Friday, 10 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

A repercussão de uma história de amor

Uma matéria publicada na semana passada na seção ‘On Love’ (Sobre o amor, tradução livre) no Washington Post deu o que falar. Nela, era contada a história do relacionamento do jogador de basquete Chris Whitney e de sua esposa, Charlotta Glass. Depois que Charlotta engravidou, em 2002, quando ainda era noiva de Whitney, eles se separaram. Até 2008, quando aposentou-se da NBA, Whitney não teve contato com ela ou com a criança. Foi quando decidiu reatar o noivado e, na virada de 2009 para 2010, os dois se casaram, tendo como pajem o filho, de sete anos.

Para alguns leitores, tratou-se de uma história inspiradora sobre um casal que cometeu erros, amadureceu e encontrou o verdadeiro amor. Para outros, a matéria focou em questões como filhos fora do casamento, sexo sem proteção e estereótipo racial (ambos são negros). Os críticos detiveram-se em duas frases que descreviam o período em que o casal viveu separado, depois do nascimento do filho: ‘Whitney teve mais três filhos com outras mulheres. Charlotta adotou um adolescente, cujos pais morreram, e foi mãe solteira novamente’. ‘O Post não devia exaltar este tipo de comportamento irresponsável’, escreveu um leitor. Foram tantos comentários online que até Charlotta sentiu-se na obrigação de se juntar ao debate para defender seu casamento, conta o ombudsman Andrew Alexander em sua coluna de domingo [31/1/10].

Na redação do Post, três editores negros levantaram questões com seus chefes depois que a matéria foi publicada. A editora da seção de notícias locais, Monica Norton, disse ao ombudsman que ficou imaginando como os casais eram escolhidos para a seção e afirmou que, em sua opinião, a história de Charlotta e Whitney estava fora de contexto e sem explicação. A editora Vanessa Williams concordou. ‘Há muitos problemas. Filhos fora do casamento, sexo sem proteção, abandono. Talvez a história pudesse ter sido publicada em outro espaço’. A subeditora da seção de estilo, Sydney Trent, também notou que a matéria não estava no ‘contexto certo’. ‘A seção lida com conflitos nos relacionamentos, mas são publicadas histórias apaixonantes e emotivas. Não me pareceu o caso, pois ambos tiveram filhos com outras pessoas. O que eles fazem é problema deles, mas se trata de um problema social’, opinou.

A editora da seção ‘On Love’, Debra Leithauser, discorda. Para ela, Whitney era bem conhecido dos leitores. ‘Nunca imaginamos que não seria problemático. Nenhuma história de amor da seção é um conto de fadas. Tratamos da realidade’, alegou. A jornalista Ellen McCarthy, que escreveu o texto, tem a mesma opinião. ‘Alguns casos são doces e inspiradores. Mas, em geral, a vida é bagunçada’, disse. Para Alexander, a história enquadrou-se no conceito da seção, mas faltou explorar as escolhas passadas do casal e como marido e mulher se sentem hoje com relação a elas. Os temas abordados – filhos fora do casamento, riscos do sexo sem proteção, etc – são sim questões sociais e devem ser abordadas com cuidado, defende o ombudsman.