Saturday, 05 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Apresentador do SBT demitido por esmurrar produtor

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha Online


Sexta-feira, 21 de março de 2008


BAIXARIA NA TV
Folha Online


Apresentador do ‘Aqui Agora’ esmurra produtor e é demitido


‘O apresentador do ‘Aqui Agora’ Herberth de Souza foi demitido ontem (20) do SBT após socar o rosto de um colega de trabalho, o produtor Renato Coimbra. A briga aconteceu enquanto o programa exibia uma reportagem. O motivo da agressão seria, entre outros, por divergências em relação à posição de Herberth no palco.


De acordo com testemunhas, o apresentador ‘voou’ em cima do produtor. Houve intervenção do pessoal do ‘deixa disso’, e Albino de Castro, diretor da atração, pediu para Herberth sair do estúdio.


O telejornal continuou como se nada tivesse ocorrido, sem Souza. Ele foi demitido no mesmo dia.


De acordo com a assessoria de imprensa da emissora, que confirma o caso, Coimbra passa bem. O produtor disse ontem que faria um BO de lesão corporal. A reportagem tentou entrar em contato com Coimbra e Souza, sem sucesso.


No site do SBT, a imagem e o perfil de Herberth de Souza foram excluídos –sobrou apenas uma pequena referência, no texto que resume as intenções do telejornal. O SBT, por meio de sua assessoria de imprensa, informa que não definiu ainda se vai levar o programa à frente com um trio (Joyce Ribeiro, Luiz Bacci, Christina Rocha) ou se um novo apresentador será contratado.’


 


 


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 21 de março de 2008


DE NOVO
Dimitri do Vale


Requião ataca mídia ‘golpista’, e Lula o apóia


‘O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), aproveitou o evento de ontem em Foz do Iguaçu (PR) com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para criticar mais uma vez a imprensa, tachando-a de ‘subordinada ao mercado’ e ‘golpista’. Ao final, ele recebeu o apoio do presidente.


Ao ser anunciado para falar em evento do governo federal na usina de Itaipu, o governador disse que a mídia é ‘subordinada ao mercado’ e quer ‘depor’ o presidente.


Requião abriu o discurso com ironias sobre o tratamento que seria dado ao evento de Foz hoje nos jornais. Ele passou a elencar supostas manchetes. ‘A primeira delas [manchetes]: dão a palavra ao governador Requião, e o presidente Lula foge do palco’, disse, ao se referir a uma ida de Lula ao banheiro. Em seguida, Requião afirmou que não interessa aos meios de comunicação noticiar fatos positivos.


‘Você abre um jornal do Paraná e do Brasil e parece que não acontece nada de bom no território. O crime ocorreu numa pequena cidade do interior do Estado do Norte ou do Sul e é transformado em manchete nacional. Como diz o [jornalista] Paulo Henrique Amorim, presidente Lula, é o famoso PIG (Partido da Imprensa Golpista). A imprensa golpista quer, de qualquer forma, depor o governo popular.’


Em janeiro, Requião foi proibido de usar o programa ‘Escola de Governo’, da TV Educativa do Estado, para ofender a imprensa e seus adversários.


Após a decisão, ele apareceu na TV com o som cortado e a palavra ‘censurado’ na tela, e acabou sendo multado em R$ 50 mil por descumprir a decisão.


Na época, Requião afirmou que precisava da TV pública para se comunicar diretamente com a população: ‘Não posso ficar com o governo inteiro ao sabor da opinião da mídia paga, subsidiada pelo capital e pelos interesses’. Disse ainda que ‘parte da imprensa’ se mostrou ‘entusiasta da censura’ ao apoiar decisão judicial que o proibiu de usar a TV.


No final de seu pronunciamento, Lula apoiou o discurso do governador do Paraná. O presidente afirmou que depois dos 60 anos de idade ‘não vale a pena ter azia por ter lido alguma coisa em alguma coluna’. Para Lula, ‘o povo está mais esperto’ e não precisa mais de ‘atravessadores’ para saber o que está acontecendo no país.


‘Eu acho que você [Requião] não tem que perder tempo brigando. O povo é inteligente demais. Teve um tempo no Brasil que se achava que tinha formadores de opinião que falavam pelo povo. É como se fossem um atravessador, um intermediário. Hoje o povo está mais esperto, hoje [a população diz]: ‘Eu não preciso de tradutor’, afirmou o presidente.’


 


SÃO PAULO
Clóvis Rossi


Nem o Duda


‘SÃO PAULO – Na campanha eleitoral paulistana de 1996, o marqueteiro Duda Mendonça, então a serviço do malufismo ou, mais exatamente, do candidato malufista Celso Pitta, espalhou outdoors pela cidade com a ordem: ‘Não deixe São Paulo parar’.


À época, escrevi: ‘São Paulo já parou faz tempo. E o padrinho de Pitta, Paulo Maluf, tem parte da culpa. Quem já foi prefeito, governador e secretário de Transportes deveria ter descoberto que só há um caminho para evitar ou atenuar o colapso do trânsito urbano: transporte coletivo, especialmente metrô, de boa qualidade’.


Doze anos depois, ficamos assim: além do malufismo, diretamente e pela interposta pessoa de Pitta, governaram São Paulo o petismo (Marta Suplicy e, antes dela e de Maluf, Luiza Erundina), o tucanato (José Serra) e agora o demo, digo, o DEM (Gilberto Kassab).


Ou, posto de outra forma, todas as famílias políticas relevantes na cidade e no Estado já tiveram sua chance de ‘não deixar São Paulo parar’ e fracassaram redondamente.


Se, em 1996, já era óbvio que São Paulo havia parado, o que dizer agora?


Talvez bancar o avestruz, como o fez a Secretaria Municipal de Transportes, em carta ao ‘Painel do Leitor’, para informar que mudou a metodologia de medição dos congestionamentos e os 100 km de antes são iguais aos 200 km de agora.


Deveria, antes de escrever tolices, combinar com o prefeito, que acaba de lançar o seu pacote de trânsito, exatamente porque os congestionamentos se tornaram mais agudos e mais insuportáveis.


