Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Puxando o fio da meada

A leitura dos chamados jornais de circulação nacional revela diferenças nas abordagens de cada um para o escândalo que envolve o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, seu partido e integrantes da sua base na Assembléia Distrital.


A Folha de S.Paulo usa manchete de página inteira para demonstrar que o esquema de distribuição de propinas a deputados era de total responsabilidade do próprio governador.


Além disso, engrossa as apostas de que Arruda será mesmo desligado do partido Democratas e especula com cautela sobre as possíveis conseqüências do escândalo nas eleições de 2010.


Todos os grandes diários se referem a uma frase do presidente da República, que se negou a antecipar uma opinião com base nas imagens de parlamentares recebendo dinheiro. Mas apenas o Globo transformou a declaração do presidente em manchete, o que mal disfarça uma tentativa grosseira de desviar a atenção do verdadeiro centro do escândalo: um esquema de captação de recursos através da concessão de serviços públicos superfaturados no Distrito Federal para distribuição a parlamentares e outras personagens públicas.


O desenho, as cores e os textos da primeira página do Globo são uma verdadeira aula de manipulação de informações.


O Estado de S.Paulo faz a cobertura mais aberta, diversificada e esclarecedora do escândalo nesta quarta-feira. Além de contextualizar melhor as declarações, dá ao leitor uma idéia de como funcionam tais esquemas.


A primeira página da série de reportagens sobre o chamado ‘mensalão do DEM’ em Brasília informa que o Conselho Nacional de Justiça vai investigar a participação de desembargadores do Distrito Federal, que teriam recebido propinas para julgar favoravelmente processos de interesse do governador Arruda e seus aliados.


O Estadão informa ainda que as mesmas empresas envolvidas no escândalo de Brasília mantêm contratos com a prefeitura de São Paulo, cujo prefeito também é filiado ao partido Democratas. O noticiário geral ainda traz informações adicionais de outro escândalo, que envolve a empreiteira Camargo Corrêa.


Segundo a Folha de S.Paulo, a empresa teria distribuído propinas a cerca de 200 figuras públicas, entre deputados, secretários municipais, conselheiros e ministros de Tribunais de Contas. Bem agora, quando começam a se organizar as chapas para as eleições do ano que vem, é a hora de a imprensa revelar essas fragilidades da República.


Não dá mais tempo de votar uma reforma, mas ainda é possível carimbar certas candidaturas suspeitas.