Thursday, 16 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

O Estado de S. Paulo

INTERNET
Alexandre Mello

Campus Party põe em discussão o ‘fim da internet’

O papel das plataformas abertas e fechadas na internet foi o principal item de controvérsia em debate realizado ontem na Campus Party, evento que está sendo realizado em São Paulo.

Defensor da plataforma aberta, Vagner Diniz, diretor do World Wide Consortium (W3C) Brasil, citou o artigo escrito em 2010 pelo editor da revisa Wired, Chris Anderson. ‘Ele não falou sobre o fim da internet. Falou do fim da web. Entendemos por web plataformas abertas como HTML e HTTP, que estão perdendo espaço para plataformas fechadas, como os aplicativos.’

Para Diniz, tal processo é normal e faz parte da apropriação comercial de uma inovação criada pelas plataformas abertas. ‘É no ambiente aberto que a inovação acontece. É no ambiente proprietário que a riqueza é aprisionada. É verdade que apps (aplicativos) dão respostas mais rápidas, mas também é verdade que a web está inovando e pode ultrapassar os apps novamente.’

Pedro Dória, editor-chefe de conteúdos digitais do Grupo Estado, discorda. Acredita que este seja mais um fim da internet, que vai surgir novamente, de outra forma. Mas não vê mal nenhum em existirem plataformas fechadas. ‘Isso (app no smartphone) é fácil de usar. A web como plataforma é difícil.’

Para ele, a inovação pode acontecer tanto na plataforma aberta quanto na fechada. O perigo estaria na formação de monopólio. ‘Entre meados de 40 e fim dos anos 80, as gravadoras dominavam a música e não é verdade que não havia inovação. Somente quando viraram monopólio e passaram a pensar apenas no produto é que travou. E isso abriu espaço para a criação de uma nova tecnologia, que mudou tudo de novo.’

Em relação aos smartphones, Dória defendeu os sistemas e aplicativos, contanto que existam vários. ‘Não importa que seja fechado, desde que não seja só Apple. Tenha Android, Blackberry, entre outros. E a multiplicação de novas plataformas via internet não é ruim. TV, rádio e geladeira devem se conectar sem necessariamente precisar de web para isso.’

O diretor da W3C, por sua vez, lembrou que, necessariamente, passariam por uma plataforma aberta para comunicação, para evitar o monopólio. Nesse ponto, Dória concordou e fez uma ressalva. ‘Precisamos explicar melhor para não confundir protocolo, o TCP/IP (usado na internet) com plataformas (web e aplicativos).’ Nesse aspecto, ambos também concordaram que era necessária uma regulamentação mínima do governo.

‘Ou governos’, lembrou Pedro Markun, do site Esfera, destacando a pluralidade. ‘A internet não tem fronteiras e deve ser discutida entre os países.’ Markun lembrou também de sites que fizeram sucesso com plataformas fechadas criadas em cima de plataformas abertas, como é o caso do Facebook.

 

Priscila Trindade

STJ inocenta Google por conteúdo postado no Orkut

Os ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiram que o Google não é responsável pelo que os usuários publicam no site de relacionamentos Orkut, que pertence à companhia. O STJ, em decisão divulgada esta semana, negou o pedido de indenização por danos morais de uma mulher que processou o Google Brasil Internet Ltda. por causa de material ofensivo publicado no Orkut com o nome da autora.

Em primeira instância, a mulher havia conseguido antecipação de tutela para determinar a exclusão de todo o material do site. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) já havia isentado o Google do pagamento da indenização por entender que a fiscalização pretendida pela autora, na prática, implicaria no exame de todo o material que transita pelo site. Para a Justiça, a tarefa não pode ser exigida de um provedor de serviço de hospedagem, ‘já que a verificação do conteúdo das veiculações implicaria restrição da livre manifestação do pensamento’.

Contra essa decisão, a acusação entrou com recurso especial no STJ alegando que o compromisso de exigir a identificação dos usuários não foi honrado e que, por isso, houve negligência na prestação do serviço.