Pena que o pacote seja tímido. Desconfio até que meu palpite de 12 anos atrás (transporte coletivo de boa qualidade) esteja superado. Ou, mais exatamente, antes de que se consiga implementá-lo, a cidade vai parar definitiva e irremediavelmente. Não haverá Duda Mendonça capaz de dar jeito.’


 


ESQUERDA
Nelson Motta


Frases obscenas


‘RIO DE JANEIRO – Jovem e fervoroso revolucionário, um dia comentei com meu avô que alguma coisa era boa, mas cara, e ouvi, chocado, um velho professor amigo dele me dizer com naturalidade: ‘Mas tudo que é caro é bom, meu filho’.


Sorrindo da minha indignação, ressalvou que nem tudo que é barato é ruim, que era possível que algo barato fosse bom, e que nem tudo que é bom é caro, já que algumas das melhores coisas da vida são de graça. Mas manteve a frase obscena.


E mais: me assegurou que o ser humano não vende mais barato o que pode vender mais caro, que ninguém quer o pior se pode ter o melhor e que uma das leis irrevogáveis da humanidade é a da oferta e da procura. Me senti ultrajado.


Mas ao longo dos 40 anos seguintes fui entendendo que era só uma generalização provocativa paulo-franciana, nelson-rodrigueana, pelo prazer da frase e da ironia, e me lembrei dele muitas vezes, com um sorriso, do velho cínico. E sábio.


O que diria ele agora, quando tantos ainda crêem que ‘tudo que é de esquerda é bom’? Sem ressalvas, já que tudo que não é de esquerda, de direita é, portanto, do mal. Quem ler, digamos, o Zé Dirceu, vai acreditar que a esquerda é generosa com os pobres e oprimidos, quer a igualdade e a fraternidade, é trabalhadora, honesta, não rouba, só pensa no bem do povo e do país. Os que apenas são contra a esquerda são autoritários, gananciosos, só pensam em dinheiro, em explorar os pobres, em atrasar o país, em pilhar o Estado. É patético.


O óbvio ululante é que há cada vez mais gente que não é de esquerda mas tem as qualidades que ela se atribui, assim como há muitos esquerdistas no poder que fazem justamente o que atribuem a seus opostos. Mas, o que seria dos zé-dirceus se não fosse ‘a direita’?’


 


PESQUISA
José Afonso da Silva


A questão das células-tronco embrionárias


‘O SUPREMO Tribunal Federal começou a julgar a constitucionalidade dos dispositivos da lei 11.105/2005 que permitem, ‘para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos in vitro e não utilizados no respectivo procedimento’.


É um julgamento da esperança para milhares de pessoas que aguardam o seguimento dessas pesquisas, essenciais às suas vidas.


A Constituição oferece fundamentos para tais pesquisas, ao declarar livre a expressão da atividade científica (art. 5º, IX) e determinar que o Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológica, de modo prioritário, tendo em vista o bem público e o progresso das ciências (art. 218).


Há também princípios dentro dos quais se movem essas pesquisas em respeito a valores e direitos fundamentais. Dois deles são pertinentes aqui: o princípio do respeito à vida (art. 5º, ‘caput’) e o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III).


Aqui é que se inserem questões angustiantes quanto à natureza do embrião humano. Os concepcionistas entendem que a vida começa com a concepção, o ‘ser concebido’ já é pessoa, independentemente de sua viabilidade, e, portanto, o embrião, sendo vida humana, deve ser protegido pelo direito.


Ao contrário, os natalistas entendem que o embrião é parte das vísceras maternas, não é pessoa e, assim, a situação do embrião congelado deve ser colocada apenas no campo da ética. E a lei é muito cautelosa e exigente nesse aspecto, estatui regras impositivas do respeito à ética, assim como vedações e restrições às pesquisas nesse campo.


Há, porém, uma concepção intermediária capaz de propiciar a solução do problema e que chamarei de escola nidista, segundo a qual ‘somente se poderá falar em ‘nascituro’ quando houver a nidação do ovo. Embora a vida se inicie com a fecundação, é a nidação -momento em que a gravidez começa- que garante a sobrevida do ovo, sua viabilidade. Assim sendo, o embrião, na fecundação in vitro, não se considera nascituro’.


Os concepcionistas condenam as pesquisas com células embrionárias, tachando de aborto a destruição de embriões congelados. Aborto não será, porque aborto é interrupção provocada da gravidez, que só começa com a nidação. Sem esta, não há gravidez, logo, nem aborto.


A dignidade da pessoa humana é valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem. Logo, as pesquisas e a tecnologia dos genomas humanos hão de respeitar esse valor, que deve funcionar como um espelho aos cientistas e pesquisadores, para que não se olvidem da humanidade (Adriana Diaféria).


Daí derivam outros princípios a serem observados na manipulação genética, tais como: – o princípio da necessidade -todo experimento científico a ser realizado no material genético humano deve comprovar a real necessidade para o conhecimento, a saúde e a qualidade de vida humanos; – o princípio da integridade do patrimônio genético, que veda manipulações em genes humanos para interferir na composição do material genético com o fim de ‘melhorar’ determinadas características fenotípicas; – o princípio da avaliação prévia -a pesquisa do patrimônio genético humano deve ser precedida de avaliação dos potenciais e benefícios a serem colhidos; – o princípio do conhecimento informado, que exige a manifestação da vontade, livre e espontânea, das pessoas envolvidas. Foi nesse quadro de exigências constitucionais que se plasmou a lei questionada.


Há quem diga que a ciência ainda não chegou a definições precisas com relação aos benefícios da utilização das células-tronco embrionária na cura de doenças.


Mas há indicações seguras de sua potencialidade e de que sua aplicação pode curar diversas doenças. ‘A gente sabe que as células embrionárias têm a capacidade de formar qualquer tecido especializado. Mas não adianta colocá-las no organismo e esperar que elas façam o seu papel. A gente precisa aprender a transformá-las nos vários tecidos de que necessitamos’ (Mayana Zatz).


