado de Oliveira, João Cara de João, João Cólica, João da Mesma Data, João Casou de Calças Curtas, Manuel da Hora Pontual, Manuelina Terebentina Capitulina de Jesus Amor Divino’.


E mais: ‘Maria Panela, Maria Passa Cantando, Pedro Bonde, Restos Mortais de Catarina, Último Vaqueiro, Um Dois Três de Oliveira Quatro, Vitória Carne e Osso, Antonio Manso de Pacífico Sossegado, Antonio Treze de Junho de Mil Novecentos e Dezessete, Antonio Noites e Dias, Benedito Autor da Purificação, Imaculada Gema, Joana Mula, João Pensa Bem, Joaquim Pinto Molhadinho, Maria Privada de Jesus, Napoleão Estado de Pernambuco, Pharmácido Lopes’.


E ainda mais: ‘Pedrinha Bonitinha da Silva, Philonila Piauhilina, Olinda Barba de Jesus, Universo Cândido, Veneza Americana do Recife, Darcilia Abraços Santinho, Alma de Vera Leão Rolando Pedreira, Remédio Amargo, Capote Valente e Marimbondo da Trindade’.


Ué, Capote Valente é esquisito? -perguntará você. Sim. Para quem não mora em São Paulo, soa tão escalafobético quanto João Casou de Calças Curtas, Um Dois Três de Oliveira Quatro ou Joaquim Pinto Molhadinho. Com todo o respeito.’


 


 


CAMPANHA
Catia Seabra


Imagem de Kassab melhora com a campanha eleitoral


‘Antes e depois. A imagem do prefeito Gilberto Kassab (DEM) melhorou com a campanha eleitoral e o programa de rádio e TV. O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, Geraldo Alckmin, não teve o mesmo desempenho.


Apesar de seu bom conceito, Alckmin, que em julho era considerado o mais preparado para o cargo, sofreu arranhões.


Passados 24 dias de propaganda, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), por sua vez, desponta como a mais qualificada para a área do transporte, tema recorrente do programa do PT. Já o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) constrói o perfil de realizador.


Semana passada (11 e 12 de setembro), o Datafolha consultou os eleitores sobre a imagem dos candidatos em 25 quesitos.


Como a mesma pesquisa foi realizada em julho -nos dias 3 e 4- foi possível aferir o efeito do horário eleitoral sobre a imagem de cada um.


Em julho, por exemplo, Alckmin era apontado como ‘o mais preparado para ser prefeito’ por 38%, contra 31% de Marta. Hoje, 33% atribuem a qualidade à petista. Alckmin tem 25%.


Kassab subiu de 11% para 20% e Maluf tem 12%.


Kassab, que dividia com Maluf o estigma de mais antipático (26%), deixou o título só para o ex-prefeito. Agora, Maluf é o mais antipático para 29%, seguido por Marta (19%), Kassab (17%) e Alckmin (8%).


Como investem na imagem de ousados, Kassab e Maluf brigam -com 26%- pelo rótulo de mais corajoso. Na pesquisa anterior, Kassab tinha 19% e Maluf, 22%.


Antes com 24%, Marta tem 22% no quesito ‘coragem’. Alckmin teve queda de oito pontos: de 20% para 12%.


Após crescer nove pontos, o prefeito -com 28%- tomou de Marta (25%) o status de ‘mais moderno e inovador’. Nessa categoria, Alckmin caiu de 25% para 16%.


‘A pesquisa, de um modo geral, é favorável a Kassab’, afirma o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino.


Alckmin preserva reputação de mais simpático (31%), mais democrático (26%), mais honesto (21%) e mais inteligente (29%). Mas em todos os casos com índices menores do que na pesquisa anterior.


Chamado de doutor no rádio e TV, Alckmin é considerado o mais preparado para cuidar da saúde com 35%, índice, ainda assim, seis pontos abaixo do registrado na pesquisa anterior.


Os candidatos colhem os frutos do programa eleitoral. Marta, que insiste no tema, é apontada como a mais preparada para cuidar da área de transportes por 43% dos eleitores, seis pontos a mais do que em julho.


Kassab é classificado como o mais preparado para cuidar da limpeza da cidade, com 37%.


Algumas coisas, porém, não mudam. Maluf, por exemplo, leva a marca de mais corrupto para 66% dos entrevistados, apenas um ponto a mais que o registrado em julho.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Marcando território


‘Agências da Xinhua à Efe e a manchete da Agência Brasil, ontem, noticiavam a reunião da Unasul, hoje no Chile, com Lula e ‘uma clara mensagem contra a ingerência externa na Bolívia’.


Em destaque no ‘El País’ espanhol, também ontem, ‘Brasil adverte que não vai tolerar ruptura em seu principal fornecedor de gás’. No também espanhol ‘La Gaceta de Los Negocios’, ‘EUA ficam à margem, Brasil e Venezuela assumem como seu o problema boliviano e marcam território’.


E no ‘New York Times’ do enviado Simon Romero: ‘A crise ilustra a evanescente influência americana’ na região em que ‘Bolívia e vizinhos estão cada vez mais olhando o Brasil para mediar’.


Por fim, no colombiano ‘El Tiempo’, Alvaro Uribe vai ao Chile -ele que também, no dizer do Infobae, ‘manifestou seu apoio a Evo’.


