Monday, 13 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Jornais não acompanham demanda por produtos para celulares e tablets

O mais recente relatório sobre o estado da mídia da organização Pew Research Center, “The State of the News Media 2013”, aborda um dos truísmos do jornalismo digital, de que a plataforma móvel é uma grande parte do futuro das notícias, se não “o” futuro. A seção “Digital: As Mobile Grows Rapidly, the Pressures on News Intensify” (Digital: na medida em que o móvel cresce rapidamente, as pressões sobre as notícias intensificam-se, tradução livre) faz uma análise aprofundada sobre a migração das notícias para o móvel.

Segundo o relatório, 31% dos adultos americanos têm tablet, o triplo do número encontrado em maio de 2011; 45% possuem um smartphone, 10 pontos percentuais a mais do que há dois anos; a Apple vendeu 65,7 milhões de iPads em todo o mundo no ano passado, cerca de 62% do mercado de tablets, com muitos competidores contabilizando o restante.

Esse crescimento é bom para a mídia, pois o acesso às notícias é um dos usos mais populares para esses aparelhos, permitindo que americanos o façam quando e onde quiserem. Os números mostram que 64% dos proprietários de tablets afirmam que veem notícias em seus aparelhos semanalmente e 37%, diariamente. A tendência é quase idêntica para donos de smartphones – 62% acessam notícias em seus celulares semanalmente e 36%, diariamente.

O Pew Research cita Raju Narisetti, então presidente da Rede Digital do Wall Street Journal, em uma apresentação de fevereiro de 2012 na conferência Estratégias de Mídia Digital, em Londres: “No mês passado, 32% do meu tráfego veio do móvel. Há um ano, eram 20% e daqui a um ano será 50%”.

Os jornais não estão prontos

Os leitores estão prontos para as notícias em plataformas móveis. Mas estariam as empresas de jornais prontas para entregá-las? Para a grande maioria delas, a resposta é não. O Press Plus, serviço de assinatura digital fundado por Steven Brill e Gordon Crovitz com mais de 420 clientes, 380 deles empresas de jornal (1/3 dos 1.300), tem mais de 95% do mercado com modelos de assinatura que oferece um número de artigos gratuitamente. A maior parte dos clientes é composta por jornais locais ou cadeias de jornais regionais. Alguns dos maiores jornais dos EUA – como New York Times e Wall Street Journal – têm seus próprios sistemas. Mas a lista do Press Plus – que inclui as cadeias McClatchy e Tribune – é uma mostra razoável da indústria jornalística. Apenas 22% dos clientes do Press Plus, a grande maioria de empresas de jornais, têm capacidade para oferecer seu conteúdo em tablets (1/3 dos leitores possuem o aparelho). Menos ainda podem oferecer notícias para smartphones, tecnologia que metade do país possui.

Brill observa que os jornais estão indo na direção certa. “Há um ano, esse número era provavelmente de 1 a 2%. No próximo ano, será de 50 a 75%”. Ele diz ainda que a lentidão das editoras em estabelecer a capacidade móvel acontece porque só recentemente elas começaram a cobrar por conteúdo digital. “O fato de que estão só agora indo em direção à pequena, mas em breve grande, audiência móvel não é surpreendente e não deve ser criticado”, defende.

Há experiências bem sucedidas de cobrança por conteúdo e os valores de assinatura digital estão maiores – média de US$ 9,26 por mês (em torno de R$ 19) em janeiro de 2013, com crescimento de 5% comparado a julho de 2012. Mas isso não ajuda muito se as empresas não puderem oferecer seu produto em aparelhos que estão sendo cada vez mais usados pelos leitores.

O fato é que o móvel é a oportunidade pela qual os jornais estão esperando. O PC nunca foi uma boa tecnologia para o jornalismo. Os laptops são apenas um pouco melhores. A indústria aguardava há muito por algo que seria melhor, e agora esse “algo” existe. É verdade que as empresas de jornais têm mais trabalho do que startups, pois têm que aprender a se transformar em empresas de tecnologia. No entanto, é questão de sobrevivência: elas não têm mais escolha.

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