Parâmetros. Para a relatora do caso no STJ, ministra Nancy Andrighi, o Orkut exige que o usuário realize um cadastro e concorde com as condições de prestação do serviço, mas ela destacou que seria impossível delimitar os parâmetros para definir se uma mensagem ou imagem é potencialmente ofensiva.

Em sua decisão, a magistrada disse que ‘os provedores de conteúdo não respondem objetivamente pela inserção no site, por terceiros, de informações ilegais e que eles não podem ser obrigados a exercer um controle prévio do conteúdo das informações postadas no site por seus usuários’.

Como o Google adotou as medidas que estavam ao seu alcance visando à identificação do responsável pela inclusão no Orkut dos dados agressivos à moral da recorrente, os ministros da Terceira Turma, em decisão unânime, seguiram o voto da relatora, negando provimento ao recurso.

 

Miguel Helft, The New York Times

Brasileiro do Facebook faz nova aposta na internet

O primeiro cheque que ele assinou para um empreendedor transformou-o num bilionário e num personagem importante num filme de sucesso de Hollywood. Agora, Eduardo Saverin, cofundador do Facebook e outrora amigo de Mark Zuckerberg, que foi o foco das atenções nos últimos anos, está preenchendo um cheque de valor ainda maior, esperando plantar as sementes que irão florescer numa outra maravilha da internet.

Na quinta-feira, a Qwiki, nova empresa criada no Vale do Silício, anunciou que Eduardo Saverin (nascido no Brasil) tornou-se seu principal investidor numa rodada de financiamento de US$ 8 milhões. A companhia, cujo serviço de internet responde a consultas de buscas com apresentações multimídia interativas, em vez de links, recebeu recentemente um importante prêmio numa conferência.

Em entrevista por telefone, esta semana, falando de Cingapura onde está morando, Eduardo Saverin falou do seu entusiasmo com a Qwiki. ‘Estou numa situação hoje, em que posso fazer o que gosto, ou seja, ajudar outros empreendedores’, disse ele. ‘O Facebook foi um grande sucesso e continuará sendo. A Qwiki está começando, mas já está no caminho de se tornar uma empresa inovadora que vai mudar as coisas.’

Mas não quis dizer quanto investiu na empresa, que também não deu detalhes sobre o financiamento.

O cofundador do Facebook fez parte de um grupo de estudantes de Harvard que se envolveu numa série de disputas sobre a criação do site social e cuja história foi dramatizada no filme ‘A rede social’, que conquistou o Globo de Ouro de melhor filme dramático.

Ao contrário de Tyler e Cameron Winklevoss, cuja briga com Zuckerberg chegou às manchetes dos jornais, Saverin foi discreto. E, enquanto a reivindicação dos Winklevoss nunca foi reconhecida, Eduardo é oficialmente um cofundador do Facebook e o seu primeiro gestor de negócios. Mais tarde, afastou-se, mas ainda é um dos primeiros acionistas da empresa, com uma participação de 5%, avaliada em cerca de US$ 2,5 bilhões.

Investimentos. Saverin não quis falar sobre o Facebook, nem sobre o filme que o tornou uma espécie de celebridade, tampouco sobre sua vida atual. Afirmou que está fazendo vários ‘angel investiments’ (investimentos em novas empresas de internet), acrescentando que ‘adoraria’ se concentrar na Qwiki. Disse ter ouvido falar pela primeira vez da empresa quando viu a Qwiki receber um prêmio na conferência de tecnologia TechCrunch, recentemente. Posteriormente, contatou seus fundadores, Doug Imbruce e Louis Monier e se envolveu com a companhia.

A tecnologia básica da Qwiki transforma um grupo de dados sobre um assunto em apresentações multimídia interativas. A companhia aplicou a tecnologia a um serviço que funciona como motor de busca. Se você digitar ‘San Francisco’, ele vai responder com um curto audiovisual sobre a cidade, incluindo fatos e vistas da cidade. Louis Monier, que criou o AltaVista, e o seu sócio Doug Imbruce, pretendem diversificar o uso da tecnologia no futuro.