RESTABELECIMENTO


Na manchete da Reuters Brasil, ‘Forças Armadas da Bolívia vigiam estado de sítio’ em Cobija, fronteira com Brasil, onde morreram 30.


Na manchete da Agência Boliviana de Informação, ‘Militares restabelecem ordem’. O ‘La Razón’ ainda destacava, quanto aos militares, que ‘Hugo Chávez disse que exército está em greve’.


Na manchete do mesmo ‘La Razón’, no final do dia, a prisão do governador de Pando, onde se localiza Cobija. Leopoldo Fernández, ressaltou o site, foi ‘aliado durante anos do ditador Hugo Bánzer’.


‘AMAZÔNIA AZUL’


A chinesa Xinhua, com reprodução no ‘Diário do Povo’, noticiou que o Brasil abriu na sexta a Operação Atlântico, exercício militar nas regiões onde se localiza ‘a camada pré-sal’. Lista 17 navios, 40 aviões, 300 veículos e 10.000 soldados na guerra simulada por ‘plataformas e reservas de petróleo’ da área que o comandante das manobras chama de ‘Amazônia Azul’. A americana Associated Press também registrou, sem detalhes.


DERRETIMENTO


‘NYT’, ‘Wall Street Journal’ e ‘Financial Times’ ressaltavam ontem, pela ordem de desespero, Lehman, Merril Lynch, afinal vendido, e a seguradora AIG. No enunciado do ‘NYT’, com fotos de banqueiros entrando para reuniões no Fed de Nova York, ‘Bancos de Wall Street balançam, em dia frenético’. Além dos citados, já relaciona outros.


Visto como responsável, o ex-presidente do Fed, Alan Greenspan, era o destaque de Huffington Post e Drudge, sob títulos como ‘Derretimento’. Falando à ABC, deu a crise como única ‘em um século’.


PT & PMDB


Quinta no ‘Valor’, ‘Lula trabalha para dar um vice do PMDB a Dilma’, mas a resistência do PT a alianças ‘mantém clima de tensão’.


Porém a ‘Veja’já diz que ‘cresce a lista de candidatos do PMDB a vice de Dilma’, com Sérgio Cabral, Geddel Vieira Lima, Edison Lobão ‘e até Garibaldi Alves’. Para a Folha Online, ‘Lula aposta em Cabral’.


OUVIDO


Ontem no Globo Online, Lula foi a Duque de Caxias e, ao ver Marcelo Crivella, ligado à Record, teria dito ‘ao pé do ouvido’ de um assessor, ‘pede para ele sair daqui’. Foi quase manchete.


OUTRO VICE


Segundo Ricardo Feltrin, fechando a semana no UOL, ‘SBT passa Record e volta a ser vice no país’. Em agosto, na média do dia todo, foram 6 pontos contra 5 da Record e 16 da Globo.


O CASAMENTO


Ontem no ‘Fantástico’ e antes, desde sexta-feira à noite, na Folha Online, as cenas do casamento de Sandy foram um pequeno fenômeno na explosiva cobertura de celebridades, também aqui


O RETORNO


Ontem o tablóide inglês ‘Daily Star’ deu que Ronald Biggs, 79, do ‘Grande Assalto ao Trem Pagador’, quer voltar ‘para morrer no Brasil’ e já teria tudo certo para deixar a cadeia e viajar ao Rio, em fevereiro próximo’


 


 


FERNANDO BARBOSA LIMA (1933-2008)
Willian Vieira


Criatividade do tempo preto-e-branco


‘Tinha 22 anos e via televisão. Sentado no chão de casa, Fernando Barbosa Lima ficou pasmo com a pouca criatividade do programa musical e decidiu escrever o seu. Preparou uma sinopse dividida por Estados e levou ao diretor da empresa patrocinadora. Teve o aval e logo o sucesso, ao dirigir o primeiro de muitos programas na TV Rio -faria quase cem deles em meio século de telinha.


Dizia que a TV em preto-e-branco foi uma escola. Lá começou a lapidar sua filosofia televisiva, de que, ‘se a idéia é boa, você consegue emplacar’. Agora, ‘se continuar copiando o que já existe, aí não vai chegar a lugar algum’.


Pensando assim, criou programas consagrados, como o ‘Jornal de Vanguarda’, o ‘Abertura’ (que falava de política em plena ditadura), o ‘Cara a Cara’ (que trouxe o formato de entrevista de Marília Gabriela) e o ‘Sem Censura’, além de dirigir emissoras como Tupi e Excelsior.


O que ele fez, copiaram -o que julgava natural. ‘Não via o passado, mas só o futuro’, diz a viúva. Ele, carioca do Leme, com sua camisa azul, seu jeans gasto e sua barba branca, seguia com sua produtora, ignorando a reputação que angariou assim como fez com a do pai, o jornalista Barbosa Lima Sobrinho.


Morreu no dia 5, aos 74, de falência múltipla dos órgãos, deixando uma filha, três netos, o livro ‘Nossas Câmeras São Seus Olhos’ (uma autobiografia de homem de televisão) e parte do que se vê, ainda hoje, na TV brasileira.’


