Tuesday, 14 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

O jornalismo digital gratuito funciona?

Na semana passada, dois interessantes debates entre especialistas em comunicação tiveram como foco o valor das experiências gratuitas e digitais no jornalismo. O primeiro tratou da falência, no mês passado, da rede de jornais Journal Register Co. e de sua tão proclamada estratégia do “digital em primeiro lugar”. A editora e diretora Kristina Ackermann escreveu uma coluna jogando água fria na ideia de que uma abordagem centrada no digital seria a maneira de socorrer a indústria jornalística.“O ‘digital em primeiro lugar’ pode muito bem vir a ser o padrão da indústria, mas ainda não chegamos lá e nem chegaremos até encontrarmos uma maneira de ganhar algum dinheiro ao fazê-lo. Da próxima vez que um guru da mídia vier dizer-lhe como conduzir seus negócios, aceite com um certo grau de ceticismo”, disse.

O professor de jornalismo Paul Bradshaw respondeu com um post argumentando que deixar de lado o jornalismo “digital em primeiro lugar” é agir como se o progresso ficasse parado, esperando que os jornais ponham suas casas em ordem. Mesmo que ainda não saibamos como tornar o jornalismo digital lucrativo, disse Bradshaw, “deveríamos pelo menos reconhecer que o velho sistema está falido. Não podemos voltar aos tempos das margens de lucro dos jornais impressos: desapareceram os leitores e os anunciantes já os estão seguindo”. O jornalista Mathew Ingram repercutiu sua opinião no site GigaOM, dizendo que, embora existam muitas abordagens diferentes para a transição para o “digital em primeiro lugar”, o fato dessa transição ter que ser feita não está em questão.

No entanto, o consultor de mídia Martin Belam destacou que as organizações de jornalismo “digital em primeiro lugar” concorrem com outras empresas digitais e John Bethune, da B2B Memes, contrapôs que as organizações de mídia “digital em primeiro lugar” deveriam existir lado a lado com o jornal impresso, ao invés de tornarem apenas digitais. Adrienne LaFrance, do Nieman Lab, relatou o caso de um jornal que se expandiu a partir da edição impressa – o Orange County Register.

Publicidade e qualidade

O segundo debate teve como foco imprensa gratuita vs. imprensa paga, em parte ligado à falência do Journal Register no mês passado. Dean Starkman, da Columbia Journalism Review, continuou sua discussão com Mathew Ingram sobre se fazer jornalismo gratuito leva a baixar a qualidade. Starkman argumentou que o modelo gratuito dirige-se, quase sempre, a produzir volume, o que, apesar de algumas exceções, não é particularmente compatível com qualidade. Ingram discordou, dizendo que há muitas provas de que um modelo fundamentalmente apoiado em publicidade – na velha ou na nova mídia – é (ou não é) compatível com jornalismo de qualidade e um modelo de negócios não determina de antemão coisa alguma sobre o produto em si.

Steve Buttry, da Digital First (que administra os jornais do grupo Journal Register), também interveio para discordar de Starkman, embora, ao contrário de Ingram, tenha dito que o modelo de negócios afeta, sim, o jornalismo. Disse, entretanto, que a busca por volume (ou seja, tráfego) em sites gratuitos não é incompatível com qualidade e, em muitos casos, a incentiva – e destacou ainda que os sites com paywall (conteúdo pago) também não estão em busca de tráfego. Informações de Mark Caddington [Nieman Journalism Lab, 12/10/12].