Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Futebol é uma caixinha de surpresas

A frase que dá título a este artigo é atribuída ao radialista brasileiro Benjamin Wright, que cobriu todas as Copas, de 1950 a 1970, e morreu no Rio, em 2009, aos 84 anos.

A mídia discute – e persistirá nisso sabe lá Deus até quando – o erro crasso do juiz uruguaio Jorge Larrionda no jogo entre Alemanha e Inglaterra.

A Alemanha teve um começo arrasador e vencia por 2 x 0 quando a Inglaterra fez o primeiro gol. O empate foi evitado pelo juiz. O jogador inglês Frank Lampard teve seu gol anulado, ainda que a bola tenha ultrapassado em 33 cm a linha branca que no chão marca a meta. É claro que o resultado poderia ter sido outro se a Inglaterra chegasse ao empate. Chegar, chegou, mas foi roubada. De todo modo, tomar depois um gol produzido pelo passe do goleiro alemão ao atacante inglês foi coisa para desmoralizar o time inglês e seu técnico, o italiano Fábio Campello. Este foi o erro da manhã.

Olhos de ver

É verdade que, como reconheceu o primeiro-ministro britânico David Cameron, que assistiu ao jogo ao lado da chanceler alemã Angela Merkel, desta vez o erro não foi fatal, como aconteceu na final da Copa de 1966, no jogo final entre as duas seleções. Pois a Alemanha aplicou desta vez uma goleada de 4 x 1, eliminando a Inglaterra.

Na final de 1966, com o jogo empatado em 2 x 2, já na prorrogação, o juiz validou um gol inglês que levou a Inglaterra conquistar seu primeiro e único título mundial até então. Depois os ingleses fizeram mais um e o resulto final foi 4 x 2. Os inventores do futebol só ficaram campeões do mundo uma vez e assim mesmo com um gol no mínimo polêmico.

À tarde o juiz italiano Roberto Rosetti encarregou-se da segunda lambança. Validou o gol de Tevez, impedido, quando a Argentina sofria diante de um México muito bem postado em campo. O bandeirinha não viu que Tevez estava impedido? Neste caso, precisava de óculos, pois somente ele não viu o que todo mundo viu. Com a diferença de que ele é regiamente pago para decidir se há impedimento ou não, isto é, se a regra foi transgredida ou não. E a regra foi violada na cara do bandeirinha.

Assuntos à beça

Debalde os mexicanos reclamaram. Mas quem fez a jogada que resultou no segundo gol da Argentina – um presente da zaga mexicana ao atacante argentino Higuaín – merecia levar mais alguns e foi o que aconteceu. A Argentina fez três, sem precisar de Messi, que chegou a essa Copa aclamado como rei precoce.

E esqueçamos o pavoroso erro a nosso favor no jogo Brasil x Costa do Marfim, quando Luís Fabiano ajeitou a bola duas vezes com o braço para fazer o gol que a mídia brasileira exaltou com um dos mais bonitos dessa Copa. Muito bem! Mas seria bom que ele fizesse outros usando apenas os pés. Não é pedir muito.

A Seleção Brasileira, dirigida pelo mesmo Dunga, foi derrotada pela Argentina por 3 x 0 nos Jogos Olímpicos de Pequim. E ao voltar, com o cargo do técnico em perigo, o Brasil venceu o Chile por 3 x 0 pelas eliminatórias, em Santiago.

Vencendo ou perdendo, a mídia sempre tem assuntos em profusão no futebol.

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Escritor, professor da Universidade Estácio de Sá e doutor em Letras pela USP; seus livros mais recentes são o romance Goethe e Barrabás e De onde vêm as palavras