Friday, 10 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

João Moreira Salles


‘É bom o artigo do prefeito Cesar Maia publicado nesta Folha no dia 17/11. Como diretor de ‘Entreatos’, fico lisonjeado com os elogios que ele faz ao filme. Pena que não tenha externado seu entusiasmo na época em que o filme entrou em cartaz. Por que não?


Não consigo creditar esse súbito e irrefreável desejo de rever ‘Entreatos’ à cinefilia do nosso prefeito. Pergunto, um tanto retoricamente: caso o governo Lula estivesse cruzando céus de brigadeiro, será que ele teria tanto afinco em defender os direitos do espectador? Talvez por isso tenha se mantido calado na época em que o filme circulava pelo país. O contexto político relativamente sereno tornava o filme pouco apetitoso.


Até pouco tempo, ‘Entreatos’ não servia aos propósitos eleitoreiros de Cesar Maia. Donde o silêncio. E agora, o barulho.


Cesar Maia me acusa de censor. Eu estaria proibindo a exibição do filme. Propõe que ‘Entreatos’ volte às salas de cinema por exigência da Justiça. É uma solução original. O grande problema do cinema brasileiro é a distribuição. Criada a boa jurisprudência, será um alento contar com a Justiça para que nossos filmes entrem em cartaz a golpes de medidas cautelares.


Enquanto isso não acontece, é preciso que o prefeito saiba que ‘Entreatos’ foi exibido em 24 cidades brasileiras. Foi visto por quem desejou vê-lo, ficou quase oito meses em cartaz e, como todos os filmes do mundo, esgotou seu ciclo de exibição no circuito comercial. Mas continua a ser visto. Somente neste ano, foi exibido em Santa Maria e em Nova Friburgo, em julho; em São Paulo, em agosto e setembro; em Guarapava e Belém, em outubro; em Belo Horizonte, em novembro. Menciono as datas para que o prefeito saiba que o filme continua a ser exibido apesar da crise.


E mais: como prática corrente da VideoFilmes, atendemos a todas as instituições acadêmicas que precisem dos nossos filmes. ‘Entreatos’ é um dos nossos documentários mais solicitados. Como ainda não existe DVD disponível, mandamos prensar mil cópias para venda exclusiva a essas instituições. Qualquer professor de escola ou de universidade pode ligar para a VideoFilmes e adquirir no mesmo dia uma cópia do documentário.


Aliás, um aparte: nos nossos registros não consta nenhuma venda para a prefeitura do Rio. Como o prefeito afirma que vem analisando o filme ‘quadro a quadro’ no seu laptop, sou forçado a concluir que ele comprou uma cópia pirata. Caso o oficial de Justiça apareça por aqui com a tal intimação, já temos outro assunto para tratar.


E que o prefeito do Rio de Janeiro não se exalte. Diferentemente do que ele sugere, não destruí o material bruto. Copiei-o, e hoje tenho dois conjuntos guardados em arquivos diferentes. Sei da importância de preservar o patrimônio. Creio ter o direito de não receber lições do prefeito. Quando leio que, entre os novos quiosques à beira-mar da avenida Atlântica, licenciados pela prefeitura, haverá dois McDonald’s, me pergunto se temos, ele e eu, a mesma compreensão de patrimônio.


Assim que estourou a atual crise, recebemos um só telefonema de exibidor indagando sobre a possibilidade de mostrar o filme durante uma semana na sua respectiva sala. Declinei. Entramos aqui numa questão que diz respeito aos compromissos que julgo serem inerentes ao contrato que se estabelece entre documentarista e documentado. Um contrato não assinado, diga-se.


Do mesmo modo que não aceitaria que o filme fosse submetido à aprovação de Lula – outra inverdade sugerida por Cesar Maia -, me sinto obrigado, não por laços de amizade, que não os tenho, nem por simpatias ideológicas, que não são as minhas, a não ser desleal com a pessoa que filmei. Presidente, pianista ou bandido, não importa. A regra é a mesma: evitar o oportunismo.


A reestréia de ‘Entreatos’ não acrescentaria muito ao público do filme. Por outro lado, produziria um insignificante sucesso de ocasião que a mim não interessa, mas interessa ao PFL do prefeito. Entre o PFL e minhas convicções, fico com as minhas convicções.