 


 


CENSURA
Raul Juste Lores


China inaugura biblioteca monumental


‘Uma longo retângulo suspenso de 120 metros de comprimento em aço escovado e vidro é a marca do novo prédio da Biblioteca Nacional da China. Inaugurado nesta semana, o anexo que custou o equivalente a R$ 350 milhões demonstra que obras de impacto continuam a mudar a paisagem mesmo após a Olimpíada.


A Biblioteca virou a terceira maior do mundo com a nova construção. O antigo prédio, que não pode sofrer reformas por ser patrimônio nacional, guarda os tesouros da instituição e só pode receber visitas de acadêmicos e pesquisadores.


O anexo é para o público geral -e feito para impressionar. Com 80 mil metros quadrados, tem 2.900 assentos, 460 computadores e oferece acesso à internet sem fio (wi-fi).


Os usuários podem usar leitores de livros digitais em palmtops para acessar os mais de 200 mil gigabytes de arquivo digital da instituição.


O teto do retângulo que abriga a Biblioteca Digital é de vidro, o que permite o uso de luz natural na maior parte do tempo. A base do prédio é em pedra -mas o revestimento interno da principal sala de leitura, de três andares, é de madeira, como nas antigas bibliotecas.


O escritório de arquitetura alemão Engel e Zimmermann, que desenhou a obra após vencer um concurso internacional, projetou um prédio para 12 milhões de livros, ainda que a biblioteca tenha sido aberta com 600 mil. ‘A obra tem a capacidade para o crescimento da biblioteca nas próximas três décadas’, diz o bibliotecário-chefe, Zhan Furui.


Literatura controlada


No último andar, que possui centenas de jornais e revistas para consulta, não há uma única publicação estrangeira. Também não há nenhum livro em inglês na nova biblioteca.


‘Os livros em inglês ficam no velho prédio, onde o acesso é restrito. Aqui, só em chinês’, diz o bibliotecário Li Bin. Apesar da modernidade, a nova biblioteca mantém a política de controle de informação cara ao Partido Comunista.


São raros os locais de Pequim onde se encontram revistas estrangeiras. Quando há alguma reportagem crítica à China, os exemplares são recolhidos.


Encomendas feitas à Amazon podem levar meses. Os pacotes são abertos pelo correio, que apreende livros sensíveis. A censura proíbe livros que falem sobre a repressão na Praça da Paz Celestial ou no Tibete, sobre a seita Falun Gong ou sobre direitos humanos.


Livros que tratem de sexo e erotismo são proibidos e chamados de ‘poluição espiritual’. São os casos de obras que narram as aventuras sexuais de jovens chinesas, como ‘Shanghai Baby’, ‘Beijing Doll’ ou ‘Candy’, e que viraram best-sellers no exterior.


No ano passado, a autora Zhang Yihe liderou uma campanha pela internet, sem sucesso, pelo fim à censura. Seus três livros, que contam o drama dos chineses durante a Revolução Cultural, são proibidos no país.


O Escritório Geral de Imprensa e Publicações é responsável pela censura. A saída é a produção e distribuição clandestina de livros – estima-se que 60% dos livros que circulam na China sejam piratas. Calcula-se que haja cerca de 4.000 editoras clandestinas.’


 


 


INTERNET
Álvaro Pereira Júnior


Coisas de que os brancos gostam


‘VOCÊ GOSTA de rock indie, de Barack Obama, de sushi, de café, da série de TV ‘The Wire’, de comida orgânica, de ter amigos negros? Então é grande a probabilidade de você ser… branco! Pelo menos segundo um blog muito engraçado, que agora está virando livro também: www.stuffwhite peoplelike.com. O autor é Christian Lander e, antes que você pense que se trata de algum racista maluco, é bom esclarecer: o cara é humorista, e as maiores vítimas do site dele são justamente os brancos. Especialmente os brancos politicamente corretos da descolância americana, habitantes de Berkeley (CA), Cambridge (MA), Madison (WI), do Brooklyn etc.


Até pouco tempo atrás, Lander trabalhava numa dessas agências de publicidade especializada em conteúdo on-line. Começou a escrever o blog por diversão. Acabou se transformando em sucesso na web. A editora Random House se ligou e o chamou para transformar o site em livro. Entrevista com ele: http://is.gd/2xVe.


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Falando em sucesso na web, na semana passada, sem querer, me transformei em ‘astro’ de um vídeo que bombou no YouTube (quer dizer, bombou naquele grupinho que acredita que a Mallu Magalhães é um sucesso planetário e que o mundo está de joelhos diante do Bonde do Rolê -ou seja, cerca de 500 pessoas). Sou eu ouvindo um zé ruela falar um monte de asneiras e aí dando uma cortada no sujeito. Isso mostra que acerto ao recusar TODOS os convites para debates musicais. Só que esse não era para ser um debate, e aí…


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Você que estuda jornalismo e quer saber como se faz uma entrevista incisiva sem baixaria, assista: http://is.gd/2xPO. É Charles Gibson, veterano da rede americana ABC, entrevistando Sarah Palin, candidata a vice-presidente do Partido Republicano. Gibson está superbem preparado. Com classe e perguntas afiadas, constrange Palin e expõe a fragilidade intelectual da candidata. Uma aula.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 15 de setembro de 2008


 


CAMPANHA
Ana Paula Scinocca


Na TV, Alckmin usa ‘relaxa’ e ‘vagabundo’


‘A três semanas da eleição e com a ida para o segundo turno ameaçada pelo crescimento de Gilberto Kassab (DEM) nas últimas pesquisas, o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, Geraldo Alckmin, subiu o tom da campanha. A propaganda tucana na TV pôs no ar uma inserção que menciona ‘pontos fracos’ dos adversários Kassab e Marta Suplicy (PT).


