Wednesday, 15 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Iniciativas de cobrança começam a dar bons resultados

Os esforços da última década para desenvolver iniciativas de jornalismo digital parecem ter começado a dar bons resultados. O otimismo das organizações de mídia é justificado por uma série de fatores: a crescente receita de conteúdo pago e de aplicativos para tablets e smartphones, assim como uma mudança favorável na atitude do público em relação ao pagamento de notícias online. Essas tendências estão fazendo com que cada vez mais jornais cancelem ou reduzam o fluxo de conteúdo digital gratuito. Os britânicos Daily Telegraph e Sun, por exemplo, lançaram recentemente serviços pagos, e metade dos jornais americanos já cobra por parte de seus serviços de notícias digitais.

Segundo Robert Picard, diretor de pesquisa do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, na Universidade de Oxford, a esperança na receita digital não é um sonho tão distante para as organizações de notícias. O mundo digital não produzirá a renda que o impresso produziu nos anos 90, pondera ele, mas a receita e os lucros da operação digital estão aumentando e algumas organizações com estratégias de sucesso estão fazendo o futuro parecer mais promissor.

A pesquisa Digital News Reportmostra que produtos noticiosos pagos estão em alta no mundo. Também revela que os consumidores digitais estão agora mais dispostos a pagar por notícias e que novas plataformas digitais, como tablets e smartphones, estão desempenhando papéis especialmente importantes, contribuindo para a mudança nas atitudes do público.

Embora haja razão para algumas organizações de mídia sentirem um certo alívio, aproveitar o novo fluxo de receita não é uma simples escolha de pedir ou não aos leitores para pagar por conteúdo digital. Muitas decisões estratégicas tiveram de ser feitas – sobre que sistema de pagamento adotar, por exemplo. São diversas as estratégias para pagamento de conteúdo online. Algumas organizações restringem totalmente o acesso ao conteúdo, enquanto outras permitem que sejam visualizadas apenas manchetes ou primeiros parágrafos ou divulgam matérias gratuitas e deixam restrito conteúdo mais aprofundado ou considerado especial. Algumas optam, ainda, por operar um número de artigos gratuitos e passar a cobrar para determinadas plataformas ou notícias adicionais. Esse modelo foi popularizado pelo Financial Times e posteriormente adotado por títulos como New York Times e San Francisco Chronicle.

Ao longo do tempo, foi ficando aparente que as organizações que tiveram uma postura mais rígida com a cobrança de conteúdo perderam entre 85% e 95% do tráfego do site. O NYTimes, por exemplo, afirma que perdeu cerca de 90% de seu tráfego quando lançou seu sistema pago. A lição é que esse pode ser um modelo de negócios com resultados aceitáveis apenas se mais receita for obtida de consumidores do que perdida com receita publicitária devido ao tráfego reduzido. Já modelos gratuitos e com sistemas de cobrança a partir de determinado número de artigos reduziram o tráfego em apenas 5% a 15%, o que mostra que é possível gerar efetivamente tanto receita de vendas quanto receita publicitária.

Esperança

Há poucos casos de organizações obtendo receita digital expressiva e são geralmente provedores de notícias nacionais em grandes países. Suas estratégias digitais são viáveis mesmo se elas atraírem uma pequena porcentagem de consumidores. No entanto, várias grandes organizações de notícias tradicionais conhecidas por suas marcas geram, hoje, de 15% a 25% de sua receita total com mídia digital, com audiências até 10 vezes maiores do que suas edições impressas. Até mesmo organizações de médio porte estão começando a se aproveitar de tais benefícios.

Organizações em países com idiomas compreendidos em vários lugares estão se beneficiando ao atrair consumidores internacionais – uma estratégia que está sendo adotada pelo britânico Guardian, na medida em que busca leitores na América do Norte, na Austrália e em outras partes do mundo.

Sistemas pagos cooperativos, que operam sistemas de assinaturas e pagamentos em nome de várias organizações, estão agora começando a funcionar, especialmente para empresas de pequeno e médio porte, porque reduzem os custos e promovem um acesso fácil para atrair novos consumidores.