A organização Repórteres Sem Fronteiras divulgou esta semana seu Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa. A Finlândia lidera a lista, pelo quarto ano consecutivo, como o país com o maior índice de liberdade para o trabalho jornalístico e a divulgação de notícias, seguido por Holanda e Noruega. Na outra ponta estão Turcomenistão, Coréia do Norte e Eritreia, lugares onde a liberdade de informação é nula.
O Brasil ocupa a 111ª posição de um total de 180 países. O crime organizado é citado pela organização como um dos fatores que assustam e minam o trabalho jornalístico no país. “Graças ao impacto do crime organizado, [o Brasil] é um dos países mais letais do continente para a mídia, enquanto o pluralismo de sua mídia é prejudicado por um fenômeno provocado por políticos poderosos que também são grandes empresários e donos de veículos de mídia, o que levou o Brasil a ser apelidado de ‘o país dos 30 Berlusconis’”, diz o relatório da RSF.
EUA em baixa
Um dos resultados que mais chamam atenção na lista deste ano é o dos EUA, que caiu 13 posições no ranking em comparação ao ano passado. Após um ano de ataques a vazadores de informação e jornalistas digitais, e revelações sobre programas de vigilância em massa coordenados por agências do governo, os EUA passaram a ocupar a posição de número 46 na lista global. Segundo a RSF, os EUA tiveram “um dos declínios mais significativos” em liberdade de imprensa em todo o mundo em 2013. Para comparação, o Paraguai, onde a imprensa sofre com a pressão pela autocensura, caiu o mesmo número de posições, 13, ficando em 105º lugar.
A RSF cita a condenação do soldado Bradley Manning e a perseguição ao ex-analista da NSA Edward Snowden, além da agressiva campanha do Departamento de Justiça contra os vazadores, com medidas controversas como a obtenção de registros telefônicos de jornalistas da agência Associated Press. “A liberdade de informação é frequentemente sacrificada por uma interpretação excessivamente ampla e abusiva das necessidades da segurança nacional”, afirma a organização.
Em 2012, após uma série de detenções de jornalistas nos protestos batizados de Occupy, realizados em diversas cidades americanas, como Nova York e Washington, os EUA despencaram 27 posições no Ranking de Liberdade de Imprensa da RSF, ficando em 47º lugar. No ano passado, o país subiu para a 33ª posição.
Outros países no ranking
A Síria continuou na 177ª posição. “Hoje um dos países onde a liberdade de informação e seus atores correm mais riscos, [a Síria] encosta nos últimos três colocados. A crise síria também teve repercussões dramáticas em toda a região, reforçando a polarização da mídia no Líbano (106º), encorajando as autoridades a aumentar o controle, e acelerando a espiral de violência no Iraque (153º), onde a tensão entre xiitas e sunitas continua a crescer.”
O Irã, em 173º lugar, subiu duas posições. Ainda assim, ainda não houve cumprimento das promessas de fortalecimento da liberdade de informação feitas pelo novo presidente, Hassan Rouhani. A cobertura do conflito sírio, tanto pela imprensa oficial como na blogosfera, é acompanhada de perto pelo regime, que continua a reprimir qualquer crítica a sua política externa.
O Reino Unido caiu três posições, para o 33º lugar. A queda no ranking tem relação com a pressão do governo sobre o jornal The Guardian por conta das informações vazadas ao jornalista Glenn Greenwald por Edward Snowden e pela detenção de David Miranda, companheiro de Greenwald, no aeroporto de Londres. “As autoridades dos EUA e do Reino Unido parecem obcecadas por caçar vazadores em vez de adotar uma legislação que controle as práticas abusivas de vigilância que anulam a privacidade, um valor democrático valorizado em ambos os países”, declarou a RSF.
Por outro lado, a violência contra jornalistas, a censura direta e o abuso do sistema judiciário estão em declínio em países como Panamá (que subiu cinco pontos e ocupa a 87ª posição), República Dominicana (13 pontos, para o 68º lugar), Bolívia (16 pontos, 94º) e Equador (aumento de 25 pontos, para a 95ª posição). Também foram observados avanços em países como a África do Sul, que subiu 11 pontos, ficando em 42º lugar, onde o presidente se recusou a assinar uma lei que teria colocado em risco o jornalismo investigativo.
O Índice da RSF pode ser visto aqui [em inglês] e aqui [em espanhol].