Com uniforme de piloto de avião, um ator pergunta ao telespectador se ele prefere ver a cidade nas mãos de alguém que grita com o passageiro (mostra uma foto de Kassab), de alguém que manda relaxar em um momento difícil (exibe imagem de Marta) ou de um ‘comandante sério’, referindo-se a Alckmin.


A inserção faz menção indireta a dois episódios protagonizados pela petista e pelo prefeito. Em fevereiro do ano passado, Kassab expulsou de uma unidade de saúde, aos gritos de ‘vagabundo’, um homem que protestava contra a Lei Cidade Limpa. Em junho de 2007, a então ministra do Turismo sugeriu aos passageiros ‘relaxar e gozar’ para enfrentar o caos aéreo, que prejudicou a vida de milhões de pessoas.


A propaganda, já assinada pelo novo publicitário de Alckmin, Raul Cruz Lima – na semana passada o marqueteiro Lucas Pacheco deixou a campanha depois de ser alvo de críticas de alckmistas -, faz parte da estratégia do ‘tudo ou nada’ do PSDB para tentar emplacar o tucano no segundo turno da disputa.


REPRESENTAÇÃO


Ontem mesmo, o PT já avisou que vai acionar a campanha de Alckmin na Justiça Eleitoral. O advogado do partido, Hélio Silveira, vai alegar, na representação, que a peça é ofensiva. O DEM, de Kassab, também acionou o Tribunal Regional Eleitoral contra o PSDB, mas não pelo conteúdo do comercial, e sim pelo uso de computação gráfica, o que é proibido.


Na rua, Alckmin teve ontem um dia de extensa agenda, na zona leste, reduto eleitoral de Marta.


Em carta intitulada Aviso aos Navegantes, o presidente do PSDB paulistano, José Henrique Reis Lobo, sugere que se ignore o comportamento desleal – referência a tucanos que apóiam Kassab – e anota que o adversário central é o PT.’


 


 


CHILE
O Estado de S. Paulo


Jovens são presos em ato por 35 anos do golpe


‘Cerca de 20 pessoas foram detidas em Santiago durante uma marcha em homenagem às vítimas da ditadura de Augusto Pinochet, cujo golpe completou 35 anos em 11 de Setembro. Realizada por organizações de direitos humanos, a passeata reuniu 3 mil pessoas e foi interrompida pouco antes de passar pelo Memorial dos Mortos e Desaparecidos. Cerca de 100 jovens encapuzados (foto) atiraram pedras na polícia, atearam fogo em pneus e picharam muros. A polícia respondeu à provocação com jatos d?água e bombas de gás lacrimogêneo.’


 


 


PUBLICIDADE
Ana Paula Lacerda


Propaganda interativa vai além da internet e ganha as ruas


‘Quatro copos de polvilho, dois copos de leite, ovos e um anúncio comestível. Essa é uma das receitas disponíveis no site www.comaesteanuncio.com.br, feito pela agência Loducca. O site faz conjunto com o tal ‘anúncio comestível’, uma criação da Loducca para a MTV divulgar um evento sobre sustentabilidade.


‘Tínhamos de unir esses dois temas: jovens e sustentabilidade’, explica Guga Ketzner, diretor de criação da agência. ‘Foi complicado pensar em algo que fosse tão diferente a ponto de chamar a atenção dos jovens, e tão sério quanto o tema do evento.’ No fim, a solução apareceu quando a equipe de Guga se lembrou dos bolos com imagens impressas em papel arroz. ‘Se bolos têm papel comestível, por que não as revistas? Criamos um anúncio em papel arroz comestível, e ainda convidamos as pessoas a enviarem sugestões de receitas para o site. E o mais importante: era um anúncio sustentável, porque era totalmente aproveitável.’


O anúncio comestível é um exemplo de uma das tendências do mercado publicitário: a propaganda interativa. ‘A atenção do consumidor está cada vez mais fragmentada’, diz o professor de criação digital da ESPM, Vicente Martin Mastrocolo. ‘Então, criar uma peça que prenda a atenção da pessoa por dois minutos pode ser considerado um sucesso, e a interatividade, por chamar o consumidor, tem muito mais facilidade em atingir esse objetivo.’


Para ser interativo, o anúncio não precisa estar necessariamente ligado às mídias digitais, como internet e celular, embora nesses casos a interatividade seja mais óbvia. ‘Basta que ele convide a pessoa a fazer alguma coisa com ele, é uma comunicação com escolha’, diz Mastrocolo. ‘Eu não diria nem que a interatividade é uma tendência para o futuro, já é a comunicação de hoje: interativa e integrando várias mídias.’


