Friday, 10 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Le Monde muda de dono

É o fim de uma era. Le Monde está à venda.

Pela primeira vez desde que foi fundado por Beuve-Méry, em 1944, o jornal deixará de ter seus jornalistas como acionistas majoritários. Estes, consequência natural, sempre mantiveram o controle da linha editorial do Le Monde. Uma nova história começa para o jornal e para os jornalistas que formam a Société des Rédacteurs du Monde. Nas negociações tudo está previsto para que a Redação não perca a independência que sempre caracterizou o veículo.

Neste mês de junho, o ‘jornal de referência’ francês vai abrir suas portas para receber novo (ou novos) acionista(s) no que ele mesmo denominou ‘processo de recapitalização’. Até o dia 14 de junho os candidatos potenciais deverão se apresentar com um gordo cheque de 60 milhões de euros para injetar nova energia no grupo, que possui o jornal mais importante da França, além do Courrier International, da revista Télérama, do jornal La Vie, da revista Le Monde Magazine e da revista mensal Le Mensuel.

Direito de veto

No Le Monde de sexta-feira (4/6), o diretor do jornal, Eric Fottorino, escreveu um longo editorial para explicar aos leitores o processo que vai injetar o dinheiro de que o jornal precisa para continuar a existir sem acumular dívidas. ‘A independência de um grupo de imprensa é também função de seus resultados: é ganhando dinheiro que – para reinvestir na sua atividade principal – Le Monde garantirá sua verdadeira independência’, escreveu Fottorino.

‘Quem quer que seja o candidato escolhido, a Sociedade dos Redatores do Monde perderá o controle majoritário para o novo proprietário’, dizia o editorial, acrescentando que a principal preocupação dos jornalistas será obter por escrito do novo acionista a garantia de que não tentará intervir de forma alguma no conteúdo de qualquer dos títulos do grupo Le Monde.

Entre os possíveis interessados estão o grupo espanhol Prisa, proprietário de El País, o grupo Nouvel Observateur, que já tem parte das ações do Monde, e um trio de empresários composto por Pierre Bergé, o banqueiro Mathieu Pigasse e por Xavier Niel, fundador da empresa de telecomunicação Free. Além desses, o grupo de imprensa suíço Ringier e um outro grupo estrangeiro que prefere manter o anonimato também estão interessados no jornal. O grupo Lagardère, que possui ações do grupo Le Monde, não se mostrou interessado em aumentar sua participação.

Segundo o jornal Libération, que noticiou em duas páginas a busca de novos capitais do jornal rival, o grupo Le Monde teve perdas de 25 milhões de euros em 2009 para um volume de negócios de 400 milhões de euros.

Para garantir que, qualquer que seja o novo acionista, os jornalistas definirão sempre a linha do jornal, este deverá manter o direito de veto da Société des Redacteurs du Monde na escolha do diretor da publicação. Além disso, esse novo sócio deverá aceitar uma constituição interna que protege os jornalistas de toda tentativa de pressão.

Que jornal brasileiro pode sonhar com tal situação idílica?

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Jornalista