Thursday, 16 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Contadores de verdades

Os leitores podem não se dar conta, mas os jornalistas se tornaram entregadores de jornais, afirma, em sua coluna [29/4/11], o ombudsman do Washington Post, Patrick B. Pexton. “Somos obcecados sobre como e quando as notícias serão entregues aos leitores – nos impressos, online, aplicativos de iPad, celulares ou distribuídos gratuitamente no metrô”, escreveu.

Antigamente, a maior parte das decisões de distribuição era determinada por requisitos dos departamentos de assinatura e de tiragem, deadlines não alteráveis das rotativas e pelo tamanho do “buraco das notícias” – quantos centímetros eram deixados para as matérias depois que os anúncios eram vendidos. Mas, agora, muito do tempo da redação é gasto discutindo em qual “plataforma” e o quão rápido a matéria deve ser divulgada. “Parece que estamos todos trabalhando para a FedEx”, comparou o ombudsman.

Nada disso é inteiramente ruim e muito é necessário, pois com as novas tecnologias a notícia é levada a milhões de leitores de maneira instantânea em todo o mundo, em vez de centenas em uma determinada área geográfica uma vez ao dia. Esta revolução gerou uma hipercompetição: agora não é mais jornal contra jornal, revista contra revista, emissora contra emissora; são todos contra todos: site contra emissora a cabo, iPad contra versão impressa, talk radio contra video streaming.

Resgate da missão

Neste momento, os jornalistas devem se lembrar qual sua missão primordial. Uma matéria não se torna viral por conta da tecnologia, mas sim por conta de seu conteúdo. Há sete meses no cargo de ombudsman, Pexton gostaria de lembrar à equipe do Post que o trabalho de todos é extremamente importante e consiste na revelação de verdades. “O país não pode sobreviver como uma democracia ou uma economia capitalista sem este tipo de jornalismo independente”, afirmou.

Ao comprar o jornal, em 1933, Eugene Meyer colocou no topo dos seus sete princípios: “a primeira missão de um jornal é contar a verdade do modo mais próximo possível do que ela pode ser averiguada”. Meyer sabia que nem todas as verdades são autoevidentes; elas requerem habilidades dos repórteres para descobri-las. “Nós jornalistas somos curiosos e negociantes ambiciosos – porém, nossa commodity, a informação, é o bem mais precioso de todos”, diz Pexton. Além disso, jornalistas são, de certo modo, artistas, defende ele. “Desafiamos, provocamos, interpretamos e tentamos fazer sentido do mundo. Fazemos tudo isto por meio de palavras, fotos e arte. São as matérias, as verdades e as mensagens do nosso jornalismo que têm este poder”.