E é por isso que as pesquisas não podem ser interrompidas. Vidas humanas, sim, o requerem; a Constituição o quer tanto para o avanço do conhecimento humano, quanto para proporcionar mais saúde e melhor qualidade de vida. E é o que se espera desse julgamento do STF.


JOSÉ AFONSO DA SILVA, 82, advogado constitucionalista, é professor aposentado da Faculdade de Direito da USP e autor de ‘Curso de Direito Constitucional Positivo’, entre outras obras. Foi secretário da Segurança Pública (governo Mário Covas).’


 


POLÊMICA
Folha de S. Paulo


Ameaça de Bin Laden leva o papa a negar ser antiislâmico


‘Em meio às celebrações da Quinta-Feira Santa -quando lavou os pés de 12 padres para simbolizar a humildade-, o papa Bento 16 disse não haver fundamento nas acusações de liderar uma campanha contra o islã. Anteontem, foi divulgada uma gravação em que o terrorista Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, faz a acusação.


O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que não foi uma surpresa Bin Laden mencionar o papa porque ele já fez isso antes. ‘É absolutamente sem fundamento [acusar] o papa de contribuir a uma falta de respeito pelo islã e seu profeta, Maomé’, disse Lombardi.


O comitê antiterrorismo do Ministério do Interior italiano deve se reunir hoje para analisar a mensagem.


Segundo o ‘New York Times’, o Vaticano teme as ameaças de uma reação ‘severa’ às charges que insultariam Maomé -publicadas na Dinamarca em 2006-, sobretudo numa época em que o papa se expõe mais (ele realizará hoje a via-sacra no Coliseu). No início do seu pontificado, Bento 16 se envolveu em polêmica por citar em palestra frase de um imperador bizantino do século 15 em que este criticava Maomé por expandir ‘pela espada’ a sua religião.


Ontem, a rede de TV Al Jazeera divulgou uma nova mensagem de Bin Laden, em que ele ‘censura’ as negociações entre palestinos e Israel e diz que a saída é uma guerra santa.


Com agências internacionais’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Burocracia adia estréia da TV Brasil em SP


‘A promessa do governo federal de estrear a TV Brasil em São Paulo, inicialmente para dezembro do ano passado, só deverá se concretizar depois de maio. A última previsão era de inauguração em abril.


Segundo Tereza Cruvinel, presidente da TV Brasil, a emissora pública federal está sendo vítima da burocracia do próprio governo federal, para não ter que pagar impostos à União.


Os dois transmissores e lotes de ‘parafernália eletrônica’ importados dos EUA, por R$ 8 milhões, chegaram ao Brasil no início de janeiro. Mas estão retidos em um depósito em São Cristóvão, no Rio de Janeiro.


‘Esses equipamentos ainda estão na alfândega porque é muito difícil provar que não há similares nacionais e obter isenção fiscal, evitando assim uma carga de impostos altíssima’, afirma Cruvinel.


De acordo com a jornalista, para a TV Brasil liberar o material ainda faltam atestados de que não há similares brasileiros, emitidos pela associação de fabricantes de eletro-eletrônicos, e licenças de importação.


Após a liberação, Cruvinel acredita que em 30 dias os técnicos instalam os equipamentos na torre da TV Cultura.


Antes disso, o sinal da TV Brasil deverá chegar a São Paulo pela Net. Com a aprovação da medida provisória que criou a emissora, as operadoras de TV a cabo ficaram obrigadas a carregá-la. Mas ainda falta uma licença definitiva pela Anatel.


ÚLTIMA HORA A Globo realiza na próxima quarta, em São Paulo, evento para apresentar à imprensa as novidades da programação que estréia em abril. Mas os dias em que serão exibidos os quatro novos seriados ainda são um grande mistério. Parte da cúpula da rede só conhecerá esse calendário em reunião na terça.


DEGELO Carlos Massa, o Ratinho, armou uma operação para tentar sair da geladeira do SBT e tentar renovar seu contrato, a vencer em outubro. Mandou emissários sondarem o interesse da Record e ‘plantarem’ que ele pode virar apresentador do telejornal ‘Aqui Agora’.


CURIOSIDADE A neurocientista Suzana Herculano terá um quadro no ‘Fantástico’ a partir de maio.


TIRO DE META Se tivesse feito proposta ao Clube dos 13 pelo Campeonato Brasileiro de futebol, a Record não proporia R$ 500 milhões, como alardeou. Sua proposta seria a de dividir com os clubes as receitas publicitárias das transmissões. Isso daria bem menos do que a Globo já paga.


FICÇÃO 1 A piada ontem no mercado publicitário era a notícia de que a Record irá vender as cotas de patrocínio das Olimpíadas de Londres por US$ 37,5 milhões (cerca de R$ 63,8 milhões) cada uma. A Globo, com o triplo da audiência no horário nobre, ofereceu as cotas dos Jogos de Pequim por menos da metade disso _R$ 25,2 milhões.


FICÇÃO 2 A Record tem fama de dar até 95% de desconto.’


 


Leandro Fortino


Fim de temporada de ‘Heroes’ frustra


‘Assim como o segundo álbum de uma banda que fez sucesso com o primeiro, a segunda temporada de ‘Heroes’, que termina hoje, estreou enchendo o público de esperança, com a expectativa de ver mais revelações e mistérios do que na bem-sucedida primeira parte.


Um pouco disso se confirma no último episódio do segundo volume da saga, ‘Sem Poderes’, quando saberemos se o vírus mortal varrerá grande parte da população da Terra e se nossos heróis conseguirão impedir o imortal Adam e o superpoderoso e ingênuo Peter Petrelli de liberarem a ameaça.


Pena que pouco da boa expectativa dos fãs tenha se confirmado. Termina hoje uma temporada frustrante que se propunha a apresentar as origens dos heróis e que chega ao fim sem deixar nada bem explicado. Além disso, ela incluiu novos heróis na série, alguns quase sem nenhum carisma.


