Thursday, 16 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

O jornalista que virou foco do debate

Os documentos secretos vazados pelo ex-técnico da Agência Nacional de Segurança dos EUA, Edward Snowden, e que revelaram a existência de uma grande rede de espionagem montada pelo governo americano, acabaram elevando um jornalista a personagem. O americano Glenn Greenwald, que mora no Rio de Janeiro e até pouco tempo atrás trabalhava para o jornal britânico The Guardian, tornou-se alvo de debates e controvérsias por conta das matérias que publicou nos últimos meses com base nos papéis de Snowden.

Decidido a vazar os documentos sobre a espionagem do governo americano, o analista, hoje foragido na Rússia, não sabia se podia confiar nos grandes jornais de seu país. Procurou, então, jornalistas que fossem familiarizados com a cultura dos blogs e das mídias sociais. Começou a se corresponder com a documentarista Laura Poitras e com Greenwald e confiou neles para a divulgação dos arquivos secretos.

Depois que as matérias começaram a ser publicadas no Guardian, Greenwald passou a se ver rodeado de questionamentos. O foco sobre ele aumentou ainda mais depois que seu companheiro, o brasileiro David Miranda, foi detido, em agosto, no aeroporto de Londres para ser interrogado com base na lei de terrorismo do país. Miranda havia ido a Berlim se encontrar com Laura Poitras e trazia arquivos criptografados.

Em outubro, Greenwald foi, ironicamente, vítima de um vazamento: sua saída do Guardian. Mais uma vez, virou notícia. O jornalista afirmou que havia recebido um convite irrecusável para fundar uma nova organização de jornalismo investigativo. Pouco tempo depois, ficou-se sabendo que o projeto é financiado pelo fundador do eBay, Pierre Omidyar.

Perfis e acusações

Em artigo no site do Nieman Journalism Lab, Mark Coddington lista artigos e discussões recentes em veículos de mídia na internet sobre Greenwald, seu novo projeto e a forma como lidou com os documentos vazados:

Janet Reitman, da revista Rolling Stone, escreveu um longo perfil de Greenwald e Snowden. O jornal britânico Independent publicou um perfil do jornalista americano Jeremy Schahill, que trabalhará com Greenwald. Jay Rosen, professor de jornalismo da NYU e conselheiro da nova organização, falou a Conor Friedersdorf, da The Atlantic, sobre como ela irá produzir reportagens com uma perspectiva mais aberta, ao contrário da objetividade tradicional.

Greenwald refutou uma acusação de um repórter do Wall Street Journal de que teria falhado em deixar clara a natureza de sua relação de freelancer com a rede canadense CBC. Depois, ele recebeu uma crítica mais substancial de Mark Ames, do PandoDaily, que afirmou que a posse dos documentos de Snowden equivaleria à privatização dos mesmos por um magnata da tecnologia que administrará uma organização de notícias com fins lucrativos. “Informações de importância nacional, tais como as que as principais empresas de tecnologia entregaram ao governo dos EUA para espionar cidadãos, serão publicadas a critério do fundador e maior acionista de uma dessas empresas”, escreveu.

Em uma longa resposta a Ames, Greenwald argumentou que ninguém monopolizou os documentos e que ele – e outros com acesso aos papéis – lidaram com o material da melhor maneira possível. Paul Carr, também no PandoDaily, rebateu as críticas de Greenwald ao PandoDaily e a Ames.

David Weinberger, do Berkman Center, centro de pesquisas sobre internet em Harvard, também entrou no debate. Para ele, o fato de que “a acusação de que Gleen Greenwald está monopolizando ou privatizando a informação de Snowden seja compreensível para nós é a prova de como a web está mudando nossos padrões e conceitos”. David Sirota, do PandoDaily, analisou as diferenças no tratamento recebido por Greenwald e Barton Gellman, repórter do Washington Post que também publicou documentos de Snowden, e a blogueira Marcy Wheeler examinou o papel do veterano jornalista Bob Woodward no debate sobre o suposto monopólio dos documentos.