Monday, 13 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Divulgar ou não nomes de crianças?

Uma menina de quatro anos e um menino de cinco foram processados por negligência no Estado de Nova York e seus nomes foram publicados em uma matéria no New York Times sobre o caso, comenta, em sua coluna [13/11/10], o ombudsman do diário, Arthur S. Brisbane.

As crianças andavam de bicicleta quando Claire Menagh, uma senhora de 87 anos que usava um andador, foi derrubada por elas e sofreu ferimentos, tendo de ser levada por uma ambulância e hospitalizada. Três meses depois, Claire morreu de causas não relacionadas ao tombo, mas o estado processou as crianças e suas mães, Dana Breitman e Rachel Kohn, que tomavam conta delas no momento do incidente.

O juiz Paul Wooten, da Suprema Corte, determinou no mês passado que a criança de quatro anos tinha idade suficiente para ser processada em um caso civil de dano pessoal. No dia 28/10, o New York Law Journal publicou uma matéria sobre a determinação e divulgou os nomes das crianças. No dia seguinte, o NYTimes deu suíte à matéria, também publicando os nomes. O interesse na história foi enorme. Mais de 300 leitores postaram comentários no artigo no site do NYTimes, muitos deles críticos aos pais. Outros veículos também deram destaque ao caso, que foi parar nas mídias sociais. Os nomes das crianças foram amplamente divulgados.

Difícil de apagar

Dana, mãe do menino de cinco anos, contou a Brisbane que foi aterrorizante ver o nome do filho na mídia. Os fatos ainda não foram a julgamento e as acusações, que ela refuta, trouxeram muitas críticas. ‘Imagino meu filho pesquisando seu nome no Google. Ele vai achar o artigo no New York Times e na CBSnews.com. São matérias horríveis’, desabafou.

A CBSnews.com foi uma das organizações de mídia que agiram rapidamente para publicar uma matéria sobre o caso. Tanto seu artigo quanto o do NYTimes continham erros: a idade do menino foi publicada como quatro, e não cinco; a senhora morreu três meses depois, e não três semanas; e a causa da morte não teve relação com o incidente, informação que não estava presente nas reportagens.

Normas

Em pesquisa com acadêmicos, jornalistas e advogados, ninguém se apressou em defender a posição do NYTimes no que se refere à publicação dos nomes. Sob a perspectiva do jornal, o editor de padrões, Philip B. Corbett, observou que a principal responsabilidade de uma organização de mídia é ‘fornecer informações aos leitores, e não segurá-las’. No caso em questão, os nomes das crianças estavam em um registro público criado pela corte e já haviam sido divulgados por outras organizações. Além disso, o caso é de grande interesse público, e o juiz não tinha razões para omitir as identidades.

Peter Khoury, editor noturno da seção metropolitana, que editou a matéria, afirmou a Brisbane que o caso não envolvia nenhuma das normas que tipicamente forçariam uma discussão sobre divulgar o nome de uma criança – que seriam menores em casos criminais e nos quais eles são vítimas de crime sexual. Mesmo se os nomes das crianças não tivessem sido publicados, seria fácil descobri-los, pois os dos pais foram divulgados.

No entanto, para a diretora-executiva do Fundo de Defesa das Crianças de Nova York, a reverenda Emma Jordan-Simpson, há um grande impacto em submeter crianças à avaliação pública. A diretora-executiva do Comitê de Cidadãos para Crianças, em Nova York, concorda e alega que pode ser traumático expor uma criança desta maneira. As mídias eletrônicas tornam ainda mais difícil proteger tais jovens. Para Therese Bottomly, chefe de redação do jornal The Oregonian, os jornalistas devem pensar no ‘efeito Google’ e nas ramificações para uma busca daqui a dez anos, em caso de emprego ou admissão na faculdade.