E com o inchaço no elenco, os personagens que conquistaram o espectador na primeira temporada perderam seu espaço para esses novos heróis.


O que mais presta nesse capítulo derradeiro só se mostra no final, quando se inicia a terceira parte de ‘Heroes’, intitulada ‘Vilões’. Deverá marcar a volta do malvado Sylar completamente recuperado. E fica na mão de um vilão, e não de um herói, a esperança de uma terceira temporada mais cativante.


HEROES


Onde: Universal Channel


Quando: hoje, às 21h’


 


CINEMA
Pedro Butcher


Haynes usa Dylan para renovar gênero


‘Nesses tempos em que tantos filmes buscam legitimidade evocando a expressão ‘baseado em fatos reais’, Todd Haynes ousa seguir o caminho oposto.


Logo no início da projeção de ‘Não Estou Lá’, uma cartela avisa que o filme é ‘inspirado nas canções e muitas vidas de Bob Dylan’. De partida, sabemos que a primeira fonte de inspiração do diretor não foi Bob Dylan, ‘o homem’, mas sua poesia.


Subentende-se, também, que a própria vida é uma ficção sujeita a mutações e reinvenções, difícil de ser representada pelos paradigmas da dramaturgia tradicional.


Antes de ser uma biografia cinematográfica de Bob Dylan, portanto, ‘Não Estou Lá’ é a tentativa de encontrar uma forma capaz de expressar, em filme, uma vida em fluxo. Proposta assumidamente experimental mas, também, pop, procurando conciliar pesquisa de linguagem e comunicação com o público -bem no espírito da própria obra de Dylan e, sobretudo, um desenvolvimento natural da própria obra de Todd Haynes, que já ensaiou abordagens semelhantes em ‘Superstar: The Karen Carpenter Story’ e ‘Velvet Goldmine’.


Transformações


Em ‘Não Estou Lá’, personagens de nomes diferentes (nenhum chamado Bob), vividos por seis atores, representam fases da carreira e diferentes aspectos da personalidade de Bob Dylan.


Eles entram e saem de cena (eventualmente cruzando caminhos) sem uma lógica evidente. No conjunto, porém, traduzem um espírito em eterno estado de transformação, mas que soube manter certa coerência.


Os personagens imaginados por Haynes, evidentemente, não são figuras aleatórias. O menino negro que percorre a América de trem (Marcus Carl Franklin) chama-se Woody Guthrie, lendário cantor folk e maior influência da primeira fase de Dylan. Ben Whishaw é Arthur Rimbaud, outra grande influência do cantor e compositor, que, aliás, adotou o nome Dylan em homenagem ao poeta irlandês Dylan Thomas.


Richard Gere, no segmento mais irregular, é Billy the Kid -referência à participação de Dylan no faroeste de Sam Peckinpah, ‘Pat Garret & Billy the Kid’. Christian Bale, Heath Ledger e Cate Blanchett (em caracterização que lhe valeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza e a indicação ao Oscar na categoria coadjuvante) completam o retrato em forma de caleidoscópio.


Haynes foi bastante criticado por ter dado mais importância ao mito do que aos fatos. Um detalhe importante omitido do filme seria a importância crucial do empresário, Jeff Rosen, nas muitas ‘reinvenções’ da carreira do cantor.


Essa crítica, sutilmente, sugere que ‘as muitas vidas’ de Bob Dylan seriam meras fabricações de marketing e que Haynes, inocentemente, teria comprado essa versão. Ok, pode até ser -mas será mesmo que o autor de letras da dimensão de Dylan seria apenas um artista ‘fake’, produção de um empresário esperto?


‘Não Estou Lá’, com a proposta que tem, não poderia ser um filme regular -mas também não é ingênuo nem pretende ser uma desconstrução do mito Dylan. Ao contrário, trabalha dentro do mito, a favor dele. Se o resultado é polêmico, é difícil deixar de reconhecer as boas soluções que Haynes encontrou no roteiro, na encenação, na montagem e na direção de atores para propor uma renovação radical daquele que talvez seja o gênero mais engessado entre as produções recentes do cinema americano -a cinebiografia.


NÃO ESTOU LÁ


Produção: EUA/Alemanha, 2007


Direção: Todd Haynes


Com: Cate Blanchett, Heath Ledger, Richard Gere, Christian Bale


Onde: estréia hoje nos cines Espaço Unibanco, HSBC Belas Artes e Market Place Playarte


Avaliação: bom’


 


Sylvia Colombo


Cinesesc abre mostra sobre Amado


‘A mostra ‘Jorge Amado no Cinema’, que começa hoje no Cinesesc, dentro da programação de eventos de lançamento da reedição das obras completas do autor, reúne campeões do público com raridades.


Entre os primeiros, estão ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’ (1976), dirigido por Bruno Barreto, ainda o maior êxito da história do cinema nacional, com mais de 10 milhões de espectadores, e ‘Tieta do Agreste (1996), adaptação do diretor Cacá Diegues e que contava também com a eterna protagonista das mulheres do escritor baiano, a atriz Sonia Braga.


Entre os outros, o documentário ‘Jorge Amado’, que o cineasta João Moreira Salles fez em 1992 para a televisão francesa e que permanece praticamente inédito no Brasil.


O filme traz depoimentos de Amado sobre a criação de seu universo e como ele via certas críticas comuns a seu trabalho. ‘Uma vez, na tentativa de diminuir minha obra, um crítico disse que eu era um escritor de putas e vagabundos. Nunca recebi um elogio maior’, diz ele.


O baiano também fala de seu período stalinista e de como se decepcionou com as ideologias, quando os crimes daquela época vieram então à tona.


Miscigenação


Salles, que considera Amado um dos ‘co-autores da idéia de um Brasil que não enxerga a cor da pele’, conta que decidiu orientar o documentário a partir da relação entre Jorge Amado e Gilberto Freyre.


