Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Cobertura africana além de tambores e atabaques

A entrada da África do Sul nos Brics, acrônimo que se refere aos países de economia emergente – composto por Brasil, Rússia, Índia e China –, mostrou a força política do Estado que teve seu crescimento previsto assim como sua entrada no grupo pelo sociólogo Octavio Ianni em 1996 no livro Teorias da Globalização. A Copa do Mundo de 2010 levou muitos correspondentes brasileiros, porém ao parar a bola a maioria voltou para as redações do Brasil sendo que muitos órgãos jornalísticos não deixaram um vínculo com um país de enorme relevância cultural, social e agora política e econômica.

Se houve um campeonato dessa magnitude naquela nação se deve ao posto que estava assumindo. Afinal, o poder é invisível. Entretanto, é comum escutar em conversas particulares de alguns jornalistas preconceituosos que o país só tinha uma rua asfaltada. Não dá para negar que o local ainda sofre com casos graves de pobreza, mas provavelmente estes comunicadores não leram ou desdenham de Ianni, sendo que muitos deles jamais estiveram lá. Dois dos maiores líderes da política sul-americana atual, Lula e FHC, observam atentamente a África do Sul. O primeiro abriu as relações ao levar embaixadas ao continente e FHC recebeu, no centro Ruth Cardoso, Graça Machel, mulher do ex-presidente Mandela para palestrar e ser homenageada. Os dois políticos brasileiros ao seu modo apresentam preocupações relevantes às condições dos negros e também sobre o crescimento do Brasil no tabuleiro internacional.

A nova fase da nação

Diferente do pensamento político, a cobertura que a África do Sul e seus vizinhos recebem tem pouca exposição na imprensa brasileira. Houve o elogiável trabalho de Fábio Zanini no blog ‘Pé na África’, da Folha de S.Paulo, e também o programa Nova África exibido pela TV Brasil, mas nada que se compare ao semanal African Voices, da rede CNN. Muito do que se mostra do país remete apenas a Nelson Mandela, ícone da luta contra o apartheid, porém não foi o único ativista. Em outros momentos, a imprensa, na maioria dos casos, fala apenas de natureza ou retorna ao tema do racismo.

A África do Sul tem diversos problemas, como o combate à Aids, os altos índices de estupro – que para alguns locais é algo cultural – e desemprego. Entretanto, há outros pontos a serem debatidos pelos aspectos econômicos, políticos e sociais. Como disse Machel em sua visita ao Brasil: ‘Acreditem, a África está mudando para melhor.’

Sendo agora um player global, é interessante, tanto para o Brasil quanto para a imprensa nacional, aumentar o número de equipes visando a acompanhar essa nova fase da nação, assim como manter uma base nela para acompanhar eventos nos países vizinhos, pois infelizmente nem todos são democráticos, como a África do Sul, e o jornalismo neles está praticamente extinto, o que corrobora com as ações de ditadores.

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Jornalista e mestrando em Comunicação