Não deixa de ser espantoso que Cesar Maia confira ao documentário tamanha importância. Por falta de convicção, nós, documentaristas, hesitamos em dizer coisa parecida. Ocorre que o prefeito não é um neófito; ele conhece documentários, já que foi produtor de um. O excelente ‘Ônibus 174’ não teria sido realizado sem o firme apoio da Riofilme, uma empresa 100% subordinada à Prefeitura do Rio.


Infelizmente, ‘Ônibus 174’ teve um público bem menor do que merecia. Não foi outra a razão: Cesar Maia exigiu que fosse lançado em outubro de 2002, durante o segundo turno das eleições. O propósito era ferir a candidatura da mulher de Garotinho ao governo do Estado. Longe de mim achar que o objetivo não era louvável. Mas os métodos, prefeito, definitivamente, não eram bons. Primeiro, por ineficientes. Depois, porque obrigar um filme a estrear, não por razões de mercado, mas por razões de política, é dar o primeiro passo rumo à instrumentalização da arte.


Os políticos com tendências autoritárias deveriam ser mais prudentes. Quando filme e ação judicial aparecem no mesmo parágrafo, começo a ficar ansioso.


João Moreira Salles, 43, é documentarista e produtor. Dirigiu, entre outros, os filmes ‘Entreatos’ (2003) e ‘Nelson Freire’ (2004).’



ENTREVISTA / VITO GIANNOTTI


Rosângela Ribeiro Gil


‘A comunicação da esquerda ‘, copyright Brasil de Fato, 22/11/05


‘Desde que criou o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), órgão que visa ‘melhorar a comunicação dos trabalhadores para que eles construam um mundo com justiça e sem exclusão’, o escritor Vito Giannotti percorre o país participando de palestras, debates e cursos de formação ligados à mídia voltada para trabalhadores. Por traz desse esforço está a visão de que, se a esquerda, os movimentos populares e os sindicatos querem mudar o mundo, precisam, em meio à luta política, usar a comunicação para ganhar adesões em massa para suas idéias e projetos. Em entrevista ao Brasil de Fato, Giannotti fala, entre outros temas, da importância da comunicação como instrumento de transformação da estrutura injusta do capitalismo.


Brasil de Fato – O NPC promove, no início de dezembro, no Rio de Janeiro, o 11º Curso Anual, que vai reunir especialistas em comunicação, jornalistas ligados aos movimentos populares e militantes políticos. Qual o objetivo desse curso?


Vito Giannotti – A visão básica está numa frase publicada pelo jornal japonês Johji Shimbun, ao ser criado, em 1875. Em seu primeiro editorial, estava escrito: ‘Um partido sem jornal é como um exército sem armas’. Foi para ajudar a compreender melhor a necessidade de jornais e outros instrumentos de mídia e de aperfeiçoá-los constantemente que nasceu o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC). E é por isso também que promovemos cursos como esse, que reúne jornalistas de movimentos sociais desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul.


BF – Você percorre o país falando da necessidade de a esquerda ter seus veículos de comunicação. O que está por trás dessa visão?


Giannotti – Asociedade de hoje é sustentada por uma enorme máquina de mídia. A comunicação tem uma centralidade na estrutura do poder e do convencimento que não tinha dois séculos atrás, e até mesmo 50 anos atrás. Por isso, se a esquerda, se os movimentos populares e os sindicatos querem mudar o mundo, precisam, no meio de toda a luta política, em todas as suas variantes, usar a comunicação para ganhar milhões de adeptos às suas idéias e planos. Sem isso, uma mudança revolucionária, seja de que tipo for, é pura ilusão.


BF – Como se pode melhorar a comunicação alternativa de esquerda?


Giannotti – Para uma comunicação com conteúdo à altura de fazer a disputa de hegemonia com nossos inimigos de classe é necessária uma pauta que trate dos temas dessa disputa. Do específico ao geral. Do Brasil ao mundo. Do mais abstrato ao mais concreto da vida: desemprego, violência, amor, filhos, arte, escola, custo dos livros, saúde etc. Esses temas são objetos de alguns cursos do NPC. Além da pauta, temos de fazer uma imprensa que convide à leitura e não afaste o leitor. A partir daí, nasceram cursos sobre a forma da nossa comunicação: diagramação, visual, foto, ilustrações, arte gráfica etc. Por fim, é preciso dar uma atenção obsessiva à linguagem. Sem uma linguagem que seja compreendida pelos leitores todo o esforço é inútil e nossa comunicação será um diálogo de surdos. Se queremos que nossa mensagem política comunique é necessário que seja a mais direta e visual possível. Foi dessas constatações de anos de experiências que nasceram nossos cursos, nossas apostilas, nossas cartilhas e os vários livros que escrevemos sobre todos esses temas.


