Wednesday, 09 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Muito barulho, pouca informação

Os jornais e revistas entraram num jogo arriscado na última semana: eles parecem estar apostando tudo na possibilidade de reverter o quadro pintado nas pesquisas de intenção de voto, a partir do escândalo da invasão de dados sigilosos da Receita Federal que, entre mais de uma centena de vítimas, inclui personalidades ligadas ao PSDB e familiares do ex-governador José Serra.


No fim de semana, esse era o tema predominante em toda a chamada imprensa de circulação nacional. Mas não se percebe um esforço real pelo esclarecimento dos fatos.


As reportagens e declarações fazem muito barulho mas indicam mais empenho em provar uma tese preexistente do que em avançar na investigação. Diante da confusão que se forma, a tendência é de que cada leitor continue com a opinião que já tinha antes, o que não vai produzir a ‘virada’ esperada pela oposição e claramente desejada pela imprensa. Assim, o cenário pintado nas pesquisas de intenção de voto se consolida em favor da continuidade no poder federal, enquanto a imagem das instituições públicas sofre com o escândalo.


Rede de intrigas


O esforço da imprensa por demonstrar que os acessos ilegais a informações de contribuintes na Receita Federal fazem parte de intrigas de campanha eleitoral só oferece elementos para convicção de quem já está convencido.


A longa reportagem da revista Época, bem como parte do material dos jornais, ao observar que as primeiras invasões ocorreram em abril de 2009, quando a candidata governista ainda não havia sido lançada, insinuam que pelo menos parte dos acessos ilegais tinha relação com a disputa entre os ex-governadores Aécio Neves e José Serra pela candidatura da oposição.


Mas o trânsito desses dados até as mãos de militantes petistas engajados na campanha da candidata Dilma Rousseff acaba dando margem ao escândalo que a imprensa reverbera.


Ações de espionagem, dossiês e arquivos sujos fazem parte de todas as estratégias de campanha, e costumam começar bem antes das disputas eleitorais. Todos os partidos mantêm esses volumes e os atualizam constantemente, usando quase sempre arquivos da imprensa, muitas vezes feitos sob encomenda.


O ataque aos dados da Receita, por afetar a credibilidade do órgão público, deveria ser desvinculado da briga eleitoral e tratado como o ato criminoso que representa. Mas a imprensa que faz parte dessa rede de intrigas tem condições de investigar?