Quinta-feira, 6 de novembro de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 2025 - nº 1363

Fazer reportagem custa caro: de R$ 1 milhão a R$ 4 milhões; conheça quatro casos

(Foto: Markus Winkler | Unsplash)

A maioria das empresas de jornalismo não divulga o quanto gasta para produzir e publicar uma reportagem. Mas de vez em quando um ou outro editor vaza alguns dados. E em algum lugar qualquer desse planeta azul sempre tem alguém que guarda essas informações. Bem, então vamos acessar algumas delas a partir de agora! Por que não?

Vai pra Argentina, c4r4j0!

No dia 9 de outubro foi lançado o documentário “Vai pra Argentina, c4r4j0!” (2025), do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), que denuncia manipulação midiática com uso de fake news a favor do presidente daquele país, Javier Milei. O filme, que é uma videorreportagem dirigida pela atriz Juliana Baroni e pelo jornalista Fabián Restivo, custou ao ICL quase R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) ou US$ 182.800,00 na cotação atual. Quem vazou a informação foi o próprio cofundador do instituto e também apresentador do documentário, o economista, escritor, empresário e apresentador brasileiro, Eduardo Álvares Moreira, em um vídeo em seu canal no YouTube. “A gente gastou uma fortuna para fazer. Pelo menos para os nossos padrões”, disse.

Poisoned

Os jornalistas Eli Murray, Rebecca Woolington e Corey G. Johnson publicaram no Tampa Bay Times, um jornal veiculado em St. Petersburg, Flórida, Estados Unidos, a reportagem Poisoned (2021). A matéria, em três partes, é fruto de uma investigação que durou 18 meses. No final, ela revelou como centenas de trabalhadores da fábrica Gopher Resource, localizada na região, foram expostos a níveis perigosos de chumbo. Cruzando dados por meio da ferramenta Pinpoint, do Google, os jornalistas descobriram que 8 em cada 10 trabalhadores, de 2014 a 2018, haviam sido envenenados, que algumas partes da fábrica estavam fora dos padrões permitidos pelo governo, e que os diretores sabiam disso. O Tampa Bay Times investiu US$ 500.000,00 (quinhentos mil dólares) na produção da reportagem, equivalentes a R$ 2.732.950,00 na cotação atual. A reportagem rendeu aos jornalistas o prêmio Pulitzer de 2022.

Overdose

A investigação jornalística “Overdose” (2013) que durou dois anos, entregou ao site ProPublica uma série com 16 reportagens sobre os riscos do paracetamol, princípio ativo do medicamento Tylenol. Publicadas por vários jornalistas, entre os quais Jeff Gerth e T. Christian Miller, as reportagens denunciaram que apesar da imagem de segurança promovida pela fabricante, McNeil Consumer Healthcare, subsidiária da Johnson & Johnson, cerca de 1.500 estadunidenses haviam morrido na última década por conta do uso excessivo da substância. E o pior, a Food and Drug Administration (FDA) sabia do problema há anos. A produção das reportagens custou US$ 750.000,00 (setecentos e cinquenta mil dólares) ou R$ 4.101.750,00 na cotação atual. Elas exerceram pressão sobre a FDA, aumentaram a atenção pública aos riscos do medicamento e geraram discussões sobre rotulagens e dosagens, entre outros resultados.

The Deadly Choices at Memorial

ProPublica e a revista semanal New York Times do jornal de mesmo nome publicaram a reportagem “The Deadly Choices at Memorial” (2009), de autoria da doutora Sheri Fink, sobre decisões de vida e morte tomadas por médicos em um hospital isolado pelas enchentes do furacão Katrina. A matéria mostrou que ao menos 17 pacientes foram injetados com morfina ou midazolam em doses elevadas e foram a óbito no local. Isso gerou comoção e discussão pública sobre ética médica, debate sobre eutanásia e críticas aos procedimentos de triagem. Uma médica e duas enfermeiras foram presas, mas não houve condenação, sendo elas liberadas posteriormente. Pela reportagem, Sheri Fink recebeu o prêmio Pulitzer de 2010. O projeto custou cerca de US$ 400.000,00 (quatrocentos mil dólares) ou R$ 2.186.360,00 na cotação atual.

Qual a sua reportagem mais cara?

Agora que ficou sabendo os valores gastos em algumas das reportagens mais caras da história, nada mais justo do que você retribuir informando quanto custou a reportagem mais cara que você já produziu. Responda aí nos comentários!

Aproveite e compartilhe este post com seus colegas jornalistas e estudantes da área de comunicação social.

Bibliografia

Eduardo Moreira: novo documentário do ICL censurado pelas Big Techs. [s.l.: s.n.], 2025. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6EntFCXK2mE>. Acesso em: 13 out. 2025.

FINK, Sheri. The Deadly Choices at Memorial. ProPublica. Disponível em: <https://www.propublica.org/article/the-deadly-choices-at-memorial-826>. Acesso em: 13 out. 2025.

Folha de S.Paulo – Saiba mais: Custo da reportagem foi de US$ 400 mil – 09/06/2010. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/tec/tc0906201020.htm>. Acesso em: 13 out. 2025.

Google Pinpoint: como desbloquear pautas jornalísticas em grandes volumes de dados? | Jornalismo Pro. Disponível em: <https://jornalismopro.com.br/google-pinpoint/>. Acesso em: 13 out. 2025.

OSNOS, Peter. These Journalists Spent Two Years and $750,000 Covering One Story. Disponível em: <https://tcf.org/content/commentary/these-journalists-spent-two-years-and-750000-covering-one-story/>. Acesso em: 13 out. 2025.

Overdose. ProPublica. Disponível em: <https://www.propublica.org/series/overdose>. Acesso em: 13 out. 2025.

Poisoned: A Tampa Bay Times investigation. Disponível em: <https://projects.tampabay.com/projects/2021/investigations/lead-factory/>. Acesso em: 13 out. 2025.

Tampa Bay Times reporters win Pulitzer Prize for ‘Poisoned’ series. [s.l.: s.n.], 2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=AyeufmOOhtY>. Acesso em: 13 out. 2025.

Times project exposing lead dangers at Florida factory cost about $500,000. Tampa Bay Times. Disponível em: <https://www.tampabay.com/news/2021/03/31/times-project-exposing-lead-dangers-at-florida-factory-cost-about-500000/>. Acesso em: 13 out. 2025.

Vai pra Argentina, carajo! – Documentário original icl – 09/out, quinta, às 20h. [s.l.: s.n.], 2025. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7nlbj3mZYUM>. Acesso em: 13 out. 2025.

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Marinaldo Gomes Pedrosa é Bacharel em jornalismo pela UniSant’Anna, é editor do website Jornalismo Pro.