A DM9DDB teve essa preocupação ao criar a campanha de comunicação do Gas Street Festival, para o Guaraná Antarctica. Foram criados um outdoor onde skatistas faziam manobras em uma pista de skate suspensa, encartes de estêncil em revistas e foi colado um adesivo no chão da estação Trianon-Masp do metrô paulista que, visto do ângulo certo, dava a ilusão de ser uma rampa para esportes de rua.


‘As pessoas olharam, pintaram, se interessaram pelo que criamos’, diz César Valente, presidente da DM9DDB. Ele cita também a ação feita para divulgar a transmissão das Olimpíadas pelo portal Terra. ‘O slogan era ?Olimpíadas em qualquer lugar?. Então, colocamos atletas na rua em tatames, ringues, pistas para os passantes assistirem.’


Valente diz que os clientes pedem cada vez mais que as agências criem coisas diferentes. ‘Não existem velhas mídias, só novas mídias.’ Ele afirma que quem se apega demais às mídias tradicionais fica velho. ‘Mas quem só faz novas mídias fica autista.’ Ele acredita que as criações para o Guaraná deram certo.’Ano passado foram 10 mil pessoas ao Gas Festival, e este ano foram 15 mil’, diz.


Nem sempre, porém, o sucesso de uma campanha pode ser medido em público ou em vendas. ‘Às vezes o resultado direto não é um aumento de vendas, mas um encantamento do consumidor e, por conseqüência, uma atenção maior àquela marca’, diz o vice-presidente de criação da Fischer América, Flávio Casarotti. Ele cita alguns exemplos criados pela agência, como o encarte da cerveja Sol para revistas, em que o consumidor podia colocar os dedos em furos da página e se sentir segurando uma garrafa. Ou então um anúncio da Citroën que vinha com uma borracha: o leitor podia usar a borracha para apagar o texto do anúncio e fazer suas própria anotações.


‘Em todos os trabalhos que fazemos para os clientes, oferecemos uma opção interativa. Geralmente eles gostam. Mas, apesar de gostosas, são mais custosas’, diz. ‘Cabe fazer um trabalho a quatro mãos entre cliente e agência para avaliar se aquela proposta mais inusitada é viável. Pois um anúncio interativo pode ser desde um site a uma página de jornal com marcação de ?dobre aqui? ou um outdoor com instalação hidráulica que mude de posição quando alguém passa na frente.’’


 


 


TELEVISÃO
Patrícia Villalba


Humor de veteranos na praia de Três Irmãs


‘Marcos Caruso e Regina Duarte têm praticamente o mesmo tempo de carreira – mais de 35 anos -, mas trajetórias bastante diferentes. Ela, uma atriz inevitavelmente associada à TV, que se permite escapadas estratégicas para os palcos de teatro. Ele, um ator de teatro que, de papel em papel, acabou sendo fisgado pela televisão.


Os dois se encontram a partir de hoje, como nomes fortes do elenco da jovial Três Irmãs, nova novela das 7 da Globo. Regina viverá Waldete, uma mulher misteriosa com ares de Mary Poppins. Caruso é Alcides, um médico correto e bom pai de família, casado com a vilã da história, Violeta (Vera Holtz).


Na novela-cartão-postal, escrita por Antonio Calmon e dirigida por Dennis Carvalho, Waldete e Alcides devem se encontrar e viver um romance, quando ela se emprega como governanta na casa dele. ‘Não sei como será o envolvimento dos dois, se no capítulo 40 ou no 140. Mas vai dar um bom caldo’, diz Caruso, animado em participar de um triângulo amoroso ficcional com Regina e Vera. ‘Eu já fui marido das duas no teatro. Da Vera, em Intimidade Indecente, e da Regina, em Honra’, diverte-se.


A trama da nova novela, que substitui Beleza Pura, se desenvolve entre pranchas de surfe na cidade fictícia de Caramirim. Conta a história de três belas mulheres – Dora (Claudia Abreu), Alma (Giovanna Antonelli) e Suzana (Carolina Dieckman) -, em clima de comédia romântica, como é praxe nessa faixa de programação da emissora. O ponto de partida da história é o encontro das três moças com três belos surfistas – Bento (Marcos Palmeira), Gregg (Rodrigo Hilbert) e Eros (Paulo Vilhena) -, além da chegada de Waldete à cidade. ‘Quando fiquei sabendo que seria uma novela de surfistas, me animei, achando que ia sobrar alguma cena de surfe pra mim. Mas, por enquanto, nada do meu personagem surfar’, lamenta Caruso, entre risos.’


 


 


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‘Só vê novela quem não tem nada melhor para fazer’


‘Uma Mary Poppins camaleoa e felliniana marca a volta da atriz Regina Duarte ao humor, escracho e exuberância de tipos que fazem a história da TV, como a Viúva Porcina de Roque Santeiro (1985) e a Maria do Carmo de Rainha da Sucata (1990). Em Três Irmãs, novela das 7 da Globo que estréia hoje, ela é Waldete, uma misteriosa empregada doméstica. Sinistra, ela desce de um ônibus logo no começo da novela para bagunçar o coreto da pequena cidade fictícia de Caramirim e ser um dos vértices do triângulo amoroso que terá ainda o médico Alcides (Marcos Caruso) e a vilã Violeta (Vera Holtz). Entre secadores, num salão de beleza nos Jardins, a atriz conversou com o Estado.


