Sunday, 13 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Líder do Hezbollah é o primeiro entrevistado do fundador do WikiLeaks

 

O entrevistado do episódio de estreia do programa de TV de Julian Assange, The World Tomorrow (O Mundo Amanhã), exibido pelo canal russo Russia Today, foi Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah. A milícia libanesa, apoiada pela Síria, é considerada uma organização terrorista nos EUA e Europa. O talk show de meia hora foi exibido na terça-feira (17/4) e tratou de temas como Israel, Líbano, Síria, teologia e encriptação.

A conversa com Nasrallah, que raramente concede entrevistas, não teve grandes surpresas. Falando por videolink – Assange estava na Inglaterra, e seu convidado, em uma localização secreta – e com a ajuda de um tradutor, sua maior revelação foi a de que o Hezbollah tem mantido contato com oponentes do presidente Bashar al-Assad. O grupo, há muito tempo aliado de Assad, teria entrado em contato com “elementos da oposição para encorajá-los e facilitar o diálogo com o regime”. Nos últimos meses, a reação do governo aos protestos no país deixou cidades destruídas e milhares de mortos. “Você tem uma oposição que não está preparada para o diálogo. Tudo o que quer é derrubar o regime”, afirmou, completando que ficaria feliz em mediar as negociações entre governo e oposição.

Parceria

Alguns críticos tiveram a impressão de que as perguntas haviam sido previamente combinadas. O fundador do WikiLeaks chegou a chamar Nasrallah de “guerreiro da liberdade” na luta “contra a hegemonia dos EUA”. Um usuário do Twitter disse que seu estilo de entrevista prendia a atenção. Outros, no entanto, o acharam “robótico” e difícil de assistir.

O programa marcou o lançamento da carreira de Assange na TV e uma parceria com a emissora russa patrocinada pelo governo e que tem direitos exclusivos sobre o talk show. A Russia Today dedica pouquíssimo espaço a mostrar o que acontece no país – não há menção, por exemplo, a casos de corrupção governamental e rumores sobre uma suposta fortuna secreta de Vladimir Putin.

Em vez disso, o canal oferece uma versão atualizada da propaganda soviética. O tema favorito da emissora é a “hipocrisia ocidental”. O mistério, escreve Luke Harding em artigo no Guardian [17/4/12], é como Assange concorda em ser um peão na guerra de informação do Kremlin; seria inconcebível, por exemplo, que a emissora permitisse uma entrevista com críticos do regime russo. Talvez ele precise do dinheiro, especula Harding. Vale ressaltar, por outro lado, que a agenda anti-americana de Assange combina com a do Kremlin.

Assange continua no Reino Unido, enquanto luta contra a extradição à Suécia sob acusação de crimes sexuais. O WikiLeaks interrompeu suas atividades em meio a problemas legais e financeiros, e pede doações em seu site. Com informações de Raphael Satter [AP, 17/4/12].

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