BF – Qual é a importância do jornalismo sindical hoje?


Giannotti – É central. Sobretudo na nossa sociedade. Na minha visão, o sindicato não é só para fazer a tal luta econômica. A comunicação sindical, para mim, tem sentido se lutar para transformar a estrutura injusta da barbárie capitalista. Eu dou enorme valor a essa comunicação. Mas não é nada fácil fazer uma comunicação sindical que cumpra o papel de disputar a hegemonia na sociedade.


BF – E qual é o poder de alcance da imprensa sindical?


Giannotti – Enorme. O maior jornal da ‘grande imprensa’ do Sergipe, hoje, novembro de 2005, não chega a 3 mil exemplares. O jornal Tribuna Metalúrgica, dos Metalúrgicos de São Bernardo, durante mais de 15 anos teve uma tiragem diária de 120 mil. Hoje deve estar com 60 mil, devido à diminuição de trabalhadores na base. No final da década de 1980, nos sindicatos da CUT, havia seis jornais sindicais diários. Isso representa um poder de fogo tremendo. Há sindicatos que têm belíssimas revistas. Há até quem tenha um jornal mensal para as famílias dos trabalhadores, como o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. Na época da eleição do [presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva], em 2002, os sindicatos que queriam algo com a luta dos trabalhadores fi zeram um esforço enorme para eleger aquele que representava a esperança de mudar o nosso país. Milhões e milhões de jornais sindicais apresentaram o projeto de um Brasil diferente da barbárie capitalista vigente. Aqui no Rio de Janeiro, temos exemplos de belíssimos jornais semanais, feitos nesse período, que certamente ganharam muitos e muitos votos. É o caso do Jornal do Sintufr, do Sindicato dos Trabalhadores em Educação, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e do Surgente, do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro.


BF – Essa imprensa sindical, então, cumpriu um papel importante, ao lado de outras publicações declaradamente políticas?


Giannotti – Não foi só nessa campanha eleitoral específica que a imprensa sindical teve um papel político importante. Ela teve uma influência enorme na ocasião do impeachement de Fernando Collor de Melo. Depois, quem foi que fez a campanha contra as privatizações na época de ouro do neoliberalismo de Fernando Henrique Cardoso? Como foi feita a batalha contra a reforma da Previdência, sem ser pelos jornais sindicais? A imprensa sindical cumpriu o papel da imprensa partidária, que não existiu. Qual jornal de esquerda cumpriu esse papel? Há belas publicações alternativas valiosíssimas, como é o caso das revistas Reportagem, Caros Amigos ou do Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Mas todos têm uma tiragem pequeníssima para um país com 185 milhões de pessoas. E sua periodicidade não permite fazer uma disputa à altura contra um inimigo que se comunica todo dia, pelo rádio, pela televisão e por inúmeros jornais.


BF – Qual é o grande diferencial do jornalismo sindical e popular de esquerda?


Giannotti – Que ele pode atingir um público que não é atingido pelos outros jornais. Atinge milhões de trabalhadores vítimas da TV de classe que está aí. O jornalismo sindical pode fazer a contraposição à Veja, à Folha de S. Paulo, à Rede Globo, que nossos partidos de esquerda deveriam ter feito e não fizeram, pelo simples fato de não ter existido uma imprensa partidária de esquerda. Uma imprensa diária, vendida em bancas e também distribuída de forma militante como sempre a esquerda fez no passado, capaz de se contrapor à mídia burguesa. Nossos partidos não conseguiram criar um único jornal diário, de 1964 para cá. Há pequenos jornais com periodicidade escassa, mas jornal, jornal, não. Hoje, o Brasil de Fato tenta cumprir esse papel, mas só ele é insuficiente. Ainda é semanal, embora tenha planos de se tornar diário. No nosso país há lugar para dez jornais diários de esquerda.


BF – Quais são os problemas da imprensa sindical?