Do que já foi apresentado sobre a Waldete, dá para perceber que é sua volta ao humor, depois de várias personagens densas, e à caracterização dos tempos da Viúva Porcina, de Roque Santeiro. É isso mesmo?


É. Ela é uma personagem leve comparada às que eu vinha fazendo. Ao mesmo tempo, ela tem um mistério, que pode ser considerado também uma coisa pesada, digamos, porque a gente não sabe ainda o que ela está fazendo naquela cidade. Ela surge como uma Mary Poppins que vem procurar trabalho e se impõe na casa da vilã, Violeta, como governanta. É uma mulher que surge usando botas do início do século, chapéu de 1800, sombrinha de 1700. É uma colecionadora de adereços e objetos e se veste de uma forma absolutamente inusitada.


É por isso que já vi você vestida como Mary Poppins, cigana, empregada… É meio felliniana.


Sim, é felliniana. Acho que ela é performática. Quando precisa se aproximar de alguém, se veste de acordo. Ela é muito sedutora, engraçada, filosófica. Se mete nos problemas dos outros, dá conselhos. Acho uma personagem riquíssima. Tenho até medo de não dar conta de tudo o que ela sugere. Tem personagem que você sabe meia dúzia de características e trabalha com base nessas características. Mas, no caso dela, como tem tantas possibilidades, não tem um passado definido, pode ser tudo. E isso é imenso, daí a dificuldade.


Já está claro que ela é ‘do bem’, então?


Acho que ela é basicamente do bem, sim. Mas tem alguns deslizes, não é uma santa. Eu gosto disso, dessa dubiedade. Já fiz várias santas, gosto das santas, mas brincar com essa dubiedade é fascinante. É muito ingrato você ser a boa, né? Tão coitadinha, sempre choramingando, sempre sofrendo. A boa é passada para trás o tempo todo.


Falando nisso, você fez muitas boazinhas, foi a ‘namoradinha do Brasil’. Hoje as mocinhas das novelas agüentam muita reclamação, são chamadas de tontas. O que se conclui é que o público de hoje tende a valorizar os que não medem esforços para ascender socialmente. Na sua época de doce mocinha já era assim ou elas eram melhor compreendidas?


Que nada, já era assim! A mocinha é necessária, sem ela não há história. A vilã tem de vitimar alguém. Então, quem faz esse papel? Alguém tem de fazer. Isso para mim ficou bastante claro na novela do Gilberto (Braga, ?Paraíso Tropical?), onde havia três tipos de mulher: as gêmeas – uma totalmente boa e outra totalmente má -, e aquela mulher intermediária (Bebel, papel de Camila Pitanga), que não era boa nem má, e era um joguete no meio social. É claro que ela ficou mais simpática para o público, porque não tinha de ficar chorando o tempo inteiro, sempre tão passiva.


Depois de 30 anos na Globo fazendo novelas, como escolhe os papéis? Recebe muitos convites?


Não. Teve uma época em que eu era muito chamada. Se não estivesse no ar, era convidada. Fiz muitas novelas, e só não aceitava um papel quando tinha algum problema pessoal ou quando achava que não poderia viver aquele personagem.


Há uma cobrança da direção da Globo sobre atores como você, da prata da casa, para que estejam no vídeo, dando credibilidade às produções?


Não, acho que pelo contrário. Penso que isso acontece mais com os que estão começando, que precisam consolidar uma trajetória. Quem já fez muita coisa, como eu, não precisa estar no ar o tempo inteiro. Preciso de um tempo também, que eu chamo de reciclagem. Quem já fez mais de 30 novelas, tantos seriados e especiais como eu, é mais difícil ter fôlego para não se repetir.


Pelo que vejo das escalações de elenco, achei que fosse imprescindível ter um Toni Ramos, um Tarcísio Meira, uma Glória Menezes numa novela, ainda mais em tempos de concorrência acirrada pela audiência…


Espero que conte, senão o meu contrato se desvaloriza! Mas você quer saber realmente o que eu acho? Acho que o grande atrativo da novela é ainda a falta de opção das pessoas. O sucesso, a audiência de uma novela, para mim, é resultado da disponibilidade daquele público. Não acredito que ninguém deixe de viver a vida e ser feliz por causa de uma novela. O mundo tem tanta coisa para se fazer, que eu acho que o público da novela precisa dela – se é com A, com B ou com C, não importa. É um público que precisa ver alguma coisa que o faça esquecer dos problemas. É uma companheira da solidão e é também a falta de outras opções de lazer.


Nossa…


Nossa, o quê? Quem gosta de novela gosta de novela. E assiste a todas. Essa é boa, aquela é melhor um pouquinho, aquela outra é ruim, mas a pessoa vê, porque não tem nada melhor para fazer naquele horário.


Vou inverter uma pergunta que fiz ao Marcos Caruso: o que o teatro lhe dá que a carreira de 30 anos na TV não lhe deu?


É o laboratório do ator. A TV é uma vitrine, onde você apresenta tudo o que pesquisou no teatro – ela te dá um capítulo hoje para gravar amanhã. Se você não tem aquela bagagem adquirida lá no teatro para poder responder rapidamente a um texto com conteúdo, não consegue fazer com credibilidade. O grande barato é que os dois são ótimos.’


