Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O remédio da informação

As Nações Unidas estão pedindo U$S 1 bilhão para uma luta que definem como uma crise de saúde sem precedentes nos tempos modernos. Os fundos necessários para enfrentar uma situação que só piora se incrementaram dez vezes em apenas um mês. A União Europeia prometeu 140 milhões de euros; Barack Obama ofereceu, além de dinheiro, tropas para construir centros de saúde, distribuir kits nas residências e ajudar no treinamento; a China prometeu um laboratório móvel e Cuba vai mandar médicos. Tudo com máxima urgência porque, nas palavras de Joanne Liu, presidente de Médicos Sem Fronteiras, “a janela de oportunidade para conter o surto [de ebola] está se fechando”. Mas as necessidades vão além, segundo nos alertam os nossos colegas africanos.

A Federação Mundial de Jornalistas Científicos divulgou um pedido feito pelas associações de jornalistas científicos do Congo, Benin, Burkina Faso, Camarões, Costa de Martim, Quênia, Nigéria, Togo, Uganda, Zimbábue, África do Sul, e a Federação Africana de Jornalistas Científicos. O título e direto: “Ebola outbreak and the urgent need for Science journalists” (O surto de Ebola e a necessidade urgente de jornalistas científicos) e pode ser lido aqui (em inglês). “O surto da doença pelo vírus Ebola (EVD) na África ocidental ressalta a necessidade urgente de diminuir a distância entre cientistas, jornalistas e as comunidades.”

Informação necessária

Além da devastação do EVD, uma comunicação pobre aumentou o medo no público e semeou confusão entre cientistas e jornalistas que reportam o surto. Afora referir as questões que podem estar aumentando o risco de propagação da doença na África Ocidental, o texto pretende ter abrangência global no mundo no qual os recursos online e as mídias sociais se usam com frequência para a divulgação imediata. “A necessidade de jornalistas científicos fica mais crítica por termos os conhecimentos e as ferramentas requeridas para separar o fluxo de boatos e gerar informação confiável e efetiva, contextualizando e relacionando o que vem de cientistas, políticos, médicos e testemunhas oculares, e criar histórias coerentes, compreensíveis e em uma linguagem que provoque engajamento e seja útil para o público.”

Os nossos colegas fazem um pedido concreto aos governos e organizações locais e internacionais: reconhecer o valor dos jornalistas científicos e o seu papel crítico na saúde pública. “Pedimos para apoiar ativamente o desenvolvimento de um grupo robusto, informado e treinado de jornalistas científicos na África. Assim, quando questões como Ebola surgem, haverá comunicadores capazes de interpretar a informação, tanto para os formuladores de políticas como para o público.”

Nesta crise sanitária, não apenas as máscaras e as luvas são imprescindíveis. A boa informação também salva vidas.

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Roxana Tabakman é bióloga e jornalista, autora de A Saúde na Mídia. Medicina para jornalistas, jornalismo para médicos (Ed. Summus)