Giannotti – O principal é a falta de compreensão da importância, da centralidade da comunicação, hoje. Há inúmeros diretores sindicais que vivem mendigando uma notinha no jornal da burguesia da sua cidade. Não compreendem que nós temos que ter nossos instrumentos para fazer a batalha contra nossos inimigos. Ou por acaso nos iludimos que o inimigo vai nos oferecer um cafezinho dentro dos seus tanques de guerra? O jornal deles é um tanque, armado até os dentes, para nos destruir. A Folha de S. Paulo, o ‘Estadão’ e centenas de outros diários querem que sejam exterminados todos aqueles que querem a reforma agrária. A Veja quer destruir toda a esquerda, a começar pelo MST. O Globo e a Rede Globo e toda a mídia burguesa estão na mesma linha.


BF – O que seria o grande diferencial dessa imprensa?


Giannotti – Que nós não somos neutros. Só que nós declaramos que temos lado. Enquanto isso a imprensa patronal disfarça, engana e tenta se dizer neutra. O fato de não sermos neutros não quer dizer que vamos fazer discursos vazios. Vamos apresentar dados, fatos, números, entrevistas reais com pessoas reais. E vamos lutar abertamente por nossas idéias sem disfarces e sem sermões idiotas. Por isso temos que ter nossa mídia. Só assim garantiremos nossa independência.


BF – Como você avalia a luta de sindicatos pela democratização dos meios de comunicação?


Giannotti – Fraquíssima. Não estamos fazendo essa luta seriamente. Os sindicatos, na sua imensa maioria, não têm compreensão da importância dessa luta. Quem disse que as atuais concessões de rádio e televisão são eternas? Quem disse que são públicas? Quem disse que são intocáveis? E quem disse que o MST, a Comissão Pastoral da Terra não podem ter suas rádios e um canal de televisão aberto? E tudo isso financiado e facilitado abertamente com recursos públicos, como a senhora Rede Globo é e sempre foi. Por que não se exige do governo uma medida provisória nesse sentido? A lei, muda-se. Com muita pressão. O movimento sindical não está fazendo pressão para mudar a lei profundamente antidemocrática das concessões de rádio e TV no nosso país. E pressão é gente na rua, dia e noite. São os trabalhadores em greve.


Quem é


O italiano Vito Giannotti, vive no Brasil há cerca de 40 dos seus 62 anos. Ex-operário metalúrgico em São Paulo, onde se engajou na luta contra a ditadura, ajudou a criar o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), que se dedica a melhorar a comunicação entre os trabalhadores. Integrante do conselho político do Brasil de Fato, Giannotti escreveu cerca de 20 livros sobre o movimento sindical e a comunicação dos trabalhadores, entre os quais, O que é jornalismo sindical, da coleção Primeiros Passos, Editora Brasiliense.’



PRÊMIO EMBRATEL


Zuenir Ventura


‘O Brasil da mídia’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 22/11/05


‘Quais foram as melhores matérias jornalísticas publicadas em jornais, revistas, rádio, internet e televisão entre julho de 2004 e agosto de 2005? Para responder essa pergunta, passei as duas últimas semanas quase que só lendo, ouvindo e vendo os cerca de 150 trabalhos que concorrem ao VII Prêmio Imprensa Embratel, selecionados entre 976 inscritos. O resultado é curioso porque mostra o que preocupou o país nesse período, ou pelo menos o que a mídia acha que foram as preocupações do país, o que nem sempre é a mesma coisa.


Não vou evidentemente revelar minhas escolhas, até porque, além de secreto, o meu voto é apenas um entre os de onze jurados. Mas posso adiantar algumas impressões, como a de que não acontece nada no país que não seja coberto pela mídia. Se cobre bem ou mal, é outra coisa. Mas eu diria que o nível das matérias tem melhorado muito nesses sete anos em que participo do júri. Claro que se está falando de uma seleção do que houve de melhor. Mesmo assim a qualidade surpreende. Confesso que muitas vezes tive vontade de dividir minha escolha com mais de uma matéria.