‘Jorge leu ‘Casa Grande & Senzala’ e o impacto foi imenso. Não importa saber se havia (ou há) um Brasil que aceitava (ou aceita), sem traumas, a miscigenação. A partir de ‘Gabriela, Cravo e Canela’ (um livro que aparece duas décadas depois de ‘Casa Grande’, o que dá a medida do tempo que Jorge levou para se livrar da influência do partido comunista), esse mundo é descrito como uma possibilidade real. Era uma idéia convincente de Brasil. O coronel se apaixona pela cabocla e isso não é uma questão do romance. Com Jorge, essas coisas são tratadas como corriqueiras, são fatos da vida, nada além disso. Para mim, essa é a importância dele’, disse Salles à Folha por e-mail.


O cineasta observa que, não obstante todas as ressalvas e críticas que podem ser feitas à noção de democracia racial, é impossível negar que ela seja um dos mitos fundadores do Brasil. ‘O mito sempre existira, mas, antes de Gilberto Freyre, o sinal era trocado: éramos um povo misturado, logo fadado ao fracasso; Freyre e seu intérprete Jorge inverteram o sinal: com eles, a mistura passou a ser não a nossa derrota, mas a nossa salvação’, conclui o diretor dos documentários ‘Notícias de uma Guerra Particular’ e ‘Santiago’, entre outros.


Entre os filmes mais populares, sente-se a falta, na programação, de ‘Gabriela, Cravo e Canela’ (1983), do mesmo Barreto e com a mesma Sonia Braga no papel de protagonista.


O filme, gravado em Paraty em vez da Ilhéus do romance, trazia o italiano Marcello Mastroianni, Paulo Goulart e Antonio Cantafora, entre outros, no elenco.’


 


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Dois romances do autor terão versão para o cinema


‘Enquanto a obra de Jorge Amado transposta para o cinema é revisitada na mostra do Cinesesc, dois novos filmes baseados em seus romances começam a ser rodados neste ano.


Sérgio Machado (‘Cidade Baixa’) começa a trabalhar na adaptação de ‘A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água’ a partir de outubro; enquanto Cecília Amado, neta do escritor, já está fazendo o casting para a versão cinematográfica de ‘Capitães da Areia’, que deve ser lançada em 2009.


O elenco do filme de Machado reunirá alguns nomes ilustres de conterrâneos seus e do escritor, os baianos Wagner Moura, Lázaro Ramos e João Miguel. No papel de Quincas, o veterano Stênio Garcia.


As filmagens acontecerão em Salvador e em algumas cidades do Recôncavo. Como se trata de uma história relativamente curta, Machado introduzirá sub-tramas ficcionais relacionadas à principal, para compor o longa.


‘Apesar de se tratar de uma história mágica, quero tratá-la com certo realismo. Mas também vou aproveitar o fato de que eu e os atores, por sermos baianos, temos condição de tratar esse universo, que as pessoas de fora da Bahia acham mágico, de um modo particular’, afirma.


O cineasta tem uma história de relacionamento pessoal com Amado que considera especial. ‘Ele foi muito generoso comigo. Viu um filme meu, ‘Troca de Cabeças’, gostou e me indicou para o Walter Salles’. Machado, então, acabou virando assistente deste em alguns de seus filmes, como ‘Central do Brasil’ e ‘Abril Despedaçado’.


Capitães


Cecília Amado diz que quer filmar ‘Capitães da Areia’, seu primeiro longa, por considerar a trama a mais completa em termos de cinema. ‘A produção brasileira hoje é composta de filmes comerciais, de filmes de arte e os de cunho social. ‘Capitães’ permite misturar tudo num só filme.’


Cecília também está buscando no Recôncavo locações que lembrem a Salvador dos tempos do avô. ‘O lugar dos trapiches, que é o coração da história, onde vivem os Capitães, está muito desfigurado’. Para o elenco, ela reunirá meninos baianos, não-atores, reunidos por meio de ONGs locais.


Cecília diz que o fato de ter conhecido melhor o avô na sua fase pós-comunista a influencia muito. ‘Minha idéia é mantê-lo vivo. Eu peguei o período de sua vida em que a visão comunista tinha se transformado em ideal humanista. É isso que quero passar à frente com ‘Capitães’.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 21 de março de 2008


TIBETE
O Estado de S. Paulo


Televisão chinesa mostra imagens de tibetanos presos


‘Emissoras de TV chinesas mostraram ontem imagens de vários manifestantes tibetanos presos. A imprensa chinesa afirmou que eles se entregaram à polícia, sem dar detalhes. A promotoria da China informou que pelo menos 24 pessoas serão formalmente acusadas de ‘colocar em perigo a segurança nacional’, assim como de ‘agressão, vandalismo, saques, incêndios e outros crimes graves’. Segundo a agência oficial Nova China, até ontem 170 tibetanos haviam se entregado às autoridades. Pequim tinha dado prazo até segunda-feira para que os manifestantes se apresentassem à polícia e fossem perdoados.’


 


TELES
Irany Tereza


Sócios ameaçam deixar negociação da Oi e Brt


‘A novela em que se transformou a negociação entre os acionistas das operadoras Oi e Brasil Telecom novamente emperrou e já há ameaças de desistência do projeto de reestruturação para futuro processo de incorporação de uma companhia pela outra. Em reunião quinta-feira, na sede do grupo Oi, no Rio, o imbróglio jurídico envolvendo Citigroup e Opportunity, que parecia perto do fim, não só se complicou como se estendeu aos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petrus (Petrobrás) e Funcef (Caixa Econômica Federal).


Segundo fontes ligadas a todas as partes envolvidas, ações judiciais já existentes e a possibilidade de que os sócios entrem com novos processos na Justiça agitaram a reunião, que terminou em impasse. Eles não concordaram com a retirada integral dos processos e nem foi efetivado o pacto contra futuros questionamentos judiciais. Os fundos teriam tentado, sem sucesso, uma fórmula que restringisse o litígio ao Citi e Opportunity, que estão deixando a sociedade. Com isso, a reestruturação torna-se cada vez mais difícil.