 


 


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‘A Globo sabe que sou do teatro’


‘Demorou mais de 30 anos, mas já é fato que a TV fisgou Marcos Caruso. Sempre reconhecido por atuar, dirigir, escrever e militar no teatro, o ator volta à TV hoje, na novela Três Irmãs, alguns meses depois de encerrada sua participação em Desejo Proibido, novela das 6, em que divertiu como o rabugento Padre Inácio. Desta vez, Caruso será um médico, Alcides, novamente bom pai de família, como foi o Alex, de Páginas da Vida (2006). E, como naquela novela, terá mais uma vez uma mulher tirana, Violeta (Vera Holtz), como foi a Marta (Lilia Cabral). Agora, porém, não será um banana, avisa. O ator recebeu o Estado em sua casa, em Higienópolis, para falar sobre o novo papel e sobre a aventura de ser um ator de teatro emprestado à televisão.


Mal saiu do Padre Inácio, já está como Alcides. Depois de tanto tempo dedicado quase que exclusivamente ao teatro, a TV o pegou de vez? É vontade sua permanecer tanto tempo no ar?


Não, não é vontade minha. Tenho 35 anos de profissão, sobrevivendo praticamente apenas do teatro. Tive a sorte de ter feito trabalhos importantes na televisão, como o Éramos Seis, no SBT. Mas depois de Páginas da Vida, a Globo resolveu me contratar. Fui muito reticente quanto a esse contrato, porque achava que correria o risco de emendar um trabalho no outro e, ainda, fazer personagens parecidos dentro de um rótulo que a televisão acaba impondo a alguns atores. Saí do Alex de Páginas da Vida, um personagem totalmente dramático, para um personagem delicioso, o Padre Inácio de Desejo Proibido, que me levou para a comédia, que não havia feito ainda em televisão. Agora, faço de novo um pai compreensivo, um marido que se subordina a uma mulher mais forte que, de certa forma, já interpretei em outras novelas. Eu tinha esse medo e aconteceu. Então, estou tentando driblar essa mesmice de caráter do personagem, para não fazer igual ao que eu já fiz. É um desafio diferente. Então, voltando, a televisão me pegou, sim. Estou contratado e muito feliz.


Mas essa amarra com a TV não atrapalha seus planos no teatro?


Não. Não abro mão do teatro em nenhum momento, foi uma condição para assinar o contrato. Preciso do teatro, preciso me exercitar. Aconteceu de eu ter transferido um projeto, As Pontes de Madison, que estrearia em outubro, e aí o Dennis (Carvalho) me chamou. Achei que seria legal fazer, já que a peça teria sido adiada. Quando terminar a novela, em maio do ano que vem, estréia a peça. Eu continuo fazendo o meu teatro. A televisão é uma vitrine para o meu trabalho teatral. A Globo sabe que sou um ator de teatro que está fazendo televisão.


O Alcides é marido da vilã, Violeta. Vai sofrer como o Alex de Páginas da Vida, que era casado com a terrível Marta?


O Alcides é muito menos sofrido. Alex era dominado pela mulher no plano financeiro, ele trabalhava, mas não ia para a frente. Ele precisava se alimentar daquela mulher autoritária para justificar a sua incapacidade. No caso do Alcides, não, porque ele é muito rico. Ele tem uma certa resignação, mas não é um fraco. A falha trágica dele é amar essa mulher. Ela o traiu no passado, ele perdoou, e está convencido de que ela vai voltar a amá-lo.


É sintomático, então, que ele se interesse pela governanta?


Não sei de nada. O que me foi vendido, pela sinopse e pelo autor, é que mais tarde o Alcides vai se apaixonar pela Waldete (Regina Duarte). Não sei se no capítulo 40 ou no 140. Mas vai dar um caldo legal. Já fui marido das duas no teatro. Da Vera em Intimidade Indecente e da Regina em Honra.


Você acha que com a Catarina de A Favorita, a Lilia Cabral está pagando os pecados da Marta, de Páginas da Vida?


Claro que está! Ela não só está apanhando do marido, como terá de amparar a filha adolescente grávida. Já brinquei com ela: ‘Que destino, hein, Lilia Cabral!’


O que a TV lhe dá que o teatro não lhe deu em 30 anos de carreira?


A TV me dá a oportunidade de exercitar a minha memória, porque eu sou obrigado a decorar 20 páginas de um dia para o outro. E esse texto é deletado da minha memória um segundo depois de ter feito a cena. Na TV, você descobre elementos de memória emotiva para viver uma determinada situação. Por isso que detesto quando a imprensa vem me contar coisas que vão acontecer com o personagem. Não me contem, por favor! Eu quero receber o capítulo e ter a primeira sensação, como personagem, e a partir daí desenvolver o meu trabalho. A televisão me dá a oportunidade de trabalhar sobre o inesperado. O teatro, não.’