Incluindo uma rodada anterior de financiamento, a empresa já levantou US$ 9,5 milhões. Entre outros conhecidos investidores da empresa estão Jawed Karim, o terceiro e ‘menos conhecido’ fundador do YouTube.

 

TELEVISÃO
Dave Itzkoff, The New York Times

History decide não exibir The Kennedys

Um trailer promocional de The Kennedys, minissérie multimilionária preparada pelo History Channel, sugere que o público poderá dar uma espiada nos bastidores e nos quartos do famoso clã político. A atração reconstitui a vida do presidente John F. Kennedy e de sua família. A chamada da atração anunciava: ‘Por trás da imagem pública está a história de uma dinastia americana.’

No entanto, preocupações a respeito da apuração da história apresentada em The Kennedys levaram o History Channel a não colocar a minissérie no ar. A decisão veio após uma tentativa de encaminhar a minissérie para uma linha mais em cima de fatos conhecidos. O canal levantou questões sobre os limites da licença dramática e os fatos documentados, assuntos delicados quando se aborda o legado dos Kennedy.

‘Após ver o produto final, concluímos que a interpretação dramática não se encaixa na marca History’, explicou o canal em nota. Emissoras a cabo mais ousadas como o FX e o Showtime (da série The Tudors) não quiseram abarcar o projeto, apesar de tecerem elogios à produção.

A posição do History Channel reflete uma série de críticas feitas ao projeto, mesmo antes de ele sair do papel. Um grupo de historiadores condenou a minissérie com base em um roteiro obtido pelo documentarista Robert Greenwald. Os historiadores disseram que o roteiro continha erros históricos e invenções. Entre os críticos estava Theodore Sorensen, que foi conselheiro de John F. Kennedy durante muitos anos. Sorensen morreu em outubro passado.

Quando estas denúncias vieram à tona, o History defendeu-se dizendo que o roteiro ainda estava incompleto e que o documento final seria revisado. Com a minissérie sob cuidadosa supervisão, os produtores contrataram dois historiadores para ajudar a restaurar a reputação da atração: Steve Gillion e Robert Dallek. O primeiro é autor do livro The Kennedy Assassination – 24 Hours After. O segundo foi finalista do prêmio Pulitzer e é autor da obra An Unfinished Life: John F. Kennedy, 1917-1963.

Durante seis meses, os dois revisaram o roteiro de The Kennedys e se mostraram preocupados com o que leram, de acordo com pessoas ligadas ao processo de revisão. Eles disseram que havia cenas problemáticas e não baseadas em fatos, incluindo cenas das atividades sexuais dos Kennedy. Algumas cenas foram modificadas como uma que mostrava Joseph P. Kennedy pedindo ajuda ao mafioso Sam Giancana para a campanha presidencial de John F. Kennedy, em 1960. Na gravação, adicionaram Frank Sinatra como o mediador do encontro de Joseph Kennedy com Giancana.

The Kennedys foi filmada em Toronto, no Canadá, entre junho e setembro de 2010, com um elenco que contou com Greg Kinnear, como John F. Kennedy, e Katie Holmes, como Jacqueline Kennedy. A atração ainda pode ser comprada por algum canal.

 

Thais Caramico

Cocoricó volta com aventuras na cidade

Você já deve ter ouvido falar do Cocoricó, uma fazenda que existe na cidade fictícia de Cocoricolândia, onde o garoto Júlio conversa com os animais. Há 15 anos no ar, é considerado um dos programas infantis de maior sucesso da TV brasileira. Premiado, é exibido em países como Angola, Moçambique, Venezuela, Argentina, Portugal e Chile. Já levou cerca de 100 mil pessoas ao teatro e 25 mil aos cinemas. Ao Estado, o artista plástico Fernando Gomes, criador do Júlio, fala desse período e revela que, além de dirigir o Cocoricó, acaba de assumir o cargo de gerente de programas infanto-juvenis da TV Cultura, criado especialmente para ele.