‘Não vamos abrir mão de nossos direitos. Sem acordo jurídico, não há acordo geral’, diz uma fonte ligada às negociações. ‘Não há nada de definitivo ainda’, diz outra fonte sobre a possibilidade de fracasso do projeto. Um terceiro envolvido nas negociações alega que o problema é que todo o processo foi deflagrado na mão inversa à da maioria das negociações: primeiro definiu-se o preço para depois descer aos detalhes, quando o normal teria sido o contrário.


O resultado foi que o negócio, iniciado em dezembro do ano passado, no mesmo mês ‘vazou’ e a publicidade que uma eventual incorporação da BrT pela Oi alcançou foi um ponto a mais de obstrução do acordo. Todos os pontos operacionais da reestruturação já estão acertados, inclusive questões de governança corporativa na fase de transição e depois de efetivada a incorporação (condicionada à mudança da legislação do setor de telecomunicações).


Não há um prazo estipulado para a conclusão das conversas, mas há informações de que, extra-oficialmente, este mês de março será definitivo para o projeto. Isto daria, na prática, mais dez dias para o avanço no único ponto ainda pendente: a extinção da maior disputa judicial da história empresarial brasileira, iniciada em 2000, e que já envolveu todos os acionistas das duas operadoras de telefonia.’


 


HQ


Fernando Cassaro


‘Comics hunters’ preservam em SP a paixão por histórias em quadrinhos


‘São Paulo também tem seus caçadores de tesouros. Eles não saem pela cidade com chicote e chapéu – como Indiana Jones -, mas integram um grupo pequeno e restrito que se dedica à compra e venda de gibis raros, não sem antes vasculhar edições antigas perdidas em baús, depósitos e porões espalhados por tudo quanto é canto do País. São os comics hunters – caçadores de quadrinhos.


Especialistas em ganhar a vida com o que a maioria das pessoas não dá valor, eles compram gibis antigos – de qualquer gênero, nacional ou importado – e vendem a fanáticos colecionadores que também fazem parte do ‘clubinho’. Não há reuniões periódicas, mas todos se conhecem e geralmente sabem o que falta na coleção do outro. A propaganda é feita boca a boca. Os contatos são feitos por telefone, e os encontros só ocorrem na certeza de que o material disponível pelo revendedor interessa ao comprador. Preocupados com a segurança do acervo, os endereços só são divulgados aos ‘iniciados’.


Em São Paulo, estão os dois homens considerados reis dos gibis no País: Idalino Rodrigues dos Santos, de 58 anos, e Geraldo Cachola, de 73. Ambos começaram como colecionadores e entraram no ramo por acaso, revendendo números que tinham em casa. Cachola se apaixonou por gibis na infância. Sem dinheiro para comprar as novas aventuras de seus heróis prediletos, chegou a engraxar sapatos. Levando a paixão adiante, passou a comprar revistas raras da década de 1980 e a revendê-las a preço de ouro. Comprava de tudo. De novidades das bancas a gibis empoeirados de alguma viúva agradecida por se livrar do ‘entulho’ do marido, que só servia para ‘juntar traça e sujeira’. Assim, começou a ter contato com colecionadores. E o hobby virou negócio. Hoje, como a maioria dos integrantes do clube, Cachola não conta a ninguém quanto vale seu acervo de 100 mil revistas. Mas quem entende e já viu o material afirma que ninguém consegue levá-lo por menos de R$ 500 mil.


Idalino Rodrigues dos Santos, o outro rei do gibi, lê histórias em quadrinhos desde quando aprendeu a identificar as primeiras letras, em Cianorte, interior do Paraná. Começou no ramo em 1965 e hoje tem mais de 200 mil exemplares guardados no terraço de casa, em Lauzane Paulista, zona norte. Quanto valem? A bagatela de mais ou menos R$ 1 milhão. Como colecionador apaixonado, muitas vezes deixou de vender coleção por se ter apegado demais. Hoje, dez anos após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), ele não consegue falar. Com dificuldade para negociar, diminuiu drasticamente as vendas. Por isso, aproveita o dia para organizar o acervo e enviar pelo correio pedidos de gibis que chegam por carta de todo o País. Apesar de não revelar valores, estima-se que consiga ganhar em média R$ 5 mil por mês.


Tanto Cachola quanto Santos são especialistas em gibis nacionais. Os dois trabalham com tudo o que já foi lançado no País desde 1930, incluindo histórias de Pato Donald, Mickey e Maz-zaropi, além das revistas O Guri e Lobinho.


IMPORTADOS


Ao contrário dos reis do gibi, Celso Freixo, de 43 anos, prefere trabalhar com importados. Ele revende histórias em quadrinhos desde 2000 e aprendeu a ler com uma revistinha do Pato Donald. O negócio nasceu quando trocou sua edição número dois do Tio Patinhas por 600 revistinhas dos anos 70 e 80. A partir daí, passou a ‘girar’ o material. ‘Tenho de saber o valor que o cliente quer gastar e quanto tempo deseja esperar até eu conseguir o exemplar no exterior.’ Ao contrário da velha-guarda de revendedores, ele chegou a abrir uma loja de gibis em Pinheiros. Mas manteve a filosofia dos ‘comics hunters’: só vender a quem realmente é fissurado por histórias em quadrinhos.’


 


MÚSICA
Jotabê Medeiros e Livia Deodato


Chuva de cifrões


‘Levantamento feito pela reportagem do Estado, comparando preços de 1998 e 2008, mostra que não é apenas uma má impressão: os preços dos ingressos para shows internacionais de rock e pop no Brasil explodiram nos últimos 10 anos. Chegam, em média, a ter hoje um valor quatro vezes superior ao que era praticado em 1998.


Ingresso barato é coisa do passado


Alguns casos recentes chamaram a atenção pelo inusitado do preço máximo cobrado. Os shows de Bob Dylan, no Via Funchal, nos dias 5 e 6, tiveram ingressos de até R$ 900. O concerto do maestro Ennio Morricone, previsto para esta segunda, dia 24, tem entradas sendo vendidas a até R$ 1,5 mil. ‘Que saudade do tempo em que o ingresso mais caro custava R$ 80’, dizia um desolado fã na fila do Via Funchal, na noite do dia 5.