 


 


Cristina Padiglione


Há controvérsias


‘Autora do programa TV 190 (ou Força-Tarefa, como foi batizado o projeto na Globo), a produtora Medialand prevê sua estréia ainda para setembro, nas noites de quinta-feira. Consultada pelo Estado sobre os riscos de a idéia resultar num programa chapa-branca, visto que mostra só ações bem-sucedidas das polícias de São Paulo, incluindo resgate e Corpo de Bombeiros, a Globo responde que ‘o programa ainda não foi aprovado’. ‘O Força-Tarefa é um projeto da Medialand, ainda em avaliação pela TV Globo’, informa-nos a Central Globo de Comunicação.


Idealizadora do projeto e dona da Medialand, Carla Albuquerque defende que o programa é um ‘reality’. Como referência, cita similares nos Estados Unidos, com perseguições policiais e detalhes em investigações científicas. ‘Nosso alvo é a ação policial, não o criminoso’, assegura Dácio Nitrini, diretor-geral da Medialand. O jornalista ressalta que o Força-Tarefa será um programa de entretenimento, não de jornalismo. E se um policial tratado como herói no programa comete uma atrocidade amanhã? Neste caso, a denúncia futura será normalmente tratada pelo jornalismo, respondem Nitrini e Carla.’


 


 


TELINHA
Roberta Pennafort


Primeiro longa feito para celular chega em janeiro


‘O que você faz para passar o tempo quando está no engarrafamento de todo dia, enquanto espera por uma consulta médica ou ainda aquele amigo sempre atrasado? Já pensou na possibilidade de assistir a um filme pelo celular? Vida de Balconista, possivelmente o primeiro longa-metragem feito no Brasil para caber na telinha do aparelho, tem lançamento previsto para janeiro de 2009, e pode ser uma boa pedida para esses e outros momentos.


Achou a idéia estranha? Que nada. O filme teve origem na série Mateus, o Balconista, que a Oi TV Móvel transmite desde março. Passa no Humanóides – o primeiro canal de TV para celular com fluxo contínuo de dados (sem ter de baixar no aparelho) -, assim como outros programas de humor que giram em torno de personagens curiosos: uma moça que sofre de amnésia, um chef de cozinha estressado e um sujeito que vive na pindaíba, entre outros. Os episódios custam baratinho, mas só podem ser vistos por quem tem celulares de determinados modelos.


Mateus é balconista de uma locadora de filmes que interage com seus clientes nada normais. Para a série, foram produzidos episódios de três a cinco minutos cada um. Os tipos são os mais esquisitos possíveis – e o incrível é que eles existem mesmo, e povoam a locadora carioca Cavídeo, de Cavi Borges, o diretor e um dos criadores do filme (com o ator Pedro Monteiro). Tem o cinéfilo, o falso cinéfilo, a gostosa, o devedor, a carente, a mulher que só gosta de filme do Van Damme…


O protagonista é vivido por Mateus Solano, o balconista que sonha em ser um Tarantino um dia. Metido e galanteador, ele faz rir, seja ao debochar do ‘cliente-lançamento’, para quem ‘filme bom é filme novo’, ao desmanchar-se pela gostosa, para quem libera uma dívida, ou ao buscar um filme para o sujeito chato que diz ter visto todos os títulos da locadora.


‘Isso é o que mais existe. Na verdade, esse cara não viu nada e ainda é mal-humorado’, entrega Cavi, um ex-judoca boa-praça que abriu sua loja há 11 anos e acabou virando diretor de cinema (com Emílio Domingos, ele está lançando o documentário L.A.P.A., sobre o universo hip-hop da Lapa carioca).


O filme custou R$ 12 mil, está sendo montado e deverá ficar com 70 minutos. A Oi está negociando a exibição em seus aparelhos. ‘Celular pede coisas rápidas, então, de repente, pode nem dar certo’, brinca Cavi. ‘Mas o filme é todo fragmentado, são como esquetes que funcionam sozinhas.’ O amigo e companheiro de projeto Pedro Monteiro, que no filme é o cinéfilo, lembra que as situações foram retratas sob uma lente de aumento – a idéia é fazer graça mesmo.


Todos os personagens ficaram com atores de teatro. As filmagens, feitas de uma tacada só na própria Cavídeo, e de madrugada, duraram dez horas. Solano teve de decorar textos e mais textos. ‘É um orgulho estar fazendo uma coisa inédita, mas não fiquei pensando nisso. O legal é que o primeiro produto para celular seja focado no trabalho do ator.’ O ator viverá Ronaldo Bôscoli na minissérie da TV Globo Maysa, também no ar a partir de janeiro.


As referências cinematográficas são muitas, a começar por O Balconista (Clerks), o filme de 1994 que chamou a atenção do mundo para Kevin Smith. Nele, as figuras centrais são dois amigos, um atendente de uma loja de conveniência e outro de uma locadora vizinha, que passam por situações inusitadas durante todo o dia.’


 


 


FOTOGRAFIA
O Estado de S. Paulo


Bastidores do jornalismo


‘Francisco Moreira Silva, conhecido como Bill Silva, é motorista do Grupo Estado, mas também se dedica a fotografar os bastidores do trabalho jornalístico. A partir de hoje e até dia 15 de outubro, ele apresenta na unidade da Unip localizada na Rua Amazonas da Silva, 737, Vila Guilherme, sua 16.ª exposição com 30 fotografias de sua série Por trás das Lentes.’


 


 


 


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