O Brasil que sai desses trabalhos não é agradável de se ver. Predominam nele os problemas sociais: violência, miséria, fome, crimes. Impressionam as chagas e mazelas: exploração de trabalho infantil, prostituição de crianças e adolescentes, crimes impunes e criminosos soltos, descaso do Estado. Só para se ter uma idéia: das 19 fotos selecionadas, 16 tratam dessas questões. O mais triste é que isso não acontece apenas nos grandes centros urbanos. A ‘Categoria regional’ do prêmio, que contempla as reportagens do Sul, Norte, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, revela como o país soube socializar seus flagelos.


Onde mais se nota a presença desse Brasil é na categoria ‘Jornalismo investigativo’, um dos itens mais concorridos. Como o nome já indica, são matérias de denúncias, descobertas e revelações sobre corrupção, drogas, máfias, ação do narcotráfico, confrontos, crimes de bandidos e de policiais, abuso sexual etc. (Como as inscrições terminaram antes do auge da crise do mensalão, pode-se calcular o que vai ser o ano que vem em termos de jornalismo investigativo.)


Em compensação, há duas categorias em que a maioria das reportagens é para cima, só trata de assuntos edificantes ou positivos: Responsabilidade Social e Jornalismo Cultural. É o Brasil do bem. No primeiro estão inscritos os trabalhos sobre iniciativas meritórias de pessoas e empresas visando ajudar os outros. No jornalismo cultural, estão as matérias sobre personagens e fatos artísticos. Além da qualidade dos trabalhos, que dificultou a minha escolha e acredito que a de meus colegas de júri, há a surpresa da origem. Das 13 matérias que chegaram às semifinais nesse quesito, a maioria não é do Rio ou São Paulo. Vieram de Minas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul. Só de Pernambuco, foram selecionadas quatro reportagens.


Você, caro leitor, talvez tenha suas justas queixas da imprensa e ache, como Balzac, que ‘se ela não existisse, não deveria ser inventada’. Mas é provável que sem ela as coisas no Brasil estivessem piores. Há acontecimentos importantes dos quais você não teria tomado conhecimento se não fossem os repórteres. Vendo ou revendo esses trabalhos, não se tem dúvida disso.’



A NOTÍCIA CONDENADA


Folha de S. Paulo


‘Jornal é condenado a pagar indenização à filha de Lula’, copyright Folha de S. Paulo, 23/11/05


‘A Justiça de Blumenau (SC) condenou o jornal catarinense ‘A Notícia’ a pagar indenização de R$ 50 mil para Lurian Cordeiro Lula da Silva, filha do presidente, que entrou com ação contra o jornal e contra o colunista Celso Machado. Segundo a sentença, ela se considerou ‘vítima de uma notícia difamatória’. A coluna ‘No Ar’ (13 de setembro de 2002), dizia que Lurian era funcionária ‘bem remunerada’ do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Blumenau por causa da amizade do pai com o então prefeito, Décio Lima (PT). O diretor de Redação do jornal, Luís Meneghim, disse que o veículo recorreu da decisão.’



JORNALISTA CONDENADO


Folha de S. Paulo


‘Jornalista é condenado por artigo contra índios’, copyright Folha de S. Paulo, 22/11/05


‘A Justiça Federal em Chapecó (SC) condenou o jornalista Nedson Antonio Lanzini a pagar uma indenização de R$ 50 mil à Funai (Fundação Nacional do Índio), por danos morais, devido a um artigo, de 1995, considerado preconceituoso aos índios. Lanzini escreveu, no jornal ‘O Iguaçu’ (já extinto), que o símbolo da Chapecoense -um indígena- deveria ser outro, pois ‘o índio que sobreviveu é a figura melancólica do fim de uma raça’. ‘Pode ser até um veado, uma galinha, um porco, mas não um índio’, escreveu. Lanzini diz que não houve preconceito e que vai recorrer.’