Em 2011, o Cocoricó completa 15 anos e você acaba de ser escolhido para gerenciar os programas infanto-juvenis da TV Cultura. Como é isso?

Meu grande sonho agora é conseguir retomar as produções locais e apostar nisso, como foi na época do Glub-Glub, do X-Tudo. Claro que os projetos grandes serão bem-vindos, mas desde que sejam reais e executáveis. Minha responsabilidade é ver tudo o que está acontecendo nessa área e pensar na nova grade, que deve sair em março ou abril. E tem novidade de cara: vamos começar a produzir e gravar novo programa em fevereiro para entrar no ar com a nova grade.

Que programa é esse?

Chama-se Quintal da Cultura, vai amarrar e apresentar os programas pré-escolares da emissora.

E o Cocoricó?

Este mês começamos a gravar novos episódios do Júlio na cidade, continuação do que foi feito ano passado, e agora comemora os 15 anos da Turma. Gravamos até o dia 15 de julho, se nada der errado, para exibir agora em maio.

Antes era na fazenda. Por que agora na cidade grande? Foi uma atualização?

O Cocó tem uma coisa fascinante, que é o fato de ser um programa que se passa no campo e é muito legal para quem mora na cidade conhecer um pouco dos bichos, enfim. Mas o contrário também aconteceu. O pessoal queria ter a oportunidade de ver o que não existe no interior, como metrô, um grande estádio de futebol, um bairro japonês…

O que muda agora?

Não existe mudança. O que vimos é que nos 26 episódios anteriores, vários temas ficaram de fora. Resolvemos, então, continuar essa história em que o Júlio deixa a fazenda para passar férias na casa do primo, João.

Que temas são esses?

Competição de atenção entre irmãos, popularidade, timidez, consumismo, escovação dos dentes e superação do medo.

No ano passado, falava-se que o Cocoricó havia sido dispensado por telefone pela Cultura. O que aconteceu?

Sinceramente? Nada! Por isso estourou e acabou. Os jornais me ligaram chocados querendo saber se eu tinha sido mandado embora por telefone. E não foi isso. Quando o último contrato estava acabando, a Cultura me chamou e disse que queria dar continuidade, mas que não sabia ainda se seria possível. No dia 15 de janeiro, como combinado, eles me ligaram e disseram que não seria renovado, como eu já sabia. Mas não teve desonestidade nenhuma, tanto que hoje estamos aqui.

Qual o desafio de fazer o mesmo programa há 15 anos e continuar atual?

Eu não chamo de desafio, mas não se trata de pretensão. Para qualquer programa infantil que eu fizer, meu objetivo principal é a diversão. E dessa forma, por que não ter diversão mais conteúdo? Vivo em busca de novos caminhos para esses dois assuntos. E a cada temporada do Cocó sempre tem um desejo de pensar em coisas novas. Toda vez que entro no estúdio, eu sinto que há muita o que fazer.

O que mudou nos programas infantis desde quando você começou, em 1986?

O controle remoto mudou tudo na TV. Eu odeio ficar ditando regras, mas de modo geral, para o público infantil, as ações são mais curtas e mais ágeis. Tem bastante cor e movimento e muita música. Se não for assim, em dois segundos as crianças mudam de canal.

E, durante esses anos, o que o marcou muito?

Nunca sonhei em conhecer Jim Henson e os manipuladores dos Muppets. Mas em 2007, a TV Cultura fez uma coprodução com a Sesame Workshop e os americanos acabaram escolhendo dois profissionais do Brasil para fazer algumas manipulações. Fiz a oficina e acabei sendo escolhido para dar vida ao Garibaldo. Fui para Nova York aprender como eles faziam e foi muito doido, porque já naquela época eles adoravam o trabalho do Cocoricó e diziam que nem tinham o que nos ensinar. Nunca achei que pudesse conhecê-los, mas fui parar no ninho deles.

 

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