O problema não é cambial, como acontecia nos anos 90. O dólar, em 1998, estava em torno de R$ 1,20; em 2008, gira em torno de R$ 1,70. Também não é uma conjuntura circunstancial: os preços altos dos tickets, no Brasil, vieram para ficar, segundo avaliação de empresários e produtores do ramo ouvidos pela reportagem.


‘Acredito que isso já seja um reflexo da conjuntura mundial’, diz Monique Gardenberg, dona da Dueto Produções, que realiza o TIM Festival, o maior do gênero na América Latina. ‘O excesso de liquidez dos países ricos gera a busca por novos investimentos, e o entretenimento surge como uma nova possibilidade de negócio. Neste sentido, grande grupos, outrora ligados a atividades distintas, passam a investir no negócio ‘ao vivo’. O mesmo movimento você pode observar ainda por parte das gravadoras, ou dos artistas. Gravadoras hoje promovem shows de seus próprios artistas. The Police se reúne exatamente quando o modelo da indústria fonográfica entra em falência a partir do nascimento da tecnologia digital e da dominação da internet. O negócio Ao Vivo passa a ser a mais forte, quase a única fonte de receita, invertendo drasticamente o modelo anterior’, pondera a empresária.


Há outros fatores internos também que colaboram para o encarecimento dos ingressos, justificam os empresários. No Brasil, a proliferação das produtoras e a chegada de grupos multinacionais estrangeiros (criando uma globalização do setor), além do surgimento de novos eventos musicais associados a empresas, inflacionaram o mercado. ‘Hoje, a demanda brasileira é maior do que a oferta internacional de shows. Ocorre, portanto, um leilão que acaba por inflacionar o mercado, criando sérias conseqüências para as platéias, se não for observado o aspecto do poder aquisitivo do público, e para os mercados vizinhos, como Argentina e Chile’, considera Monique.


Para o produtor Toy Lima, da LPC Projetos Culturais, que criou os antigos Chivas Jazz Festival e Heineken Concerts e é diretor artístico do recém-criado Bridgestone Music Festival, para se contrapor a essa realidade é importante buscar novos caminhos no show biz. Após alguns anos afastado do mercado, por questões pessoais, ele retorna com um projeto que é inspirado em experiências do passado, como o Fillmore East de Nova York nos 70. Algo parecido com ‘as famosas double bill (noites com atrações duplas) em que o empresário Norman Granz apresentava o Led Zepellin, mas antes tinha um show com o Cecil Taylor, e assim ele ampliava muito o número de ouvintes do jazz’, ponderou Lima.


‘Uma outra coisa é que teremos os ingressos subsidiados pelo patrocinador e com isso vamos praticar preços bastante baixos para este tipo de evento. Acho que quando um evento é patrocinado ele deve ter preços mais baixos’, considera o produtor. Monique, da Dueto, concorda. ‘A maneira como se financia esta vinda de artistas é que é uma característica e deve ser uma preocupação de cada produtora. A Dueto procura subsidiar ao máximo os ingressos, via patrocínio de empresas que apóiam essas iniciativas. Hoje em dia, quase 90% dos ingressos vendidos para os shows pop do Tim Festival é composto por meia entrada’, ela afirma.


De fato, é uma logística que, se não for bem equacionada, pode cair pesadamente no bolso do espectador. O show de Bob Dylan foi considerado fora da realidade pelos fãs de longa data que, por conta dos preços, ficaram alijados do concerto. O empresário William Crunfli, da Mondo Entretenimento, realizadora do espetáculo, não falou à reportagem. Na época do show, ele divulgou nota explicando os valores cobrados.


O ‘formato especial intimista’ dos shows de Dylan na cidade, realizados para um público reduzido de apenas 2,5 mil pessoas, era uma das raízes do preço. ‘É natural que parte dos custos referentes à produção sejam distribuídos proporcionalmente pelo número de ingressos colocados à venda’, informou Crunfli. Segundo ele, o ‘conforto e a proximidade’ que a casa permitia justificavam a majoração dos ingressos.


A SMArt, agência organizadora e produtora do concerto do compositor e regente italiano Ennio Morricone em São Paulo, justifica dessa forma o alto preço dos ingressos para o concerto: são mais de 200 músicos, o que exige grande infra-estrutura e mais de 50 profissionais de apoio. Além disso, o equipamento também entra na conta. A empresa menciona o que chama de ‘o que há de mais moderno em mecânica cênica, iluminação e sonorização’. Apesar do preço salgado, até o momento já foram vendidos 75% dos ingressos.


Em suma, o diagnóstico geral é o seguinte: hoje, os cachês pagos lá fora são exorbitantes. Aqui no Brasil, isso está sendo agravado pelo dinheiro de fora que está vindo para o País a bordo das multinacionais do entretenimento. A situação falimentar da indústria fonográfica gerou uma necessidade de diversificação no mundo da música e liquidez numa Europa rica. Empresários migram para o entretenimento ao vivo, que se constituiu num novo mercado. As gravadoras usam recursos maciços para promover turnês. E o show começa a ser a única fonte de renda para o artista, que não vende mais discos. Ele precisa ganhar mais e cobra mais. Para o público, no entanto, o que se vê é um cenário de abuso no mercado.


Túnel Do Tempo


No início de abril, chega às livrarias o livro Sexo, Drogas e Rolling Stones, de José Emílio Rondeau e Nélio Rodrigues. Entre as histórias, os bastidores da negociação que trouxe o grupo pela primeira vez ao Brasil, em janeiro de 1995. Já naquela época, houve um leilão. ‘Com a desistência da DC-Set, ficaram no páreo a Dueto, das irmãs Monique e Silvia Gardenberg, e a Promoter, do empresário Paulo Rosa Júnior. A dueto trazia no currículo a série Free Jazz. Já a promoter trouxe o ex-Beatle Paul McCartney. Michael Cohl, encarregado de contratar as excursões dos Rolling Stones, escolheu a Promoter’, dizem os autores, que não revelam os motivos da escolha.’


