Friday, 10 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Pentágono ameaça processar ex-militar por livro sobre operação no Paquistão

O Departamento de Defesa dos EUA ameaçou processar Matt Bissonnette, ex-membro do Comando Naval para Operações Especiais (Seal, sigla em inglês) que narrou em livro, em primeira pessoa, o ataque que resultou na morte de Osama bin Laden, no Paquistão, no ano passado. Ainda assim, o advogado do autor e a editora do livro, Penguin, levaram adiante o lançamento – que foi realizado oficialmente no dia 11/9.

O livro No Easy Day (Não há dia fácil, tradução livre) chegou a tirar o posto de Cinquenta tons de cinza na lista dos mais vendidos do USA Today, que reúne ficção e não-ficção. A tiragem inicial, que era de 300 mil cópias, foi ampliada para 575 mil. Em uma semana, foram vendidas 253 mil cópias da publicação em capa dura. Na lista do New York Times, ele foi o mais vendido de não-ficção em capa dura.

O ex-militar, de 36 anos, escreveu o livro em parceria com Kevin Maurer. Foi a Fox News que identificou Bissonnette como sendo o autor da publicação, o que foi confirmado pelas autoridades militares do Departamento de Defesa. O histórico de Bissonnette mostra que ele recebeu seis medalhas por bravura.

O secretário de imprensa do Departamento de Defesa, George Little, afirmou a repórteres que o autor do livro havia “quebrado acordos de não divulgação de informações confidenciais que assinou com o governo dos EUA” e deveria entregar seu livro para uma revisão – o que não foi feito. Little disse que o Pentágono, sede do Departamento de Defesa, estava “reavaliando todas as opções” contra Bissonnette. Algumas partes da publicação contradizem a versão oficial da operação.

Os comentários de Little foram feitos após ter sido enviada uma carta a Bissonnette na qual Jeh C. Johnson, assessor-geral do Pentágono, dizia-lhe que ele “quebrara” dois acordos de não divulgação que assinara em 2007. Johnson teria escrito que o Pentágono “está avaliando tomar contra você, e todos os que venham agindo em conjunto com você, todas as medidas legais de que dispomos”.

Em defesa de Bissonnette

Numa carta enviada ao Departamento, Robert D. Luskin, advogado de Bissonnette, disse que o autor, que escreveu o livro com o pseudônimo de Mark Owen, “procurou orientação legal sobre suas responsabilidades antes de concordar em publicar o livro e revisou o trabalho meticulosamente para garantir que não estava divulgando qualquer material que representasse uma quebra dos acordos com o governo ou pusesse seus companheiros em risco”. “Ele continua confiante de que cumpriu fielmente seu dever”, disse em carta.

A carta também diz que o livro não estava sujeito ao acordo de não divulgação que o Departamento de Defesa alega ter sido violado. Tal acordo, segundo Robert Luskin, referia-se a “programas de acesso especial especificamente identificados” e não abrangem o assunto de que trata o livro. “Mark Owen tem orgulho de seu trabalho e respeita suas obrigações”, diz a carta. “Mas ganhou o direito de contar sua história.”

Luskin representou Karl Rove quando esse, então um dos principais assessores do presidente George W. Bush, foi investigado sobre seu papel no vazamento do nome de Valerie Plame Wilson, ex-agente clandestina da CIA. Após meses de argumentação entre o advogado e o promotor Patrick Fitzgerald, Luskin anuncou, em junho de 2006, que as acusações contra Karl Rove haviam sido arquivadas. Informações de Elisabeth Bumiller e Julie Bosman [New York Times, 1/9/12], de Tabassum Zakaria [Reuters, 5/9/12] e de Lily Rothman [Time, 17/9/12].