FSP CONTESTADA


Painel do Leitor, FSP


‘Telemar’, copyright Folha de S. Paulo, 23/11/05


‘‘Sobre a chamada ‘Telemar foge de licitação com ajuda de sindicalista’ (Primeira Página, 20/11), a Telemar esclarece alguns pontos: A companhia enviou no dia 18 de novembro de 2005 nota em resposta às informações do jornal, porém o posicionamento não foi utilizado na íntegra, tendo sido suprimidas partes fundamentais para o esclarecimento do caso. Uma das informações não publicadas trata do caráter exclusivo da solução Voice Net da Telemar ter sido ratificado pelo entendimento de promotorias e procuradorias e confirmado em pareceres de órgãos de fiscalização pública em avaliações dos contratos firmados. Outra declaração suprimida na reportagem trata do estranhamento da Telemar com o fato de que a livre disputa comercial entre grandes competidores do mercado tenha entrado na pauta de eventual disputa política de dirigentes sindicais e seja alvo de discussão para interferência descabida. A empresa rechaça a interpretação do título da chamada da Primeira Página, que afirma que a empresa ‘foge’ de licitação. A interpretação não encontra fundamento nas declarações de fontes ouvidas pela reportagem, que não apresenta provas da utilização dos atestados com esse objetivo. A Telemar é fornecedora de serviços integrados de telecomunicações para grandes corporações no Brasil e participa e sai vitoriosa de inúmeras licitações, tanto para clientes privados como para órgãos públicos; Outra informação que não procede é o título da capa do caderno Dinheiro 2, que menciona que a empresa usou o sindicato para ganhar licitação. Os contratos com instituições públicas mencionados na reportagem não resultam de licitações, e a utilização dos atestados de exclusividade emitidos pelos sindicatos está prevista na lei 8.666, que explica de maneira inequívoca quando não é necessária uma licitação. A Telemar é pioneira na oferta de soluções convergentes de telecomunicações, e esse pioneirismo garantiu o caráter inédito das soluções na ocasião da assinatura dos contratos; A reportagem afirma haver concorrentes com produtos semelhantes, ouvindo a Telcomp e a Anatel como fontes. No entanto a reportagem não cita um único caso de utilização de serviço semelhante ao da companhia no período da assinatura dos contratos. As informações sobre a existência de tais serviços são genéricas e não se prestam a comparações com a solução Voice Net, de fato exclusiva no momento da conquista dos contratos, integrando serviços de telefonia fixa e móvel e baseada em ampla e inigualável capilaridade da rede de telecomunicações da companhia.’ Suzana Santos, assessoria de imprensa da Telemar (Rio de Janeiro, RJ)


Reposta da jornalista Elvira Lobato – O tema central da reportagem foi mostrar que a companhia assinou contratos públicos, no Ceará, em Pernambuco e no Rio de Janeiro, com dispensa de licitação após apresentar declarações de dirigentes de sindicatos dos telefônicos de que só ela seria capaz de prestar um elenco de serviços corporativos. Não é tarefa de sindicatos de trabalhadores interferir na concorrência comercial entre empresas. O fato de a Telemar ter uma solução tecnológica diferente da de seus concorrentes não significa que só ela possa executar os serviços, pois há diversas soluções tecnológicas com os mesmos serviços de telecomunicações.


Senado


‘A nota ‘Caneta na mão’ (‘Painel’, Brasil, pág. A4, 21/11) omite que, após quase 200 dias de investigação, não existe nenhuma denúncia, por parte de quem quer que seja, sobre meu envolvimento nas irregularidades apuradas pelas CPIs, pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Ao contrário. Em seu depoimento à CPMI dos Correios, no último dia 11 de agosto, o publicitário Duda Mendonça disse que não houve irregularidade em minha campanha ao Senado: ‘A campanha do presidente [Lula] foi totalmente paga com dinheiro oficial, assim como a do senador Aloizio Mercadante. A do senador Aloizio Mercadante porque foi barata, foi muito barata. Ela entrou num pacote onde eu tinha toda a estrutura pronta’. Num outro trecho, o publicitário confirma a informação anterior: ‘O senador Aloizio Mercadante foi profundamente beneficiado nessa campanha de São Paulo, porque eu tinha toda uma estrutura montada. Eu podia fazer a campanha dele de graça’. De acordo com o publicitário, o mesmo aconteceu nas campanhas do senador Pedro Simon quando Antônio Britto (RS) concorreu ao governo gaúcho e do senador Garibaldi Alves quando Fernando Bezerra (RN) concorreu ao governo potiguar. ‘Vossa Senhoria fez a campanha de Antônio Britto e eu era candidato ao senado, entrei de graça, sem pagar nada’, concluiu o senador Simon. ‘Exatamente’, respondeu Duda Mendonça. Reafirmo meu interesse para que todas as denúncias sejam esclarecidas, principalmente as que dizem respeito ao meu partido, e que todos os responsáveis sejam punidos.’ Aloizio Mercadante, senador -PT-SP (Brasília, DF)’