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


As múltiplas personas de Bob Dylan


‘Todd Haynes já incursionou pelo universo da música pop, fazendo com Velvet Goldmine o Cidadão Kane do glam rock. Depois de fragmentar sua narrativa por meio de flash-backs para multifacetar um astro inspirado em David Bowie, o que o cineasta poderia fazer para capturar a essência de Bob Dylan? Ele recorre a seis atores (fotos ao lado) para compor os sete fragmentos de vida em que divide o seu Bob Dylan. O conceito é brilhante e confirma a originalidade de Haynes, que fez aquela belíssima releitura do melodrama à Douglas Sirk chamada Longe do Paraíso.


Não Estou Lá fez sensação em Veneza, no ano passado, saindo do Lido com os prêmios do júri e o de melhor atriz, atribuído a Cate Blanchett. Outros cinco atores, incluindo Richard Gere, Heath Ledger, Christian Bale e o garoto negro Marcus Carl Franklin, interpretam as muitas personas de Dylan, mas Cate, em travesti, é a que mais se assemelha fisicamente a ele. Representa o lado dândi de Dylan. Haynes fez o que não deixa de ser um falso documentário, recorrendo a imagens de arquivo para mostrar como a arte de Dylan percorre (e reflete) a história norte-americana do século passado. Seu filme é puro cinema de invenção, ousado como o próprio Dylan.


Haynes define Dylan como um marco incontornável da modernidade. Embora autorizado a fazer o filme, não se encontrou nenhuma vez com o cantor e compositor, usando as letras de suas músicas (as mais e as menos conhecidas) para compor o itinerário intelectual e emocional do artista. Não Estou Lá não é cronológico e, muito menos, psicologizante, buscando outras formas para revelar o adolescente rebelde e o artista consagrado, a crise do dândi mimado e a maturidade mística (Dylan, de origem judaica, converteu-se ao cristianismo nos anos 80).


Na recente apresentação no Via Funchal, o som era alto e Dylan dava a impressão de cantar dentro do microfone para compensar as falhas da voz. Sua dicção era péssima, mas, como afirmava John Lennon, não é preciso entender uma palavra do que ele diz para captar o sentimento de Dylan (e saber o que está cantando). O filme é sobre arte, sobre os EUA dos convulsivos anos 60, marcados pela contestação radical. Sua estrutura particular o transforma numa (auto)reflexão sobre os paradoxos do espetáculo. É forte, mas para os não-iniciados em Dylan talvez seja só um delírio do diretor. Os iniciados vão entender as informações cifradas e perceber que Dylan precisava de seis rostos para se revelar por inteiro.’


 


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Paparazzi, vistos com humor


‘Desde A Doce Vida, de Federico Fellini, em 1960, os paparazzi integram-se ao cinema. O jornalista e o fotógrafo sempre atrás de celebridades passaram a ser vistos em numerosos filmes. Há quatro anos, Paul Abasdal fez um filme justamente intitulado Paparazzi, com Cole Hausder na pele do astro que resolve se vingar do fotógrafo que mais inferniza sua vida (Tom Sizemore). Os paparazzi estão de volta em Delírios, longa de Tom DiCillo que estréia hoje na cidade.


Ex-fotógrafo de Jim Jarmusch em filmes como Stranger Than Paradise – no qual fez uma participação como ator -, DiCillo já havia feito, também com Steve Buscemi, Vivendo no Abandono. Naquele filme, ele tentou mostrar os bastidores de uma produção. Era uma época em que os indies viviam seu apogeu, com Quentin Tarantino, mas DiCillo nunca foi muito fã do diretor de Cães de Aluguel e Tempo de Violência. Para ele, Tarantino fez muito mal para os independentes, ao transformar o diretor numa estrela.


Steve Buscemi faz agora o melhor dos paparazzi. Ninguém sabe, como ele, disparar seu flash na hora certa para captar a intimidade de celebridades que logo estarão na capa de jornais e revistas. Na trama do filme, Buscemi encontra esse garoto à deriva na vida, interpretado por Michael Pitt, irmão de Brad e astro de Paranoid Park, de Gus Van Sant. Michael Pitt vira seu discípulo. Por meio das portas que lhe são abertas, ele se transforma também numa celebridade e agora Buscemi está atrás dele, com sua câmera.


É um filme sobre o culto da imagem, sobre celebridades – e sobre amizade. Em seus melhores momentos, DiCillo possui um olho para captar instantes fugazes, mas ricos em significados. O filme é engraçado, melancólico, agressivo. É um show de Steve Buscemi, que não dá chance a Pitt. Como coadjuvante, ele sempre roubou a cena. Como protagonista, é absoluto.’


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Busca por séries


‘A RedeTV! está à procura de um novo formato internacional para fazer uma co-produção. Você já viu essa história em algum lugar? Sim, a rede quer repetir a experiência da versão nacional de Desperate Housewives.


A emissora, que produziu uma temporada de Donas de Casa Desesperadas, ainda não descartou a possibilidade de dar continuidade ao projeto, renovando a parceria com a Disney. Mas, ao que tudo indica, se outro formato melhor aparecer, leva a vaga que o canal pretende destinar à ‘dramaturgia leve’, como a direção denomina esse tipo de programa.


‘Donas de Casa Desesperadas foi uma experiência ótima, faturamos muito com a série’, fala o vice-presidente da RedeTV!, Marcelo Carvalho. ‘Mas as feiras internacionais de TV começam agora, e vamos dar uma olhada em outras coisas antes de decidir se faremos ou não outra temporada da série.’


A Rede TV! investiu cerca de US$ 2,5 milhões na co-produção da atração com a Disney e, apesar do bom faturamento do programa, Donas de Casa Desesperadas atingiu média de apenas 2 pontos de audiência no horário. A RedeTV! esperava chegar aos 4 pontos de ibope.’


 


 


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